Rua do
Serrão, Fundão
Lourenço José
Taborda Tavares
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818), filho
Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão (1781-1818), filho |
Brasão de: Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão (1781-1818).
Forma: Escudo em cartela, esquartelado: 1.º
- TABORDA, 2.º - FEIJÓ (por erro
de concessão, em vez de FEIO), 3.º - FALCÃO, 4.º - TAVARES.
de concessão, em vez de FEIO), 3.º - FALCÃO, 4.º - TAVARES.
Diferença: Brica carregada de um trifólio (mal
representado).
Local: Casa na Rua do Serrão, Fundão
Data: Carta de 21-I-1788, registada a 8-II-1788.
Casa Taborda Falcão (Séc. XVIII), actual Museu Arqueológico, de Lourenço José Taborda de Negreiros Feio (1754-1829), pai. |
HISTÓRIA DA CASA
Na Rua do Serrão, uma pequena transversal à Rua da Cale
na cidade do Fundão, temos o antigo solar armoriado da família TABORDA FALCÃO. Este
foi adquirido pela autarquia fundanense no ano de 2003, para aí instalar o Museu Arqueológico Municipal Dr. José
Monteiro[1],
após uma profunda remodelação.
O acervo museológico municipal aí instalado, andou
desprezado ao longo das últimas décadas num pequeno espaço disfuncional, sem a
menor critério de organização técnico-científica,
sem condições, e sem dignidade.
Deste modo se pôs a salvo o espólio arqueológico do município
do Fundão, em grande parte reunido pelo Dr. José Alves Monteiro, um dilecto
filho desta terra, assim como a citada casa solarenga que, a não lhe ter sido
conferida esta nova funcionalidade, acabaria por se degradar como tantas
outras.
A casa Taborda Falcão foi recuperada e adaptada às suas novas
funções museológicas, preservando-se a fachada e a adaptando-se o seu espaço
interior às novas exigências para acolher um equipamento cultural de grande
relevo para esta região, na área do património, da arqueologia, e da história.
♦
Planta do Fundão |
Por ocasião
das obras de requalificação para instalação do museu, foram postas a descoberto várias paredes
em granito que atestam ter a actual casa resultado da junção de duas habitações
anteriores aí existentes; uma delas com escadaria frontal e respectivo balcão.
As
casas originais, aparentemente datadas do século XVI, estavam separadas por um
pequeno beco que desapareceu devido à união das mesmas e à regularização por
uma frontaria contínua, rasgada por diversos vãos assimétricos. Esta parede, destinada
a alinhar as duas anteriores, avançou alguns metros sobre a rua,
distanciando-se das fachadas anteriores que estavam um pouco mais recuadas.
Na sua
adaptação a museu arqueológico foi respeitada a volumetria primitiva e a
fachada dos finais do século XVIII, assim como algumas estruturas emblemáticas,
numa feliz conjugação entre a preservação deste solar e as exigências de
funcionalidade do novo espaço museológico.
Uma
das casas anteriores que esteve na origem do actual solar da família Taborda
Falcão, supostamente pertenceu à família Serrão, a qual veio a dar o nome a
esta rua.
♦
Como se
processou a passagem desta casa, da posse da família Serrão à família Falcão Taborda,
é a grande incógnita por esclarecer. Provavelmente houve um casamento que ligou
estas duas famílias que passaram a andar aparentadas.
Encontramos
um MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701)[2],
casado nas segundas núpcias de D. ANA MENDES, filha de Ana Rodrigues[3], e
viúva de FRANCISCO MENDES FALCÃO [TAVARES?] (f. 1671)[4],
um dos possíveis elos de ligação entre estes dois clãs.
Terá
sido a descendência do primeiro casamento de D. Ana Mendes com Francisco Mendes
Falcão, a determinar a mudança da posse deste solar?...
BRASÃO
DE ARMAS
CBA dede Lourenço José Taborda, filho (1788). Esquartelado: 1.º- Taborda, 2.º- Feijó, 3.º- Falcão, e 4.º- Tavares. |
Ao
longo do texto da citada CBA, tanto o seu destinatário, como os seus
antepassados, vêm referidos com o nome de «Feijó», em vez de «Feio», erro este
que tem causado alguma confusão entre os estudiosos desta família. Este lapso é
atribuído ao facto de Feio já ter sido grafado como Fejo (com um «J») ou Feyo
(com um «Y»).
Porém,
este desacerto na troca dos apelidos, não passou aos posteriores brasões desta família,
pois, na pedra de armas da capela de Nossa
Senhora da Conceição (1858) que estes edificaram na Fatela – terra de
origem desta família –, o citado erro foi rectificado: aqui, no 2.º quartel, já
figuram as armas dos FEIO, ao arrepio do solar que lhe fica anexo e ostenta ainda
as armas anteriores com o erro já mencionado.
CBA de Lourenço José Taborda (1788), filho. |
Apresentam um escudo esquartelado: o 1.º de TABORDA, de vermelho
com cinco quadernas de crescentes de ouro postas em sautor; o 2.º de FEIJÓ, de
vermelho, com uma espada de prata com as guarnições de ouro, e a ponta para
cima posta em pala, ladeada de seis besantes também de ouro e alinhados em duas
palas[7]; o
3.º de FALCÃO, de azul, com três bordões de Santiago de prata, ferrados de ouro
com os nós vermelhos postos em três palas; e o 4.º de TAVARES, de ouro com cinco
estrelas vermelhas de seis raios postas em sautor. Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. Timbre dos Taborda que é uma asa vermelha, carregada de uma das quadernas
do escudo. Por diferença, uma brica
de prata com um trifólio verde.
Além
da pedra de armas do solar do Fundão, um outro escudo semelhante figura na casa
solarenga na Fatela (Casa Grande, Séc.
XVIII-XIX), onde tinha a sua residência principal, com capela anexa de São Lourenço, e outra capela muito
próxima de Nossa Senhora da Conceição
(1858), a qual servia de panteão familiar e estava armoriada com um brasão já
expurgadas do erro mencionado da troca dos apelidos.
A
família Taborda Falcão, ou Taborda d’Elvas Falcão como também
aparece mencionada, era abastada proprietária de terras no concelho do Fundão,
nomeadamente nas freguesias de Chãos (Donas), Alcongosta, Alcaide, Pêro Viseu,
e Fatela.
Fatela, solar Tavares Falcão (Casa Grande). |
Pedra de armas do solar da Fatela (Casa Grande), Esquartelada de: 1.º- Taborda, 2.º- Falcão, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares. |
Lourenço José Taborda Tavares d'Elvas
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818)
O
destinatário destas armas foi LOURENÇO JOSÉ TABORDA TAVARES DE NEGREIROS FEIO
FALCÃO (1781-1818)[8], filho
varão primogénito que nasceu a 10-VII-1781 na freguesia da Fatela, no concelho
do Fundão. Faleceu prematuramente, ainda em vida de seu pai, vitimado por uma hidropisia a 15-I-1818 na Fatela, em
cuja igreja matriz recebeu sepultura.
Assinatura do Capitão-mor. |
Frequentou
a Universidade de Coimbra onde se formou em Leis a 27-VI-1803, e em Cânones no
ano de 1808; num dos momentos mais conturbados que o país atravessou com a 1.ª
invasão francesa e a fuga da corte para o Brasil. Estes acontecimentos ter-lhe-ão
provavelmente frustrado a carreira e as expectativas nele depositadas pela
família. Não chegou a fazer a leitura de
bacharéis para se habilitar a servir os lugares da magistratura, a qual lhe
estaria destinada.
Fazia
parte de uma numerosa prole de cerca de doze filhos que nasceram
na Fatela[9], alguns dos quais não sobreviveram por muito tempo:
Maria (1777), primeira deste nome que terá falecido de pouca idade; Antónia (1779); Lourenço José (1781), o
varão primogénito que veio a fazer justificação de nobreza e teve brasão de
armas; João (1783), primeiro deste nome, entretanto falecido; Maria (João (1788),
segundo deste nome, que também não sobreviveu; Maria (1785), falecida de pouca idade; João (1789), terceiro deste nome,
que foi capitão-mor do Fundão; José (1792), formado em Cânones; Ana (1794);
Manuel (1797); Joaquim (1799), formado em Leis; Maria (1802), terceira deste
nome.
♦
Por
morte de Lourenço José (f. 1818), e de seu pai homónimo (f. 1829), acabaria por
suceder na chefia da Casa o segundo filho varão.
Foi
este JOÃO ANTÓNIO TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1789), nascido a 20-XII-1789 na
Fatela, que residiu na Fatela e no Fundão. Também estudou em Coimbra onde se
formou em Cânones em 1813. Juntamente com seus irmãos, obteve o foro de
fidalgo-cavaleiro a 2-VII-1825[10]. À
semelhança de seu pai, foi vereador da Câmara (1828, 1832 e seguintes), assim
como capitão-mor do Fundão.
Nesta
geração, salientaram-se mais dois irmãos.
Um
deles foi JOSÉ MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1792), que sabemos ter-se
formado em Cânones em 1820. Obteve o foro de Fidalgo a 2-VII-1825.
O
outro, JOAQUIM MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1799), nasceu a 15-IX-1799. Tal
como seus irmãos, foi estudar para Coimbra e aí se formou em Leis no ano de
1820, fazendo o doutoramento a 16-VI-1822. Obteve o foro de Fidalgo a
2-VII-1825.
A este último se ficou a dever o engrandecimento desta Casa e a reedificação, na proximidade
do solar da Fatela, da Capela de Nossa Senhora da Conceição (1858)[11], um
belíssimo exemplar de arquitectura barroca com ornamentos de grande pormenor. A edificação primitiva, com uma
configuração mais simples, é atribuída a seu pai – o capitão-mor Lourenço José
Taborda (pai) – em cumprimento de um voto relacionado com as Invasões
Francesas, segundo a tradição oral. Classificada de «Imóvel de Interesse
Público» em 1967, está armoriada com um pequeno escudo esquartelado: 1.º - TABORDA,
2.º - FEIO (em vez de «Feijó», corrigindo o erro já mencionado); 3.º - FALCÃO;
4.º - TAVARES.
Pedra de armas da capela de N.a S.ra da
Conceção. Escudo esquartelado:
1.º- Taborda, 2.º- Feio, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares.
|
Fatela, capela de Nossa S.ra da Conceição (1858) |
Seus
pais e avós
O
armigerado era filho homónimo de LOURENÇO JOSÉ TABORDA D’ELVAS DE NEGREIROS
FEIO (1754-1829), capitão-mor do Fundão, nascido a 3-V-1754 nos Chãos (Donas) e
falecido a 16-IX-1829 na Fatela, com testamento, vitimado por uma «constipação e sezões» quando contava 75
anos de idade. Foi sepultado «na sua
capela» da Fatela.
Residiu
no seu solar da Fatela – a Casa Grande, no antigo Largo da Praça –, e na casa do
Fundão, na qual comemorou com um grande jantar oferecido à população a derrota
de Napoleão em fins de Setembro de 1814.
Foi fidalgo-cavaleiro
da Casa Real (1824)[12],
vereador camarário do Fundão (entre 1783-1829), sargento-mor de ordenanças (de
1790 a 1804) e capitão-mor (1804-1829), num período conturbado e de grande
instabilidade política, em que a invasão
dos franceses assolou sucessivamente o Fundão (em 1810, 1811, e 1812),
causando mortes, saques e destruição, tendo provocando um período de fome e
grande declínio na região. Distinguiu-se como grande servidor da causa pública
no concelho do Fundão.
Neto
paterno do Dr. Veríssimo Inácio Taborda d’Elvas de Negreiros (1712?-1798),
bacharel em Cânones (1740) e vereador da Câmara Municipal do Fundão (1756), nascido
a 21-I-1715 nos Chãos (Donas), falecido a 16-IX-1796 na Fatela, e de sua primeira
mulher D. Antónia Maria Inácia Feio (f. 1754), natural do Teixoso.
Bisneto
paterno de Isidoro Mendes d’Elvas Taborda de Negreiros, (n. 1668?), natural dos
Chãos, com uma longa carreira de magistrado que culminou em desembargador da
Relação do Porto (1715)[13], e de
D. Bárbara Rodrigues Covete; e bisneto materno de João do Vale de Almeida e de
sua mulher D. Maria Rodrigues Feio, a qual era descendente de Pedro Feio que
foi alcaide-mor da vila de Sortelha[14].
Lourenço
José (pai), que ficou órfão de mãe com poucos meses de idade, casou por
procuração a 5-VIII-1774 na igreja da Fatela com D. MARIA BÁRBARA FALCÃO
TAVARES DE AGUIAR LEITÃO (1758?-1833), a qual nasceu por volta de 1758, e
faleceu a 11-X-1833, já viúva, com testamento, vitimada por «diabetes» quando contava 75 anos de
idade, tendo sido sepultado na sua capela da Fatela.
Sua mulher era filha de António Félix
Falcão Tavares, natural de Alcongosta e residente no Fundão, e de sua mulher D.
Maria Rosa Ribeiro, do Castelejo; neta pelo lado paterno de Manuel Antunes
Falcão Tavares, fidalgo de cota de armas (ver mais abaixo), «dos Falcões Tavares da vila do Fundão»[15], e de
sua mulher D. Maria Leitoa de Aguiar Pissarro, e pelo lado materno de João
Leitão de Aguiar e Cunha e de D. Maria Carvalho Leitão de São Vicente da
Beira.
Fatela |
A
estes Falcões Tavares, provavelmente terá pertencido D. Inês Falcão de Carvalho
(c. 1650), natural do Fundão, mãe do desembargador José Vaz de Carvalho da
Silveira Preto (c.1675-1752) que promoveu a elevação do Fundão a Vila e a
criação do respectivo concelho em 1746, o qual aqui tinha uma grande casa
solarenga sita à Rua da Cale (que veio a ser adquirido pela família Macedo),
relativamente próxima das casas desta família.
ꖅ ♦ ꖅ
Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c.1633)[16]
Avô materno de Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio
(1754-1829)
Avô materno de Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio
(1754-1829)
Brasão de: Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c. 1633).
Forma: Escudo partido em pala: 1.º - TAVARES, de ouro com cinco estrelas de
seis raios de vermelho; 2.º - FALCÃO, de azul com três bordões de prata, ferrados de vermelho, postos em pala e alinhados em faixa.
seis raios de vermelho; 2.º - FALCÃO, de azul com três bordões de prata, ferrados de vermelho, postos em pala e alinhados em faixa.
Diferença: Brica carregada de um trifólio verde.
Local: Conhecido documentalmente.
Data: Carta de 25-I-1633.
Alacide, capela de São Francisco. |
Tabelião
do público, judicial e notas da Atalaia, morou na freguesia do Alcaide,
concelho do Fundão. A 18-III-1662 obteve autorização para renunciar o ofício de
Tabelião em seu genro Simão dos Reis Colaço (c. 1665)[18], o
que parece ter vindo a suceder em 1665[19].
Era
filho de Gaspar Tavares Falcão e de … Antunes, bisneto
de Manuel Tavares, que foi capitão do Alcaide no tempo de El-rei
D. Sebastião (1557-1578).
Casou
com D. MARIA LEITOA DE AGUIAR PISSARRO.
____
Anexos
Testamento de
Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros
Feio (1754-1829)
Por
sua morte (1829) deixou um curioso testamento feito a 27-IV-1822[20], revelador
das sua forte crenças religiosas, assim como das suas preocupações sociais com
os servidores da sua casa e os pobres da sua freguesia da Fatela.
Nele
manifesta as suas últimas vontades e pede que o seu corpo, amortalhado com o
hábito de São Francisco, seja sepultado na «sua
capela» da Fatela. Pede que sejam ditas por sua alma muitas missas, num
total inicial de mais de 400, às quais acrescem mais 280 por «várias tenções». Deixa ainda vários
encargos piedosos para com os pobres, aos quais, no dia do seu enterro, deviam
ser distribuídos 12.000 réis em dinheiro, e ao sétimo dia 30 alqueires de pão
ou milho, 20 deles em grão e 10 cozido. Deixa ainda e encargo de serem vestidos
12 pobres, 6 masculinos e 6 femininos, enumerando as respectivas peças do
vestuário. Não esquece os diversos criados e criadas da sua casa, que enumera e
aos quais legou apreciáveis quantias em dinheiro, com atenção especial em
relação a Maria Salvada, mulher de António Moreira, à qual deixa uma pensão
anual enquanto esta viver.
Quanto à terça de
todos os seus bens que podia dispor livremente, esta foi deixada à sua mulher
D. Maria Bárbara Falcão que a gozará enquanto for viva, e por sua morte passará
«á minha filha D. Ana». Destes bens –
da terça -- enumera as várias
fazendas: (1) «o Prazo da Quinta de
São Miguel sito no limite da Levada q. parte com a Ribeira de Alverca e com
a estrada pública»; (2) a «quinta
chamada do Calvário», constituída por duas quintas já unidas, que «se acha tapada e murada» com árvores e
casas, situadas no limite do Fundão (junto à capela do Calvário); (3) um «chão com árvores e casa q. está situado no
Sítio dos Prados», no limite do Fundão; (4) uma «quinta chamada a do Baldio», no
limite da Levada, Fundão; (5) uma «tapada
chamada do Castanho» no limite do Fundão; (6) um «souto no sítio da fonte dos Carneiros»
no limite dos Chãos (Donas), ao qual se acham unidos mais três que se
compraram; (7) mais um «prado no
limite da Fatela», no sítio de São Sebastião, com sua casa, eira, e uma
nascente, que parte com a estrada que vai para Pêro Viseu. Quanto aos restante
bens de sua fortuna, os quais não nomeia, declara que os deixa aos seus «filhos e filha como herdeiro». Nomeia
ainda para testamenteiros, a sua mulher D. Maria e sua filha D. Ana.
Testamento de
D. Maria Bárbara Falcão de Aguiar Leitão
(1758?-1833)
Fez
testamento na Fatela a 5-V-1822, «com boa
saúde e temendo a morte que a todos é natural», no mesmo ano em que seu
marido também testou. Estes testamentos foram feitos, talvez pelos seus autores
temerem a instabilidade política que então se vivida no concelho do Fundão,
onde a constituição saída da Revolução Liberal do Porto sofre forte contestação/apoio,
o que gera alguma perturbação local com vários focos de manifestações e
represálias.
Este
documento foi redigido a seu pedido ao padre Domingos José Taborda, em virtude
de ser «pouco prática em escrever»,
como se declara. Nele começa por pedir que o seu corpo, à data da sua morte,
seja amortalhado num hábito de São Francisco e, no dia do seu enterro, sejam
distribuídos pelos pobres da freguesia da Fatela 9.660 rés, e ao terceiro ou ao
sétimo dia se distribuam mais 30 alqueires de pão ou milho ou o valor dele em
dinheiro, assim como dezassete alqueires de feijão e oito alqueires de azeite.
Pela sua alma, pede que sejam ditas 400 missas, às quais acrescenta mais 250 «segundo a minha tensão», ao Altar de
Nossa Senhora do Fastio …
Tal
como seu marido, não esquece os inúmeros serviçais que não quer deixar
desamparados pela sua morte, e pelos quais distribuí diversas quantias que vão
de 2.000 a 3.000 réis. Muitos deles, seus filhos, e até os netos, além de
receberem diversas quantias em dinheiro, também recebem casas para residirem
após a sua morte, mobiliário, e roupas de cama.
Depois
de todas as disposições beneméritas com seus criados cumpridas, declara que «deixo a terça de todos os meus bens móveis
como de raiz a meu marido Lourenço José Taborda» (falecido antes da
testadora), para este gozar em sua vida e, por sua morte, a citada terça «passará para meus filhos Dona Ana e Joaquim
que ambos disfrutarão e partirão». Acrescenta ainda que se algum destes
filhos que nomeia para herdeiros da terça
morrerem sem filhos legítimos, ou tendo-os, estes não chegarem à idade de
poderem testar passará a dita herança ao que sobreviver, e se este morrer sem
filhos legítimos «passará a dita terça
aos meus herdeiros mais próximos».
Declara, ainda, deixar, por morte do seu marido, o encargo dos seus filhos (Ana
e Joaquim), darem dos rendimentos de minha terça,
anualmente, a quantia de 20.000 réis anuais ao meu filho José enquanto este
for vivo, assim como 3.000 réis a Maria Salvada, mulher de António Moreira, e a
Maria dos Prazeres, 3.000 réis, enquanto estas forem vivas.
Para o
filho João, deixa um chão no sítio do Vale com seu nascente de água.
Nomeia
para a sua terça, as propriedades
seguintes: (1) um «chão com seu souto
chamado o Chão de …(?)» no
limite de Alcongosta; (2) uma «quinta com sua casa chamada de São Marcos» no limite do Fundão; (3) um «Lagar de
fazer azeite» no limite do Fundão;
(4) um «prado do carvalhal com sua
casa» no limite da Fatela e Alcaide; (5) um «chão que serve a lameiro no Sítio dos Araes(?) limite deste lugar»; (6) uma «Quinta chamada dos Joaes (?)», a
qual se acha «tapada de paredes e valados»,
com sua casa, mais soutos, olivais, árvores e terras, no sítio dos Vales de
Pêro Viseu.
Nomeia,
ainda, por morte de seu marido, a sua filha D. Ana, para o «Prazo da Quinta de São Miguel», no
limite da Levada, Fundão, que «parte com
a ribeira de Alverca e com a estrada».
Ainda
nomeia o seu filho João, para lhe suceder numa capela (vínculo) que possuía e
fora instituída por Manuel Antunes Capinhão.
Retirados
da herança os bens da terça e
cumpridos todos os encargos deste testamento, para os «bens que restam deixo a meus filhos como herdeiros e filha».
Nomeia
para testamenteiros, o seu marido Lourenço José, sua filha D. Ana, e seu filho
Joaquim.
Mais
tarde, antecipando a expectável abolição dos vínculos (capelas/morgados), devido
ao falecimento do filho José (primogénito), toma a precaução de salvaguardar o
seu sucessor filho João que, caso os vínculos
venham a ser extintos antes da sua morte, herdará a sua parte dos bens da terça «por igual com o seu irmão Joaquim e a sua irmã Ana».
[2]
Miguel Serrão era filho de GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (c.
1641), senhor da casa armoriada com as suas armas (Serrões e Azevedo) à Rua da
Cale, o qual fez dois casamentos que lhe deram uma inúmera prole.
[3]
Ana Rodrigues, e sua filha Ana Mendes, a qual ficou viúva de
Francisco Mendes Falcão e voltou a casar com Miguel Serrão de Azevedo,
instituíram com os seus bens vários pequenos vínculos em capela com encargos de
várias missas. Cf. Biblioteca
do Seminário do Fundão, Livro das
Capelas e nomes dos administradores de S. Martinho do Fundão, MS, fs.
12-13..
[4]
Cf. SILVA, Joaquim Candeias da, «Subsídios para o
enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico
José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp.
61-68; MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701) era filho do armigerado GONÇALO
SERRÃO DE AZEVEDO (c. 1641), morador na Rua da Cale, cuja casa ostenta a sua
pedra de armas de SERRÃO e AZEVEDO, o qual teria inicialmente vivido na casa
dos seus sogros na rua que posteriormente se chamou Rua do Serrão.
[5] ANTT,
Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23,
n.º 17. – Esta precoce Justificação de Nobreza foi efectuada à semelhança do
que, poucos anos antes, tinha feito o morgado
de Peroviseu para o seu filho Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral
(n. 1776) que obteve CBA a 3-VIII-1791, por volta dos 15 anos de idade.
[6] ANTT,
Cartas de Armas, cx.2, n.º 7.
[7] Este
2.º quartel, com as armas da família Feijó, deve-se a um erro de atribuição.
Nele deviam figurar as armas da família Feio (de azul, com três bandas de
vermelho, perfiladas de ouro).
[8]
Para mais detalhes sobre a família deste armigerado, cf. Joaquim
Candeias da SILVA, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se
encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp. 61-68.
[9] SILVA,
Joaquim Candeias da; Ibid. p. 62.
[11] Data
inscrita num lintel da porta principal.
[13] ISIDORO
MENDES D’ELVAS TABORDA DE NEGREIROS (n. 1668?), juiz
de fora em Pedrógão e Figueiró, provedor de Tomar, corregedor no Algarve,
provedor nas Ilhas, e desembargador no Porto, era filho de FRANCISCO MARTINS TABORDA D’ELVAS, casado
na freguesia dos Chãos (Donas) com D. GENEDRA MENDES, filha de Lourenço Dias
Mendes e de D. Maria Antunes Travaços.
[14] Cf.
CBA de Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão – ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23, n.º
17.
[15] Segundo
a já citada CBA, estes Falcões Tavares do Fundão eram descendentes de Francisco
Mendes Falcão Tavares (f. 1671), padroeiro da Igreja de Santa Maria Madalena da
Covilhã. Após a morte deste, a sua viúva veio a casar com Miguel Serrão de
Azevedo (1633-1701), cuja família, provavelmente, terá dado nome á rua onde
está o Museu Arqueológico e onde existiria uma anterior casa sua (Cf. Nota 6).
[16] MANUEL TAVARES FALCÃO (c.1633), na sua CBA,
não figura com o apelido ANTUNES, ao contrário do que sucede na CBA concedida a
seu neto.
[17] MACHADO,
José de Sousa, Brasões inédito, Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 128.
[18] IANTT,
Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv. 2, fl. 230v.
[19] SILVA,
Joaquim Candeias da, O Concelho do Fundão
através das Memórias Paroquiais de 1758. Fundão: Tip. do «Jornal do
Fundão», 1993, p. 107.
[20] O
seu testamento, assim como o da sua mulher, encontra-se transcrito no
respectivo assento de óbito.