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2020-12-26

GIRALDES - Marqueses da Graciosa (Património)

Idanha-a-Nova, Anadia, Lisboa.


Idanha-a-Nova, Casa dos Geraldes / Solar dos Marqueses da Graciosa.


Armas da Família Giraldes / Geraldes

Geraldes

Giraldes: Escudo pleno de prata com um leão de negro, coroado de ouro. Timbre: o leão do escudo.

Estas armas, esculpidas em pedra mármore, são ostentadas nos dois cunhais apilastrados da fachada principal do Solar dos Marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova.
A respectiva carta de brasão de armas, cujo pardeiro se desconhece, é referida num manuscrito do padre Manuel Marques Giraldes (c. 1631), e representará por erro as armas dos Giraldes italianos que nada têm a ver com esta família, mas cujos apelidos levaram a esta confusão.

Sabemos que neste tronco familiar foram atribuídos alguns brasões de armas, um dos quais poderá ser o que está em dois cunhais da Casa dos Geraldes / Marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova.

Uma destas cartas de brasão de armas foi passada a DOMINGOS MARQUES GIRALDES (c. 1611), 5.º morgado dos Giraldes e fidalgo da Casa Real, o qual em 1611 muito aumentou este vínculo com bens herdados e adquiridos, assim como fez grandes ampliações na Casa dos Geraldes / Marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova, da qual foi capitão-mor e seu guarda-mor, durante a ocupação dos Filipes e no reinado de D. João IV.

Estas armas terão sido atribuídas a FRANCISCO MARQUES GIRALDES (c. 1630?), o 6.º administrador do Morgado dos Geraldes, capitão-mor de Idanha-a-Nova e cavaleiro da Ordem de Avis. 


Generalidades
Os GIRALDES, sobrenome medieval de origem patronímica (Giral), foi inicialmente grafado com um «i» tal como aconteceu aos de Idanha-a-Nova, muitos dos quais, mais tarde, passaram a redigir este apelido com um «e».

Solar do Marq. da Graciosa
Armas dos Geraldes

O desembargador Afonso Giraldes (c. 1448), que instituiu o morgado dos Giraldes de Idanha-a-Nova em 1448, e edificou o seu solar em Idanha-a-Nova dez anos depois para cabeça deste seu vínculo, grafava o seu sobrenome com um «i».

Devido ao uso indiscriminado das duas grafias na mesma família em épocas mais recentes, o que é susceptível de algumas confusões, usaremos as duas grafias, em nome de algum rigor histórico.  

Na região da Beira Interior, esta reputada família é conhecida desde a Baixa Idade Média, como comprova diversa documentação existente na Torre do Tombo, bem como no Arquivo da Casa Graciosa (Paço da Graciosa, Anadia).

Do precioso acervo desta Casa, faz parte um manuscrito antigo – «Memórias Manuscritas sobre a família Giraldes» – datado do princípio do século XVII com a história genealógica desta família, da autoria do reverendo prior de Aldeia Nova da Donas, concelho do Fundão, o padre Manuel Marques Giraldes (c. 1631), comissário do Santo Ofício, 5.° neto do desembargador Afonso Giraldes (c. 1448) que foi o fundador do morgado de Idanha-a-Nova, citado numa lápide existente nas traseiras do palácio de Idanha.

Este original, já em meados do século XIX, veio a ser detalhadamente anotado com informações colhidas no arquivo da Casa Graciosa, da autoria de Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio Pereira (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa.

Toda esta documentação deu origem a um inestimável tombo genealógico com a história desta estirpe, da autoria do investigador Luís Bivar Guerra[1], sob o título «A Casa da Graciosa» (Braga: s. e., 1965)[2].

Quanto ao autor destas «Memórias», senhor de grande fortuna, também ele Instituiu um morgadio no qual nomeou como 1.° administrador seu sobrinho o licenciado Fernando Afonso Giraldes[3], assim como por escritura de 11-VII-1663 dotou a sua sobrinha Catarina para casar com Pedro de Sousa Refóios[4].

 

Nesta antiga linhagem sobressaíram grandes agrários, militares, doutos juristas e magistrados, os quais se distinguiram em altos cargos no serviço público, na magistratura e na corte. Espalharam as suas vergônteas por inúmeras terras do interior do país, nas quais instituíram valiosos vínculos que prosperaram.

Fixaram-se em Idanha-a-Nova no século XIV – onde vieram a fundar o Solar dos Geraldes / Marqueses da Graciosa –, a partir do qual se dispersaram pelas terras ao seu redor, tendo posteriormente passado ao resto do país.

A descendência deste primitivo ramo espalhou-se inicialmente pela Lousa, Mata, Escalos de Baixo, Escalos de Cima, Alcains (no concelho de Castelo Branco); por Idanha-a-Nova, Monsanto, Medelim, Ladoeiro, Zebreira, e São Miguel de Acha (no concelho de Idanha-a-Nova); em Penamacor; e em Aldeia-Nova do Cabo e Castelo Novo (no concelho do Fundão); assim como em Lisboa – na já desaparecida Quinta dos Arciprestes –, mercê da sua aproximação à corte que serviram e da qual eram Fidalgos da Casa Real.

Por uma aliança matrimonial, em meados do século XVIII, um ramo desta família fixou-se na freguesia de Arcos, Anadia, e aí desfrutou de um rico e antigo morgado que veio a ter por cabeça o Paço da Graciosa, uma emblemática casa de campo setecentista. Pertenciam estes à ilustre família dos MELOS com origem na região de Coimbra, dando origem aos GERALDES DE MELO[5], dos quais procede FERNANDO AFONSO GIRALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa (1879), alcaide-mor de Monsanto.

Esta família, com a sua origem na nobreza rural terratenente, constituiu um caso bem-sucedido da expansão e consolidação senhorial de uma velha linhagem das Beiras que ascendeu socialmente em função da sua fortuna e da formação letrada dos seus membros muitos dos quais frequentaram a Universidade de Coimbra e vieram a distinguir-se ao serviço da Corte e da Magistratura. Dos vários Giraldes medievais com algum relevo social, não se sabe ao certo de qual deles provinham os de Idanha-a-Nova[6].

O seu sucesso foi consolidado por alianças matrimoniais vantajosas para ambas as partes, assim como pela aquisição de diversos núcleos patrimoniais vinculados em morgadios na região da Beiras, os quais conferiram durante vários séculos aos seus detentores grande estabilidade económica e prestígio.

Porém, o clima revolucionário vivido a partir de 1820 em Portugal, com o triunfo do liberalismo, provocou grandes transformações na manutenção e na gestão deste património familiar.

O triunfo do ideário vintista acabou por pôr fim ao sistema vincular, levando à extinção definitiva dos morgadios no reinado de D. Luís I (1838-1889), por Carta de Lei de 19-V-1863. Isto teve consequências desastrosas para a conservação do património edificado que perdeu a sua base de sustentação económica.

Esta abolição, apoiada num sistema de cultura igualitária, pôs fim à indivisibilidade destes vínculos, assim como à impossibilidade estatutária da sua alienação. Estes factores contribuíram para a dispersão da sua fazenda por vários herdeiros, levando à sua fragmentação, assim como à sua alienação, e ao declínio desta economia familiar.

O desmembramento do património fundiário do morgadio diminuiu o rendimento necessário à manutenção e á conservação das suas grandes casas/edificações, as quais acabaram negligenciadas nas mãos de um só herdeiro, então desprovido da totalidade dos rendimentos que outrora as sustentavam. Muitas destas tradicionais famílias acabariam por perder o ancestral apego à terra e, por vezes, até ao nome e à honra herdada.

Esta abrupta mudança política com grandes implicações no ancestral sistema de transmissão da propriedade, e do bom nome familiar, apenas foi deliberadamente contrariada por casamentos endogâmicos que por mais algum tempo se opuseram à total diluição do poder económico da estirpe. Estes consórcios consanguíneos tiveram grande vantagem em termos da preservação do poder económico deste clã; porém com alguns efeitos adversos em mortes prematuras, na fertilidade e na transmissão de doenças recessivas, potenciadas pela endogamia que limitava a diversidade genética.

No seu conjunto, esta linhagem dos Geraldes, teve emblemáticas casas apalaçadas, as quais acabaram na posse de vários herdeiros e, à semelhança do que então aconteceu com muitas das grandes casas de famílias do Antigo Regime, foram alienadas.

A união destas duas proeminentes famílias – a do Solar dos Geraldes / Marqueses da Graciosa (Idanha-a-Nova) com a do Paço da Graciosa (Anadia) – deu-se na última década de Setecentos através do matrimónio do Dr. FERNANDO AFONSO GERALDES DE ANDRADE BARBA E MENESES (1770-1835), senhor do valioso e antigo morgado dos Giraldes (Idanha-a-Nova), o qual casou com D. MARIA JOANA DAS DORES DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO E BOURBON (1778-?), uma das mais abastadas herdeiras do reino, senhora de um opulento morgado na Anadia, do qual fazia parte a Quinta da Graciosa, cuja denominação deu origem ao título aristocrático desta família.


Vejamos:


FERNANDO AFONSO GIRALDES DE ANDRADE BARBA E MENESES (1770-1835), 13.º morgado dos Giraldes em Idanha-a-Nova, ao qual já estava ligado o vínculo dos Arciprestes em Lisboa, e o da Tapada do Alardo em Castelo Novo, Fundão[7].

Nasceu a 10-IV-1770 na freguesia de Santos-o-Velho em Lisboa, e faleceu na Praia de Mira, tendo recebido sepultura a 12-XI-1835 na Igreja de São Paio de Arcos, Anadia.

Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo seguido a carreira da magistratura, na qual, tal como seu pai, alcançou cargos do maior relevo[8]. Foi moço fidalgo da Casa Real, alcaide-mor de Monsanto, senhor donatário de Medelim, cavaleiro da Ordem de Malta, cavaleiro da Ordem de Cristo, comendador de São Miguel de Fornos, na mesma Ordem.

Era filho de BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GIRALDES DE ANDRADE (1715-1789), 12.º morgado dos Giraldes, e 2.º morgado dos Andrades, o qual adquiriu a Quinta dos Arciprestes em Lisboa que incorporou no morgado dos Giraldes. Nasceu a 30-VII-1715 em Idanha-a-Nova onde foi baptizado a 12-IX-1715, e veio a falecer a 14-VI-1789 na sua Casa da Quinta do Arcipreste m Lisboa. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e ascendeu à magistratura na qual ocupou muitos e destacados cargos[9], tendo sido fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Malta, cavaleiro da Ordem de Cristo e comendador de São Miguel de Fornos no Bispado de Viseu, familiar do Santo Ofício (1754), assim como senhor da Aldeia de Medelim e da Alcaidaria-mor de Monsanto, Este casou com grande pompa a 16-VII-1768 na capela do Palácio de Sebastião José de Carvalho e Melo, em Oeiras, com a então jovem D. INÊS DE VERA BARBA DE MENESES (1752-1812), 37 anos mais nova, filha de Gonçalo Barba Alardo de Pina e Lemos e de sua mulher D. Ana Joaquina Lourença de Carvalho e Meneses.

A sua esposa D. MARIA JOANA DAS DORES DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO E BOURBON (1778-?) nasceu a 10-IV-1778 na Quinta da Graciosa, Arcos, Anadia, e casou por uma escritura pré-nupcial datada de 17-II-1791 com o citado Fernando Afonso. Era filha única e herdeira de José de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo (c. 1750) e de sua segunda mulher D. Joana Rita de Bourbon de Almeida Peixoto, 10.ª morgada do Casaínho (Ínfias), 10.ª senhora e 7.ª administradora do morgado do Ramirão (Fornos de Algodres), 12.ª administradora da Capela de Casal Vasco, administradora do Prazo de Dona Briolanja, morgada dos Botelhos e de Gonçalo, na Guarda, administradora da Capela de Vila Cova, senhora da Casa e Morgado da Graciosa, senhora dos Prazos da Figueira de Boialvo, de Vila Nova da Rainha e da Honra de Real – vínculos estes que foram herdados por sua filha..

Esta união matrimonial reuniu duas opulentas famílias, às quais só a extinção dos morgadios acabou por diminuir o brilho.

Deste casamento nasceu, entre outros, o filho herdeiro FERNANDO AFONSO GIRALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1808-1889), 1.º marquês da Graciosa (1879)[10], par do Reino, senhor de Medelim, alcaide-mor da praça de Monsanto. Este herdou de sua mãe o Paço da Graciosa (Anadia), e de seu pai a Casa dos Geraldes / Marqueses da Graciosa (Idanha-a-Nova), esta última, há séculos na posse da sua família paterna. Foi ainda oficial-mor honorário da Casa Real e administrador-geral do distrito de Coimbra.

Por amor este veio a casar a 12-IV-1836 com D. MARIA JOSÉ CALDEIRA PINTO DE ALBUQUERQUE LEITÃO (1816-1887), filha Gonçalo Caldeira Leitão de Albuquerque Cardoso Moniz (f. 1840), natural da Sertã, com património de família em São Vicente da Beira (1807-12), casado com Josefa Margarida Pinto de Macedo Mascarenhas, senhora de uma grande casa senhorial na Borralha, em Águeda. 

Águeda, Casa da Borralha (Hotel)
Gonçalo Caldeira, foi moço fidalgo da Casa Real com exercício no Paço, do Conselho de SMF a Rainha D. Maria II, perfeito da Província da Beira Baixa (1835), casado com D. Josefa Margarida Pinto de Macedo Mascarenhas, senhora da Casa da Borralha (hoje Hotel Palácio da Borralha), em Águeda[11], a qual exibe na sua fachada um escudo de armas, esquarteladas de: LEITÕES, PINTOS, CALDEIRAS, e CARVALHO.

O 1.º marquês da Graciosa dedicou parte da fortuna herdada a beneficiar o seu património, assim como a levantar novas edificações, nas quais espelhou o seu bom gosto e a cultura que lhe foi transmitida por uma educação esmerada.

Além das qualidades espírito reveladas, seria uma pessoa de sentimentos, os quais o levaram a rejeitar as convenções sob as quais se processavam os casamentos da nobreza daquela época, quando havia avultado património a salvaguardar. Ele esteve contratado para casar com uma das muitas filhas de Fernando Teles da Silva (1754-1818), 3º marquês de Penalva, que foi residente no já citado Palácio dos Arciprestes em Lisboa, do qual desistiria em virtude da paixão pela senhora com quem casou em 1836, cuja família era originária da Beira Baixa. Isto deu aso a uma rotura nas relações do marquês com o seu tio Francisco António Giraldes Barba de Menezes (1780-1855), que viu gorado este consórcio por ele negociado com muito empenho[12].

 


SOLAR DOS GIRALDES / SOLAR DOS MARQUESES DA GRACIOSA
(Idanha-a-Nova)


Idanha-a-Nova, Solar dos Geraldes / Marqueses da Graciosa.

Localizado a Norte da Igreja Matriz e do Castelo de Idanha-a-Nova, implantado em posição de destaque numa das praças mais importantes desta vila – actual Praça da República – o Solar dos Marqueses da Graciosa é uma das mais antigas casas solarengas desta cidade. Destaca-se pela sua grande dimensão com uma área bruta de cerca de 2.000 m2, e pela singular arquitectura com origem em meados do século XV.

Inicialmente, a denominada CASA DOS GIRALDES, passou a ser designada por CASA DOS MARQUÊSES DA GRACIOSA a partir de meados do século XIX, devido ao título nobiliárquico então atribuído a esta família.

Esta antiquíssima casa, perto de seis séculos ininterruptos na posse da família fundadora, é composta por um conjunto edificado com várias volumetrias dispostas numa planta longitudinal, resultantes de uma evolução feita ao longo do tempo.

Nela destaca-se uma vetusta torre acastelada que foi erguida em 1458, ano em que terá encabeçado um rico morgado que foi instituído dez anos antes, em 1448. Quase dois séculos depois (1611), foram-lhe acrescentadas, à ilharga, duas grandes alas residenciais assimétricas de cércea mais baixa, com dois pisos e coberturas diferenciadas de três e quatro águas.

Estes corpos laterais, bem marcados por pilastras, com uma cornija sob um beiral saliente, estão rebocados e pintados de branco, em contraste com a escura cantaria em granito do corpo central.

Os pisos interiores são em lajeado de granito e tijoleira no primeiro andar, e em soalho no segundo.

O torreão central, com três pisos, acolhe a porta de entrada principal ladeada por dois vãos de janelas com molduras lisas de granito.

Este foi edificado em 1458 para cabeça do morgado, em alvenaria de pedra à vista com aparelho isódomo e merlões no topo. Sabemos que o morgado foi instituído dez anos antes, em 1448, por AFONSO GIRALDES (c. 1448) a favor de seu filho GIRAL NUNES GIRALDES[13], o qual teve três filhos e vários netos, cujos repetidos casamentos consanguíneos, em sucessivas gerações, muito contribuíram para a grandeza patrimonial deste morgadio.


No morgado dos Giraldes, sucederam como administradores: 1.º - GIRAL NUNES GIRALDES: 2.º - JOÃO NUNES GIRALDES, que viveu no reinado de D. Manuel I, tendo casado com D. Catarina Gonçalves Calvo, «a Velha», dos Calvos de Monsanto, da qual teve 4 filhos; 3.º - ANTÓNIO NUNES GIRALDES, que viveu no reinado de D. Manuel I e D. João III, tendo casado com sua prima D. Catarina Gonçalves Calvo, «a Nova»; 4.º - BARTOLOMEU NUNES GIRALDES, capitão-mor das Milícias de Infantaria Idanha-a-Nova, criadas pelo rei D. Sebastião, casado com sua parente D. Catarina Marque Giraldes; 5.º - DOMINGOS MARQUES GIRALDES (c. 1611), capitão-mor como seu pai, o qual muito aumentou o morgado e o solar de Idanha-a-Nova, foi fidalgo da Casa Real e teve carta de brasão de armas, tendo casado com sua prima D. Catarina Nunes Giraldes; 6.º - FRANCISCO MARQUES GIRALDES (c. 1630?), cavaleiro da Ordem de Avis, teve carta de brasão de armas de GERALDES e foi juiz dos Órfão de Idanha-a-Nova, por dote de sua 2.ª mulher, casado em primeiras núpcias com sua prima D. Beatriz Giraldes, a qual era filha do licenciado Bartolomeu Giraldes e de D. Catarina Afonso Giraldes; e 7.º - PEDRO SOUSA REFÓIOS, homónimo de seu avô materno que instituiu o Morgado de São Jacinto em Idanha-a-Nova, casado com sua parente D. Catarina Marques Giraldes (filha de João Marques Anes Leitão e de D. Catarina Marques Giraldes), da qual não teve filhos, pelo que nele terminou a linha primogénita, passando o vínculo à sua irmã PERPÉTUA DE SOUSA REFÓIOS, que também não teve filhos, sucedendo-lhe na passe do morgado, o seu primo, que foi o licenciado FERNANDO AFONSO GIRALDES, 9.º morgado dos Geraldes, 6.º neto do desembargador Afonso Giraldes (c. 1448), o instituidor deste vínculo, homónimo de outro seu sucessor que foi o 11.º morgado.

Afonso Giraldes, o fundador do morgado, foi desembargador dos Reis D. Duarte, e D. Afonso V do qual foi vassalo, tendo falecido em Idanha-a-Nova onde foi sepultado na Capela-mor da Misericórdia desta vila.

Solar do Marquês da Graciosa,
lápide fundacional.

De 1611 datam as grandes remodelações e ampliações feitas por iniciativa do 5.º administrador do vínculo que foi Domingos Marques Giraldes (c. 1611), as quais foram assinaladas numa lápide fundacional que está encastrada numa parede do pátio das traseiras.

Solar do Marquês da Graciosa,
pátio das traseiras.

Ao velho torreão foi então acrescentado um balcão com uma balaustrada suportada por quatro colunas toscanas em granito, e ainda duas grandes alas laterais. No terceiro piso, ao centro do torreão, destaca-se uma janela de sacada geminada com uma coluna.

Na facha do pátio interior das traseiras, que outrora dava acesso às cavalariças e cozinhas, destaca-se um vão de porta que actualmente é o principal acesso à casa, encimado por um frontão interrompido, coroado por um óculo circular em cantaria trabalhada, assim como a já citada lápide encastrada com uma inscrição latina, a qual refere a fundação (1458) e ampliação (1611) desta casa:


«HANC DOMU IN MAJORATUM EREXIT ALPHON
SUS GIRALDIS REGIS ALPHONSI V SE
NATOR ET EJUS CLIENSAN
Dni, MCCCCLVIII».

Diz esta legenda:

«Esta Casa erigiu em morgadio Afonso Giraldes Senador e Vassalo do Rei D. Afonso V - Ano do Senhor de 1458».

Depois, segue-se:

«Também depois eu acrescentei com os bens dispersos e afastados, Domingos Marques Giraldes, Fidalgo e Capitão-mor desta vila - ano do senhor de 1611».

Os pisos interiores são lajeados a granito e tijoleira no primeiro andar, e em soalho no segundo, apresentando diversos cómodos com tectos de caixotões e lambrins de azulejos que datam dos séculos XVII a XIX.

Tem uma pequena capela com altar e um tecto piramidal em madeira, a qual dispõe de acesso para o exterior.



PAÇO DA GRACIOSA
(Anadia, Arcos)


Anadia, Arcos, Paço da Graciosa.

O Paço da Graciosa, ou Palácio da Graciosa, há mais de dois séculos na posse da família fundadora, foi edificado no último terço de Setecentos e está classificado como Imóvel de Interesse Público.

No foral que o rei D. Manuel I (1469-1521) concedeu a Famalicão (Anadia, Arcos) a 10-I-1514, esta quinta vem mencionada com o nome de “Póvoa de Roupeiro[14], nome que foi mudado para Quinta da Graciosa por FRANCISCO PEREIRA DE MIRANDA que a herdou[15], mas por falta de filhos dos seus dois casamentos transmitiu esta sua quinta a Sebastião Pereira de Miranda, filho do seu irmão Luís Pereira de Miranda[16], o qual casou a 4-VI-1659 na capela da Casa da Graciosa (Anadia, Arcos) com Francisco de Melo Sampaio, com geração, da qual muitos seguiram a vida religiosa.


Paço da Graciosa, pedra de armas. Esquartelada de:
 Figueiredo, Pereira, Melo e Sampaio.
Paço da Graciosa, escadaria balaustrada.









Este solar apalaçado, marcado pela elegância barroca das suas formas decorativas, está implantado na Quinta da Graciosa, uma vasta propriedade murada da qual esta família tirou o título nobiliárquico.

Termas/Caldas de Monchique.
Armas dos Melo. De Dom Fr.
Lourenço de Santa Maria de
Melo, bispo do Algarve.

A sua edificação, certamente sobre uma construção anterior bem mais modesta, foi atribuída a JOSÉ DE MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO (c. 1750), o 1.º senhor da Casa da Graciosa. Este era licenciado em Cânones, cavaleiro da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, alcaide-mor de Penedono e mestre de campo do Terço da Comarca de Esgueira, e irmão do não menos célebre arcebispo de Goa e bispo do Algarve D. Fr. Lourenço de Santa Maria de Melo, do hábito de São Francisco, cujo nome secular era Lourenço Bernardo de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo (1704-1789). Este, como bispo do Algarve, aí estava por altura do Terramoto de 1755 que fustigou violentamente esta província, e no meio do pânico geral ocorreu prontamente a prestar socorro e a salvar vidas que ficaram soterradas; deixando uma grata memória entre a população de Faro onde na altura se encontrava a celebrar missa de Todos os Santos na respectiva Sé Catedral. Foi dele a iniciativa da reconstrução do património público e religioso do Algarve.

Ao fundador/edificador da Casa da Graciosa deve pertencer a pedra de armas que se exibe no centro da fachada, integrada no bordo superior da moldura da janela axial. Esta é esquartelada de FIGUEIREDO, PEREIRA, MELO e SAMPAIO, tendo por timbre uma águia bicéfala (dos Melos) encimada por um coronel de nobreza.

Armas de José de Melo Sampaio
 Pereira de Figueiredo (c. 1750).
Esquartelado de: Figueiredo, 
Pereira, Melo e Sampaio.
Esta magnífica casa senhorial de estilo Barroco desenvolve-se por várias volumetrias com uma área bruta de 6.000 m2, localizada na freguesia de Arcos, concelho de Anadia, e está inserida numa propriedade rural de 38.000 m2, a qual incluí diversos anexos para apoio à agricultura e casas para caseiros.

Tem dois pisos (rés-do-chão e andar nobre), com treze vãos de janelas no alçado principal que é composto por três panos, marcados por pilastras que estão rematadas por fogaréus. O corpo central apresenta uma imponente escadaria balaustrada com dois lanços coroados de fogaréus.

Apresenta um corpo recuado que foi posteriormente edificado segundo um programa neo-romântico datado de 1896, da responsabilidade dos mestres que trabalharam no Palace Hotel do Buçaco – antigo palácio real –, no qual se destacam, entre vários outros elementos decorativos, quatro colunas com capitéis românicos decorados com aves, leões, dragões, centauros e motivos fitomórficos, vindos da Igreja de São Cristóvão de Coimbra (Séc. XII) que foi demolida em 1860.



Paço da Graciosa, Capela.
Paço da Graciosa, pavilhão anexo.

Paço da Graciosa, Capela

Este grande solar desfruta de dezoito quartos, dez casas de banho, várias salas de estar e de jantar, salões de aparato, escritórios, cozinhas, bar, garrafeira, sala de tratamento de roupa, sala de bilhar, biblioteca recheada de obras raras e valiosas, e uma magnífica Capela anexa de nave única com o seu retábulo, ligada ao corpo principal do solar através de um arco.

Paço da Graciosa, sala do bilhar.
Paço da Graciosa, quarto.
Paço da Graciosa, quarto.










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z
Paço da Graciosa, biblioteca.
Paço da Graciosa.


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Paço da Graciosa, sala.
Paço da Graciosa.















Paço da Graciosa.
Paço da Graciosa.









O palácio inclui ainda um belíssimo recheio, predominantemente datado dos séculos XVIII e XIX, assim como um notável acervo de obras de arte da qual se destacam pinturas da mesma época que incluem muitos retratos de família, alguns deles de corpo inteiro[17]

Vinho da Bairrada
«Marquês da Graciosa»
Paço da Graciosa, piscina.

Dele faz parte o estábulo, a vacariça, uma cavalariça com picadeiro coberto e outro descoberto, diversos pavilhões de armazém, adega, garagem para vinte carros, e um salão de eventos para 400 pessoas, assim como um belíssimo jardim com piscina. Este notável paço, actualmente dedicado à realização de eventos, assim como à criação cavalar e à produção agrícola,  detém a marca registada de vinho "Marquês da Graciosa" e o ferro da "Coudelaria Marquês da Graciosa". 

As várias visitas de Suas Majestades que nele pernoitaram entre 1852 e 1874, conferiram-lhe a categoria de “paço” como era tradição[18].


Os BORGES
Origem da Casa da Graciosa

Os ascendentes maternos do 1.º marquês da Graciosa – os MELO SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO – tiveram origem nos MIRANDA (Borges de Miranda), “Senhores de Ferreiros, Carvalhais, Ílhavo e Avelãs de Cima[19], com os respectivos padroados de igrejas, rendas, foros, e demais proventos que seriam de apreciável montante devido à riqueza e grande extensão deste território[20].

Inicialmente esta região estava na posse de MARTIM DE OCEM (f. 1431?), conselheiro dos reis D. João I (1357-1433) o Mestre de Avis, e de D. Duarte (1391-1438). Em 17-01-1431 é conhecida a referência a um «casall do doutor Martim d’Osem que ora he do Senhor infante Dom Pedro»[21].

Poucos anos depois, Dom Duarte doou o «couto d’Avellaãs de Cima, e de Ferreiros, e do reguengo de Quintela, e d’Arcos [da Quinta da Graciosa?], e dos lugares de Jlhauo e Villa de Milho, e dos casaes de Saa» a seu irmão, o infante Dom Pedro (1392-1449)[22], 1.º duque de Coimbra,  que viria a ser regente em nome do seu sobrinho o rei D. Afonso V (1432-1481), mas acabaria por perder este valioso senhorio por se ter oposto ao partido do rei na Batalha de Alfarrobeira (1449)[23].

Este imenso senhorio, que à época abarcava três concelhos do distrito de Aveiro, estava sob domínio do Infante Dom Pedro (1392-1449)[24], 1.º duque de Coimbra, regente em nome do seu sobrinho o rei D. Afonso V (1432-1481), cuja liderança dividiu o reino com intrigas que conduziram à batalha de Alfarrobeira (1449) contra o jovem rei D. Afonso V[25], na qual o próprio infante morreu.

Por sua morte, este grande senhorio – que viria a ser designado de Carvalhais por ter nesta localidade o seu solar principal – foi dado a RUI BORGES (n. 1400?), 1.º senhor de Carvalhais, almoxarife da alfândega de Lisboa e conselheiro régio, casado com D. Maria Vaz, mulher solteira, da qual teve o filho legitimado GONÇALO BORGES, 2.º senhor de Carvalhais. Esta doação foi feita a este a 26-IX-1464 devido aos vários serviços prestados e, provavelmente, por ter estado com seu pai ao lado do Rei D. Afonso V (1438-1481) na Batalha de Alfarrobeira (1449)[26].

GONÇALO BORGES, por casamento, ligou-se a famílias da média e alta nobreza – MIRANDAS, SILVAS, SOUSAS – com vários parentes detentores de senhorios e cargos importantes ao serviço da Corte[27].

Porém, nem sempre o senhorio de Carvalhais transitou na progenitura, sem que se conheça o motivo deste atropelo às regras da sucessão, como aconteceu com a passagem do 3.º senhor António Borges de Miranda (1470?-1529)[28], para o 4.º senhor Rui Pereira de Miranda – filho do 2.º matrimónio –, o qual «succedeo na casa de seu pai por assim o querer D. João III», por razões que ficaram ocultas, às quais não parece alheia a existência de uma amante real de D. João III nesta família, que alegadamente dela teve este filho[29].

Extinta a varonia dos Borges em André Pereira de Miranda (n. 1555?), 5.º senhor de Carvalhais e de Verdemilho[30], o qual viveu retirado da corte em Carvalhais e foi casado com D. Filipa de Melo, passou este senhorio a sua filha primogénita D. LUÍSA DE MELO (c. 1575), 6.ª senhora de Carvalhais, freguesia de Avelãs de Cima, Anadia, casada com CRISTÓVÃO DE ALMADA (c. 1570), provedor da Casa da Índia e sobrinho materno do famoso Cristóvão de Moura (1538-1613), 1.º marquês de Castelo Rodrigo e vice-rei de Portugal durante a dominação filipina[31].

Paço e Carvalhais (ruína)

A ascensão social dos Borges de Miranda, dentro da nobreza, foi prosseguindo ao longo do tempo através de estratégias de alianças familiares que lhes permitiu aumentar a dimensão dos senhorios que lhes foram doados, assim como permitiu a aproximação à Corte, na qual desempenharam cargos por via da formação letrada, como foi o caso dos seus descendentes da família Graciosa.

Sabemos que estes residiram no seu Paço da Figueira[32] – dos Miranda –, assim como no Paço de Carvalhais, actualmente em ruínas no sítio do Alto do Paço, junto ao lugar de Carvalhais – dos Borges –, no qual se estabeleceu esta linhagem senhorial[33].


Os Miranda
Origem da Casa da Graciosa

Dos anteriores senhores do Paço de Carvalhais, provem RUI PEREIRA DE MIRANDA (n. 1526?), também conhecido por Rui Borges Pereira[34], o qual segundo parece só teve geração do seu segundo matrimónio com D. ANA DA CUNHA[35]. Foi este casal que instituiu o morgado de Carvalhais (1570), tendo por cabeça o panteão familiar na capela de São Gregório Magno, na igreja paroquial da Moita, concelho da Anadia. Uma lápide aí colocada informa que «A capella de Sam Greg[o]rio te[m] obrigacaõ de dvas missas cada somana pela alma de sevs fvndadores»[36].

Foi a um filho destes, FRANCISCO PEREIRA DE MIRANDA (c. 1595), fidalgo cavaleiro da Casa Real, que coube em herança a Quinta da Graciosa ainda sem o actual palácio, 2.º administrador da capela de Nossa Senhora do Socorro no Rocio da vila de Avelãs, herdada de Frei Simão de Miranda Henriques (c. 1592), seu irmão que faleceu sem geração[37].

Este era o seu filho LUIS PEREIRA DE MIRANDA, moço fidalgo da casa real, casado em 1581 em Avelãs de Cima, Anadia, com D. MARIA DE MARIZ, da então Figueira de Boialvo, Anadia[38], da qual enviuvou, após o que passou a clérigo e foi nomeado bispo de Cabo Verde em 1609, tendo morrido um mês após aí chegado pelo que foi sepultado na antiga Sé Catedral (da Ribeira Grande?)[39]. Foi por este casal que esta família continuou a sua representação na Casa da Graciosa.

FRANCISCO PEREIRA DE MIRANDA mudou o nome da sua Quinta do Roupeiro para Quinta da Graciosa, como já vimos, aí instituindo uma capela, assim como fundou Irmandades e Confrarias nas terras que eram senhorio de seu pai; tal como em Arcos, Moita e Avelãs de Cima – das quais nenhuma chegou ao nosso tempo.

Anadia, Monte Crasto,
Cruzeiro.
Buçaco, Santa Cruz.

Este fidalgo foi um dos que representou Portugal no Concílio de Trento (1545-1563), trazendo então de Roma duas imagens de grande valor artístico – São Sebastião e Nossa Senhora do Rosário – que pôs ao culto na Igreja de Avelãs de Cima, Anadia[40]. Foi ele que, entre o todo o património familiar, concentrou a sua atenção na Quinta da Graciosa, ainda sem o seu palácio, que se tornaria uma das jóias da coroa desta família.

Senhor de uma arreigada crença religiosa, num dos pontos altos da Serra do Buçaco levantou uma enorme Santa Cruz em granito, junto da qual a Ordem dos Carmelitas Descalços erigiu o seu convento que dela tirou o nome – Convento de Santa Cruz do Buçaco (1628-30). Foi ainda ele que no cimo do Monte do Crasto, Anadia, fronteiro à sua quinta, mandou erigir um cruzeiro de pedra de Ançã com a imagem de Cristo crucificado (1616), em cujo pedestal outrora ainda se lia:

«MEMENTO / † NAM DESMAYES PECCADOR / LEVANTA OS OLHOS A MIM / QUE POR TI ME PUZ AQUI. †».
«FR NCISCO PR.A DE MIRANDA, FILHO DE RUY PR.A DE MIRANDA, E DE D. ANNA DA CUNHA, SENHORES DE CARVALHAES, CAZADO COM D. ANNA DA CUNHA SR.A DA CAZA DE TABOA, ME POZ AQUI EM 27 DE MAYO DE 1616. PELLA SUA TENSÃO, E ALMA PADRE NOSSO, E AVE MARIA[41].

Este FRANCISCO PEREIRA DE MIRANDA, um dos filhos de Rui Pereira de Miranda, faleceu sem geração pelo que a sucessão desta Casa passou a um filho do seu irmão LUÍS PEREIRA DE MIRANDA, casado em 1581 Avelãs de Cima com D. MARIA MARIZ.

Quanto aos MIRANDA, vieram a unir-se aos Borges que foram senhores de Carvalhais e residiram no já citado Paço da Figueira, no lugar do mesmo nome, freguesia de Avelãs de Cima (então sede de concelho), no actual concelho da Anadia.  

Anadia, Igreja de Avelãs de Cima,
sepultura de D. Maria de Miranda
Pereira (f. 1684)

Estes, já aí residiam no último quartel do século XVI, tendo sepultura própria no chão da capela-mor da igreja paroquial de Avelãs de Cima (Anadia), onde podemos observar, entre outras, uma magnífica pedra tumular armoriada com o representação heráldica desta família – escudo partido de MIRANDA e MELO, ostentando o timbre da família MELO que aqui é uma águia bicéfala.

Sob esta pedra repousa D. MARIA DE MIRANDA PEREIRA (f. 1684)[42], a qual foi casada com FRANCISCO DE MELO SAMPAIO (f. 1711) que está sepultado ao seu lado em campa rasa despida de qualquer inscrição, juntamente com outros seus descendentes[43]. Junto a este brasão, observam-se, esculpidos na pedra, dois enternecedores corações trespassados por uma seta, simbolizando o amor eterno que uniu este casal em vida, e na morte. Estes foram senhores da Quinta e Prazo da Figueira, e da Casa e Quinta da Graciosa Casa, antepassados dos marqueses da Graciosa[44].

 

PALÁCIO DOS GERALDES e QUINTA DOS ARCIPRESTES
(Lisboa)

Lisboa, Palácio dos Arciprestes (hoje desaparecido)
Esta família ergueu em Lisboa, na enorme Quinta dos Arciprestes junto à antiga Estrada de Entremuros de Campolide – actual Rua de Artilharia 1 –, no antigo Vale do Pereiro, um grande palácio armoriado resultante da transformação do aí existente casarão dos Oratorianos, o qual foi por estes abandonado por ter ficado arruinado no Terramoto de 1755.

A quinta dos Arciprestes, também designada por Quinta dos Ciprestes[45], ou por Quinta dos Geraldes, pertenceu à congregação do Oratório – Ordem de São Filipe Néri –, cujo patrono deu o nome a uma rua que a ligava ao Largo do Rato[46].

Palácio e Quinta dos Arciprestes
(vista do Parque Eduardo VII)
Localizado a nascente da Rua de Artilharia 1, estendia os seus terrenos agrícolas até ao actual Parque Eduardo VII, do qual se observavam a suas duas peculiares chaminés cónicas[47]. Grosso modo, de acordo com a toponímia actual, a quinta este pavilhão dos Desportos (no Parque Eduardo VII).
Segundo Gustavo Matos Sequeira (1880-1962), no início de 1756, em virtude das destruições provocadas pelo Terramoto de 1755, “existiam mais de duzentas barracas neste local, onde também se abrigaram os religiosos franciscanos, a Ordem Terceira e o Hospício da Terra Santa[48].

O seu enorme palácio, composto por um grande complexo de edifícios, assentava próximo do enfiamento da Travessa da Fábrica dos Pentes, no local que a toponímia de meados do século passado ainda aí registava o nome de “Pátio dos Geraldes”.

Esta casa e respectiva quinta foi adquirida cerca de 1775 pelo desembargador BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GERALDES DE ANDRADE (1715-1789), 12.º do morgado dos Giraldes em Idanha-a-Nova[49], de onde era natural, ao qual veio a anexar em data que desconhecemos o recém-criado morgado dos Arciprestes por ele instituído em 11-VI-1789, o qual tinha por cabeça a Casa e Quinta dos Arciprestes. Era fidalgo da Casa Real, desembargador do Paço, procurador da Real Fazenda à data do seu casamento (1768), e conselheiro do Conselho da Fazenda do rei D. José I (04-I-1769), ao qual a rainha D. Maria II recompensou por todos os seus serviços com o senhorio de Medelim e a alcaidaria-mor de Monsanto, as comendas de São Pedro das Comedeiras e São Miguel de Fornos na Ordem de Cristo, tudo em duas vidas. Foi ainda administrador da Capela instituída por Geraldo Vaz de Carvalho na então vila de Monsanto (12-XI-1782).

Era filho herdeiro do Dr. Fernando Afonso Giraldes (1712-1758), 11.º morgado dos Geraldes, e do morgado dos Andrades de Monsanto por uma doação feita inter vivos por seu primo João Monteiro de Távora a 27-V-1735, com a obrigação do uso do apelido ANDRADE em seus sucessores. Este foi conselheiro da Fazenda, casado com sua parente D. Brites Maria de Andrade e Couto, senhora do morgado da Tapada do Alardo em Castelo Novo, Fundão[50], ambos naturais de Idanha-a-Nova e moradores na freguesia de Santos-o-Velho em Lisboa.

BARTOLOMEU JOSÉ (1715-1789) modernizou o então arruinado edifício dos Arciprestes (1775-79), para sua habitação em Lisboa, cidade onde desempenhou destacados cargos na Magistratura e na Corte.

Aí morou com perto de 40 criados e escravos, para suprir as necessidades da casa e da respectiva lavoura.

Casou em 1768 com D. INÊS DE VERA BÁRBARA DE MENESES (n. 1752), natural de Leiria; filha de Gonçalo Luís Barba Alardo de Pina e Lemos (c. 1735), fidalgo da Casa Real, alcaide-mor de Leiria, senhor dos morgados da Romeira, da Matrena, e da Quinta do Sirol, e ainda mestre de Campo dos Auxiliares de Leiria, o qual foi casado com D. Ana Joaquina de Lourenço de Carvalho Camões e Meneses (n. 1743).

Este enlace, de grande importância para o fortalecimento político e económico da família Giraldes, foi realizado com grande pompa a 16-VII-1768 na Capela de Nossa Senhora das Mercês em Oeiras[51], pertencente ao Palácio do Marquês de Pombal – ainda conde de Oeiras – com o qual a família Geraldes privava. O noivo contava 53 anos de idade enquanto a noiva contava apenas 15 anos.

A cerimónia contou com a presença do poderoso Paulo António de Carvalho Mendonça (1702-1770)[52], Monsenhor da Igreja Patriarcal de Lisboa e Inquisidor-Geral da Inquisição (1760-1770), irmão do futuro primeiro-ministro Pombal.

Como testemunhas deste consórcio, além do já citado monsenhor da Patriarcal, temos ainda o irmão do futuro marquês de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1769), do Conselho de sua Majestade, oficial de Marinha (1735-1749), depois governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751),  futuro secretário de Estado adjunto do conde de Oeiras, secretário de Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos; o Henrique José de Carvalho e Melo (1748-1812), 2.º marquês de Pombal, presidente do senado da Câmara Municipal de Lisboa, falecido sem descendência legítima; e, por fim, António Vaz de Carvalho, com procuração da contraente.

O marquês de Pombal viria a ser padrinho de um filho nascido deste casamento.

Sabemos que este desembargador Geraldes – um dos vários homónimos que houve nesta família – era dotado de sensibilidade estética, pois reuniu neste palácio uma importante e valiosa colecção de obras de arte, à semelhança do que então faziam fidalgos de velhos costumes e burgueses recentemente enriquecidos no comércio por grosso; quer por opção de gosto, quer por necessidade – no caso dos últimos – de ostentarem a nova situação social[53]. Esta colecção, por sua morte passou em parte à galeria de pintura do Palácio de Porto Covo (na Rua são Domingos à Lapa, em Lisboa) de Jacinto Fernandes Bandeira (1745-1806)[54], tal como registou o historiógrafo e pintor Cirilo Volkmar Machado (1748-1823) na sua “Colecção de memórias” (Lisboa, 1823)[55].

Além disso, dispensou a sua protecção ao jovem fundanense José da Cunha Taborda (1766-1836), o qual viria a ser pintor régio do Palácio da Ajuda. Este artista, no início da sua carreira, terá sido acolhido neste palácio, pois, foi ao desembargador Geraldes que este artista agradeceu no prólogo da sua obra Regras da Arte da Pintura (Lisboa,1815) a sua «generosa benevolência». Cirillo, na sua “Collecção de memórias, refere o pintor Taborda como vindo para Lisboa ao cuidado do «Desembargador Geraldes, conhecido dos seus parentes». Também terá sido este desembargador a interceder junto do seu colega Diogo Inácio Pina Manique (1733-1805) para que enviasse este seu protegido a estudar pintura em Roma (1788), tal como sucedeu.

Na primeira metade do século XX, esta enorme mansão e a sua extensa quinta, situadas numa zona semi-rural que já anunciava ruína, foram pouco a pouco engolidas pela expansão urbanística qua aí implantou novos arruamentos com modernos prédios de habitação.

Foi uma lenta decadência que passou por vários episódios que degradaram este palácio, com vários arrendamentos parciais, dos quais nos dá notícia o olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira (1880-1962) que nos serviu de fonte na sua monografia “Depois do terramoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa”, Vol. IV, 1933.

Neste casarão esteve instalado o antigo Colégio de Nossa Senhora da Conceição (1813-1818), passando em 1869 a habitação de um neto materno do 1.º marquês de Pombal que foi D. José Sebastião de Saldanha e Daun (1778-1855), 1.º conde de Alpedrinha, e de sua mulher D. Maria Leonor Manuel de Vilhena (1781-1855) com a sua numerosa prole – tiveram 14 filhos.

Em 1831 parte deste palácio, foi vendida em hasta pública, e em 1836 foi arrendada parte da sua quinta.

Nele estiveram como arrendatários, em datas que não conseguimos apurar, o marquês de Penalva[56], assim como vários parentes e amigos do seu proprietário.

De 1844 a 1848, foi inquilino de parte do Palácio dos Arciprestes, um dos netos do seu fundador que foi João José Vaz Preto Geraldes (1801-1863)[57], influente político regional afecto ao liberalismo, natural do Fundão onde nasceu a 4-IX-1801, falecido a 7-I-1842 na sua quinta da freguesia da Lousa, concelho de Castelo Branco, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, Par do Reino muito activo que defendeu sem sucesso a obrigatoriedade do voto e, por diversas discordâncias e inconformismo politico, acabou por renunciar ao pariato. Grande agricultor, e produtor de azeite, coube-lhe a administração dos morgados de São Sebastião da Lousa e de Alcains, tendo casado a 18-XI-1827 com sua prima D. Joana Margarida Carlota Geraldes de Bourbon, uma das irmãs do Dr. Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio Pereira (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa.

De 1864 a 1871 outro dos seus inquilinos foi o conselheiro Joaquim José Marques Caldeira. Em 1867 ocuparam todo o andar nobre, os condes de Farrobo (2.º)[58], o conde de Tavarede[59], e a condessa do Prado.

Há notícia de ter tido por esta altura um dos seus mais notáveis inquilinos que foi João Carlos Saldanha Oliveira Daun (1790-1876), 1.º duque de Saldanha, marechal, deputado, par do reino, diplomata, presidente do Conselho de Ministros de Portugal (em 1835, 1846-1849, 1851-1856 e em 1870), tornando este local conhecido por “Pátio do Saldanha”.

Este neto do marquês de Pombal, um dos militares mais condecorados de sempre do exército português, líder indiscutível da esquerda liberal que era opositora aos moderados chefiados pelo duque de Palmela, terá residido temporariamente no Palácio dos Geraldes provavelmente depois do seu regresso de uma missão diplomática em Roma (4-VII-1865), na parte da casa habitada por sua filha Eugénia de Saldanha que era casada com o 2.º conde do Farrobo, o qual então aí residia segundo refere o já citado Gustavo de Matos Sequeira. Certamente que a sua estada neste palácio foi contemporânea da “Saldanhada” (19-V-1870), o último dos muitos golpes militares que liderou quando já contava 80 anos de idade. Com esta acção revoltosa, impôs ao rei D. Luís a demissão do governo do seu adversário duque de Loulé e a sua substituição por um novo executivo presidido por ele próprio, sem apoio parlamentar, o qual só durou três meses. Com a subsequente derrota deste governo ditatorial, foi nomeado para o cargo de embaixador em Londres, acabando por falecer neste “exilio dourado” cinco anos depois em 1876.

Mais tarde, este palácio veio a pertencente a D. MARIA JOANA DE BOURBON MELO GIRALDES DE SAMPAIO PEREIRA (n. 1842), irmã e herdeira do 2.º marquês da Graciosa que faleceu solteiro, sem filhos, em 1900. 

A esta senhora, casada a 18-IV-1860 com Francisco Augusto Furtado de Mesquita Paiva Pinto (1833-1901), 1.º conde de Foz de Arouce, coube-lhe em herança o que restava do palácio e da quinta dos Arciprestes, que lhe foi expropriada por utilidade pública pela Câmara Municipal de Lisboa (1914) no âmbito do "projecto da 1.ª zona de Picoas". Seguiu-se então a sua demolição para dar origem a uma parte das ruas Castilho e Rodrigo da Fonseca.

É de lamentar que, entre as dezenas de arruamentos resultantes desta desapropriação, a autarquia de Lisboa não tenha tido a sensibilidade de consagrar na toponímia local um único arruamento à memória do marquês da Graciosa …



Coudelaria Marquês da Graciosa
Herdade da Toula e Quinta do Valongo
(Idanha-a-Nova)


Ganadaria «Conde da Graciosa»
A "Coudelaria Marquês da Graciosa", sediada na Herdade do Monte da Toula, Idanha-A-Nova, com os seus 3.000 hectares, está na posse desta família desde o século XVI. Dedicada desde tempos remotos à criação pecuária, foi nela que se iniciou a selecção cavalar moderna desta Casa com um grupo de éguas de pelagem castanha e sangue "Peninsular", das quais houve uma extensão para desporto na Quinta da Graciosa, em Anadia.

A existência desta criação era justificada pelas grandes necessidades desta Casa em termos de apoio às suas actividades agrícolas e cinegéticas. Nos verões mais secos, este gado era transferido a pé da Idanha-a-Nova para as baixas mais frescas da Quinta da Graciosa, em Anadia, a 250 Km de distância.

Idanha-a-Nova, Quinta do Valongo.
A equitação e a caça em grupo, à qual estava vinculada a mentalidade e a cultura aristocrática desta linhagem, funcionou como um ritual identificador da sua elevada condição social, para a qual era necessário dispor de capacidade financeira que suportasse os elevados gastos decorrentes destas práticas.  

Nesta zona do país – Idanha-a-Nova – devido à instabilidade fronteiriça ao longo da História, nomeadamente nas Campanhas da Restauração após 1640, a caça era uma verdadeira prática de adestramento para a guerra.

A Casa da Graciosa participou em actividades venatórias desde os tempos medievais, distinguindo-se modernamente na caça às lebres a corricão com matilhas de galgos (hábito do 2.º e 3.o marquês da Graciosa), assim como à caça à raposa a cavalo (costume do 4.º marquês), e á equitação académica (prática do 3.º e 5.º marquês); assim como de alguns dos filhos e netos destes titulares, os quais por si só justificam a existência desta coudelaria ao serviço desta Casa.


Dr. João Filipe Geraldes Pereira de Figueiredo
(1955-2019)
D. Isabel Maria Ferreira van Zeller Pereira
Palha (n. 1965), c/ Xarope.


Não podemos deixar de mencionar a grande ligação desta família à defesa e promoção do Cavalo Lusitano[60], ao qual um dos filhos do 5.º marquês, o Dr. JOÃO FILIPE GERALDES PEREIRA DE FIGUEIREDO (1955-2019), criador, médico veterinário e mestre picador, dedicou parte da sua vida como um dos mais distintos equitadores e um dos fundadores e director de Escola Portuguesa de Arte Equestre, a sucessora da Picaria Real no Palácio de Belém. Pelo seu mérito, nesta categoria artística, recebeu do governo francês a prestigiada medalha da "Ordre National de la Legion de Gran Honneur de France". Foi nesta herdade que este grande equitador entregou a alma ao criador na manhã do dia 19-II-2019.

 

Outras propriedades emblemáticas que foram desta Casa

 

Pinhal do Marquês Graciosa
(Mata do Buçaco, Luso, Mealhada)

Buçaco, Cruz de Vopeliares.
O Pinhal do Marquês, outrora com os seus 5 hectares de pinheiros seculares, foi uma das últimas áreas a ser integradas na Mata Nacional do Buçaco em finais do séc. XIX[61]. Boscum sacrum, de “bosque sagrado”, seria o nome original desta belíssima mata situada na freguesia do Luso, concelho da Mealhada, distrito de Aveiro. Uma pequena parte desta mata, pertenceu ao 1.º marquês da Graciosa.

Dela consta a Cruz de Vopeliares, um cruzeiro mandado erguer por este titular por volta de 1861, no qual está integrado um dos capitéis românicos que foram reaproveitados da Igreja de São Cristóvão (Séc. XII), em Coimbra, demolida em 1860. Ouros quatro, destes capitéis, foram integrados num acrescento feito no Paço da Graciosa, Anadia, por volta de 1896.

Buçaco, Porta das Ameias.
Um dos acessos a esta parte da mata é a Porta das Ameias, também aberta em 1861 pelo então conde, depois marquês da Graciosa.

Actualmente pouco resta dos pnheiros originais, devido à praga que os assolou em finais de 2010 – o nemátodo-da-madeira-do-pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus). Actualmente esta mata foi invadida por plantas exóticas, nomeadamente do género Acácia. 




Casa do Conde da Graciosa no Buçaco
Alegre Hotel Buçaco
(Mata do Buçaco, Luso, Mealhada)

O marquês da Graciosa, então ainda conde, fez erguer em 1859 um belo edifício na sua propriedade da Mata do Buçaco, a cerca de 15 Km do seu Palácio da Graciosa em Arcos, no concelho da Anadia.

Buçaco, Casa do Marquês da Graciosa.
Esta foi a primeira casa nobre a ser edificada no Luso que, devido ao clima fresco desta mata, foi destinada a casa de veraneio desta família.

A configuração actual deste edifício resulta das sucessivas alterações que sofreu ao longo de mais de 150 anos de história; nomeadamente as que lhe foram feitas em 1900, com acrescentos anteriores ao início da Grande Guerra (1914), e finalmente em 1992.

Hoje em dia, uma coroa de conde a encimar a legenda «1859 – CG» [Conde da Graciosa], é a principal referência sobre a data da sua construção e do seu edificador que foi FERNANDO AFONSO GIRALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa, cuja família materna (Sampaio Pereira) era natural desta região.

Buçaco, Casa do Marquês da Graciosa
(Alegre Hotel Buçaco).
Mais tarde esta magnífica casa veio a ser herdada por um bisneto por via materna do 1.º marquês Graciosa, o qual foi FRANCISCO DE MELO OSÓRIO DE MENESES PITA (1900-1978), 2.º conde da Foz de Arouce, solteiro, sem filhos herdeiros. Este titular alugou esta casa ao grande hoteleiro Augusto Duarte Alegre, e a sua mulher D. Maria Hermínia Rosa, para nela instalarem a Pensão Alegre.

Posteriormente, devido a não ter herdeiros directos, propôs a venda deste imóvel aos seus inquilinos, venda esta concretizada em 1956, daí resultando uma luxuosa unidade hoteleira sob a designação Alegre Hotel Buçaco[62]. 


Palácio de Foz de Arouce
(Famalicão, Anadia)

Arcos, Famalicão, Palácio dos Condes de
 Foz de Arouce.

O Palácio dos Condes de Foz de Arouce (1860), no lugar de Famalicão (Arcos, Anadia), outrora sede de uma exploração agrícola desta região, foi mandado edificar em 1860 por FERNANDO AFONSO GIRALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa, para habitação da sua filha D. MARIA JOANA DE BOURBOM DE MELO GIRALDES CALDEIRA PEREIRA DE FIGUEIREDO (1842-1944), para esta casar a 18-IV-1860 com FRANCISCO AUGUSTO MESQUITA DE PAIVA PINTO (1833-1901), 1.º conde de Foz de Arouce (Carta de 23-08-1886, D. Luís I), moço-fidalgo da Casa Real, grande proprietário agrícola em Penamacor, onde a sua família tinha um grande solar datado do final do século XVIII – actual Biblioteca Municipal.  


Palácio dos Condes de
Foz de Arouce, pedra de
armas. Esquartelada de:
Paiva, Pinto, Mendonça,
e Mesquita.


Penamacor, Solar dos Condes de
Proença-a-Velha / Foz de Arouce
(Biblioteca) 
Famalicão, antiga Casa de
Foz de Arouce.



Esta família tinha nesta localidade de Famalicão, no Largo da Condessa, uma outra grande casa muito mais antiga – Casa de Foz de Arouce – que foi edificada no terceiro quartel do século XVIII e era de Joaquim José Furtado de Mesquita Paiva Pinto (1743-1828), avô do 1.º conde de Foz de Arouce. Este teve Carta de Brasão de Armas de PAIVA, PINTO, MENDONÇA e MESQUITA, concedida por alvará de 5-VIII-1769, do rei D. José I.


Deste casal, FRANCISCO AUGUSTO e D. MARIA JOANA, nasceu um filho e três filhas, das quais uma delas ficou célebre pelos seus dotes literários e artísticos: foi escritora, compositora musical e cultora do fado de Coimbra, sob o pseudónimo de «M. Grisalde» – anagrama de Maria Giraldes, de seu nome completo Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon (1864-1944).

«Maria Grisalde».
Maria de Melo Furtado Caldeira
Giraldes de Bourbon
(1864-1944)
Esta senhora, possuidora de grande cultura, era uma das figuras femininas de destaque no meio artístico nacional. Musicou vários poemas para o fado de Coimbra[63], modalidade da qual era grande apreciadora, e até então só protagonizada por homens, os quais para cantar sempre envergavam a capa de estudante. Nesta época, a uma titular da nobreza e mãe de seis filhos, três dos quais também titulares, não seria aceite de bom grado a liberalidade de frequentar o meio fadista. Porém, neste caso, a sua elevada posição social colocava-a ao abrigo de qualquer suspeição e até suscitava a admiração do meio intelectual nacional.

Proprietária de várias grandes casas apalaçadas, residiu a maior parte do tempo em Lisboa, porém passando grandes temporadas na sua casa da Anadia, na qual organizava grandes serões culturais abrilhantados por cantores e instrumentistas que, por vezes, ela própria acompanhava ao piano. Deste modo, ajudou muitos estudantes ligados ao fado e à literatura nacionalista do romantismo a consolidarem as suas carreiras, o que lhe valeu, á época, o epíteto de “Condessa do fado de Coimbra”. Os seus admiradores referiam-na como sendo uma mulher talentosa, extremamente simpática, discreta, cativante e carismática.

Em 1900, fundou a «Sociedade Artística de Concertos de Canto» que, inovadoramente introduziu em Portugal os concertos temáticos precedidos por notas explicativas.

A condessa «M. Grisalde», foi grande apreciadora do talento de dois jovens que viriam a ser grandes expoentes do fado da “cidade dos estudantes”. Estes viriam a dar fama aos serões musicais e artísticos que os condes de Proença-a-Velha promoveram nas suas diversas casas.

Um deles foi o então jovem, elegante, e abastado aristocrata ALEXANDRE REZENDE (1886-1953), fadista, guitarrista e compositor, o qual apesar de nunca ter frequentado a Universidade de Coimbra, esbanjava o seu talento nas tertúlias do meio estudantil e da boémia coimbrã, assim como abrilhantava os saraus que esta condessa promovia nas suas diversas casas: na Anadia; no seu grande Solar de Penamacor (actual Biblioteca Municipal); assim como em Lisboa (na sua Quinta dos Arciprestes); e por vezes em Coimbra.

O outro dos seus ídolos era o ANTÓNIO MENANO (1895-1969)[64], um dos catorze filhos de um comerciante e proprietário de Fornos Algodres; celebrizado desde muito cedo; tanto pela sua belíssima voz de tenor, como pela sua obra de compositor. Este fadista foi estudar para Coimbra onde frequentou a Faculdade de Medicina na qual se formou, exercendo posteriormente a profissão de médico em Fornos de Algodres, terra da sua naturalidade, sem nunca ter abandonado a sua faceta de fadista. Casou em 1922 na capela da Quinta da Fonte do Anjo, nos Olivais, em Lisboa, com D. Maria Henriqueta da Câmara Viterbo (1906-1977)) filha do arquitecto Fiel da Fonseca Viterbo (1873-1954) e de Maria José Ana de Jesus Gonçalves Zarco da Câmara (1873-1950), por sua vez filha de D. José Maria Gonçalves Zarco da Camara (1843-1907), 9.º conde da Ribeira Grande.

Esta titular, uma mulher muito à frente do seu tempo, foi D. MARIA DE MELO FURTADO CALDEIRA GIRALDES DE BOURBON (1864-1944), casada a 4-VI-1884 com JOÃO FILIPE OSÓRIO DE MENESES PITA (1856-1925), 2.º conde de Proença-a-Velha, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.

Famalicão, Palácio dos
Condes de Foz de Arouce
Quanto à casa apalaçada dos condes de Proença-a-Velha em Famalicão (Arcos, Anadia), um imóvel de interesse histórico e arquitectónico para o concelho da Anadia, subordinado a uma estética neogótica, apresenta uma planta irregular e uma volumetria composta por três corpos distintos, correspondentes a duas fases de obras.

A fachada apresenta uma composição longa de três tramos, com janelas em arco quebrado, tendo o central a entrada principal precedida por um alpendre com arcos quebrados assentes sobre colunas que suportam uma varanda no piso superior. Este corpo central possui um terceiro piso, rematado em empena triangular, com janela encimada pelo brasão da família.

No interior uma escadaria liga os pisos térreo e superior, em pedra calcária decorada com florões em relevo, e as diversas salas com tectos em estuque pintado.

Há ainda a destacar a capela privativa da casa, edificada nas traseiras da casa já no início do século XX, com fachada rasgada por porta em arco quebrado, encimada por lóbulo e nicho com imagem, e ladeada por alta torre sineira.

À volta desta casa há um jardim ao gosto romântico com uma estufa, um pavilhão, e uma gruta fingida, assim como um lago e diversas espécies arbóreas exóticas.

 


Solar do Marquês da Graciosa (Andrade)
Posto de Turismo de Monsanto
(Monsanto, Idanha-a-Nova)


Monsanto, Solar do Marquês da Graciosa (Andrade)

Solar do Marquês da Graciosa.
 Armas dos Andrade.
A freguesia de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, é uma emblemática aldeia da Beira Baixa que apresenta vestígios arqueológicos da passagem dos Visigodos e dos Árabes. Na origem do seu povoamento cristão foi uma importante praça-forte na linha de defesa da fronteira que chegou a estar na posse da Ordem de Cristo, cujo castelo quase inacessível, devido às íngremes escarpas que o rodeiam, sofreu diversas arremetidas do reino de Leão e posteriormente de Castela, as quais lhe impuseram alguns cercos dramáticos que ainda perduram na sua memória. Com a categoria de vila, foi sede de concelho (1758-1853). Em 1815 um raio provocou a explosão do paiol de munições do castelo, tendo este entrado em ruína.

Na década de 1590, durante a dominação filipina, além do esbulho fiscal, houve uma sucessão de péssimos anos agrícolas cujas más colheitas assolaram o país, contribuindo para o empobrecimento geral dos pequenos proprietários rurais e do campesinato. Devido à consequente fome e à doença que então grassou, estes pequenos agricultores de solos predominante mente pobres e pedregosos viram-se obrigados a vender as suas terras para sobreviver. Destas vendas beneficiariam os Andrade, os Geraldes, e algumas outras famílias desta região que eram detentoras de poder aquisitivo por via da ocupação de cargos de relevo na administração local.

Um destes, FERNÃO DE ANDRADE (ou Fernão de Andrade Calvo), casado com D. MARIA NUNES (ou Mécia Nunes Giraldes), obteve por esta altura um imenso património fundiário como se constata por diversas “cartas de venda” existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Ao todo adquiriu mais de uma trintena de propriedades em Monsanto e arredores, só no espaço temporal de uma década (1592-1601); às quais, nas duas décadas seguintes, se juntariam muitas outras compras. Algumas destas propriedades, como é de supor, viriam a fazer parte dos vínculos/morgados dos Andrade[65], os quais, em parte viriam à posse dos marqueses da Graciosa, seus descendentes.

Estes Andrade eram antepassados da família GERALDES, a qual por alianças matrimoniais deu origem aos GERALDES de ANDRADE.

Esta família edificou em Monsanto, entre os séculos XVII e XVIII, um solar armoriado por iniciativa do Dr. FERNANDO AFONSO GERALDES DE ANDRADE BARBA E MENESES (1770-1835), alcaide-mor de Monsanto (1802)[66], e de seu filho FERNANDO AFONSO GERALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1809-1889), 1.º marquês da Graciosa, que o concluiu. Situa-se na Rua Marquês da Graciosa, a antiga Rua Direita.

Na sua fachada ostenta um brasão com as armas plenas dos FREIRE de ANDRADE: um escudo com uma banda abocanhada por duas cabeças de serpente[67]; Elmo de grades, aberto e voltado à direita; Timbre tirado das armas dos Freire de Andrade com duas cabeças de serpentes[68].

Esta família provém da vila de Andrade, no reino da Galiza, actual município de Pontedeume, perto de Ferrol[69].

Segundo os genealogistas, João Fernandes de Andrade, filho de Fernão Dias de Andrade (c. 1425) e de D. Beatriz da Maia (c. 1435), serviu os reis D. Afonso V e D. João II nas tomadas de Arzila e de Tânger e, em recompensa dos seus serviços, teve mercê nova de armas (28-II-1485), além da doação, na ilha da Madeira, das terras do Arco da Calheta.

No século XX foi adquirido pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova que, após restauro, aí instalou o Posto de Turismo de Monsanto. 



Casa de Silvestre Fernandes Leitão, 1616.
Tapada do Alardo
(Castelo Novo, Fundão)


Castelo Novo, Casa de Silvestre Fernandes Leitão (1616)

D. LEONOR GERALDES (c. 1619) foi a instituidora do vínculo da Tapada do Alardo em Castelo Novo, a favor de sua filha primogénita D. Maria Geraldes, por disposição expressa no seu testamento datado de 19-IV-1619, no qual também lega missas por alma do seu avô materno que foi Giral Nunes Giraldes, o 1.º administrador do morgado dos Giraldes em Idanha-a-Nova[70], o qual foi sepultado na capela-mor da Misericórdia de Idanha-a-Nova.

Esta senhora fez dois casamentos endogâmicos: as suas primeiras núpcias foram com SIMÃO FERNANDES (parente de Silvestre Fernandes Leitão – SFL), o qual parece ser o mesmo que foi padrinho de FRANCISCO (n. 1626), o filho varão de SFL –, de quem enviuvou sem ter geração, tendo então passado a segundas núpcias com FERNANDO AFONSO GERALDES, do qual há muitos homónimos nesta família, sendo este o filho de Gaspar Fernandes Geraldes (novamente um Fernandes…) e de sua mulher D. Catarina Marques. Os MARQUES e os GERALDES eram apelidos ainda em uso pelos viscondes de Trancoso, que herdaram esta casa de Castelo Novo já no século XIX.

D. LEONOR GERALDES deixou duas filhas das segundas núpcias com Fernando Afonso Geraldes: a 1.ª delas D. MARIA GERALDES, filha primogénita, herdeira do vínculo instituído por sua mãe; e a 2.ª filha D. CATARINA AFONSO, casada com seu 2.º primo o licenciado Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes, filho de Marçal Nunes Geraldes e de sua mulher e parente D. Brites Geraldes.

D. MARIA GERALDES, a 1.ª administradora do morgado instituído por sua mãe (c. 1619), tal como a sua progenitora, também foi casada duas vezes com parentes, seguindo assim a forte tradição endogâmica desta família para a conservação e ampliação do património herdado: o seu 1.º casamento foi com FRANCISCO MARQUES GERALDES, filho de João Marques «o Velho» e de sua mulher D. Constança Nunes Geraldes, a qual era filha de António Nunes Geraldes, o 3.º administrador do morgado dos Geraldes, e de sua mulher e prima D. Catarina Gonçalves Calvo «a Nova»; o 2.º casamento foi com PEDRO GERALDES RICO, filho de Giraldo Anes casado com D. Maria Álvares Rico.

Do seu 1.º casamento com Francisco Marques Geraldes, teve 2 filhos: o primogénito, Manuel Marques Giraldes (f. 1628), que segue, e a sua única irmã D. Maria Nunes Geraldes casada com Manuel Alvares Rico, filho do 1.º casamento de seu padrasto Pedro Geraldes Rico.

Quanto ao primogénito, MANUEL MARQUES GERALDES (f. 1628), faleceu bastante novo a 26-IV-1628 em Idanha-a-Nova com testamento aí feito a 2-IV-1628 nas notas de André Madureira, pelo que não chegou a suceder no morgado da Tapada do Alardo, tendo casado em Monsanto com sua parente D. Mécia Nunes de Andrade, filha de João de Andrade Couto e de sua mulher D. Maria de Andrade Calvo.

Este casal teve um só filho que foi FRANCISCO MARQUES GERALDES (f. 1644), morto em 1644 num combate travado com os castelhanos em Vale Serrano, Idanha-a-Nova, quando era jovem e recém-casado com sua prima D. Maria Nunes Geraldes, filha de António Marques Geraldes e de sua mulher D. Leonor Fernandes da Cruz, o qual também não herdou o morgadio, mas deixou um filho único que foi Francisco Marques de Andrade, que segue[71]:

FRANCISCO MARQUES DE ANDRADE, capitão-mor de Idanha-a-Nova, foi o 2.º administrador do Morgado da Tapada do Alardo por disposição testamentária de sua bisavó D. Maria Geraldes, devido à morte prematura de seu pai e avô. Nascido após a morte de seu pai, casou a 18-XI-1682 em Idanha-a-Nova com sua prima D. FRANCISCA NUNES MOUCHO, filha de Gonçalo Vaz Nunes e de sua mulher D. Catarina Afonso Calvo.

Este Francisco Marques e sua mulher instituíram por testamento feito a 24-III-1708 nas notas de Manuel Martins Lucas, de Idanha-a-Nova, um morgadio com a terça dos seus bens, no qual nomearam por escritura de dote (20-I-1710) sua filha D. Brites, a qual também herdou a Tapada do Alardo. Foram seus filhos: 1. - D. Brites Maria de Andrade e Couto, que segue; 2. - Francisco Marques, que morreu menino; 3 - D. Maria dos Anjos de Santo António, freira no Convento de São Vicente da Beira; e 4. - D. Joana Baptista de Andrade que faleceu solteira, sem geração.

A primogénita D. BRITES MARIA DE ANDRADE E COUTO foi a 3.ª administradora do morgado do Alardo que trouxe em dote para a Casa dos Geraldes na Idanha-a-Nova, além de ter herdado o morgado instituído por seus pais e o padroado do Convento de Santo António de Idanha-a-Nova, assim como foi herdeira de todos os vínculos de seus primos Andrades de Monsanto por escritura feita a 26-II-1739 por João Monteiro de Távora – uma apreciável fortuna em terras.

D. BRITES Instituiu um morgado a 6-XI-1760 em Idanha-a-Nova, «a favor de seu filho e irmão», ao qual foram anexados nove outros vínculos, nos quais incluiu o morgado dos Geraldes (instituído em 1448), como consta no rol de vínculos que por força do decreto de 30-VII-1860 foi registado no Governo Civil de Castelo Branco e, três anos depois, pelo decreto de 19-V-1863 foi-lhes posto fim.

Esta senhora também estaria na posse da Casa de Silvestre Fernandes Leitão, em Castelo Novo, não se sabendo ao certo se esta estava unida ao morgadio da Tapada do Alardo, o que nos parece mais verossímil, ou se veio à sua posse por via de outros vínculos herdados.

Seguindo a tradição endogâmica familiar, casou a 31-III-1712 com seu primo o licenciado FERNANDO AFONSO GERALDES (1712-1758), 11.º administrador do morgado dos Geraldes, natural de Idanha-a-Nova, licenciado em Direito, que seguiu a carreia da magistratura[72], tendo sido único herdeiro da rica casa de seus pais, que pelo seu matrimónio trouxe o vínculo da Tapada do Alardo para a já grande Casa dos Geraldes. Este era um dos seis irmãos, filhos de Bartolomeu Nunes Cardoso Geraldes, 10.º administrador do morgado dos Geraldes e 2.º administrador do morgado instituído pelo pároco da freguesia das Donas, no concelho do Fundão, Manuel Marques Geraldes, tendo falecido a 17-IV-1758 na sua quinta da Charneca do Lumiar, em Lisboa, recebendo sepultura no meio do Capítulo do Convento de Nossa senhora do Socorro da Ordem do Carmo, em Camarate, no concelho de Loures[73].

O morgado da Tapada do Alardo em Castelo Novo, foi instituído por testamento de D. LEONOR GIRALDES, que chamou para 1.ª administradora a sua filha primogénita D. BRITES MARIA DE ANDRADE E COUTO que, seguindo a forte tradição endogâmica desta família para a conservação e ampliação do património herdado, veio a casar com o seu primo o Dr. FERNANDO AFONSO GIRALDES (1712-1758), 11.º morgado dos Geraldes, os quais foram os 1.os administradores do morgado dos Andrades de Monsanto, instituído a 27-V-1735 com a obrigação do uso do apelido Andrade em seus sucessores. O Dr. Fernando Afonso Giraldes, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra fez carreira na magistratura, sendo, tal como sua mulher, natural de Idanha-a-Nova onde foi baptizado a 31-III-1712, e morador na freguesia de Santos-o-Velho em Lisboa, vindo a falecer a 17-IV-1758 numa quinta na Charneca do Lumiar, em Lisboa, tendo recebido sepultura no meio do Capítulo do Convento de Nossa Senhora do Carmo, na freguesia de Camarate, concelho de Loures

Ao certo sabemos que já no século XVIII, a Casa de Silvestre Fernandes Leitão (SFL) nome do seu fundador em 1616 – e a Tapada do Alardo, em Castelo Novo, Fundão, estavam na posse do filho dos anteriores, o Dr. BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GERALDES DE ANDRADE (1715-1789), 12.º administrador do morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova), no qual também foi incorporado o morgado dos Arciprestes que tinha por cabeça o palácio e a Quinta dos Arciprestes, localizado entre a Rua de Artilharia Um e o Parque Eduardo VII em Lisboa, assim como foi 2.° administrador do morgado dos Andrades (Monsanto). Nasceu a 30-VI-1715 em Idanha-a-Nova, e veio a falecer com testamento a 14-VI-1789 na sua Casa e Quinta dos Arciprestes, em Lisboa, cidade onde foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios

Já no século XIX esta casa e a tapada, andavam na posse de um sucessor que foi BARTOLOMEU DA COSTA DE MACEDO GERALDES BARBA DE MENESES (1842-1900), 2º visconde de Trancoso, e de sua 2.ª mulher D. MARIA CRISTINA GUROWSKY (1860-1901), os derradeiros proprietários da casa nesta família, os quais dela só terão feito residência por períodos de tempo bastante curtos, pois desfrutavam de muitas outras casas e palácios melhor localizadas em Portugal e em Espanha.

Este 2.º visconde de Trancoso devido a uma pendência judicial com o meio-irmão, e outra com sua parente D. Maria do Ó Osório Cabral Vieira – mãe de D. Duarte de Alarcão –, relativa aos bens  herdados de um tio homónimo – Bartolomeu da Costa Macedo, casado com a citada Maria do Ó – que não teve filhos e foi dado como “desassisado e incapaz de administrar seus bens” por sentença de 29-IV-1853, pelo que não poderia testar como o fez; demanda judicial esta que acabou por perder depois de se arrastar por mais de quarenta anos, a qual está na origem da perda da quase totalidade dos bens deste casal. 

Através dos antepassados do 2.º visconde de Trancoso, vejamos então a presumível sucessão na posse desta casa, durante as últimas gerações.

BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GERALDES DE ANDRADE (1715-1789), 12.º administrador do morgado dos Geraldes (Idanha-a-Nova), no qual foi incorporado o morgado dos Arciprestes, assim como foi 2.° administrador do morgado dos Andrades (Monsanto).

Era senhor da casa de SFL em Castelo Novo, por herança de seu pai, a qual acabaria na posse do 2.º visconde de Trancoso, seu derradeiro possuidor nesta família.

Também teve a posse do morgadio da Tapada do Alardo em Castelo Novo, por herança da sua mãe a 3.ª administradora D. Brites Maria de Andrade e Couto, a qual, por sua vez, ainda herdou o morgado e padroado do Convento de Santo António de Idanha-a-Nova.

Este vínculo do Alardo teria sido abolido em vida deste seu administrador, pois seria de pequeno valor económico e pela Lei de 9 Setembro de 1769 terá sido extinto, podendo ser então herdado por outros herdeiros que não o primogénito.

Sabemos, por alguma documentação avulsa na posse dos actuais proprietários desta casa, que, nos primeiros anos do século XX, uma parte deste prédio urbano era um prazo enfiteutico, isto é, era uma propriedade desmembrada em dois domínios: directo (senhorio na posse de D. Maria Osório Cabral), e útil (enfiteuta ou foreiro, António Fernandes Simão), conforme consta por um registo (Conservatória Privativa da Comarca do Fundão, n.º 2033, L. «B», n.º 10, f. 216).

Supomos que este regime jurídico da casa já viria dos tempos do seu fundador SFL, o qual provavelmente pagaria um foro (a uma instituição religiosa?) pelo terreno para ampliar a casa primitiva, quando desta fazia parte um apreciável logradouro agrícola nas suas traseiras, pois era uma forma de arrendamento muito comum naquela época.

Muitos destes domínios enfitêuticos estavam, desde tempos imemoriais na posse da Igreja ou de diversas confrarias religiosas, as quais os aforavam para garantirem rendimentos próprios, mas acabariam muitos deles por serem perdidos a favor do Estado, o qual os alienou em hasta pública a favor de interesses privados, regra geral apoiantes da clientela política do liberalismo.

Estes foros, por via da legislação liberal que espoliou os bens das paróquias, das confrarias religiosas e demais institutos pios ou de beneficência, acabaram nas mãos da Fazenda Pública que, no distrito de Castelo Branco, os pôs em hasta pública alguns anos depois, sendo então adquiridos por particulares.

Presumimos ter sido isto que sucedeu com a citada casa de SFL.

Chamamos a atenção do leitor para o facto do domínio directo deste prazo se nos afigurar andar na posse de alguma confraria religiosa, passando posteriormente a privados; pertencendo o domínio útil deste prazo, desde tempos recuados à família do visconde de Trancoso. Porém não é isso que consta em registos e escrituras em que este último é mencionado como senhorio directo, o que presumimos ser erro de interpretação por desconhecimento dos intervenientes nas escrituras em questão.

Quanto ao domínio útil (enfiteuta/foreiro), pertenceria à família dos VISCONDES DE TRANCOSO, os quais, deste modo, dispunham da propriedade como entendesse mediante o pagamento do foro, neste caso uma quantia em dinheiro.

À data da sua venda à família FALCÃO, nos primeiros anos do século XX, estava o domínio útil na posse da então credora dos viscondes de Trancoso que foi D. MARIA EMÍLIA OSÓRIO CABRAL (1850-1934), então já viúva do segundo casamento de D. Duarte de Alarcão Velasques Sarmento Osório (1854-1905), como prova um registo na Conservatória do Fundão.

Os seus derradeiros herdeiros, num dos ramos da família fundadora, foi o 2.º visconde de Trancoso que faleceu em 1900, e a sua mulher a duquesa de Pozen falecida no ano seguinte em 1901.

Por enormes dívidas contraídas pelo visconde, por via da sua litigância em longos processos judiciais que perdeu, grande parte dos seus bens foram parar às mãos de um credor e parente do visconde, o seu familiar D. DUARTE DE ALARCÃO VELASQUES SARMENTO OSÓRIO (1854-1905), senhor da Quinta da Lágrimas em Coimbra, nascido a 9-XI-1854 em Espinhal, concelho de Penela, tendo falecido a 9-III-1905 na freguesia de Alcântara, em Lisboa, cidade onde casou em segundas núpcias a 17-VI-1889 na freguesia de São Sebastião de Lisboa com sua prima D. MARIA EMÍLIA OSÓRIO CABRAL (1850-1934), nascida a 7-VI-1850 na freguesia de São Miguel, em Castelo Branco, e falecida a 6-IV-1934 em Paris, a qual por sua vez era filha do conselheiro Miguel Osório Cabral, natural da freguesia de Travassô, concelho de Águeda, e de sua mulher D. Maria Carolina de Almeida Monteiro, natural de Viseu.

Quanto a este solar, que inicialmente terá sido subtraído à voragem dos primeiros credores, ficou para os herdeiros do Visconde, pois sabemos ter sido o seu filho D. FERNANDO GERALDES Y GUROWSKY BOURBON (1884-1966), solteiro maior, residente em Madrid, por procuração sua e de seus irmãos, passadas a 16-II-1905, fez uma escritura de venda do domínio directo – segundo refere – desta casa a 21-II-1906 pela quantia de 96.000 réis ao comprador ANTÓNIO MENDES FALCÃO, ainda solteiro, natural de Castelo Novo – filho de FELIZARDO MENDES FALCÃO que já detinha o seu domínio enfiteutico por ter casado com a herdeira deste prazo, D. Ana Maria de São José, já falecida, filha de ANTÓNIO FERNANDES SIMÃO que certamente o obtivera este “domínio útil” por licitação em hasta pública, e deu autorização a esta venda, declinando o seu direito de opção.

Posteriormente, este António Mendes Falcão remiu um foro que sobre esta casa incidia, ficando com a sua posse plena – domínio útil e domínio directo.

A remissão deste foro a seu pai Felizardo Mendes Falcão (casado com D. Ana Maria de São José), destinou-se certamente a este ficar desobrigado deste encargo perpétuo, perante outros herdeiros que o seu progenitor tivesse, os quais desconhecemos.

ANTÓNIO MENDES FALCÃO, filho de Felizardo Mendes Falcão que já era enfiteuta deste prazo, segundo um documento das Finanças do Fundão existente num arquivo desta casa, era tetravô da actual proprietária D. MARIA CECÍLIA PINA FALCÃO, a qual, juntamente com o seu falecido marido, o Dr. JOSÉ VIRIATO SOROMENHO RAMOS (1944-2016)[74], requalificou esta casa com um exemplar restauro que não lhe alterou a traça exterior – a servir de exemplo às barbaridades que neste campo têm sido cometidas na Cova da Beira –, licenciando-a sob a designação de «SOLAR DOM SILVESTRE, SOCIEDADE DE TURISMO E CULTURA, Lda.», vocacionada para a “actividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental”, assim como a “promoção, organização e divulgação de eventos culturais, educativos, recreativos e desportivos, prestação de serviços de consultoria económica, marketing e publicidade”.

 

Epílogo

Esta notável família da região das Beiras, cuja origem se perde nos primórdios da monarquia, marcou a vida da região da Idanha-a-Nova nos últimos seis séculos.

Foi um dos mais proeminentes clãs desta região, alargando por alianças matrimoniais a sua influência e poder a outras regiões do país, tal como Anadia e Lisboa.

Pela sua antiguidade, são responsáveis pela existência de milhares de descendentes. Destes sobressaíram muitos destacados clérigos, missionários, militares, juristas proeminentes que ilustraram este clã através dos séculos; os quais se ligaram a muitas outras casas titulares que ficaram de fora deste resumo, o qual se ateve apenas a algumas das sua mais emblemáticas casas que ainda chegaram a nosso tempo.

A sua proeminência em Idanha-a-Nova, foi inicialmente alcançada durante a denominação Filipina, e no período subsequente da Restauração, no reinado de D. João IV, durante o qual alguns membros desta família deram a vida pela independência do Reino[75].

Um dos pontos mais altos desta família foi alcançado nos meados do século XVIII coma ligação matrimonial do 13.º morgado dos Giraldes á Casa da Graciosa, em Arcos, Anadia, que permitiu a união de duas das grandes fortunas do Reino, com a consequente aquisição de influência e poder.

Ao seu descendente, o 1.º marquês da Graciosa, ficou a dever-se a ampliação do património da Casa, assim com um grande programa de conservação do numeroso património herdado.

Porém, em meados do século XIX, com extinção dos morgadios pela mão do liberalismo triunfante, pulverizou-se este património pelos inúmeros herdeiros, começando então o lento dobre a finados de muitas destas antigas e poderosas Casas das famílias tradicionais, cuja riqueza era baseada na posse da terra, não se adaptando aos valores burgueses da subsequente Revolução Industrial e da especulação financeira emergente.

A derrocada do Antigo Regime arrastou consigo grande parte destas famílias, as quais, pela carência dos grandes recursos financeiros necessários, não conseguem manter de pé as vetustas casas patriarcais com uma história de séculos. Muitas destas casas irão passar às mãos da nova burguesia emergente, endinheirada mas sem cultura e sem gosto, que as vai abastardar atribuindo-lhes funções mais prosaicas.

A tradição de casamentos endogâmicos neste clã dos Geraldes, permitiu a conservação de muito do seu património e dos seus valores e tradições, muito para além da derrocada da maior parte destas famílias. Foi este o caso do Paço da Graciosa (Anadia), e do Solar dos Geraldes / Marqueses da Graciosa (Idanha-a-Nova).

Chegados ao século XX e XXI, estavam estes dois palácios na posse do longevo FERNANDO AFONSO DE MELO GERALDES DE SAMPAIO PEREIRA DE FIGUEIREDO (1924-2014), 5º marquês de Graciosa, engenheiro agrónomo, lavrador, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Monsanto (1961) e de vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Idanha-a-Nova, presidente da Casa do Povo de Idanha-a-Nova, foi designado procurador à Câmara Corporativa como representante dos trabalhadores (1961-1965), deputado à Assembleia Nacional pelo Círculo Eleitoral de Castelo Branco (1965-1969), foi feito Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Agrícola. Casou a 26-XI-1947 em Lisboa com D. MARIA JOSÉ BRIFFA RAPOSO DE SOUSA D' ALTE ESPARGOZA (n. 1925), da qual teve nada menos que dez filhos, alguns deles já falecidos, e um número infindável de netos.

O falecimento do 5.º marquês da Graciosa, e a dificuldade de partilhas destes dois valiosos palácios – da Anadia e de Idanha-a-Nova – por tantos herdeiros, acabou por ditar a sua sorte: foram recentemente postos à venda. A brutal carga fiscal que passou a incidir nestes últimos anos sobre este tipo de património, não terá sido alheia a esta decisão.

A sua alienação fora da família fundadora, com alguma probabilidade será destinada instalações de hotelaria – o destino provável deste tipo de mansões.

Esta mudança de mãos não inviabiliza que os seus novos proprietários, em função de objectivos culturais, preservem a memória secular destas casas, aí promovendo a existência de pequenos núcleos/espaços museológicos dedicados à família fundadora que faz parte da identidade das respectivas terras onde se inserem – uma estratégia de marketing da qual poderá beneficiar uma qualquer unidade hoteleira aí instalada. Esta pequena memória deve salvaguardar as figuras dos morgados fundadores, e dos que contribuíram para a sua ampliação e conservação, não esquecendo o 1.º marquês da Graciosa.

No caso de virem ser destinados à hotelaria, para além da comodidade, da gastronomia, da paisagem envolvente; estes edifícios memoráveis, e importantes para a construção social da memória colectiva, têm uma história que faz parte dos interesses culturais da região e deve ser divulgada junto dos turistas mais exigentes.

Fazemos votos para que não se apague a memória histórica desta notável família ligada à história das Beiras. Ela constitui um valor patrimonial, de interesse colectivo, a requerer a sua contextualização ao longo do tempo, que será, deste modo transmitida às gerações futuras.


                                  João Trigueiros
                                Fundão,   27-Dez.-2020           




Notas: 


[1] LUIS BÍVAR GUERRA (1904-1979) foi um distinto investigador, sócio efectivo do Instituto Português de Heráldica, sócio da Associação de Arqueólogos Portugueses, e sócio da Academia Portuguesa de História.

[2] «A Casa da Graciosa» (1965), de Luís Bívar Guerra, é um grosso volume de mais de 500 páginas enriquecidas com numerosos desdobráveis com extensas árvores genealógicas. Edição limitada a 300 exemplares foi custeada por João Filipe de Melo Osório de Meneses Pita (1896-1971), 4.º marquês de Graciosa, publicado para ser oferecido a familiares e amigos.

[3] FERNANDO AFONSO GERALDES, formado em Cânones pela Universidade de Coimbra, filho do licenciado Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes, capitão-mor de Idanha-a-Nova durante o reinado de Filipe III, e de sua 2.ª mulher e prima D. Catarina Afonso Giraldes

[4] GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, pp. 166-167.

[5] JOÃO TRIGUEIROS, o autor destas notas, descende destes GERALDES DE MELO por sua 4.ª avó CAROLINA CÂNDIDA GERALDES DE MELO (1837-1915), proprietária nas freguesias de Aldeia de Joanes, Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão, e em Escalos de Baixo, no concelho de Castelo Branco, nascida a 18-I-1836 em Almeida onde seu pai estava como militar, e aí baptizada a 29-I-1836 tendo por padrinho Nuno Brandão de Castro (n. 1805?), camarada de armas do seu progenitor e capitão de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 21 (1833), e ainda um dos heróis da Causa Liberal que desembarcou na praia do Mindelo (8-VII-1832) após o que travou quase todos os combates até à capitulação de D. Miguel (1834), e era casado com D. Ana Celina que foi madrinha.

   CAROLINA CÂNDIDA faleceu a 18-II-1915 na sua casa da Rua do Eiró em Escalos de Baixo, onde foi sepultada no jazigo de seu genro o capitão António Augusto de Azevedo, tendo deixado uma herança de 18 prédios agrícolas aos seus herdeiros.

    Era filha natural de JOSÉ ANTÓNIO GERALDES DE MELO COUTINHO (f. 1841), tenente do Regimento de Infantaria n.º 21 (1833) que, à data do nascimento da sua filha, estava a prestar serviço na Divisão Auxiliar a Espanha e era natural de Aldeia Nova do Cabo, concelho do Fundão, tendo falecido solteiro a 12-VII-1841 em Castelo Branco, em cujo cemitério jaz, e de D. MARIA DA ENCARNAÇÃO DOS ANJOS, natural do Porto.

    Era neta paterna de MANUEL ANTÓNIO GERALDES LEITÃO COUTINHO DE MELO (n. 1766), nascido a 28-IV-1766 em Aldeia Nova do Cabo, proprietário nessa freguesia e em Idanha-a-Nova, descendente dos morgados dos Geraldes em Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. ANGÉLICA LEOCÁDIA DE OLIVEIRA FONSECA COUTINHO BOTELHO, natural de Penamacor; e neta materna de JOSÉ JOAQUIM GONÇALVES, natural de Santo Tirso, e de sua mulher D. MARIA JOSÉ, natural do Porto.

   CAROLINA CÂNDIDA casou a 26-VIII-1850 em Escalos de Baixo com JOÃO TELES TRIGUEIROS (1822-1886), juiz desembargador, nascido a 20-3-1822 em Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco, onde foi baptizado a 7-3-1823 na Igreja de São Silvestre, apadrinhado por Simão Trigueiros do Rego Martel (n. 1807) e por D. Doroteia Trigueiros Martel (n. 1803). Faleceu a 19-IX-1886 na sua Casa do Calvário, no Largo do Calvário, em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão.

    Este consórcio matrimonial uniu duas proeminentes famílias de Idanha-a-Nova desta época, onde eram terratenentes: os TRIGUEIROS (condes de Castelo Branco e condes de Idanha-a-Nova), e os GERALDES DE MELO (marqueses da Graciosa, condes de Proença-a-Velha, e condes de Foz de Arouce). Não foi esta a única vez que estas duas famílias se uniram por laços matrimoniais.  

[6] Diz Guerra, Luís Bivar (1965), p. 154, que «No reinado de D. Afonso I de Portugal viveu o grande GIRALDO GIRALDES, conhecido por «Sem Pavor», que Carvalho da Costa diz ter sido beirão. Foi guerreiro de grande valor e pode dizer-se que El-Rei D. Afonso I teve nele o seu melhor auxiliar nas suas conquistas e na luta contra os mouros. Em 1165 a sua decisão e intrepidez lhe fez conquistar Évora e em 1169, com D. Afonso I, assaltou Badajoz que tomou e que - depois pela atitude política e militar de Fernando de Leão - se perdeu motivando a queda que na fuga sofreu o Rei. Querem os nobiliaristas que sejam seus descendentes os Silveiras, da Sortelha, que possuíram as casas deste Giraldo Giraldes em Évora». 

    Refere ainda este autor, na p. 155, um «AFONSO GIRALDES [nome em uso nas gerações actuais da Casa da Graciosa] que acompanhou D. Afonso IV na Batalha do Salado, em 1340, e deixou um poema em que a referida batalha se descreve. Diogo Barbosa Machado na sua «Biblioteca Lusitana» refere-se-lhe largamente».

[7] O morgado da Tapada do Alardo em Castelo Novo, Fundão, foi de sua avó materna D. Brites Maria de Andrade e Couto, a qual fora casada com o Dr. Fernando Afonso Giraldes, 1.os administradores deste Morgado dos Andrades de Monsanto, instituído a 27-V-1735.

[8] FERNANDO AFONSO GIRALDES DE ANDRADE BARBA E MENESES (1770-1835), desempenhou diversos cargos, dos quais destacamos o de chanceler e governador das Justiças da Relação e Casa do Porto (1813), deputado da. Mesa da Consciência e Ordens, desembargador da Casa da Suplicação, e desembargador dos Agravos (1804), e conselheiro de Sua Majestade.

[9] BARTOLOMEU JOSÉ NUNES CARDOSO GIRALDES (1715-1789), entre vários outros cargos, destacou-se como ouvidor na Alfândega de Lisboa, desembargador da Relação e Casa do Porto, desembargador dos Agravos (1764), chanceler da Casa da Suplicação (1765), conselheiro da Real Fazenda, desembargador do Paço, conselheiro de Sua Majestade, secretário de estado da rainha D. Maria Ana Vitória, Regedor das Justiças (1783-1786), conservador da Junta da Administração do Tabaco, e deputado da Casa de Bragança.

[10] FERNANDO AFONSO GIRALDES DE MELO SAMPAIO PEREIRA (1809-1889) foi feito 1.º visconde da Graciosa (rainha D. Maria II, Decreto 05-02-1840), 1.º conde da Graciosa (rainha D. Maria II, Decreto 12-06-1852) e 1.º marquês da Graciosa (rei D. Luís I, Decreto de 25-IX-1879).

[11] A CASA DA BORRALHA foi palco de reuniões culturais e políticas, tendo nela nascido o célebre FERNANDO AFONSO GIRALDES CALDEIRA (1839-1894), deputado, governador civil de Aveiro, e também reputado escritor e poeta.

[12] Luís Bivar Guerra, A Casa da Graciosa, p. 181, nota 204.

[13] Segundo consta por documento existente no Processo de Registo de Vínculos no Governo Civil de Castelo Branco.

[14] Livro dos Forais Novos da Estremadura, f. 80, Col. I, p.107.

[15] O nome de QUINTA DA GRACIOSA, dado por FRANCISCO PEREIRA DE MIRANDA, segundo a tradição que corre nesta família, ficou e dever-se ao facto deste fidalgo, quando vinha de África, quase ter naufragado devido a um violento temporal que arrastou a sua nau até à ilha da Graciosa, no mar dos Açores, oferecendo-lhe ali um porto seguro. Ele quis que este acontecimento ficasse memorável, mudando então o nome da sua quinta para Graciosa.

[16] LOPES, Luís Seabra (2017), «Os Borges de Carvalhais, Senhores de Ferreiros, Avelãs de Cima e Ílhavo», in Revista de História da Sociedade e Cultura, n.º 17, Centro de História da Sociedade da Cultura, Imprensa da Universidade de Coimbra, p. 118.

[17]  JOÃO TRIGUEIROS, o autor destas notas, no princípio dos anos noventa do século passado, fez uma visita ao Paço da Graciosa guiado pelo então seu amigo FRANCISCO GERALDES PEREIRA DE FIGUEIREDO (1949-2002), o qual lhe mostrou, num dos grandes salões nobres, um numeroso conjunto de retratos de corpo inteiro de diversos membros desta Casa (morgados do vínculo?), dos quais, o último deles supostamente retratava uma das derradeiras marquesas da Graciosa (?) da autoria do pintor José Malhoa (1855-1933).

[18] A designação de "Paço" está sempre sempre associada à presença REAL. O termo também é usado para as residências episcopais.

[19] Este grande senhorio de Carvalhais foi doado a 26-IX-1464 a GONÇALO BORGES, cavaleiro fidalgo da Casa Real, filho de Rui Borges (n. 1400?) e de D. Maria Vaz, por vários serviços prestados e provavelmente por ter estado com seu pai ao lado do Rei D. Afonso V (1438-1481) na Batalha de Alfarrobeira (1449). Foi sepultado numa arca tumular armoriada com um escudo pleno com leão rampante (Silva?), na Capela de São Gregório Magno, na igreja paroquial da Moita, no concelho da Anadia.

[20] Deste senhorio entre várias localidades faziam parte FERREIRROS – conc. da Anadia; CARVALHAIS – freg. da Moita, conc. da Anadia; ÍLHAVO – conc. de Aveiro; AVELÃES DE CIMA – conc. da Anadia.

[21] LOPES, Luís Seabra (2017), «Os Borges de Carvalhais, Senhores de Ferreiros, Avelãs de Cima e Ílhavo», in Revista de História da Sociedade e Cultura, n.º 17, Centro de História da Sociedade da Cultura, Imprensa da Universidade de Coimbra, p. 108.

[22] O infante D. PEDRO (1392-1449) era filho do  rei João I e de D. Filipa de Lencastre.

[23] LOPES, Luís Seabra (2017), Loc. Cit.

[24] O infante D. PEDRO (1392-1449) era filho do  rei João I e de D. Filipa de Lencastre.

[25] A favor do rei D. Afonso V (1432-1481), contra o infante D. Pedro (1392-1449), militavam o seu tio bastardo D. Afonso, 1.º duque de Bragança; D. Afonso, 4.º conde de Ourém; e D. Pedro de Noronha, arcebispo de Lisboa.

[26] LOPES, Luís Seabra (2017), Op. cit., pp. 103-128.

[27] Os BORGES de Carvalhais, pelos SOUSAS, entroncavam no rei Dom Afonso III (1210-1279). Por sua vez, ANTÓNIO BORGES DE MIRANDA (n. 1470?), 3.º senhor de Carvalhais, casou em primeiras núpcias com uma bisneta de HENRIQUE II (1334-1379) de Castela; e RUI PEREIRA DE MIRANDA, 4.º senhor de Carvalhais, supõe-se ter casado em primeiras núpcias com um ramo dos Sousas que possuía vários senhorios jurisdicionais e desempenhou vários cargos próximos ao rei (mordomo-mor, pajem de lança, etc.).

[28] A este ANTÓNIO BORGES DE MIRANDA (1470?-1529), erradamente, alguns autores atribuem-lhe duas Cartas de Armas datadas de 1535 e 1550, as quais não podem ser-lhes destinadas, pois este já tinha falecido há algum tempo.

[29] LOPES, Luís Seabra (2017), Op. cit, p.124.

[30] VERDEMILHO é uma freguesia do concelho de Aveiro.

[31] GAIO, Felgueiras (1989), «Nobiliário das Famílias de Portugal», (Braga, Carvalhos de Basto, 1989-1990), Tomo II, tit. “Almada”, § 8, n.º 10-11.

[32] FIGUEIRA é hoje um lugar que foi concelho medieval, a actualmente pertence à freguesia de Avelãs de Cima, concelho da Anadia, cuja toponímia ainda consagra a «Quinta do Paço» e «Fonte do Paço», reminiscências do velho solar que foi assento da família da Graciosa. Pertenceu ao infante D. Pedro, 1.º duque de Coimbra, e ainda tem alguns vestígios das demolidas construções que faziam parte da velha moradia senhorial.

[33] LOPES, Luís Seabra (2017), Op.cit.

[34] LOPES, Luís Seabra (2017), p. 118.

[35] D. ANA DA CUNHA era filha de João de Castilho, escrivão da câmara do rei Dom João III, escrivão da fazenda do rei Dom Sebastião, do Conselho do Rei Dom Henrique e alcaide-mor de Alenquer.

[36] LOPES, Luís Seabra (2017), p. 117.

[37] Frei SIMÃO DE MIRANDA HENRIQUES (c. 1592), religioso da Ordem Militar de São João de Malta, fundou a suas expensas a ermida de Nossa Senhora do Socorro situada no Rocio da vila de Avelãs de Cima (Arcos, Anadia), em cujo retábulo se fez figurar ao lado da imagem da Virgem. Na verga da porta principal da capela, estava esta inscrição: «ESTA ERMIDA DE NOSSA SR.ª DO SOCORRO HE DE FR. SIMÃO DE MIRANDA HENRIQUEZ COMMENDADOR DE MALTA. ANNO DE 1592». Em 1625 ainda existia, tendo posteriormente entrado em ruína pelo que foi demolida. In LOPES, Luís Seabra (2017), pp. 118, 184.

[38] D. MARIA DE MARIZ era filha de Heitor de Mariz e Helena de Figueiredo.

[39] LOPES, Luís Seabra (2017), p.118

[40] Desconhece-se o rumo que estas imagens levaram.

[41] GRAÇA, Serafim Soares da (1942), A Cada da Graciosa – Suas antigas tradições religiosas, Sep. Arquivo do Distrito de Aveiro, 8, Coimbra.

[42] A inscrição tumular, hoje ilegível, dizia: «Sepultura de Donna Maria de Miranda Pereira mulher que foy de Francisco de Mello de Sampaio; filha de Sebastião Prª de Miranda e de Donna Fr.ca de Mendonsa. Faleceo a 20 de Agosto ele 1684 annos.» In. MADAHIL, Rocha, Informação Paroquial de Avelãs de Cima, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. IV.

[43] Francisco de Melo de Sampaio (f. 1711) faleceu na Graciosa a 28IX-1711. Os outros familiares sepultados neste local foram: D. Mariana de Melo (f. 1716), sua filha, falecida a 14-VIII-1716; António Luís de Melo (f.1716), irmão desta, falecido na Graciosa a 30-X-1741; José de Melo de Sampaio Pereira de Figueiredo (1710-1778), nascido em 1710 e falecido a 11-IV-1778, etc.

[44] GRAÇA, Serafim Soares da (1942), Op. Cit.

[45]  A Quinta dos Ciprestes, o nome original pelo qual também foi conhecida devido à existência de árvores desta espécie, duas das quais delimitavam a entrada. Era uma propriedade muito extensa, composta pela Quinta de Fora, formada por colinas e vales, e pela Quinta de Dentro, mais plana, apresentando uma porta para o caminho de Santa Marta. Nela predominava a vinha, olival, e terras de semeadura.

[46]  O nome completo desta instituição que funcionou como um colégio era “Congregação do Oratório de São Filipe Néri e Nossa Senhora da Assunção”.

[47]  A Quinta dos Arciprestes estendia-se para a Rua do Salitre, Rua Rodrigo da Fonseca, Rua Braamcamp, Rua Castilho, Rua da Artilharia n.º 1 e Praça Marquês do Pombal.

[48] SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Depois do terramotoSubsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933.

[49] O seu neto Fernando Afonso, 1.º marquês da Graciosa, juntou vários morgados desta casa ao vínculo que fora instituído em 1760 pela sua bisavó BRITES MARIA DE ANDRADE E COUTO, então viúva de FERNANDO AFONSO GIRALDEs, «e por dez dos seus onze filhos, em que estes prescindem da sua legítima em favor do irmão mais velho, ao qual foram feitas nove anexações, das quais constam os morgados de Idanha-a-Nova e Monsanto, assim como a Quinta dos Arciprestes em Lisboa», vindo a ser sucessor na administração deste morgadio Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade. in ANTT, Vínculos Abelho, proc. nº. 3, fl. 4v-5.

[50] D. BRITES MARIA DE ANDRADE E COUTO, filha Francisco Marques de Andrade e de sua mulher D. Francisca Nunes Moucho, além do citado morgado da Tapada do Alardo, em Castelo Novo, era administradora de mais 7 vínculos, entre os quais se incluía o vínculo dos Andrades em Monsanto, Idanha-a-Nova, segundo refere Luís Bívar Guerra na sua obra «A Casa da Graciosa» (1965), (p. 441/442). Esta senhora foi 5.ª avó de JOÃO FILIPE DE MELO OSÓRIO DE MENESES PITA (1896-1971), 4.º marquês de Graciosa, o promotor da resenha genealógica «A Casa da Graciosa».

[51]  O casamento do desembargador BARTOLOMEU GERALDES, com D. INÊS DE VERA BARBA DE MENESES, foi realizado a 16-VII-1768 em Oeiras. Um mês depois, a 14-VIII-1768, foi assente no livro de casamentos da freguesia de Santos-o-Velho em Lisboa (f. 46v.), local de residência da família da noiva.

[52] PAULO DE CARVALHO MENDONÇA (1702-1770) foi uma figura influente da época, tendo ocupado lugares de destaque. Pertenceu ao do Concelho de Sua Majestade, foi vedor da Fazenda da Rainha D. Mariana da Vitória de Bourbom, esposa do erro D. José I, presidente do Senado) da Câmara de Lisboa (1762), assim como Dom Prior da Colegiada de Guimarães, deputado do Concelho Geral do Santo Ofício, e comissário geral da Bula de Cruzada, entre outros cargos. O papa Clemente XIV fê-lo cardeal in pectore a 18-XII-1769.

[53] Sobre estas colecções veja: França, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, I vol., (Lisboa, Bertrand, 1966), pp. 189-190.

[54] JACINTO FERNANDES BANDEIRA (1745-1806), filho de um sapateiro de Viana, foi um destacado membro da emergente burguesia comercial pombalina, devido à sua meteórica ascensão social. Prosperou como negociante por grosso, beneficiando de vários monopólios, os quais lhe permitiram aforrar uma gigantesca fortuna. Foi contratador do tabaco, de pau-brasil, das baleias, e do sal, entre outros. Acabou nomeado familiar do Santo Ofício (1769), cavaleiro da Ordem de Cristo, e obteve o foro de Fidalgo da Casa Real (1794). Já no fim da sua vida veio a ser agraciado com o título nobiliárquico de barão de Porto Covo da Bandeira (1805).

[55]  MACHADO, Cirillo Wolkmar, Collecção de Memórias, relativas às vidas dos pintores, e escultores, architetos, e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922, p. 116.

[56] Presumivelmente seria FERNANDO TELES DA SILVA CAMINHA E MENESES (1813-1893), 4.º marquês de Penalva.

[57] JOÃO JOSÉ VAZ PRETO GERALDES (1801-1863) era filho de Manuel Vaz Preto Tudela de Castilho, natural de Idanha-a-Nova e de D. Maria José Barba de Meneses Geraldes, natural de Lisboa.

[58]  Em 1867, Joaquim Pedro Quintela (1823-1889), foi feito 2.º conde de Farrobo (1849), ainda em vida de seu pai, entretanto falido, o qual foi casado nas suas primeiras núpcias com Eugénia de Saldanha de Oliveira e Daun (1831-1872), filha de João Carlos Saldanha Oliveira Daun (1790-1876), 1.º duque de Saldanha, marechal, e 1.º ministro.

[59] Seria D. João Carlos de Almada Quadros Sousa Lencastre Fonseca Albuquerque de Meneses (1849-1903), 3.º conde de Tavarede, que veio a falecer a 9-VII-1903 em Trancoso, Guarda.

[60]  Já na segunda metade do século XX, ficaram notáveis nesta coudelaria diversos garanhões que muito honraram o ferro Graciosa, dos quais salientamos premiados INFALÍVEL e NABUCO.

[61] O Bussaco (grafia antiga) passou a designar-se por Buçaco, ortografia actualmente em uso. Há defensores de ambas as grafias para este topónimo.

[62]  Sucedeu este hotel à Pensão Alegre, fundada em 1931 por Augusto Duarte Alegre, e a sua mulher D. Maria Hermínia Rosa, natural do Barril, Mortágua, a qual era dotada de uma grande aptidão para a cozinha o que expandiu este negócio obrigando-a a arranjar instalações mais amplas. Devido a esse facto, acabou por se instalar na Casa do Conde da Graciosa. Os filhos e netos deste casal continuariam a empresa familiar, assim como geriram algumas das mais notáveis empresas hoteleiras deste país.

[63] De M. GRISALDE, merecem destaque, as obras dadas à estampa quando já era viúva: Os nossos concertos: impressões de arte (1902); Ecos do passado: os nossos poetas (1904); Fadas e encantos (1929); Alguns séculos de música: impressões de arte (1930); Quem quere linhas, agulhas, alfinetes? : contos e lendas para adolescentes (1933); Os nossos poetas [música impressa] (1934); Nocturno [música impressa] (1934); Melodias portuguesas [música impressa] (1934); Canção das estradas no Estio [música impressa] (1938).

[64] ANTÓNIO MENANO (1895-1969) era irmão de Francisco Menano, também ele compositor de fado e virtuoso cultor da guitarra de Coimbra. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, veio a ser juiz desembargador no Tribunal da Relação de Lisboa.

[65] Algumas destas propriedades, na toponímia da época, situavam-se: à Fonte do Courelo; Tapada de Maria Gorda no Lagar da Lagoa; Ribeira das Pias; na Nave ou Moita de Beijoqua; Quinta do Burrinho; Casal do Pelado; um chão na Devesa; Chão da Lamigeira; casas na Rua da Corredoura (1594); Vale da Vinha do Sorelo; a Ferrenheira; Vale das Canas; Folha de Serralhões; Barreiro da Fonte; Folha da Fonte do Loredo; Folha da Garavaia ao Castelo; Folha do Aravil, Terra da Galega, A Carga da Caldeira, As Cantarinhas, Folha de Monsantél, etc.

[66] A alcaidaria de Monsanto passou à Casa da Graciosa por via dos seus antepassados Andrade Calvo, uma das famílias mais antigas desta povoação.

[67] As armas destes FREIRE DE ANDRADE tinham os seguintes esmaltes e cores: campo verde com uma banda de vermelho, abocanhada por duas cabeças de serpente armadas de vermelho. 

[68] A família ANDRADE (Freire de Andrade), com vários ramos e algumas variações na representação das suas armas, é uma das antigas famílias desta região. Ligaram-se aos Freires, dos quais usam as armas e o apelido associado ao seu, pela ordem de Andrade Freire, Freire de Andrade, ou cada um deles isoladamente. As armas, conforme os ramos, têm pequenas variações. Alguns ramos usavam duas caldeiras nas suas armas, mas os descendentes de Nuno Freire, omitiam-nas na sua representação heráldica, o que é o caso desta pedra de armas de Monsanto.

[69] Os ramos portugueses da família galega dos ANDRADE, segundo alguns genealogistas, provêm de Rui Freire de Andrade (1295-1362) que passou a Portugal acompanhado por dois filhos, os quais foram: D. Nuno Rodrigues Freire de Andrade (c. 1300-1372), mais tarde 6.º mestre da Ordem de Cristo, e seu irmão Vasco Freire.

[70] GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, pp. 161-162, nota 153.

[71] GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, p. 199.

[72] FERNANDO AFONSO GERALDES (1712-1758) foi sucessivamente juiz de fora de Vila Franca de Xira, juiz de fora da cidade do Porto, corregedor de Castelo Branco e de Coimbra, desembargador da Casa da Suplicação foi depois desembargador dos Agravos, assim como Juiz dos Cavaleiros. Foi ainda nomeado juiz da Coroa e Conselheiro da Fazenda (1745), deputado da Junta dos Tabacos, conselheiro da Rainha e Ouvidor Geral da Casa de Bragança, com o título de Conselheiro de Sua Majestade Fidelíssima.

[73] Luís Bivar Guerra, A Casa da Graciosa, pp. 170-171.

[74] JOSÉ VIRIATO SOROMENHO RAMOS (1944-2016), entre muitos outros cargos, foi o primeiro presidente do Conselho Consultivo da UNU-IIST, controlador financeiro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tesoureiro adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e conselheiro sénior da Universidade das Nações Unidas (UNU). Em 2009 foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa com a Ordem do Mérito Portuguesa.

[75] FRANCISCO MARQUES GIRALDES (f. 1644), morto em combate com os castelhanos em Vale Serrano, Idanha-a-Nova; JOÃO MARQUES ANES (c. 1643), que morreu na Campanha contra os castelhanos durante a Guerra da Restauração, o qual era filho D. CATARINA MARQUES GIRALDES, filha de Marçal Nunes Giraldes, casada com seu primo João Marques Anes Leitão, que também morreu em combate com os Castelhanos.