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2017-01-30

Casa de Silvestre Fernandes Leitão (1616) & Morgadio da Tapada do Alardo (Geraldes e Leitão) - Castelo Novo, Fundão.


Casa de Silvestre Fernandes Leitão (1616), Castelo Novo, Fundão.


§ 1

Casa de Silvestre Fernandes Leitão (SFL), 1616

Introdução
O autor destas notas, sempre atento aos sinais que uma antiga pedra talhada, uma ruína, uma vetusta casa pode transmitir, há muito que vivia intrigado com a falta de informação sobre esta enigmática edificação.
As vivências ocultas no passado destes singulares testemunhos, cujo percurso através dos tempos com perseverança poderemos descortinar, são para nós um grande desafio.
A abordagem da história desta Casa através de uma perspectiva genealógica, levou-nos a algumas conclusões, para nós até então inimagináveis.
Casa Silvestre Fernandes Leitão (1616),
Janela de cunhal e alpendre.
Foi o estudo da linhagem desta família que nos esclareceu sobre a sua fundação – ou refundação – no início do século XVII pela família LEITÃO, e o abandono a que terá sido votada até que foi novamente habitada pelos seus sucessores GERALDES, e a sua posterior alienação para a família FALCÃO já no início do século XX.
Por acréscimo, e com grande surpresa nossa, no decurso da investigação desta emblemática e quase desconhecida casa de Castelo Novo, fomos remetidos para outra propriedade que com ela andou junta na posse desta família: a conhecida Quinta do Alardo – antigo morgadio da Tapada do Alardo –, de cuja investigação aqui também daremos conta.
Os apelidos GERALDES e LEITÃO andam ligados, nesta região da Beira Baixa, por múltiplos enlaces matrimoniais desde o século XVI.
Nesta casa, mais uma vez se cruzam estas duas famílias, numa longa história familiar, perpassada de sucessos, misturados com poder, e alguns dramas, dos quais aqui daremos nota, fornecendo deste modo pistas a outros investigadores que pretendam aprofundar este tema.

Pedra de cabeceira
tumular templária
(Séc. XIII / XIV?).
O denominado Solar de Silvestre Fernandes Leitão (SFL), com algumas influências maneiristas, é um dos mais belos exemplares de arquitectura doméstica de Castelo Novo: quer pela sua volumetria, quer pela singularidade dos seus elementos arquitectónicos em confronto com a sobriedade do restante casario.
Este solar senhorial seiscentista, com origem numa casa anterior, fica situado no gaveto da Rua da Bica com e Rua da Misericórdia para onde está virada a sua fachada principal.
As suas traseiras dão para o Largo da Bica que apresenta apreciáveis proporções e onde outrora se localizavam os seus arrumos, os quais, segundo supomos, fariam parte de um logradouro agrícola da primitiva casa[1].
Na reconstrução mais recente, ao desentulhar um dos fundos da casa, que na sua origem estavam no actual Largo da Bica, apareceu uma enigmática pedra de cabeceira tumular templária, de forma redonda com a gravação de uma cruz desta ordem; a qual atesta a ocupação medieval do terreno onde a casa está implantada – século XIII / XIV? 
Cruz, ombreira de porta
da Rua da Misericórdia
Numa das sua portas do rés-do-chão, na Rua da Misericórdia, a antiga Rua da Cruz, junto da qual arranca a escadaria que dá acesso ao balcão alpendrado, encontra-se uma porta com ombreiras de chanfro, tendo a do lado direito gravada uma cruz de base semicircular – de meados do século XVI? –, com a qual se reafirma publicamente a aceitação da fé e das práticas religiosas cristãs dos seus proprietários (cristãos novos); ou se solicita a protecção divina (cristãos velhos). Esta porta faria parte da casa sobre a qual foi edificada uma nova morada.
Esta casa apresenta uma planta sub-rectangular com a fachada principal virada a Este, desenvolvendo-se em dois registos: o inferior, no qual sobressai uma arcada de volta inteira que dá acesso à cocheira e aos fundos da casa; e o superior, ou piso nobre, ao qual se acede por um balcão alpendrado sobre a arcada já citada, apresentando quatro vãos, dos quais se destaca uma belíssima janela de esquina com um remate superior em cornija, alpendrada e firmada no cunhal por uma coluna encimada de um capitel de volutas, com cachorros na sacada e a respectiva grade de ferro forjado.
O beiral da cobertura não assenta na cornija superior desta janela, pois, entre estes dois elementos, foram acrescentadas à construção original duas fiadas de cantaria de pedra, diferentes das restantes quanto às suas dimensões.
Posteriormente à (re)edificação desta casa iniciada em 1616, ter-lhe-á sido encastrada uma enigmática insígnia/emblema em baixo-relevo de formato quadrangular, a qual, apesar de posicionada no topo da fachada, ao lado da já mencionada janela de cunhal,  não passa desapercebida pela sua singularidade.
Esta representação iconográfica que exibe uma águia como elemento principal, ostenta por baixo deste conjunto uma inscrição para memória futura, a qual reza: «SILVESTRE / FRZ LEITON / MANDOV FA / ZER ESTA OBRA / NO ANO D 1616».
Casa Silvestre Fernandes Leitão (1616),
insígnia/emblema.
Desde a sua provável origem em meados do século XVI, esta casa esteve na posse de vários indivíduos da mesma família, dos quais foi tirando as designações populares porque foi sucessivamente conhecida.
Inicialmente denominava-se «Casa de Silvestre Leitão», devido à inscrição aposta na sua fachada pelo seu (re)fundador Silvestre Fernandes Leitão (f. 1635).
Bastante mais tarde, já no século XIX, foi designada por «Casa do Visconde de Trancoso e da Duquesa de Pozen», que aí terão residido, ainda que muito episodicamente. Os viscondes de Trancoso descendiam dos primeiros Leitões de Idanha-a-Nova que por sua vez eram antepassados do morgados dos Geraldes[2], em cujo vínculo incorporaram város bens próprios.     
Por fim, já nos primeiros nos primeiros anos do século XX, após a morte dos citados viscondes (?), esta casa saiu da posse da família fundadora, sendo então adquirida pela família FALCÃO que em 1906 remiu um foro que sobre ela incidia, ficando então na sua posse plena. Esta família talvez fosse a mesma que estava há muito tempo implantada no Alcaide (1633), e posteriormente no Fundão (1788)[3].
Os sucessivos proprietários da casa, através dos tempos, foram fazendo algumas modificações à sua configuração inicial, nomeadamente nos anexos que seriam bastante maiores. Teria ainda “um jardim e quintal interior, prolongando-se até ao Largo da Bica”, segundo refere o doutor Joaquim Candeia da Silva[4].
Algumas das alterações mais antigas, deixaram vestígios na fachada, quer pela falta de homogeneidade da cantaria, quer ainda pelo tipo de grão e cor do granito utilizado, o qual em algumas zonas da fachada é mais fino e claro.
Casa Silvestre Fernandes
 Leitão (1616), entrada.
O aparelho de cantaria de granito, na parte mais recente e erudita desta construção é isódomo, mas, noutras partes mais antigas é irregular e resulta da junção de outras pequenas edificações. Uma parte da casa, segundo um documento de partilhas da família Falcão, datado de 1909, «é foreira do Morgado de Trancoso (...) pagando de foro ao dito quatro mil e oitocentos réis anualmente». 
No início do século XVI este arrabalde estaria pontuado por pequenas casas rurais de aparência modesta, as quais, com o andar dos tempos e a prosperidade dos respectivos proprietários, foram ampliadas dando origem a grandes casarões. Foi o que então sucedeu a uma casa rural situada na Quinta do Ouriço, a qual sucessivamente ampliada e acrescentada originou o grande Solar Correia Sampaio. Curiosamente, esta última casa tem anexa uma pequena capela privada que ostenta na parte superior da sua fachada uma pedra de armas com várias incorrecções heráldicas, e encimada pelo timbre da família LEITÃO – um leitão passante – que talvez represente a linha varonil do seu fundador, o que nos leva a presumir que as terras da Quinta do Ouriço, juntamente com as da Casa de SFL, foram outrora um só domínio territorial da mesma família LEITÃO, tendo-se repartido por herança entre diversos ramos familiares que lhes sucederam.
É notória a falta de documentação que esclareça a memória desta casa, o seu percurso através dos séculos, assim como a biografia do proprietário que a reedificou e lhe deu uma configuração muito próxima da actual, a partir de uma casa anterior da qual ainda existirão restos a montante da rua da Misericórdia, provavelmente herdada da sua família LEITÃO.
Um dos primeiros LEITÃO que no exercício de funções militares sabemos ter estado ligado a Castelo Novo foi Jorge Leitão (c. 1584), capitão-mor de São Vicente da Beira, Castelo Novo e Alpedrinha em 1584. 
Castelo Novo, Casa Silvestre F. Leitão.
Outros da mesma família LEITÃO, naturais do então concelho de Castelo Novo, ficaram conhecidos por rumaram, nestes tempos recuados e de crise, aos Estudos Gerais de Salamanca em busca de uma educação humanista, o que nos revela serem gente de posses elevadas e preocupada com a sua instrução e cultura. Foram eles António Vaz Leitão (estudante de Artes e Teologia, 1581-1586); Domingos Leitão (Gramática, 1623-1626); e Domingos Roberto Leitão (Cânones, 1623-1624). Porém, desconhecemos como se articulava a relação de parentesco entre estes e o nosso SFL.
Quanto à história deste solar, andou rodeada de algumas controvérsias fantasiosas, nomeadamente no que diz respeito à interpretação do seu pequeno baixo-relevo decorativo de natureza simbólica que apresenta no alto da fachada.

Silvestre Fernandes Leitão (f. 1635)
A vida de SILVESTRE FERNANDES LEITÃO (f. 1635) decorreu durante o domínio filipino e é muito pouco conhecida, apesar de ter tido algum destaque no meio social em que viveu.
Não fora esta belíssima casa que nos deixou, hoje quase ninguém daria pela sua existência, tendo ficado a dever-se ao doutor Joaquim Candeias da Silva a redescoberta de alguns traços biográficos desta personagem[5].
Apesar de ter vivido numa época conturbada politicamente e de grandes carências económicas provocadas pela carga fiscal elevada, tinha meios de fortuna como a importância desta casa revela, além de ser senhor de escravos – um deles de nome Simão, falecido a 20-XI-1621 –, era certamente aparentado com outros Leitões armigerados do então concelho de Castelo Novo[6].
Estranhamente nunca se habilitou a familiar do Santo Ofício, ou fez justificação da sua nobreza para obter um brasão de armas, antes optando por ostentar no seu solar uma insígnia/emblema que ele próprio criou em sua substituição. Talvez não tivesse vivido tempo suficiente para isso, ou houvesse algum impedimento à sua obtenção; quer pela existência nos seus ascendentes mais próximos de alguma ilegitimidade, bastardia ou sangue de cristão-novo...
Desconhecemos a data do seu nascimento, a sua progenitura, e a quase totalidade do seu percurso de vida.
Filipe II de Portugal,
III de Espanha.
O investigador Manuel da Silva Rolão, após a análise dos registos paroquiais de Castelo Novo, aponta para sua possível filiação em Gonçalo Antão Leitão e sua mulher D. Isabel Fernandes, porém declara não ter como confirmar esta sua suposição, assim como lhe atribui a possibilidade de ser irmão de um tal Simão Fernandes Leitão[7].
Reinava então em Portugal Filipe II (1598-1621) de Espanha, quando em 1616 mandou edificar esta sua casa, provavelmente a partir de uma outra morada de família anteriormente aí existente, colocando-lhe uma inscrição para memorar este facto. Estamos em crer que esta casa foi concluída alguns anos depois desta data, talvez por volta de 1623 (?).
Terá sido por esta altura (1620-22?) que casou com D. BRITES DE SOUSA E MELO DA COSTA PEREIRA (f. 1630), falecida a 5-V-1630, provável  “filha ou irmã de Francisco de Melo de Sousa, pois este é padrinho de um dos filhos[8], e da qual teve: MARIA (1623-1627); FRANCISCO (n. 1626); e MARIA (n. 1628), segunda deste nome. 
Armas de Espanha, ao tempo de
Filipe II de Portugal.
Foi o primeiro Alferes da Bandeira Real de Castelo Novo[9], cargo obtido a seu pedido, concedido por alvará régio passado a 28-IV-1623 em Lisboa[10], certamente devido a ser pessoa abastada, honrada e prestigiada, assim como um inequívoco apoiante do domínio filipino, o que para o exercício deste ofício não seria um pormenor de menor monta.
No alvará régio da sua nomeação, diz o representante do monarca (Filipe II de Portugal) haver necessidade que «houvesse uma bandeira com as minhas armas reais para ir nas procissões da dita vila onde ora de novo há juiz de fora, e o dito Silvestre Leitão ser dos principais nobres e honrado dela e ser rico e terem as mais partes que se requerem par servir de alferes da dita bandeira»[11].
Na maioria dos casos, a atribuição do “ofício de Alferes da Bandeira Real” competia às respectivas câmaras municipais, as quais, ao tempo da ocupação espanhola foram espoliadas desse direito a favor da Mesa do Desembargo do Passo. Este procedimento não era pacífico e, com vista à reposição deste direito usurpado, motivou uma queixa dos procuradores da Covilhã enviados à Cortes de 1641 – cortes de legitimação do rei D. João VI, após a Restauração[12].
Silvestre Fernandes Leitão não teria uma vida muito longa, tendo falecido já viúvo a 23-V-1635, com testamento e recebendo sepultura na “sua capela” na igreja matriz de Nossa Senhora da Graça – um templo anterior ao actualmente existente que data de 1732[13].
Quanto aos filhos, não deixaram o menor vestígio na história local o que nos leva a supor não terem continuado a linhagem desta família. Provavelmente faleceram precocemente e os seus bens foram herdados por algum parente colateral da família LEITÃO.

Alguns destes Leitões eram originários de Idanha-a-Nova onde tiveram cargos de destaque a nível civil e militar, e onde instituíram vínculos que vieram a ser incorporados no grande e valioso morgadio dos Geraldes, como aconteceu com esta casa e com a Quinta do Alardo, vinculada em morgado, bens estes que vieram a pertencer por herança aos GERALDES de Idanha-a-Nova, nomeadamente ao ramo dos viscondes de Trancoso, talvez por falta de sucessão directa na família de SFL.
Como os morgados dos Geraldes tinham um conjunto muito grande de valiosas propriedades e casas vinculadas em morgadios, distribuídas pelo país (Idanha-a-Nova, Idanha-a-Velha, Monsanto, Anadia, Lisboa, etc.), os bens de Castelo Novo ficaram secundarizados, só voltando a adquirir algum relevo devido ao facto de aqui ter residido o 2.º visconde de Trancoso que perdeu grande parte do seu património, quase ficando na ruina, devido a um longa disputa judicial de mais de quarenta anos com um meio-irmão  nascido fora do casamento de seu pai, o qual concorreu na grande herança paterna, tende este o apoio do rei D. Fernando II,  e de Camilo Santos o notário da Casa Real [14].

Insígnia / emblema
(interpretação)
A casa de SFL ostenta um enigmático distintivo aposto na fachada do piso superior, ao lado da belíssima janela de cunhal, o qual tem suscitado as mais controversas explicações. 
Quanto a nós, muito longe de ser um brasão, esta insígnia/emblema expressa iconograficamente, de maneira discreta e quase oculta, as opções políticas do seu autor que não as queria tornar evidentes para qualquer pessoa, pois, com uma mudança da conjuntura política, isto poderia vir-lhe a acarretar algum desconforto. Uma provável mudança política, certamente por ele tomada em conta devido às muitas vozes já então discordantes da governação filipina, assim como o início do seu declínio, poderia constituir um revés para as ambições do seu proprietário.

Casa Silvestre Fernandes  Leitão (1616),
insígnia / emblema.
O elemento central deste conjunto é constituído por uma águia representada de frente[15], asas abertas e levantadas, com a cabeça voltada para o flanco direito, cauda espalmada, pernas na vertical com as garras estendidas, que à semelhança do símbolo das legiões romanas, está representada com um naturalismo um pouco rude e longe das convenções estilizadas da heráldica.
Esta águia estará aqui representada como símbolo da supremacia politica e militar, talvez com um duplo significado: o ideológico, ao simbolizar o poder reinante em Portugal – então Filipe II (1598-1621), o Piedoso, – que agora tem sob o seu domínio um dos maiores impérios europeus desta ápoca; ou, caso esta insígnia seja posterior à data da edificação da casa, uma das interpretações possíveis, poderá representar o cargo de porta-bandeira do seu detentor, por analogia com a águia romana que seguia à frente das legiões. 
Está ancorada/firmada num drapejado que será um pálio[16], o qual une as duas carrancas antropomórficas, saindo as suas respectivas extremidades pela boca das mesmas.
Quanto a este pálio, sugere-nos a representação do Chupá – o pálio que une os noivos do matrimónio judaico –, simbolizando o desejo de estes virem a ter um lar aberto e acolhedor, propósito aqui transposto para os dois reinos ibéricos representados pelas carrancas.
Águia que acompanhava
as legiões romanas.
Toda esta representação simbólica está encimado por uma semi-concha estriada de influência italiana, meramente decorativa e muito comum em toda a pintura e arquitectura renascentista do século anterior, talvez com um significado de protecção pois, a sua analogia com a vieira de peregrino, alusiva a um dos caminhos de Santiago que por aqui passava, é uma hipótese que se afigura demasiado imaginativa atendendo a estar aplicada num edifício de natureza civil.
O conteúdo desta mensagem críptica resulta de um esforço do seu proprietário de afirmar de maneira velada a sua fidelidade ao domínio filipino, o qual, no então concelho de Castelo Novo, foi factor de algum progresso. Por esta época esta vila disfrutou de uma melhor e mais eficiente organização administrativa e judicial, com novos regulamentos, magistrados, e funcionários concelhios.
Resumindo, todo o conjunto pode significar o apoio do seu autor à união das duas coroas ibéricas sob o ceptro de um só rei, que à data da execução deste símbolo era Filipe II de Portugal, um exacerbado católico que privilegiava as suas actividades religiosas em detrimento das obrigações políticas, com consequências desastrosas para o seu império já em declínio.
Certamente a sua família estava então politicamente ligada à facção dos unionistas/legalistas que apoiaram a sucessão ao trono de Portugal de Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal), filho legítimo do imperador Carlos V e de D Isabel de Portugal, contra a facção popular mais humilde dos nacionalistas/inssureccionistas que defendendo a independência do reino apoiavam D. António Prior do Crato, filho natural do infante D. Luís.

Secessão na posse da casa
Família Leitão
1.    SILVESTRE FERNANDES LEITÃO (f. 1635) o (re)edificador desta casa em 1616, durante o reinado de Filipe II de Portugal, foi nomeado Alferes da Bandeira Real de Castelo Novo (alvará de 28-IV-1623), durante o reinado de Filipe III de Portugal. Faleceu, ao que supomos ainda novo, a 23-V-1635, com testamento, e foi sepultado na igreja matriz de Nossa Senhora da Graça, um templo anterior ao actualmente existente que data de 1732.
Casou com D. BRITES DE SOUSA E MELO DA COSTA PEREIRA (f. 1630), falecida a 5-V-1630.
Filhos:
2.    MARIA (1623-1627), primeira deste nome, primeira deste nome, nascida a 22-XII-1623, baptizada a 15-I-1823 na Igreja de Nossa Senhora da Graça de Castelo Novo, e falecida criança em 1627. 
2.    FRANCISCO (n. 1626), baptizado a 15-VII-1626, apadrinhado por Simão Fernandes (irmão de SFL?) e Apolónia Leitoa. Desconhece-se se casou ou teve filhos.
2.    MARIA (n. 1628), segunda deste nome, nascida a 28-VI-1628 e baptizada a 28-VII-1628 na Igreja de Nossa Senhora da Graça em Castelo Novo, apadrinhada pelo “marechal de Pinhel e por D. Bárbara, mulher do juiz de fora António Coelho Gasco.

       O padrinho de Maria (n. 1628), que figura no seu assento de baptismo sob o epíteto de «marechal de Pinhel», é o conhecido D. FERNANDO COUTINHO (1565?-1636), alcaide-mor de Pinhel e o último marechal do Reino na sua família, a qual era de altíssima linhagem e durante muitas gerações ocupou este cargo. Seria amigo chegado da família de SFL.
Casou com D. Isabel da Silveira (ou de Mendonça), casamento que veio a ser anulado por sentença eclesiástica, pelo que a sua geração ficou ilegítima, motivo este que levou a que o seu título de marechal se extinguisse nesta família e passasse a D. Fernando de Mascarenhas (c. 1625-1649), 1.º conde de Serém, pai de D. Jorge Mascarenhas (1597-1652, 1.º Conde de Castelo Novo, 1º marquês de Montalvão (títulos dados pelo rei Filipe IV de Espanha, III de Portugal).
        Teve vários filhos bastardos de outras mulheres e faleceu a 20-VI-1636 na freguesia de Santa Maia do Castelo, em Pinhel, sendo sepultado na Igreja da Misericórdia[17].

Desconhece-se durante quanto tempo a casa esteve na posse dos descendentes de SFL. Os seus filhos ainda eram crianças quando o seu fundador faleceu, e não sabemos se estes tiveram geração, pois deles não ficaram vestígios na vida social de Castelo Novo, pelo que a casa terá provavelmente passado a herdeiros colaterais.

Do fundador da casa
e da sua sucessão até ao visconde de Trancoso e à duquesa de Pozen
Já no século XIX esta casa andava na posse de BARTOLOMEU DA COSTA DE MACEDO GERALDES BARBA DE MENESES (1842-1900), 2º visconde de Trancoso, e de sua 2.ª mulher D. MARIA CRISTINA GUROWSKY (1860-1901), os derradeiros proprietários da casa nesta família, os quais pouco a visitariam e dela só terão feito residência por períodos de tempo bastante curtos, pois desfrutavam de muitas outras casas e palácios bem mais agradáveis e melhor localizadas em Portugal e em Espanha.
Casa Silvestre Fernandes Leitão (1616),
Este 2.º visconde de Trancoso devido a uma pendência judicial com o meio-irmão, e outra com sua parente D. Maria do Ó Osório Cabral Vieira – mãe de D. Duarte de Alarcão –, relativa aos bens  herdados de um tio homónimo – Bartolomeu da Costa Macedo, casado com a citada Maria do Ó – que não teve filhos e foi dado como “desassisado e incapaz de administrar seus bens” por sentença de 29-IV-1853, pelo que não poderia testar como o fez; demandas estas que acabou por perder depois de se arrastarem por mais de quarenta anos, as quais estão na origem da perda da quase totalidade dos seus bens. 
Esta casa, juntamente com muitíssimos outros bens que incluiriam (?) a Quinta do Alardo, chegou à posse da família do visconde por herança dos antepassados paternos que eram os Geraldes Barba de Meneses, da Casa dos Geraldes (Idanha-a-Nova), à qual se uniu a Casa da Graciosa (Arcos, Anadia), e a Casa dos Arciprestes (Rua de Artilharia Um, Lisboa).
Através dos antepassados do 2.º visconde de Trancoso, vejamos então a presumível sucessão na posse desta casa, durante as últimas gerações.

BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GERALDES DE ANDRADE (1715-1788), 12.º administrador do morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova), no qual foi incorporado o morgado dos Arciprestes que tinha por cabeça o palácio e a Quinta dos Arciprestes, a qual estava localizada entre a Rua de Artilharia Um e o Parque Eduardo VII em Lisboa[18], assim como foi 2.° administrador do morgado dos Andrades (Monsanto).
Nasceu a 30-VI-1715 em Idanha-a-Nova, e veio a falecer com testamento a 14-VI-1789 na sua Casa e Quinta dos Arciprestes, em Lisboa, cidade onde foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios[19].
Era senhor da casa de SFL, por herança de seu pai, a qual acabaria na posse do 2.º visconde de Trancoso, seu derradeiro possuidor nesta família.
Também teve a posse do morgadio da Tapada do Alardo em Castelo Novo, por herança da sua mãe a 3.ª administradora D. Brites Maria de Andrade e Couto, a qual, por sua vez, ainda herdou o morgado e padroado do Convento de Santo António de Idanha-a-Nova[20].
Este vínculo do Alardo teria sido abolido em vida deste seu administrador, pois seria de pequeno valor económico e pelas Leis de 9 Setembro de 1769 terá sido extinto, podendo ser então herdado ou repartido por outros herdeiros que não o primogénito.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra veio a habilitar-se para o Santo Ofício (6-VIII-1754)[21] , tendo feito uma rápida ascensão na magistratura.
Começou por ocupar o lugar de corregedor na comarca da Guarda e de ouvidor na Alfândega de Lisboa, após o que foi desembargador da Relação e Casa do Porto e desembargador dos Agravos. Foi procurador da Real Fazenda (1765), conselheiro da Real Fazenda (1769), chanceler da Casa da Suplicação (1771)[22], assim como desembargador do Paço (1772), acumulando este cargo com o de conselheiro de El-Rei e secretário de estado da rainha D. Maria Ana Vitória, e regedor das Justiças (1783-1786), além de conservador da Junta da Administração do Tabaco e ouvidor e deputado da Casa de Bragança.
Era fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Malta, cavaleiro da Ordem de Cristo e comendador de São Miguel de Fornos no Bispado de Viseu.
A rainha D. Maria II, como recompensa dos seus serviços, já nos últimos dias da sua vida, concede-lhe a mercê do senhorio da Aldeia de Medelim, da alcaidaria-mor de Monsanto e das comendas de São Pedro das Comedeiras e São Miguel de Fornos na Ordem de Cristo, “tudo em duas vidas”.
Casou com grande pompa a 4-V-1764 na recém-edificada capela do Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras com D. INÊS DE VERA BARBA DE MENESES (1752-1812), uma dos oito filhos de Gonçalo Barba Alardo de Pina e Lemos (c. 1735), fidalgo cavaleiro da Casa Real, senhor do morgado da Romeira em Santarém, descendente dos medievos alcaides-mores de Óbidos e de Leiria, e de sua mulher D. Ana Joaquina Lourença de Carvalho e Meneses.
Sua mulher nasceu a 27-VI-1752 em Leiria, fez testamento a 30-XII-1811 e faleceu a 6-I-1812 no Palácio da Quinta dos Arciprestes em Lisboa[23].
Quanto à casa de SFL, e ao vínculo da Tapada do Alardo, já extinto devido ao seu pequeno valor, passou a outros filhos, que não o primogénito.
Tiveram 9 filhos, dos quais o varão primogénito e sucessor nos morgados da Casa foi Fernando Afonso Geraldes de Andrade Barba e Meneses (1770-1835),13.º administrador do Morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova), que viria a ser extinto na geração seguinte[24].
Quanto ao filho herdeiro da casa de SFL em Castelo Novo, foi:
FRANCISCO ANTÓNIO MARQUES GERALDES BARBA DE MENESES (1780-1855), que esteve na posse da casa de SFL em Castelo Novo.
Nasceu a 5-VI-1780 na freguesia de São Mamede em Lisboa, tendo falecido a 15-IV-1855 com testamento no qual contemplou com uma grande e valiosa quinta os filhos nascidos fora do seu casamento legítimo, não os excluindo do resto da herança, o que originou um demorado e complexo processo judicial com a filho legítimo – o 2.º visconde de Trancoso,
Foi brigadeiro dos Reais Exércitos, fidalgo cavaleiro da Casa Real, comendador da Ordem de São Bento de Avis, cavaleiro da Ordem de Carlos III de Espanha, cavaleiro da Ordem de Malta[25]. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa onde apresentou uma pequena «Memória Relativa aos regimentos de sinais da Marinha» (Rio de Janeiro, Impressão Régia, 1820).
Francisco António em 1833 é tutor do menor Pedro Teles de Melo (1817-1063), 10.º senhor da Casa dos Bicos edificada (1523?) em Lisboa por um filho do grande Afonso de Albuquerque. O pai de Pedro Teles de Melo, Francisco Xavier Teles de Melo Albuquerque Brito Freire Meneses e Faro Ataíde e Lancastre (1782-1833), secretário de guerra, faleceu em 1833 com dívida fiscais ao Estado, pelo que em 1827 foi penhorada por dívidas dos seus proprietários à Fazenda Pública, e posta ilegalmente em praça (os bens vinculados em morgadios não podiam ser penhorados), tendo sido arrematada pelo seu inquilino o muito rico bacalhoeiro Caetano Lopes da Silva que dela fazia armazém para o seu negócio.
Em nome deste menor, sucessor nos vínculos de seu pai, por morte prematura do seu irmão primogénito, o seu tutor recorreu à justiça para que lhe fosse devolvida a citada Casa dos Bicos. O dito bacalhoeiro, reconhecendo o erro, restituiu a propriedade da citada casa, nela continuando como arrendatário com um novo contracto de 500$000 réis anuais, com grande satisfação para Pedro Teles de Melo e seu tutor Francisco António.
Fez três casamentos, deixando geração legítima do último, e ilegítima de uma ligação extraconjugal que viria a causar um drama no seio desta família:
O 1.º casamento foi celebrado a 5-II-1815 em casa de seu avô na Rua do Rosário, no Rio de Janeiro, com D. ISMÉNIA JOSÉ DA CUNHA DE SOUSA VASCONCELOS CABRAL (c. 1815), açafata da Infanta de Portugal D. Maria Isabel de Bragança, rainha de Espanha, natural da freguesia de São Tomé em Lisboa, e falecida no Rio de Janeiro; filha de António da Cunha de Sousa e Vasconcelos, natural do Rio de Janeiro, e irmã de Luís da Cunha de Sousa e Vasconcelos Cabral, escrivão da Chancelaria da Casa da Suplicação (carta de 22-VII-1822)[26], bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra, senhor do morgado dos Sousas em Castelo Branco, casado, com geração. Deste casamento do visconde não houve filhos.
Lisboa. Largo do Caldas.
O 2.º casamento foi celebrado a 20-V-1822, nas segundas núpcias (?) de D. FRANCISCA PAULA XIMENES PEREIRA COUTINHO BARRIGA E VEIGA, filha bastarda e herdeira dos vínculos da casa de seu pai Rodrigo Ximenes Pereira Coutinho Barriga e Veiga (1716-1787?)[27], baptizado a 14-XII-1716 na freguesia de São Nicolau em Lisboa[28], fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, senhor de vários prédios urbanos de rendimento e do palácio de família situado no então "Terreirinho do Ximenes", denominação tirada desta família que que veio de Castela em 1476 e se implantou neste local. O terreno onde estava a sua casa apalaçada, após o Terramoto veio a ser aforado por Rodrigo Caetano a João Rodrigo Caldas para este aí edificar o seu palácio, o qual veio a dar o nome a este largo – Largo do Caldas (1874). Não houve geração deste casamento do 2.º visconde de Trancoso que dela herdou apreciável património incluindo vária casas nesse largo.
O 3.º casamento foi celebrado a 18-XII-1838 com D. MARIA DO CARMO DA COSTA DE MACEDO LOPES TAVARES E ORNELAS (1801-1856)[29], 1.ª viscondessa de Trancoso (decreto de 12-IX-1855, quando já viúva), título este que fora prometido a seu marido, nascida a ?-XII-1801 em Santa Maria de Trancoso e falecida a ?-VII-1856 quando residia no então Largo do Caldas em Lisboa numa casa que seu marido herdada de sua segunda mulher; filha de António da Costa Coutinho Lopes Tavares de Araújo e Ornelas e de Josefa Isabel de Macedo da Silveira de Vilalobos Guerreiro e Sequeira Reimão, senhores do erradamente designado “Palácio Ducal” em Trancoso, assim chamado por temporariamente aí ter habitado a Duquesa de Pozen, sua nora.
Trancoso, Palácio dos Viscondes
de Trancoso.
Deste último casamento nasceu o filho único Bartolomeu da Costa (2.º visconde), que segue abaixo, o qual curiosamente nasceu em Fevereiro de 1842, um ano depois do nascimento do filho ilegítimo e depois perfilhado Francisco de Paula nascido em Março de 1841, amplamente beneficiado na herança paterna o que originou uma grande disputa judicial com vista a anular este testamento.

Quanto à ligação ilegítima do 1.º visconde sabemos que por volta de 1840, quando beirava os 60 anos de idade, e recentemente casado com a sua 3.ª esposa, perdeu-se de amores por HENRIQUETA JUSTINA ALVES (n. 1819), uma jovem cerca de 40 anos mais nova e nascida a 7-VI-1819 na freguesia de São João Baptista em Abrantes, também conhecida por “Henriette Justine” e descrita como sendo uma “senhora de origem estrangeira e dotada de grande beleza[30], a qual, segundo uma nota à margem do assento de baptismo de seu filho Francisco, era moradora na Rua do Olival n.º 58. Esta era filha de Joaquim Alves e Maria Joaquina.
Deste relacionamento nasceram dois filhos naturais, perfilhados posteriormente “por declaração secreta entregue no cartório do notário Camilo José dos Santos, de Lisboa”, segundo refere Luís Bivar Guerra[31]. Foram estes: 1.º – Francisco de Paula Geraldes Barba (n. 1841), do qual falaremos mais abaixo;  2.º – D. Francisca Geraldes Barba, sem mais notícia.
Do 3.º casamento de Francisco António com D. Maria do Carmo houve:
BARTOLOMEU DA COSTA DE MACEDO GERALDES BARBA DE MENESES (1842-1900), 2.º visconde de Trancoso, da família dos morgados dos Geraldes em Idanha-a-Nova, o derradeiro proprietário da casa de SFL na sua família, por herança do seu progenitor Francisco António Marques Geraldes Barba de Meneses (1780-1855), e de sua 3.ª mulher D. Maria do Carmo da Costa Macedo Lopes Tavares e Ornelas (1801-1856)[32], 1.ª viscondessa de Trancoso.
Nasceu a 6-II-1842 e foi baptizado em caso de necessidade, tendo recebido posteriormente os “Santos Óleos” a 28-VIII-1842 na freguesia de Santa Maria, em Trancoso, apadrinhado por seus tios maternos Bartolomeu da Costa de Mendo Lopes Tavares e D. Maria Geraldes da Costa Tavares por procuração a seu sobrinho Domingos da Costa do lugar de Alvarelhos. Faleceu a 19-V-1990, com testamento, não no seu palácio da Rua da Graça (já alienado por dívidas?), mas na Rua de São Bernardo, n.º 62, 1.º, na freguesia de Santa Isabel em Lisboa, quando contava 58 anos de idade, tendo ido a sepultar em jazigo particular no cemitério do Alto de São João.
Assento de óbito do 2.º visconde de Trancoso.
Foi moço-fidalgo da Casa Real (alvará de 16-VII-1855)[33], cavaleiro da Ordem de Conceição, e abastado proprietário em Portugal e em Espanha pelo seu 2.º casamento, onde sua 2.ª esposa possuía os senhorios de Carabaña, Orusco e Valdilecha, localidades da comunidade autónoma de Madrid, e de outros vínculos em Trancoso, Portugal. Nele recaiu a representação da varonia medieval dos Geraldes de Idanha-a-Nova.
Bárbara Camila Vicência
 José de Noronha (1845-1874).
Como nacionalista convicto foi autor de um opúsculo anti-ibérico intitulado «Apontamentos para a história da dominação castelhana em Portugal» (Lisboa, Typ. do Benformoso, 1870), no qual recorda os horrores da dominação espanhola (1580-1640).
Devido a uma muito longa disputa judicial pela herança[34], que durou mais de quarenta anos e foi travada com os dois meios-irmãos nascidos ilegítimos, e outros, arruinou-se, perdendo a quase totalidade dos seus bens pessoais. Terá sido por esta altura que temporariamente veio residir em Castelo Novo nesta casa herdada de seus pais e, até então, por ele pouco valorizada face à grande quantidade de casas que possuía em sítios mais aprazíveis.
Contra Declaração do
 Visconde de Trancoso.
Lisboa, «Diário Ilustrado»,
31-Jan.-1897, p.4.
Desconhecemos o teor dos longos processos judiciais que travou pela herança de seus pais, ambos falecidos durante a sua menoridade o que originou o respectivo processo orfanológico, assim como também desconhecemos o testamento paterno que originou este imbróglio, e o seu próprio testamento. De tudo isto, sabemos que já próximo dos fim da sua vida – em 1897 – ainda andava em disputa judicial, da qual a imprensa da época fazia eco, e ainda com sucessivos recursos da sua parte, e da contrária que era D. Duarte de Alarcão e sua mulher D. Maria Emília Osório Cabral, os quais acabaram por ganhar a demanda num recurso final que gerou uma dívida gigantesca, pelo que ficaram com a totalidade dos bens do 2.º visconde, entre os quais se incluíam, além do seu palácio no Largo da Graça em Lisboa, a casa de SFL em Castelo Novo.
Bafejado pela sorte do berço em que nasceu, nacionalista e monárquico convicto, teve uma vida intensa mas terminou prematuramente os seus dias amargurado por um fim triste que o destino lhe reservou …
Casou duas vezes.
As primeiras núpcias a 5-X-1863 foram com D. BÁRBARA CAMILA VICÊNCIA JOSÉ DE NORONHA (1845-1874), nascida a 5-IV-1845 no palácio dos condes dos Arcos, na freguesia de “São Vicente São Tomé e Salvador”, em Lisboa, cidade onde faleceu prematuramente com 27 anos de idade a 22-IX-1874, sendo sepultada a 24-IX-1874 no cemitério do Alto de São João; filha de D. Nuno José de Noronha e Brito (1816-1892), 10.º conde dos Arcos (Arcos de Valdevez), e de sua mulher D. Maria Rita da Câmara (1820-1882)[35], filha dos 7.os condes da Ribeira Grande.
Lisboa, Largo do Salvador,
Palácio dos Condes dos Arcos.
As segundas núpcias foram celebradas a 14-X-1876 em Madrid com a princesa D. MARIA CRISTINA ISABEL GUROWSKI E BOURBON (1860-1901), duquesa de Pozen, nascida a 22-VIII-1860 e falecida a 28-II-1901 em Madrid; um dos oito filhos do príncipe Ignacy Waclaw Graf Gurowski (1812-1887)[36], conde de Gurowski, duque de Pozen, herdeiro do trono da Polónia, e de sua mulher D. Isabel de Borbon (1821-1882)[37], infanta de Espanha (filha de Francisco de Paula de Bourbon, infante de Espanha e 1.º duque de Cádis, e neta paterna de Carlos IV, rei de Espanha).
Este casal, à data do nascimento da sua 1.ª filha (1845), residia “em seu Palácio sito no Largo da Graça número quinze”, como consta no assento de baptismo da sua primeira filha Maria Rita.
Do 1.º casamento com D. Bárbara Camila teve 6 filhos:
1.º – D. MARIA RITA DAS DORES DO SOCORRO NORONHA E MENESES (1865-1969), nascida a 3-VII-1865 e baptizada a 15-VII-1865 na igreja paroquial de Santa Engrácia em Lisboa, tendo por padrinho o D. Manuel José de Noronha Brito, 9.º conde dos Arcos, já viúvo e morador no seu palácio do conde dos Arcos ao lado do Convento do Salvador no Largo do Salvador, na freguesia de São Vicente, e por madrinha Nossa Senhora das Dores, e “tocou com a sua prenda” a avó materna Maria do Carmo da Costa de Macedo Lopes Tavares e Ornelas, 1ª viscondessa de Trancoso, então moradora em casa do padrinho. D. Maria Rita veio a falecer ainda criança a 23-XI-1869.
2.º – D. MARIA DO CARMO DAS DORES DO SOCORRO DE NEIVA DA COSTA MACEDO GERALDES BARBA NORONHA E BRITO (1866-1961), 11.ª condessa dos Arcos (Arcos de Valdevez)[38], 3.° viscondessa de Trancoso[39]. Nasceu a 3-VIII-1866 e foi baptizada a 25-VIII-1866 na freguesia de Santa Engrácia em Lisboa, apadrinhada por seu avô materno D. Nuno José de Noronha e Brito, 10.º conde dos Arcos, e por D. Maria Angélica Osório Leite de Magalhães, tocando com procuração sua D. Margarida Angélica de Aragão Costa. Faleceu a 7-III-1961 em Lisboa.
Casou duas vezes.
As primeiras núpcias foram celebradas a 22-XI-1883 na freguesia de São Vicente de Fora em Lisboa com RAMIRO SOARES DE OLIVEIRA DA SILVA COUTINHO (1862-1889), moço fidalgo da Casa Real com exercício no Paço, nascido a 22-XI-1862 e falecido a 29-XII-1889, filho de Carlos Ramiro Coutinho (1828-1897), 1.° visconde de Ouguela, 3.º Barão de Barcelinhos por casamento, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido (1889-1895), e das terceiras núpcias de sua mulher D. Rita Soares de Oliveira (n. 1825). Sem geração deste casamento.
As segundas núpcias foram celebradas a 30-X-1893 em Lisboa com D. HENRIQUE JOSÉ DE BRITO E MENEZES DA ALARCÃO (1862-1915), o qual nasceu e a 29-III-1862 em Coruche, e faleceu a 19-IV-1915 em Lisboa. Era um dos seis filhos de D. José Manuel de Meneses Alarcão (1809-1874), fidalgo cavaleiro da Casa Real, coronel de Cavalaria, governador civil de Aveiro, Viseu e Santarém, senhor da Quinta da Torre do Lago e dos morgados dos Froes e Britos, da Erra, e da Capela do Espírito Santo, todos eles em Coruche, e ainda senhor da Quinta das Janelas em Óbidos, e do morgadio de Vale Flores, assim como do morgado e Quinta Grande de Meleças (Belas, Sintra), e dos da Eugaria (Colares, Sintra), o qual foi casado com D. Maria Emília Pinheiro do Vale (1821-1896).
Por este seu 2.º casamento, nesta geração, a varonia dos Arcos passou para a família Alarcão.
Deste casamento nasceram 2 filhos: 1. – D. JOSÉ MANUEL DE NORONHA E BRITO DE MENESES E ALARCÃO (n. 1899), 12.º conde de Arcos (Arcos de Valdevez), membro do Conselho Monárquico e da Comissão de Verificação de Títulos do Conselho de Nobreza, assim como membro da direcção da Causa Monárquica e fundador do Centro Nacional de Cultura, o qual casou a 10-V-1936 em Lisboa com D. Maria Margarida de Jesus Maria Clara Francisco Xavier de Mendonça (n. 1897), proveniente da família dos condes de Azambuja, duques de Loulé e viscondes de Moçâmedes, falecidos sem geração; 2. – D. NUNO JOSÉ DE NORONHA E BRITO DE MENESES E ALARCÃO (1900-1974), que foi casado duas vezes, e do seu 1.º casamento celebrado a 30-VII-1932 em Lisboa com D. Maria Aurora Garcês Jácome de Castro (1898-1946) teve 1 filho que foi D. Henrique José de Castro e Noronha de Alarcão (1936-2024) que renunciou os seus direitos aos títulos que lhe competiam, e do 2.º casamento celebrado a 30-III-1948 em Lisboa com D. Maria Helena da Apresentação da Silva de Noronha Wagner (1924-2000), teve 7 filhos, cuja descendência seguiu os apelidos NORONHA ALARCÃO, ALARCÃO FALCÃO, CAMPELO RIBEIRO. Deste último foi o primogénito D. MARCOS JOSÉ WAGNER DE NORONHA DE ALARCÃO (n. 1949), 13.º conde dos Arcos, 11.º conde de São Miguel, 5.º visconde de Trancoso (alvará do Conselho de Nobreza de 24-VI-1985), o qual, sendo solteiro, renunciou aos títulos no secundogénito D. PEDRO JOSÉ WAGNER DE NORONHA DE ALARCÃO (n. 1949), 14.º conde de São Miguel, 2.º conde de Vila Nova de Cerveira, e 6.º visconde de Trancoso, casado a 16-IV-1977 em Queluz com D. Maria da Conceição Campelo Ribeiro (n. 1948), com geração.
3.º – D. BÁRBARA DE NORONHA E MENESES (1867-1870), nascida a 9-VII-1867 e baptizada a 1-VIII-1667 em Santa Engrácia, Lisboa, tendo por padrinhos D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses, 9.º conde de Tarouca e 4.º marquês de Penalva, casado e morador no seu palácio da Rua da Rosa na freguesia de Nossa Senhora da Encarnação
cidade onde faleceu ainda criança a 3-III-1870 no Largo da Graça, n.º 15, e foi sepultada no jazigo n.º 605 do Cemitério do Alto de São João.
4.º – FRANCISCO DE SALES GERALDES BARBA DE NORONHA E MENESES (1869-1918), guarda-marinha da Armada Real portuguesa, que nasceu a 13-I-1869 na freguesia de Santa Engrácia em Lisboa, tendo por padrinho o seu tio-avô D. Francisco de Sales Zarco da Câmara, 1.º marquês da Ribeira Grande, casado e morador no seu Palácio da Junqueira (Rua da Junqueira, n.º 66), e por madrinaha Nossa Senhora e tocou com prenda da mesma Senhora a irmã do baptizado D. Maria Rita, ainda criança, que viria a falecer alguns meses depois. Casou com D. MARIANA AUGUSTA e veio a falecer a 9-VII-1918.
5.º – D. MARIANA DO SOCORRO DA CONCEIÇÃO DA COSTA MACEDO GERALDES BARBA (n. 1871) que nasceu a 2-I-1871 no Palácio do visconde de Trancoso ao Largo da Graça e foi baptizada a 6-II-1970 na freguesia de Santa Engrácia em Lisboa, apadrinhada por D. PEDRO JOSÉ DE (…) camarista do rei D. Luís I, e por D. Maria do Carmo Geraldes Bárbara de Noronha e Meneses, solteira. Faleceu em Lisboa em 1958.
Casou a 27-II-1897 em São Vicente de Fora em Lisboa com MÁRIO GALVÃO MEXIA DE SOUSA DE MOURA TELES E ALBUQUERQUE D'ORIGNY TAVARES DE CARVALHO TRIGUEIROS DA COSTA (1872-1942)[40], guarda-livros, moço fidalgo com exercício no Paço, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, morador em Nossa Senhora da Assunção da vila de Cascais, tendo por testemunhas deste matrimónio João José Henriques Trigueiros de Castro Ataíde, 1.º visconde de Abrançalha, morador na Rua de Entre Muros (actual Rua de Artilharia Um),[41] José Ribeiro Lopes da Silva, guarda-livros, D. Maria do Carmo Geraldes Barba de Noronha e Meneses, casada, moradora na Rua Nova de Santo António na freguesia de São Mamede.
Seu marido nasceu a 13-XII-1872 na freguesia de São Sebastião da Pedreira em Lisboa, cidade onde faleceu a 23-III-1942; filho de Felisberto José de Passos da Costa (1848-1897), nascido a 18-IV-1848 na freguesia da Madalena em Lisboa, e de sua mulher D. Maria Cristina Galvão Mexia de Sousa Moura Teles e Albuquerque (1847-1909), nascida a 14-VIII-1847 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa; neto paterno Eduardo José da Costa (n. 1801), natural da freguesia de Santa Justa em Lisboa, e de sua mulher D. Maria Peregrina Romana de Passos (n. 1811), natural de São Julião em Lisboa; e neto materno de José Maria Tavares Trigueiros Carvalho Costa (n. 1820)[42], natural de Idanha-a-Nova, e de D. Maria da Conceição Galvão Mexia Silva Moura Teles Albuquerque (n. 1824), natural da freguesia de Benfica em Lisboa.
Deste casamento nasceram 4 filhos: 1. – NUNO ANTÓNIO GERALDES DE NORONHA DA COSTA (1898-1953), casou a 3-IX-1927 na freguesia de São Mamede em Lisboa com D. MARIA DE LOURDES CRISTINA VERDE CARDOSO BACELAR DE SOUSA AZEVEDO (n. 1899), os quais foram pais de Nuno José de Sousa Azevedo de Noronha e Meneses da Costa (n. 1928), 4.º visconde de Algés (alvará do Conselho de Nobreza de 14-VI-1981), e de seu irmão o arquitecto-pintor Luís Mário Azevedo Noronha da Costa (n. 1942) que se celebrizou como artista-plástico sob o nome de «Noronha da Costa» averbando no seu currículo dezenas de mostras individuais e colectivas em Portugal, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, entre outros países; 2. – PAULO NORONHA MENEZES COSTA (1999-1999); 3. – D. BARTOLOMEU DE NORONHA DA COSTA (n. 1902), casado a 28-X-1936 com D. ANA SOARES DE ALBERGARIA PEREIRA (n. 1904), com geração; 4. – D. LUÍS GERALDES DE NORONHA DA COSTA (n. 1903), casado a 24-VI-1903 em Azambuja com D. MARIA HELENA JANVROT DA SILVA TELO DE NORONHA (n. 1906), sem geração.
6.º – MARIA EULÁLIA GERALDES BARBA DE NORONHA (1873-1896), nascida a 12-II-1873 e baptizada a 24-III-1873 na freguesia de Santa Engrácia em Lisboa, apadrinhada por seu tio Manuel Vaz Preto Geraldes, Par do Reino, e por sua irmã D. Maria do Carmo Geraldes Bárbara[43], e veio a falecer prematuramente a 14-IX-1896 na freguesia de São Vicente de Fora, solteira, sem geração.

Do 2.º casamento com D. Maria Cristina Gurowsky y Borbon, teve 4 filhos, os quais terão herdado os vínculos que sua mãe detinha perto de Madrid, pelo que se radicaram em Espanha onde seguiram os apelidos GERALDES y GUROWSKI, GERALDES y de LA HELGUERA, entre outros.
Foram estes: 1. – D. ALFONSO GERALDES Y GUROWSKI BOUBON (1877-1935), gentil-homem da Câmara de El-Rei D. Alfonso XIII de Espanha, nascido a 1-VII-1877 em Madrid, cidade onde faleceu a 5-I-1935, e onde casou a 21-V-1898 com D. AMÁLIA DE LA HELGUERA Y GARCIA (1878-1935), nascida a 10-VII-1878 em Madrid e aí falecida a 10-VII-1878, da qual teve 6 filhos; 2. – D. MARÍA ISABEL GERALDES Y GUROWSKI BOURBON (n. 1878), nascida a 19-XI-1878 em Madrid, casada com JESUS FRANCISCO DOMINGUEZ Y BARBEITO (1896-1940), nascido a 28-IV-1896 em Madrid, cidade onde faleceu a 24-X-1940; 3. – D. FERNANDO GERALDES Y GUROWSKY BOURBON (1884-1966), nascido a 8-VI-1884 em França e falecido a 7-IV-1966 em Madrid, casado a 22-VI-1910 em Madrid com D. MARÍA SALUSTIANA GARCIA-CASTRO Y ELOLA (1887-1960), nascida a 4-XI-1887 em Madrid, cidade onde faleceu a 29-VIII-1960; 4. – D. ENRIQUE GERALDES Y GUROWSKI BOURBO (1888-1915), nascido em 1888 em Madrid, e falecido prematuramente em 1915.

Os descendentes da ligação extraconjugal
do brigadeiro Francisco António com Henriqueta Justina Alves (n. 1819)
Da ligação ilegítima de FRANCISCO ANTÓNIO MARQUES GERALDES BARBA DE MENESES (1780-1855) com HENRIQUETA JUSTINA ALVES (n. 1819), nasceu o filho Francisco de Paula, que segue, e um filha que terá falecido prematuramente:
1.º - FRANCISCO DE PAULA GERALDES BARBA (n. 1841), proprietário, nasceu a 6-IV-1841 e foi baptizado a 15-IV-1841 na freguesia dos Anjos em Lisboa,  tendo sido reconhecido como “filho natural” pelo seu pai a 6-IV-1843. O nome Francisco de Paula foi-lhe certamente dado devido à proximidade da residência de sua mãe com Igreja de São Francisco de Paula da qual esta seria devota.
Francisco de Paula Geraldes
 Barba (n. 1841).
Foi magnanimamente contemplado no testamento de seu pai, ao que parece juntamente com a sua irmã, com uma grande e valiosa quinta – da qual não conseguimos apurar o nome nem a localização –, não os excluindo do resto do valioso património que seria repartido por igual.
Este legado, e ouros do mesmo testamento, originou a maior e mais longa disputa judicial da época, cujos sucessivos recursos se arrastaram pelos tribunais por mais de 40 anos. Entre as partes que se digladiaram, de um lado estava o sucessor do casamento legítimo que foi o 2.º visconde de Trancoso, o qual tentou sem sucesso impugnar este testamento, da outra parte os seus meios-irmãos, filhos de Henriqueta Justina Alves.
Francisco de Paula casou ainda em vida de seu pai a 5-IX-1864 na freguesia dos Anjos em Lisboa com D. LUDOVINA MARIA NOBRE (n. 1840)[44], baptizada em São Roque em Lisboa, cidade onde moradovam na Rua do Terreirinho, n.º 90, 3.º andar, tendo por testemunhas o seu meio-irmão Bartolomeu da Costa de Macedo Geraldes Barbas de Meneses, futuro 2.º visconde de Trancoso então morador no Largo da Graça, n.º 15, em Lisboa, e D. Manuel de Noronha e Brito, 9.º conde do Arco, avô da mulher legítima deste, o que prova haver então boas relações familiares entre todos. Francisco de Paula, aquando do nascimento do seu filho homónimo (1875) já morava na Rua da Graça, n.º 140.
Deste casamento nasceram 3 filhos:
1. - JOSÉ ANTÓNIO MARQUES GERALDES BARBA (1865-1930), médico, nascido a 7-III-1865 na Rua do Terreirinho, n.º 90, 3.º andar, em Lisboa, e baptizado a 3-IV-1865 na freguesia dos Anjos em Lisboa, apadrinhado por seu tio paterno Bartolomeu da Costa de Macedo Geraldes Barbas de Meneses e sua esposa D. Bárbara Camila Vicência José de Noronha. Faleceu em ?-X-1930 em Lisboa. Foi um distinto médico, casado com Helene Marie Josephine Pauline van Ackere Rolim (1866-1951), nascida na Bélgica a 4-XI-1866, falecida em Lisboa em 1951, e um dos 10 filhos de uma proeminente família belga radicada em Portugal. Deste casamento teve 10 filhos e um infindável número de netos e bisnetos, muitos dos quais vieram a distinguir-se na medicina, na ciência, nas artes, no mundo empresarial, e na vida militar, seguindo os apelidos GERALDES BARBA, FILIOL DE RAIMOND, SILVA AMADO, PESSOA JORGE, ALMEIDA CABRAL, BEJA DA COSTA, WAGNER GERALDES BARBA, SACADURA CABRA, GARCEZ PALHA DE ALMEIDA, PINHEIRO CHAGAS VERDE, entre muitos outros.
2. - D. ELISA DA CONÇEIÇÃO GERALDES BARBA, solteira, s.m.n..
3. - FRANCISCO DE PAULA GERALDES BARBA (1875-?), homónimo de seu pai, oficial do Exército que obteve a patente de Coronel, nascido a 11-I-1875 na Rua da Graça n.º 140, baptizado cerca de dois meses depois a 8-III-1875 na freguesia dos Anjos em Lisboa, apadrinhado por Manuel Francisco Pinto Bastos, empregado de comércio, e D. Olímpia Gomes Teixeira Bastos. Ao contrário de seus irmãos e sobrinhos não foi apadrinhado pelos 2.ºs viscondes de Trancoso, nem pelo 9.º conde dos Arcos, o que nos leva a presumir haver já um grande afastamento entre a família devido ao grande litígio judicial pela herança, o que levou o 2.º visconde de Trancoso à ruína.
Casou a 4-XI-1897 na freguesia dos Anjos em Lisboa com D. MARIA AUGUSTA PEREIRA DOS SANTOS (n. 1897), natural da freguesia de Santa Maria de Belém, em Lisboa, moradora na freguesia de São Jorge de Arroios, filha de Augusto Rogério Gonçalves dos Santos e de D. Luzia Augusta Pereira Santos, tendo por testemunha o seu pai e José Manuel de Elvas Cardeira, coronel do Estado-Maior do Exército, e sua mulher D. Maria Isabel Seabra da Fonseca Silvano Cardeira, moradores na Rua do Desterro n.º 16. Deste casamento teve 5 filhos, e vários netos que continuam os apelidos paternos.

Família Falcão
Sabemos, por alguma documentação avulsa na posse dos actuais proprietários desta casa, que, nos primeiros anos do século XX, uma parte deste prédio urbano era um prazo enfiteutico, isto é, era uma propriedade desmembrada em dois domínios: directo (senhorio na posse de D. Maria Osório Cabral), e útil (enfiteuta ou foreiro, António Fernandes Simão), conforme consta por um registo (Conservatória Privativa da Comarca do Fundão, n.º 2033, L. «B», n.º 10, f. 216).
Supomos que este regime jurídico da casa já viria dos tempos do seu fundador SFL, o qual provavelmente pagaria um foro (a uma instituição religiosa?) pelo terreno para ampliar a casa primitiva, quando desta fazia parte um apreciável logradouro agrícola nas suas traseiras, pois era uma forma de arrendamento muito comum naquela época.
Muitos destes domínios enfitêuticos, estavam desde tempos imemoriais na posse da Igreja ou de diversas confrarias religiosas, as quais os aforavam para garantirem rendimentos próprios, mas acabariam muitos deles por serem perdidos a favor do Estado, o qual os alienou em hasta pública a favor de interesses privados, regra geral apoiantes da clientela política do liberalismo.

Estes foros, por via da legislação liberal que espoliou os bens das paróquias, das confrarias religiosas e demais institutos pios ou de beneficência, acabaram nas mãos da Fazenda Pública que, no distrito de Castelo Branco, os pôs em hasta pública alguns anos depois, sendo então adquiridos por particulares.

Conhecemos um ou outra evento semelhante, passado na Serra da Gardunha, como foi o caso da venda de um foro imposto em uma terra com castanheiros no sítio da Lage, no Souto da Casa, no valor de 50.300 réis, que era devido à irmandade do Santíssimo desta freguesia, cujos direitos lhe cabiam, e foi apropriado pelo Estado para acabar vendido em leilão a privados em 1882.
Presumimos ter sido isto que sucedeu com a citada casa de SFL.
Chamamos a atenção do leitor para o facto do domínio directo deste prazo se nos afigurar andar na posse de alguma confraria religiosa, passando posteriormente a privados; pertencendo o domínio útil deste prazo, desde tempos recuados à família do visconde de Trancoso. Porém não é isso que consta em registos e escrituras em que este último é mencionado como senhorio directo, o que presumimos ser erro de interpretação por desconhecimento dos intervenientes nas escrituras em questão.
Quanto ao domínio útil (enfiteuta/foreiro), pertenceria à família dos VISCONDES DE TRANCOSO, os quais, deste modo, dispunham da propriedade como entendesse mediante o pagamento do foro, neste caso uma quantia em dinheiro.

À data da venda à família Falcão, nos primeiros anos do século XX, estava o domínio útil na posse da então credora dos viscondes de Trancoso que foi D. MARIA EMÍLIA OSÓRIO CABRAL (1850-1934), então já viúva do segundo casamento de D. Duarte de Alarcão Velasques Sarmento Osório (1854-1905), como prova um registo na Conservatória do Fundão.


O seus derradeiros herdeiros, num dos ramos da família fundadora, foi o 2.º visconde de Trancoso que faleceu em 1900, e a sua mulher a duquesa de Pozen falecida no ano seguinte em 1901.
Por enormes dívidas contraídas pelo visconde, por via da sua litigância em longos processos judiciais que perdeu, grande parte dos seus bens foram parar às mãos de um credor e parente do visconde, o seu familiar D. DUARTE DE ALARCÃO VELASQUES SARMENTO OSÓRIO (1854-1905), senhor da Quinta da Lágrimas em Coimbra, nascido a 9-XI-1854 em Espinhal, concelho de Penela, tendo falecido a 9-III-1905 na freguesia de Alcântara, em Lisboa, cidade onde casou em segundas núpcias a 17-VI-1889 na freguesia de São Sebastião de Lisboa com sua prima D. MARIA EMÍLIA OSÓRIO CABRAL (1850-1934), nascida a 7-VI-1850 na freguesia de São Miguel, em Castelo Branco, e falecida a 6-IV-1934 em Paris, a qual por sua vez era filha do conselheiro Miguel Osório Cabral, natural da freguesia de Travassô, concelho de Águeda, e de sua mulher D. Maria Carolina de Almeida Monteiro, natural de Viseu.
Salão (pormenor).
Quanto a esta casa, que inicialmente terá sido subtraída à voragem dos primeiros credores, ficou para os herdeiros do Visconde, pois sabemos ter sido o seu filho D. FERNANDO GERALDES Y GUROWSKY BOURBON (1884-1966), solteiro maior, residente em Madrid, por procuração sua e de seus irmãos, passadas a 16-II-1905, fez uma escritura de venda do domínio directo – segundo refere – desta casa a 21-II-1906 pela quantia de 96.000 réis ao comprador ANTÓNIO MENDES FALCÃO, ainda solteiro, natural de Castelo Novo – filho de FELIZARDO MENDES FALCÃO que já detinha o seu domínio enfiteutico por ter casado com a herdeira deste prazo, D. Ana Maria de São José, já falecida, filha de ANTÓNIO FERNANDES SIMÃO que certamente o obtivera este “domínio útil” por licitação em hasta pública, e deu autorização a esta venda, declinando o seu direito de opção.
Posteriormente, este António Mendes Falcão remiu um foro que sobre esta casa incidia, ficando com a sua posse plena – domínio útil e domínio directo.

A remissão deste foro a seu pai Felizardo Mendes Falcão (casado com D. Ana Maria de São José), destinou-se certamente a este ficar desobrigado deste encargo perpétuo, perante outros herdeiros que o seu progenitor tivesse, os quais desconhecemos.
António Mendes Falcão, filho de Felizardo Mendes Falcão que já era enfiteuta deste prazo,  segundo um documento das Finanças do Fundão existente num arquivo desta casa, era tetravô da actual proprietária D. MARIA CECÍLIA PINA FALCÃO, a qual, juntamente com o seu falecido marido, o Dr. JOSÉ VIRIATO SOROMENHO RAMOS (f. 2016)[45], requalificou esta casa com um exemplar restauro – a servir de exemplo às barbaridades que neste campo têm sido cometidas na Cova da Beira –, licenciando-a sob a designação de «SOLAR DOM SILVESTRE, SOCIEDADE DE TURISMO E CULTURA, Lda.», vocacionada para a “actividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental”, assim como a “promoção, organização e divulgação de eventos culturais, educativos, recreativos e desportivos, prestação de serviços de consultoria económica, marketing e publicidade”.
Quanto aos MENDES FALCÃO, do concelho do Fundão, sabemos da existência de um ANTÓNIO MENDES FALCÃO (c. 1674), natural do Fundão, o qual fez habilitação para familiar do Santo Ofício em 1674, onde de provou ser um “cristão velho, de boa vida e costumes”, o qual vivia “de sua fazenda”. Este era filho homónimo de António Mendes Falcão, natural do Fundão, e de sua mulher D. Francisca Vaz, natural de Aldeia Nova do Cabo; neto materno de Manuel Antunes, da freguesia do Souto da Casa, e de D. Apolónia Antunes, natural do Fundão; neto materno de Francisco Vaz, natural de Aldeia Nova do Cabo, e de D. Maria Antunes, natural do Souto da Casa, todos eles “cristãos velhos, limpos de sangue” e já defuntos à data desta habilitação.
Este era casado co D. ANA RODRIGUES, natural e moradora no Fundão, filha de Manuel Vaz Barroso e de D. Violante Rodrigues, moradores no Fundão; neta paterna de Francisco Vaz, natural do Souto da Casa, e de Joana Francisca, natural do Fundão; e neta materna de Francisco Rodrigues e de D. Maria Francisca, os quais foram moradores no Fundão, todos eles já defuntos (ANTT, Concelho Geral, Habilitações, António, mç. 16, doc 536).

Desconhecemos a existência de filhos deste casal, e a hipotética ligação com a família Falcão que um século depois estava implantada em Castelo Novo onde eram proprietários.


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Serra da Gardunha: Castelo Novo, Alpedrinha, e Vale de Prazeres (1848).

§ 2

Morgado da Tapada do Alardo

Instituição em 1619
É sabido, através Luís Bivar Guerra na sua monografia sobre «A Casa da Graciosa»[46], que os família Geraldes de Idanha-a-Nova incorporou ao longo de vários séculos bens provenientes de outros vínculos, um deles com origem em Castelo Novo, o qual no século XIX estava na posse dos viscondes de Trancoso, seus sucessores.
Lamentavelmente, os originais da instituição da maioria destes vínculos não existem, pois, em 1810, o solar onde estava esta documentação foi roubado e incendiado[47].
Castelo Novo, castelo do tempo do rei D. Dinis (1261-1282).
Um destes morgadios foi o da Tapada do Alardo em Castelo Novo, outrora uma extensa porção de terras situadas na encosta sul da Gardunha, a montante desta povoação.
À época, esta tapada de solo predominantemente pedregoso, além de alguma floresta e matos para caça e pastagem de gado, seria entrecortada de alguns pequenos pedaços de terra agricultável e bem provida de água que abastecia uma parte do povoado à volta do seu castelo medieval. Na generalidade, seria um vínculo de baixo valor económico e, como consequência, terá sido abolido pela legislação de  9 Setembro de 1769.


Embora existam vários “alardos” na toponímia portuguesa, este vocábulo de origem árabe refere o local onde se fazia o alardo, isto é, a apresentação e revista militar às antigas Ordenanças.
Rua do Alardo
 (periferia da Tapada do Alardo)
Sabemos que os Geraldes de Idanha-a-Nova tiveram património fundiário em Castelo Novo, pelo que a mencionada Tapada do Alardo – que Luís Bivar Guerra menciona várias vezes ao longo do seu trabalho sem dar a sua localização[48] –, é a actual Quinta do Alardo (outrora também conhecida por Azinhaga do Alardo) com uma antiquíssima casa fortificada situada na sua periferia, a norte da malha urbana, a qual terá pertencido à família Cunha, comendadores de Castelo Novo na segunda metade do século XV[49].
Esta tapada chegou ao século XX já fraccionada em pelo menos duas propriedades distintas: uma delas que tem anexa a casa primitiva datada do século XVI, a qual foi parar à posse dos Cunha/Gamboa[50]; e a outra parte da quinta é actualmente propriedade da empresa «Aguas do Alardo».
Castelo Novo, Casa da Comenda,
 do Alardo ou da Cerca.
Quanto à casa da Quinta do Alardo, datada do século XVI, encontra-se em ruinas só subsistindo as grossas paredes em cantaria de aparelho isómero, com uma robustez de características defensivas. É actualmente conhecida pelas designações de Casa da Comenda, do Alado ou da Cerca, e fica situada no gaveto da Rua do Castelo Velho com a Rua do Alardo, uma das periferias desta quinta, na encosta da serra da Gardunha, ao cimo do núcleo urbano mais primitivo desta vila que apresenta ruas muito estreitas e tortuosas, ladeadas de altos muros, respirando ainda um sabor medieval.

Este morgadio do Alardo, assim como a casa de SFL (1616) em Castelo Novo, nos séculos seguintes à sua fundação passaram à posse da família dos morgados dos Geraldes em Idanha-a-Nova e, bastante mais tarde, já na segunda metade do século XIX, a casa de SFL era fruída pelo 2.º visconde Trancoso, descendente desta família.
É bastante difícil, por falta de documentação, seguir a sucessão na posse da casa, porém, graças à investigação de Luís Bívar Guerra que teve acesso privilegiado ao arquivo documental da Casa dos Geraldes em Idanha-a-Nova, ficamos a conhecer alguns dos administradores do vínculo do Alardo, que andou muito tempo unido à casa em apreço..
Senão, veja-se.
O MORGADIO DA TAPADA DO ALARDO, ao qual foi vinculado a quinta do mesmo nome, foi instituído por um testamento datado de 19-IV-1619 e lavrado nas notas do tabelião André de Madureira de Idanha-a-Nova, da autoria de D. LEONOR GERALDES, filha de gente abastada que tinha numerosa parentela com vasto património fundiário espalhado por várias localidades da Beira Baixa, cuja data do falecimento desconhecemos[51], a qual fazia parte de uma prole de cinco filhos de Pedro Geraldes, capitão de uma das duas companhias existentes em Idanha-a-Nova no reinado de D. João III (1521-1537), e de sua mulher e prima D. Catarina Nunes[52], a qual por sua vez era filha de Giral Nunes Giraldes, o 1.° administrador do morgado dos Geraldes em Idanha-a-Nova que ignoramos com quem casou.
Esta D. LEONOR GERALDES, entre as várias disposições testamentárias «mandou dizer missas por alma dos pais e dos avós Francisco Giraldes e Maria Cardosa e do avô materno Giral Nunes Giraldes (Doc. Do Arquivo da Casa da Graciosa[53], assim como «instituiu o Morgado da Tapada do Alardo, para o qual nomeou como 1.ª Administradora sua filha primogénita» que foi D. Maria Geraldes[54].
Nesta época, à semelhança do que ia sucedendo por todo o país entre as classes sociais mais abastadas, a endogamia era um dos processos de conservação da riqueza e do poder que levava a repetidos enlaces matrimoniais dentro de um mesmo grupo familiar. Foi o que sucedeu repetidamente nesta família, o que seria nefasto em termos de riscos biológicos e do consequente tributo pago à transmissão de doenças hereditárias e às mortes prematuras.
Quanto aos Geraldes, estes «eram gente limpa e fidalga que deu magistrados à Rainha D. Maria I [1771-1816], sujeitos estes que foram escolhidos, com outros, para rever o famoso processo dos Távoras», como refere Gustavo de Matos Sequeira[55].
D. Leonor Geraldes, a fundadora/instituidora deste vínculo, veio a fazer dois casamentos endogâmicos: as suas primeiras núpcias foram com SIMÃO FERNANDES (parente do nosso SFL?) – o qual parece ser o mesmo que foi padrinho de FRANCISCO (n. 1626), o filho varão de SFL –, do qual enviuvou sem ter geração, tendo então passado a segundas núpcias com FERNANDO AFONSO GERALDES, do qual há muitos homónimos nesta família, sendo este o filho de Gaspar Fernandes Geraldes (novamente um Fernandes…) e de sua mulher D. Catarina Marques – os MARQUES e GERALDES, eram apelidos ainda em uso pelos viscondes de Trancoso, já no século XIX.
Deixou duas filhas das segundas núpcias com Fernando Afonso Geraldes: a 1.ª D. MARIA GERALDES, filha primogénita, foi a herdeira do vínculo instituído por sua mãe; e a 2.ª, que foi D. CATARINA AFONSO, casada com seu 2.º primo o licenciado Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes, ilho de Marçal Nunes Geraldes e de sua mulher e parente D. Brites Geraldes.
D. MARIA GERALDES, a 1.ª administradora do morado da Tapada do Alardo, instituído por disposição testamentária de sua mãe (c. 1619), tal como a sua progenitora também foi casado duas vezes com parentes: o seu 1.º casamento foi com FRANCISCO MARQUES GERALDES, filho de João Marques «o Velho» e de sua mulher D. Constança Nunes Geraldes, filha esta de António Nunes Geraldes que foi 3.º administrador do morgado dos Geraldes, e de sua mulher e prima D. Catarina Gonçalves Calvo «a Nova»; o 2.º casamento foi com PEDRO GERALDES RICO, filho de Giraldo Anes casado com D. Maria Álvares Rico[56].
Do seu 1.º casamento com Francisco Marques Geraldes, teve 2 filhos: o primogénito que segue, e a sua única irmã  D. Maria Nunes Geraldes casada com Manuel Alvares Rico, filho do 1.º casamento de seu padrasto Pedro Geraldes Rico[57].
Quanto ao primogénito Manuel Marques Geraldes (f. 1628), faleceu bastante novo a 26-IV-1628 em Idanha-a-Nova com testamento aí feito a 2-IV-1628 nas notas de André Madureira, pelo que não chegou a suceder no morgado da Tapada do Alardo, e casou em Monsanto com sua parente D. Mécia Nunes de Andrade, filha de João de Andrade Couto e de sua mulher D. Maria de Andrade Calvo[58].
Este casal teve um só filho que foi Francisco Marques Geraldes (f. 1644), morto em 1644 num combate travado com os castelhanos em Vale Serrano, Idanha-a-Nova, quando era jovem e recém-casado com sua prima D. Maria Nunes Geraldes, filha de António Marques Geraldes e de sua mulher D. Leonor Fernandes da Cruz, o qual também não herdou o morgadio, mas deixou um filho único que foi Francisco Marques de Andrade, que segue:

FRANCISCO MARQUES ANDRADE foi o 2.º administrador do Morgado da Tapada do Alardo, por disposição testamentária de sua bisavó D. Maria Geraldes, devido à morte prematura de seu pai e avô.
Nascido após a morte de seu pai, foi capitão-mor de Idanha-a-Nova, tendo casado a 18-XI-1682 em Idanha-a-Nova com sua prima D. FRANCISCA NUNES MOUCHO, filha de Gonçalo Vaz Nunes e de sua mulher D. Catarina Afonso Calvo.
Este Francisco Marques e sua mulher instituíram por testamento feito a 24-III-1708 nas notas de Manuel Martins Lucas, de Idanha-a-Nova, um morgadio com a terça dos seus bens, no qual nomearam por escritura de dote (20-I-1710) sua filha D. Brites, a qual também herdou a Tapada do Alardo. Foram seus filhos: 1. - D. Brites Maria de Andrade e Couto, que segue; 2. - Francisco Marques, que morreu menino; 3 - D. Maria dos Anjos de Santo António, freira no Convento de São Vicente da Beira; e 4. - D. Joana Baptista de Andrade que faleceu solteira, sem geração[59].

A primogénita D. BRITES MARIA DE ANDRADE E COUTO foi a 3.ª administradora do Morgado do Alardo que trouxe em dote para a Casa dos Geraldes na Idanha-a-Nova[60], além de ter herdado o morgado instituído por seus pais e o padroado do Convento de Santo António de Idanha-a-Nova, assim como foi herdeira de todos os vínculos de seus primos Andrades de Monsanto por escritura feita a 26-II-1739 por João Monteiro de Távora[61].
D. Brites Instituiu um morgado a 6-XI-1760 em Idanha-a-Nova, «a favor de seu filho e irmão», ao qual foram anexados nove outros vínculos, nos quais incluiu o morgado dos Geraldes (instituído em 1448), como consta no rol de vínculos que por força do decreto de 30-VII-1860 foi registado no Governo Civil de Castelo Branco e, três anos depois, pelo decreto de 19-V-1863 é-lhe posto fim[62].
Também estaria na posse da Casa de Silvestre Fernandes Leitão, em Castelo Novo, não se sabendo ao certo se esta estava unida ao morgadio da Tapada do Alardo, o que nos parece mais verossímil, ou se veio à sua posse por via de outros vínculos herdados.
Idanha-a-Nova, Casa dos Geraldes.
Casou a 31-III-1712 com seu primo o FERNANDO AFONSO GERALDES (f. 1758), licenciado, 11.º administrador do morgado dos Geraldes, casamento este que trouxe o vínculo da Tapada do Alardo para a já grande Casa dos Geraldes. Este era um dos seis irmãos, filhos de Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes, 10.º administrador do morgado dos Geraldes e 2.º administrador do morgado instituído pelo padre da freguesia das Donas Manuel Marques Geraldes, pároco da freguesia das Donas (biografado em Anexo), tendo falecido a 17-IV-1758 na sua quinta da Charneca do Lumiar, em Lisboa, recebendo sepultura no meio do Capítulo do Convento de Nossa senhora do Socorro da Ordem do Carmo, em Camarate, no concelho de Loures[63].
Foi sucessivamente juiz de fora de Vila Franca de Xira (1707) e da cidade do Porto, corregedor de Castelo Branco e de Coimbra, sendo promovido a desembargador da Casa da Suplicação (1783) e dos Agravos (1787), juiz dos Cavaleiros das Ordens Militares (1738), juiz dos Feitos da Coroa e Fazenda (1745), concelheiro da Fazenda (1748), sendo simultaneamente deputado da Junta dos Tabacos, e conselheiro da Rainha e Ouvidor Geral da Casa de Bragança. Era ainda fidalgo cavaleiro da Casa Real (1750), cavaleiro da Ordem de Cristo e familiar do Santo Oficio, gozando de grande prestígio na Corte[64].
Quanto à sucessão do morgadio da Tapada do Alardo, que entrou em dote na Casa dos Geraldes por morte deste seu administrador (1758), o qual deixou uma numerosa prole de 14 filhos que herdaram os bens livres, tendo os bens vinculados em morgado ido parar ao filho varão primogénito que foi:

BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GERALDES DE ANDRADE (1715-1788), 12.° administrador do morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova) e 2.° do morgado dos Andrades (Monsanto), e do recém-criado morgado dos Arciprestes (Lisboa),
Nasceu a 30-VI-1715 em Idanha-a-Nova, e veio a falecer com testamento a 14-VI-1789 na sua Casa e Quinta dos Arciprestes, em Lisboa[65].
Senhor da casa de SFL, e do morgadio da Tapada do Alardo em Castelo Novo.
Casou com D. INÊS DE VERA BARBA DE MENESES (1752-1812), uma dos oito filhos de Gonçalo Barba Alardo de Pina e Lemos (c. 1735), e de sua mulher D. Ana Joaquina Lourença de Carvalho e Meneses.
Este casal vai biografado com mais detalhe acima no § 1 em «Antepassados dos viscondes de Trancoso».
Tiveram 9 filhos, dos quais o sucessor nos vínculos foi o varão primogénito FERNANDO AFONSO GERALDES DE ANDRADE BARBA E MENESES (1770-1835), 13.º administrador do Morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova), ao qual já estava ligado o dos Arciprestes (Lisboa) e o da Tapada do Alardo (Castelo Novo)[66].
Nasceu a 10-IV-1770 na freguesia de Santos-o-Velho em Lisboa, e foi baptizado a 18-IV ,
Faleceu repentinamente a 11-XI-1835 na Baía de Mira, e foi sepultado no dia seguinte no adro da igreja de São Paio dos Arcos, Anadia, localidade onde tinha o seu Palácio da Graciosa.
Anadia, Palácio da Graciosa.
Foi moço fidalgo da Casa Real, alcaide-mor de Monsanto, senhor donatário de Medelim, cavaleiro da Ordem de Malta, cavaleiro da Ordem de Cristo, comendador de São Miguel de Fornos na mesma Ordem, e Conselheiro de Sua Majestade.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, seguiu a carreira da magistratura.
Casou a 17-II-1791 na freguesia de São Paio dos Arcos com D. MARIA JOANA DAS DORES DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO E BOURBON (N. 1778)[67], nascida a 10-IV-1778 na já citada Quinta da Graciosa.
Este casal vai biografado com mais detalhe acima em «Sucessão na Posse da Casa»
Tiveram 7 filhos, dos quais o foi varão primogénito:
FERNANDO AFONSO GERALDES DE MELO SAM­PAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO (1808-1889), 1.° visconde (carta de 5-II-1840), 1.º conde (12-VI-1852), 1.° marquês da Graciosa (25-IX-1879), e moço fidalgo da Casa Real (2-VIII-1827).
Nasceu a 24-VI-1808 na freguesia de São Paio dos Arcos, onde foi baptizado a 3-VII-1808.
Foi 14.° administrador do Morgado dos Geraldes, em Idanha-a-Nova, senhor de todos os morgados e prazos de sua mãe, alcaide-mor de Mon­santo, senhor donatário de Medelim, entre outros. Figura de grande prestígio, recebeu por várias vezes a família Real no seu Palácio da Graciosa.
Foi ele o derradeiro administrador do morgado dos Geraldes, que foi fundado em 1458 e acrescentado com outros vínculos ao longo da sua existência.
Quanto ao morgadio da Tapada do Alado e à casa de SFL, já seriam, á data,  bens livres das imposições vinculares.


Anexos:

Manuel Marques Geraldes, pároco das Donas

Curiosamente, o padre Manuel Marques Geraldes, comissário do Santo Ofício e prior da Donas, no concelho do Fundão, foi o autor de um manuscrito denominado «Memorial» (1631?), ou «Memórias», o qual historia esta família e foi uma das fontes a que Luís Bivar Guerra também recorreu para redigir «A Casa da Graciosa» (Braga, 1965)[68].
O facto de ter paroquiado as Donas, leva-nos à convicção de que no concelho do Fundão granjeou património fundiário (em Castelo Novo?).
Este pároco instituiu um importante morgadio no qual nomeou um seu sobrinho, o licenciado Fernando Afonso Geraldes, para 1.° administrador – o qual também veio a ser administrador do 9.º morgado dos Geraldes – assim como, por escritura de 11-VI-1663, “constituiu um elevado dote a sua sobrinha Catarina para casar com Pedro de Sousa Refóios[69].
Esta sobrinha, D. Catarina Marques Geraldes, foi casada a 31-I-1665 em Idanha-a-Nova, mediante dispensa papal de Alexandre VII com seu parente Pedro de Sousa Refóios, 7.º administrador do morgado dos Refóios, filho das segundas núpcias celebradas a 24-VI-1635 em Idanha-a-Nova de Francisco Marques Geraldes, cavaleiro de Ordem de Aviz, com sua parente D. Maria de Sousa Refóios – esta filha de Pedro de Sousa Refóios[70], juiz dos Órfãos, e de sua mulher D. Beatriz Branco, 1.ª administradora do morgado de São Jacinto em Idanha-a-Nova, instituído por seus pais a 5-XII-1613 em Idanha-a-Nova[71].
Deste casamento não houve geração pelo que os vínculos passaram à sua irmã D. Perpétua de Sousa Refóios, a qual nunca casou e, ao morrer sem geração passou o morgadio dos Geraldes ao parente mais próximo da 2.ª linha dos descendentes do instituidor que foi o licenciado Fernando Afonso Geraldes, 9.º administrador do morgado dos Geraldes, casado a 12-IV-1638 em Idanha-a-Nova com sua parente D. Mécia Afonso Geraldes[72].
Porém, D. Perpétua, também deixou apreciável quantidade de bens livres – não vinculados – os quais foram motivo de litígio entre parentes e ficaram indivisos por vários anos até 20-IV-1690, data esta em que um acordo entre as partes pôs fim à demanda[73].
As partes litigantes em relação à sua herança, foram: por um lado Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes e sua irmã D. Catarina Afonso Geraldes (filhos do licenciado Fernando Afonso Geraldes, 9º morgado dos Geraldes, casado em a 12-IV-1638 com D. Mécia Afonso Geraldes); tendo como opositores o conselheiro da Fazenda Domingos Marques Geraldes (filho de Marçal Pires Leitão e de D. Constança Marques Geraldes), e Lourenço Cardoso de Sousa e Sande Refóios (filho do Dr. Pedro de Sousa de Sande Refóios e de D. Antónia de Castelo Branco).

Abolição definitiva do morgadio (1863)

O decreto de 30-VII-1860 obrigou ao registo destes morgados no Governo Civil de Castelo Branco e, três anos depois, o decreto de 19-V-1863 põe definitivamente termo a este tipo de vínculos ao declarar que “ficam desde já abolidos todos os morgados e capelas actualmente existentes no continente do reino, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas e declarados alodiais os bens de que se compõem”.
A partir desta legislação, os bens dos morgadios passaram a ser livres das imposições vinculares, podendo ser divididos pelos diversos herdeiros, os quais muitas vezes os alienam.


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Notas:

[1]      A Rua da Misericórdia, nome que lhe foi dado já no século XX, era a antiga Rua da Cruz – nome tirado de um cruzeiro que ainda existe e passou para uma esquina de uma rua transversal –, terá começado a ser habitada no século XV, como se pode deduzir por uma casa nela existente com uma bela janela quinhentista.
[2]      O apelido GIRALDES, grafado com um «i», como esta família de Idanha-a-Nova usou inicialmente, ou GERALDES com um «e», como outros ramos da mesma família também usaram, levam a algumas confusões, pelo que, ao longo deste trabalho, grafamos este apelido com um «e».
[3]      Destes conhecemos Manuel Tavares Falcão (c. 1633), tabelião da Atalaia, residente no Alcaide, que teve carta de brasão de armas a 25-I-1633; Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão (c. 1788), descendente do anterior, que teve carta de brasão de armas passada a 21-I-1788,cujo solar é o actual Museu Arqueológico José Monteiro no Fundão.           
[4]      SILVA, Joaquim Candeias da, Concelho do Fundão – História e Arte, Vol. I, Fundão, CMF, 2002, p. 158.
[5]      SILVA, Joaquim Candeias da, Op.cit., p. 166.
[6]      Entre os armigerados mais antigos temos Manuel Roberto Leitão (c. 1640) com CBA passada a 6-IV-1640.  
[8]      Informação do investigador Coronel Manuel da Silva Rolão.
[9]      O Alferes da Bandeira Real era o portador da Bandeira Real que ia à frente das ordenanças desta localidade, quer na guerra, quer em solenes cortejos religiosos onde estas participariam. 
[10]    SILVA, Joaquim Candeias, Op. cit., pp. 158, 159, 166.
[11]    SILVA, Joaquim Candeias, Op. cit., p. 166.
[12]    «Capítulos apresentados às Cortes de 1641 pelos procuradores da vila da Covilhã», in. Miguel Nuno Peixoto Carvalho Dias, http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/08/covilha-as-cortes-v.html
[13]    SILVA, Joaquim Candeias – Op. cit., p. 166.   
[14]    Curiosamente o rei D. Fernando II (1836-1885), já viúvo da rainha D. Maria II (1819-1853), veio a casar morganaticamente em 1869 com a D. Elise Hensler (1836-1929), cantora de ópera de nacionalidade suíça, feita condessa de Edla, à qual viria a deixar os seus bens, incluindo o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, ambos em Sintra, com alguma polémica na imprensa por parte da nobreza portuguesa de então. A este desfecho, penalizador para o Estado português, foi posto termo pelo rei D. Carlos que conseguiu recuperar os castelos, indemnizando a viúva.
[15]    A ÁGUIA como símbolo é muito usada desde os tempos medievais do Sacro Império Romano-Germânico, nomeadamente na sua configuração bicéfala. A esta representação heráldica, recorreram a quase totalidade dos impérios e muitos reinos antigos. 
[16]    Pálio – Veste litúrgica simbolizando a comunhão com o Bispo de Roma, espécie de tira de tecido usado sobre os ombros representando o poder e autoridade de um líder religioso do Catolicismo.
[17]    LARCHER, Fernando, O último marechal do reino e alcaide-mor de Pinhel D. Fernando Coutinho (1565-1636) sepultado na Misericórdia de Pinhel, Instituto Histórico da Beira Côa, 2015.
[18]    O morgado dos Arciprestes (Lisboa) uniu-se ao morgado dos Geraldes por acordo prévio de Bartolomeu José (n. 1715) com o seu irmão Francisco (n. 1716), o qual deixou esta sua vontade expressa em testamento. A Quita dos Arciprestes pertenceu à congregação do Oratório, cujo patrono – S. Filipe de Nery – deu o nome a uma rua que a ligava ao Largo do Rato. Situava-se a nascente da Rua de Artilharia Um e o respectivo palácio localizava-se próximo do enfiamento da Travessa da Fábrica dos Pentes. A toponímia de meados deste século registava aí o “Pátio dos Geraldes”.
[19]     ANTT, Feitos Findos, Registo Geral de Testamentos, liv. 329, f. 5
[20]    GUERRA, Luís Bivar Guerra, A casa da Graciosa (Braga, 1965), p. 200.
[21]    ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, Bartolomeu, mç. 5, doc. 94
[22]    ANTT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 22, f. 120
[23]    GUERRA, Luís Bivar Guerra, Op. Cit, pp. 174-176
[24]    Fernando Afonso Geraldes de Andrade Barba e Meneses (1770-1835), foi pai de FERNANDO AFONSO GERALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO (1808-1889), 1.° visconde (carta de 5-II-1840), 1.º conde (12-VI-1852), 1.° marquês da Graciosa (25-IX-1879), e moço fidalgo da Casa Real (2-VIII-1827).
[25]    Documento n.º 593 do Arquivo da Casa da Graciosa; GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, Braga, 1965, pp. 182-183.
[26]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.16, fl.133v.
[27]    ANTT, Manuscritos vindos do Ministério de Instrução Pública, 1787, liv. 6. – D. FRANCISCA DE PAULO XIMENES, foi casada em primeiras núpcias com Henrique de Melo Azambuja, do qual teve uma filha falecida sem geração.
[28]    O assento de nascimento de Rodrigo Ximenes Pereira Coutinho Barriga e Veiga (1716-1787?), nascido filho de mãe incógnita e depois perfilhado, foi lançado no libro de Baptismos de São Nicolau em 6-XI-1761, a pp. 50-51.
[29]    D. Maria do Carmo da Costa Macedo Lopes Tavares e Ornelas é o nome referido pelo pároco que lançou o assento de baptismo de seu filho, porém Luís Bivar Guerra na sua obra «A Casa da Graciosa» (p.183), cita-a pelo nome de D. Maria do Carmo da Costa Macedo e Ornelas Sequeira Reimão.
[30]    GUERRA, Luís Bivar Guerra, Op. Cit, pp. 183, 184.
[31]    Camilo José dos Santos era o notário da Casa Real.
[32]    D. Maria do Carmo da Costa Macedo Lopes Tavares e Ornelas é o nome referido pelo pároco que lançou o assento de baptismo de seu filho, porém Luís Bivar Guerra na sua obra «A Casa da Graciosa» (p.183), cita-a pelo nome de D. Maria do Carmo da Costa Macedo e Ornelas Sequeira Reimão.
[33]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Pedro V, liv.3, fl.241v.
[34]    O visconde de Trancoso não se furtava a arrastar pelos tribunais os seus diferendos, apesar dos custos destas demandas. Em 1878, colectado por uso de brasão na sua carruagem, recorreu da decisão porque “apenas fazia uso de uma coroa de visconde”, sem o respectivo escudo, tese esta que o conselho de distrito não acolheu e lhe negou provimento. Logo o visconde recorreu para o Supremo Tribunal Administrativo, no qual conseguiu fazer vencer a sua tese (in FIGUEIROA-REGO, João, «A "collecta sumptuária" oitocentista : alguns aspectos da sua controversa aplicação, Arquipélago-História: revista da Universidade dos Açores, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 2008, vol. 7, p. 285-304
[35]    O nome completo de D. Maria Rita da Câmara (1820-1882) era Maria Rita da Visitação Francisco de Sales Paula Luisa Vicência Josefa da Câmara.
[36]    IGNACY GUROWSKI (1812-1887), nasceu a 17-V-1812 em  Kalisz e faleceu a 18-IV-1812 em Paris onde foi sepultado no Cimetière du Père-Lachaise. Estudou nas universidades de Varsóvia e Heidelberg e em 1834 foi viver para Paris onde levou uma vida boémia, tendo aí conhecido a infanta Isabel Fernanda de Bourbon com a qual teve um relacionamento que foi motivo de escândalo, acabando por fugir com ela e casar em segredo contra a vontade da família. O conde acabou por ser perdoado pela família real espanhola, a qual  lhe deu uma renda que lhe permitiu viver em Bruxelas, trabalhando na diplomacia para Napoleão III.
[37]    O nome completo de D. ISABEL DE BORBON (1821-1897) era Maria Isabel Fernanda de Borbon.
[38]    Conselho de Nobreza, alvará de 19-XII-1946.
[39]    Conselho de Nobreza, alvará de 1-V-1952.
[40]    MÁRIO GALVÃO MEXIA DE SOUSA DE MOURA TELES E ALBUQUERQUE D'ORIGNY TAVARES DE CARVALHO TRIGUEIROS DA COSTA (1872-1942), usava o nome abreviado de MÁRIO ANTÓNIO TAVARES DA COSTA.
[41]    O visconde de Abrançalha, quando em Lisboa, morava no seu Palácio de Entremuros situado na Rua de Artilharia Um – antiga Estrada de Entremuros –, na qual veio a ser instalado o colégio das Irmãs Doroteias.
[42]    JOSÉ MARIA TAVARES TRIGUEIROS DE CARVALHO COSTA (n. 1820), era filho de Luís Tavares de Carvalho e Costa (f. 1849), natural de Meruje, Oliveira do Hospital, corregedor da cidade de Penafiel (1825), desembargador da Relação de Lisboa, e de sua mulher D. Ana Emília Trigueiros Martel Goulão (1792-1874), natural de Idanha-a-Nova, a qual era irmã de Joaquim Trigueiros Martel (1801-1873, 1.º conde de Castelo Branco.
[43]    Esta irmã será D. MARIA DO CARMO DAS DORES DO SOCORRO DE NEIVA DA COSTA MACEDO GERALDES BARBA NORONHA E BRITO (1866-1961), abreviadamente conhecida por Maria do Carmo Giraldes Barba Noronha e Brito, 11.ª condessa de Arcos, 3.ª viscondessa de Trancoso, casada com D. Henrique José de Brito e Meneses Alarcão (1862-1915), filho de D. José Cabral de Brito e Meneses Alarcão, coronel de Cavalaria, moço fidalgo com exercício no Paço, casado com D. Maria Eulália Pinheiro do Vale e Meneses.
[44]    D. LUDOVINA MARIA NOBRE (n. 1840), foi exposta na roda da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
[45]    JOSÉ VIRIATO SOROMENHO RAMOS (f. 2016) distinguiu-se com funcionário internacional português que participou nos esforços para a regulação dos processos da globalização na última parte do século XX e princípio do século XXI.
[46]    GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, Braga, 1965, pp. 196-198..
[47]    PIMENTA, Alfredo, Vínculos Portugueses, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, p. 6.
[48]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 171, 178, 197, 199, 200.
[49]    Desta família conhecemos os seguintes comendadores de Castelo Novo: 1.º – Fr. Diogo Álvares da Cunha (f. 1460), da Ordem de Cristo, colaborador próximo do Infante D. Henrique na Tomada de Ceuta (1415), falecido em 1460 e sepultado com epitáfio em São Francisco da Covilhã("Aqui jaz ho muyto honrado Cavaleiro Frey Diegalves da Cunha Comendador que foy de Castelejo e de Castelnovo ho qual foy na tomada de Cepta com o muyto alto e com o muyto excellente e muyto virtuoso Senhor Rey Dom Ioham da boa memoria & foi nas Ilhas de Canaria por mandado do muito honrado principe & muito virtuoso Senhor o Infante D. Henrique seu filho: o qual se finou na Era de 1460 annos.", filho de Álvaro Anes da Cunha, senhor do morgado e vila de Pombeiro e de D. Beatriz de Melo, filha de Martim Afonso de Melo, 5.º senhor de Melo; 2.º – Pedro Vaz da Cunha (c.1460) que sucedeu ao anterior, seu parente (?); 3.º – Rui da Cunha (c. 1471), provável filho do anterior (SILVA, Joaquim Candeias da, Op. Cit., p. 190).
[50]    Os CUNHA GAMBOA, além desta quinta e respectiva casa, tiveram também no centro de Castelo Novo a grande Casa do Balcão, situada entre as Ruas da Praça, do Paço e da Misericórdia, a qual está armoriada com uma lisonja esquartelada de FONSECA, COSTA, LEITÃO, e PINTO.
[51]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 196-198.
[52]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit. pp. 195-196. – Os cinco filhos de Pedro Geraldes foram: 1.º - D. Perpétua Nunes Geraldes, casada com Pêro Vaz (tiveram duas filhas: D. Catarina, casada com seu primo Domingos Marques Geraldes, 5.º administrador do morgado dos Geraldes; e D. Beatriz Geraldes, casada com seu primo Marçal Nunes Geraldes, os quais foram nonos avós do 4.º marquês da Graciosa); 2.º - D. Leonor Geraldes, que vai biografada no texto deste trabalho; 3.º - D. Maria Geraldes, casada com João Nunes Geraldes, filho do segundo do morgado dos Geraldes (com três filhos); 4.º - D. Brites Geraldes, casada com António Fernandes (com uma filha, D. Giralda Fernandes, que foi mãe do Padre Domingos Marques Geraldes, prior em Idanha-a-Nova); 5.º - D. Catarina Geraldes, casada com Gonçalo Gonçalves Calvo, «o Folião» de alcunha, nonos avós do 4.º marquês da Graciosa.
[53]    Não confundir este Giral Nunes Giraldes, filho do desembargador Afonso Geraldes (c. 1434) que instituiu o morgado dos Geraldes em Idanha-a-Nova no ano de 1458, com o seu homónimo antepassado medieval.
[54]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit, p. 197.
[55]    SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Depois do Terramoto: Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933, Vol. IV, p. 279.
[56]   GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 197-198, 222, 228- 229.
[57]    D. Maria Nunes Geraldes casou com Manuel Alvares Rico, filho do 1.º casamento de seu padrasto Pedro Geraldes Rico, tendo 1 filho: Pedro Geraldes Rico casado a 24-VI-1650 em Idanha-a-Nova com D. Inês Nunes Calva, filha de António Afonso Calvo e de sua mulher D. Maria Nunes que, por sua vez, foram pais de: D. Maria Geraldes casada com Fernando Afonso Geraldes irmão do 10.° administrador do Morgado dos Geraldes. Deste último casal houve uma única filha que morreu menina, pelo que todo o seu património passou ao irmão do citado Fernando Afonso Geraldes, o licenciado Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes, 10.º administrador do morgado dos Geraldes, filho do licenciado Fernando Afonso Geraldes casado a 12-IV-1638 com sua parente D. Catarina Nunes
[58]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp-198-200.
[59]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp-198-200
[60]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., p. 171.
[61]    Ibidem -- João Monteiro de Távora era filho de Fernando de Andrade de Olival e de D. Isabel Gouveia do Vale, neto pelo lado paterno de Vasco de Andrade Calvo e de D. Maria Teles Olival, e pelo lado materno do homónimo João Monteiro Távora e de Águeda do Couto, todos naturais e moradores em Monsanto.
[62]    PIMENTA, Alfredo, Vínculos Portugueses, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, pp. 5, 6.
[63]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit, p. 170.
[64]    Fernando Afonso Geraldes (f. 1758) e sua mulher D. Brites Maria de Andrade e Couto, foram sextos avós de Fernando Afonso de Melo Geraldes de Sampaio Pereira de Figueiredo (1924-2024), 5.º marquês da Graciosa.
[65]    ANTT, Feitos Findos, Registo Geral de Testamentos, liv. 329, f. 5
[66]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., 178-179.
[67]    D. MARIA JOANA DAS DORES DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO E BOURBOM, foi 10.ª morgada do Casaínho, 7.ª administradora do morgado do Ramirão, 12.ª administradora da Capela de Casal Vasco, administradora do prazo de Dona Briolanja, morgada dos Botelhos e de Gonçalo, na Guarda, administradora da Capela de Vila Cova, senhora da Casa e Morgado da Graciosa, senhora dos Prazos da Figueira de Boialvo, de Vila Nova da Rainha e da Honra de Real. 
[68]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 159, 197. – Do citado «Memorial» da autoria do padre Manuel Marques Geraldes, existem muitas transcrições no Arquivo da Casa da Graciosa, assim como uma cópia incompleta na Casa da Lousa (freguesia da Lousa, Castelo Branco), da família Vaz Preto, segundo refere Luís Bivar Guerra.
[69]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 166, 167.
[70]    PEDRO DE SOUSA REFÓIOS era filho de Paulo Pires da Fonseca e de sua mulher D. Brianda de Sousa.
[71]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., pp. 164, 165. – O morgado de São Jacinto foi instituído em 5-XII-1614 por Pedro Branco “homem muito nobre e rico” que teve o ofício de juiz dos órfãos de Idanha-a-Nova, que lhe veio pelo casamento com sua mulher D. Maria Geraldes, filha de Simão Geraldes, capitão de uma das Companhias de Idanha-a-Velha em tempo de El-Rei D. João III e  juiz dos órfãos de Idanha-a-Nova, casado com D. Elvira Afonso Geraldes. Para cabeça deste morgado fundaram a capela de São Jacinto, ao lado direita da Igreja Matriz de Idanha-a-Nova, cuja parede exibe um escudo de armas de partido de SOUSA e REFÓIOS, tendo por diferença um trifólio (?).
[72]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., p. 168
[73]    GUERRA, Luís Bivar, Op. Cit., p. 166.