2012-01-30

LEITÕES - Beira Interior (Generalidades).

LEITÃO
                                                                            
                                        Forma:     Escudo português. Em campo de prata, três faixas
                                                         de vermelho.
                                       Timbre:     Leitão passante de prata, carregado de um filete
                                                         vermelho em faixa.


       A família LEITÃO, segundo o grande linhagista Conde D. Pedro  ̶  D. Pedro Afonso (1287-1354 )   ̶ , parece proceder de D. GUEDA «O VELHO» (c. 1096?), rico-homem que acompanhou o conde D. Henrique quando este veio tomar posse do Condado Portucalense e era originário de uma grande estirpe de Toledo que procedia do rei visigodo Chindasvinto que reinou de 642-653 e tinha fama de sábio legislador. Deste descendem vários ramos desta família, os quais tomaram diferentes apelidos.
       
      Alguns destes viveram em Lodares, concelho de Lousada, tendo acrescentado ao nome o apelido LEITÃO.
      O primeiro que conhecemos foi MARTINS PIRES LEITÃOfidalgo principal e senhor de Lodares, do morgado de Cidoros e do padroado da Igreja de Santa Marinha no termo de Barcelos (filho de Pedro Martins de Lodares  e de sua mulher D. Sancha Pires de Valdomar), casado com D. TERESA RODRIGUES DE URRÔ (f. 1317), da qual teve cinco filhos que propagaram e multiplicaram este apelido até aos nossos dias.
      Vários ramos desta família criaram raízes no centro do país, nomeadamente na Beira Interior onde proliferaram com sucesso, deles havendo importantes núcleos de dispersão, a partir de meados do século XVI, na Sertã, em Vila de Rei, em Oleiros, em Pedrógão Grande, na Idanha-a-Nova, em São Vicente da Beira, em Castelo Novo, terras onde instituíram diversos morgados. São, em toda a Cova da Beira, um apelido muito generalizado devido à sua grande antiguidade.

      Destes destacamos um AFONSO VAZ LEITÃO, 5.º neto do anteriormente mencionado MARTINS PIRES LEITÃO (séc. XIV) de Lodares, que foi cavaleiro de D. João I e alcaide-mor de Idanha-a-Nova, do qual se desconhece o nome da sua mulher que lhe deu quatro filhos que serviram os reis D. João I e D. Duarte, e continuaram o apelido. A sua descendência serviu nos ofícios de Alcaide, Escrivão da Câmara e na Alfandega de Idanha-a-Nova onde viveram. Estes viriam a ligar-se às mais ilustres famílias da Beira Interior, tais como: os Sousa Refóios, antepassados da Casa da Graciosa (Idanha-a-Nova); à Casa da Borralha, que tem a varonia dos Leitão, descendentes de MARTINS PIRES LEITÃO (Borralha, Sertã e São Vicente da Beira); à Casa Tudela Castilho (Praça Velha, Fundão); à Casa Feio de Andrade (Largo da Igreja, Fundão), à Casa dos Brito Homem (Alpedrinha); aos Taborda (Fundão e Alpedrinha); à Casa dos Alvaiázere (Aldeia Nova do Cabo); aos Caldeira (Alpedrinha); à Casa do Morgado de São Nicolau (Alcongosta); á Casa dos Leitões, de Silvestre Fernandes Leitão (Castelo Novo); à dos Achiolli da Fonseca (Oledo e Castelo Branco), e dos Trigueiros Frazão (Salgueiro e Quintãs), entre muitas outras da Beira Interior.

      Fomos encontrar uma vergôntea do ramo da Idanha-a-Nova fixada em São Vicente da Beira: é PEDRO LEITÃO neto do já mencionado AFONSO VAZ LEITÃO que serviu em África os reis D. Afonso V e D. João II, pelo que teve a comenda de São Vicente da Beira e foi casado com D. CATARINA GONÇALVES da qual teve seis filhos. Parte desta descendência veio a espalhar-se pelas diversas aldeias do então concelho de São Vicente da Beira, no qual se incluía em épocas recuadas grande parte da actual Cova da Beira onde este apelido se tornou dos mais comuns devido à sua antiguidade.
     O filho primogénito deste casal foi BARTOLOMEU VAZ LEITÃO foi casado com D. ISABEL FERNANDES MAGRO, da qual teve: GASPAR VAZ LEITÃO, prior em São Vicente da Beira; CRISTÓVÃO VAZ MAGRO; FAGUNDA VAZ LEITÃO; e D. CATARINA VAZ LEITÃO, da Soalheira. Hipoteticamente poderá estar neste ramo o antepassado da família LEITÃO do Souto da Casa, concelho do Fundão, a qual usou por mais de uma vez o nome de baptismo Bartolomeu.

        Tal como os aparentemente muito comuns apelidos dos PROENÇA, e dos OLIVEIRA, o apelido LEITÃO e o sangue herdado de D. GUEDA «O VELHO», companheiro de armas do Conde D. Henrique, continua a circular nas veias de grande parte da população da Beira.

2012-01-29

OLIVEIRAS - Souto da Casa, Fundão (Generalidades).


OLIVEIRA

                             Forma:      Escudo português. Em campo vermelho uma oliveira de verde,
                                               arrancada de prata e frutada de ouro.
                            Timbre:      A oliveira do escudo.


Este apelido bastante comum em toda a Beira Interior espalhou-se por todo o concelho do Fundão onde é conhecidos desde os alvores do século XIV, ligando-se à quase totalidade das linhagens das diversas casas solarenga mais antigas, nelas espalhando as suas vergônteas até aos nossos dias. Esta família é uma das principais famílias fundadoras deste concelho.

Os OLIVEIRAS eram originários da freguesia de Santa Maria de Oliveira, termo de Arcos de Valdevez, onde tinham o seu paço no qual provavelmente terá nascido de Pedro Oliveira, 1.º senhor do Morgado de Oliveira (fundado em 1306), o qual era um dos mais antigos de Portugal e veio posteriormente ter a sua sede no Alentejo.
No concelho do Fundão este apelido é bastante comum devido à sua antiguidade, e a sua hipotética origem está nas contíguas freguesias de Aldeia de Joanes e de Aldeia Nova do Cabo.

         Um dos primeiros desta família, conhecido nesta região nos primórdios do século XVI, foi Pedro de Oliveira de Proença, 10.º neto de Rui Martins de Oliveira, do tronco dos Oliveira, o qual casou com ANA DE PROENÇA, irmã de BELCHIOR PROENÇA, moradores no Freixial. Foram pais de GASPAR PROENÇA casado com sua parente D. ANA DE OLIVEIRA, herdeira do Morgado das Grangeas em Aldeia Nova do Cabo, filha de DIOGO PAIS DA CUNHA (f. 1575) e de D. MARIA VAZ (f. 1549), os quais tiveram filhos que deixaram numerosa prole que esteve na origem Oliveiras que se espalharam nesta região.
          Alguns deles tiveram Carta de Brasão de Armas e ligaram-se por casamentos às mais ilustres famílias, das quais destacamos as casas de Sarnadas (Condes de Tondela), do Outeiro (Condes de Idanha-a-Nova), do Morgado de São Nicolau (Alcongosta), dos Geraldes de Melo (Idanha-a-Nova e Aldeia Nova do Cabo), do Terreiro (Aldeia Nova do Cabo), dos Figueira Castelo Branco (Aldeia Nova do Cabo), dos Nogueira de Andrade (Fundão), dos Oliveira e Cunha (Fundão), dos Tudela Castilho (Fundão), do Salgueiro e das Quintãs (Viscondes do Sardoal), entre muitas outras por toda a Beira Interior.

    Destes OLIVEIRAS destacou-se também nesta época D. BEATRIZ BARREIROS DE OLIVEIRA, supostamente nascida em Aldeia de Joanes, mãe de D. Frei DIOGO GOMES DA SILVA (1485-1541), 1.º Inquisidor Geral de Portugal (1531-1539), desconhecendo-se o nome do seu antepassado Oliveira, assim como a sua origem geográfica, já que os genealogistas e biógrafos do Inquisidor detiveram-se mais nos costados da família SILVA devido à sua proeminência social, pois provinham da velha linhagem da ilustre Casa dos Silvas, família de altos dignitários da corte e dos maiores terratenentes de Portugal cujos extensos domínios se estenderam até Aldeia de Joanes.

O mais antigo Oliveira que encontramos no Souto da Casa foi:

1.   DOMINGOS DE OLIVEIRA (n. 1639), nasceu a 16-I-1639 em Aldeia Nova do Cabo, concelho do Fundão,
     filho de SIMÃO RODRIGUES e de D. MARIA DE OLIVEIRA; neto materno de Baltazar de Oliveira e de sua
     mulher D. Isabel Nunes Proença.
     Casou a 2-XII-1666 no Souto da Casa, Fundão, com D. CATARINA ROSQUILHA, natural de Aldeia Nova do
     Cabo, Fundão, filha MATEUS RODRIGUES ROSQUILHA e de D. MARIA NUNES.
     Tiveram:
     2.   D. MARIA DE OLIVEIRA (n. 1669), que segue abaixo.
     2.   DOMINGOS DE OLIVEIRA (n. 1681), nasceu a 12-IX-1672.
     2.   JOÃO DE OLIVEIRA (n.1681), nasceu a 17-I-1681.

2.    D. MARIA DE OLIVEIRA (n. 1669), nasceu a 29-IX-1669 no Souto da Casa, tendo casado com MATIAS
      FERNANDES LAGARTO, filho de António Fernandes Lagarto, natural do Souto da Casa, e de D. Maria
      Fernandes. Desta família é conhecido outro (?) António Fernandes Lagarto, casado em 1704 com sua
      mulher D. Domingas Vaz, natural de São Vicente da Beira.
     Tiveram:
     3.   MATIAS (n. 1705), nasceu a 26-X-1705 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   DOMINGOS (n. 1713), nasceu a 27-XII-1713 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   D. MARIA (n. 1718), nasceu a 26-VII-1718 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   AGOSTINHO DE OLIVEIRA (n. 1721), que segue.

3.   AGOSTINHO DE OLIVEIRA (n. 1721), nasceu a 5-V-1721 no Souto da Casa, Fundão, tendo casado com
     D. MARIA PINHEIRO.
     Tiveram:
     4.   JOSÉ DE OLIVEIRA, o qual casou com D. JACINTA MARIA, filha de António  Assunção e de D. Ana
          Maria. Estes tiveram geração que propagou este apelido até aos nossos dias.


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Apêndice:


As Terras de Oliveira

                                                                                           Se queres compreender qualquer coisa, 
                                                                                           observa o seu ínicio e o seu desenvolvimento
                                                                                                                                             Aristóteles
Texto gentilmente cedido por
António Coutinho Coelho
                                                          

      No Dicionário de Américo Leal encontramos mais de 300 lugares com o nome de Oliveira, no território português, embora os possamos encontrar igualmente na Galiza. São, essencialmente,  pequenos lugares mas também vilas e cidades como Oliveira de Azeméis, Oliveira de Frades, Oliveira do Bairro, ou Oliveira do Hospital.

     "Oliveira", com variações de grafia, como Olveira, Ulveira, ou Ovar, é um topónimo cuja origem se associa à existência de um pântano ou de zona alagada. Uma "Ulveria", deriva do latim ulvaria, solo pantanoso, terra de lameiro (local onde abunda a ulva, alga palustre), nada tendo a ver com a árvore cujo fruto é a azeitona. Ulva (Linnaeus 1753) e Ulvaria (Ruprecht 1850)  são dois géneros distintos de algas verdes da família Ulvaceae. As terras de Oliveira, com efeito, estendem-se ao longo da bacia hidrográfica do Vouga, uma bacia entre grandes serras, de um lado o Caramulo, o Karmel, a montanha dos canaanitas e hebreus, e do outro a Gralheira, e que na sua parte mais baixa se sabe ter já existido um lago, que terá sido a ulveria ou ulveira. Oliveira passou a ser o modo mais fácil e generalizado de pronunciar ulveira ou ulveria.

     O rio Vouga era, em tempos antigos, navegável em grande extensão e conhecido de fenícios e púnicos. Aí se desenvolveram férteis terrenos agrícolas, o que se traduziu desde tempos muito antigos numa significativa densidade populacional. Com um clima temperado, de características quase mediterrânicas, poderemos até aí observar extensos e magníficos laranjais.

     O primeiro documento (que se conhece) a dar notícia da existência das terras de Oliveira tem data de 922, e faz parte da doação do rei Ordonho II, de Leão, ao bispo Gomado, de várias terras ao Mosteiro de Crestuma (Castro de Uíma): ” E a Vila de Oliveira, com a sua igreja de São Miguel com seus direitos e aumentos”. Sabe-se também da doação do antigo Couto de Ulveira feita por D. Afonso Henriques aos monges de Santa Cruz de Coimbra, em 1169 (Cf. Foral de Oliveira de Frades - Arquivo Nacional da Torre do Tombo, livro 3, maço 12, dos Forais Antigos, fls. 69-verso).

     Sendo a terra rica, haveria de ter necessidade de escoar os seus produtos. A feira surge, assim, como inevitável e nada melhor para a sua localização que a antiga estrada romana que de Conimbriga se dirigia a Cale. E, talvez em 910, com Afonso III, de Leão, surge num cabeço, onde terá existido um santuário tribal, junto ao entroncamento com a estrada para Viseu, uma das mais antigas feiras do território, que hoje é Portugal: a feira de Santa Maria (Cf. José Mattoso – A Terra de Santa Maria na Idade Média, ed. Castelo da Feira, 1993). E como onde surgiam feiras sempre surgiam judeus, que prestes aí se instalavam, fazendo valer os seus excelentes dotes de mercadores e comerciantes. Pouco mais tarde, surge outra feira, igualmente importante, em Trancoso, logo adiante da nascente do Vouga, na Serra da Lapa, em Sernancelhe.

      São Miguel, o patrono de Israel é o patrono e orago das ricas terras de Oliveira, o que é usual em terras de cristãos-novos: “Naquele tempo levantar-se-á Mihael, o grande príncipe celestial, o patrono dos filhos do teu povo” (Daniel: 12-1).
     Junto a Romariz encontramos a povoação de Goim. Goy (do hebraico גוי, plural goyim גויים) é a transliteração da palavra hebraica para nação ou povo, também utilizado pela comunidade judaica para se referir aos não judeus, ou gentios. E os gentios destas terras elegeram como seu doce preferido, a fogaça, que nada mais é que uma adaptação do chalat, o pão da bênção do Shabat judaico.

     O rio Vouga que une as terras dos interiores com as terras de fronteiras permeáveis ao mar. Terras onde existem as tais Naves, as “nawes cannanitas”, que seriam as pastagens de um povo, em grande parte dependente do pastoreio. Naves que vão desde o planalto da Nave até às naves de Trancoso ou Sabugal e Almeida, e até essa curiosa Nave de Santo António, na Estrela, em que se consagram as pastagens a Santo Antão, padroeiro dos pastores. Santo António será, como em tantos outros locais, a “cristianização” de um santo egípcio que lembrava mais Athon, que o santo eremita. E tantas outras marcas canaanitas. Rio que segundo parece, os fenícios tanto navegaram. E o barco moliceiro que tantas marcas fenícias tem…
Nomes que perduraram até hoje, pois aos diversos colonizadores, o que menos interessava era o nome dos rios, das terras, das aldeias. Mudá-los para quê? Os nomes dos sítios são estáveis como as sociedades que os utilizam, e insubstituíveis porque são referências indispensáveis à vida quotidiana.
     Por todas estas terras de Oliveira, a fogaça, o folar, a broa de pão de ló como dizem em Ovar, os caladinhos, que se fazem pela Páscoa, sem fermento e sem leite, porque não podem os Judeus comer carne e leite na mesma refeição. “Não comerás o cabrito com o leite de sua mãe” (Deut: 14-21).