Chancelaria de D. João III, L. 32, f. 64.
Data: Lisboa, 19-VII-1542.
Brasão de BELCHIOR DE PROENÇA (c. 1542)[1], escudeiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), o qual a 10-III-1540 lhe fez a mercê de 20 cruzados[2], assim como guarda-roupa do príncipe do Piemonte.
Estas
armas ostentam um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde, com uma
águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com
cinco flores-de-lis de ouro, postas em aspa, e por diferença um trifólio de
ouro picado de vermelho. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, paquife de
ouro e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima, de uma cabeça; com
todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem
dos Proenças – Dadas em Lisboa a 19-VII-1542, registada na Chancelaria de D.
João III, liv. 32, fl. 64.
Guarda-roupa
do príncipe do Piemonte
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D. Beatriz (1504-1538),
duquesa da Saboia. |
Foi guarda-roupa
do príncipe do Piemonte – título privativo do filho herdeiro da Casa da
Saboia –, como refere a já citada mercê de 1540, assim como a carta de brasão
de armas que lhe foi passada em 1542.
Serviu, com sua mulher – cujo nome
desconhecemos –, como guarda-roupa e camareiro da infanta D. BEATRIZ (1504-1538),
duquesa consorte da Saboia, e após a sua morte em 1538 passou a servir o seu
filho EMANUEL FILIBERTO (1528-1580), príncipe do Piemonte, que veio a suceder
no ducado da Saboia por morte de seu pai CARLOS III (1486-1553).
Em Novembro de 1537, foi contemplado no
testamento da infanta portuguesa D. Beatriz (1504-1538),
filha do rei D. Manuel I. Neste testamento é mencionado sob o nome
italianizado de Melchiorre Provonez.
Casou e teve geração, segundo sabemos por
uma carta existente na Torre do Tombo em Lisboa, datada de 28-VII-1547, da autoria
de EMANUEL FILIBERTO (1528-1580) então com 19 anos e ainda príncipe do Piemonte,
o qual príncipe já era órfão de mãe, estando o duque seu pai ainda vivo.
Nesta carta, dirigida ao seu tio o rei
D. João III de Portugal, o citado príncipe expressa o grande apreço que tinha
pela família Proença, servidores na corte de seus pais, e depois na sua. Nela
refere a existência de um filho órfão de pai – sem mencionar o nome –, então
com 15 anos de idade e a carecer de auxílio.
Começa por referir que «Belchior de Proença my camareiro veio
pequeno de Portugal com La Infanta my senhora e madre», acompanhado de sua
mulher, a qual diz ter sido moça de
câmara, recentemente falecida, tendo deixando um filho de 15 anos para o
qual ele pede a mercê de 50 cruzados por ano “que mandava pagar ao dito seu pai”…
Nesta missiva, o príncipe Emanuel Filiberto, faz referências elogiosas ao
falecido Belchior de Proença que, após a morte da duquesa sua mãe (1538), tomou
para seu «camareiro, lo qual me há
servido com muy affection y trabajo, de
manera que por sus merecimentos les causa di fazerle algum bien y recompensarlo
de los serviçeos suyos, e de su muger, mas porque Dios há querido estos dias
passados levarlo deste mondo / antes que do tempo el modo de satysfazer a el y
a sua mulher como deseava, por las qualitades (…) Havendo my Senhora y madre
encomendado mucho al Senhor Duque my padre, lo qual por ser (…) non sa podido
saber todo lo que era su volontad / Sendo ele quedado um hilo de XV anos alqual
no menos quiero que al próprio su padre. / tenendo compassion ala madre que
queda muy desolada»(sic).
Este príncipe, acaba solicitando ao rei
D. João III que, ao dito filho do falecido Belchior de Proença seja paga a «mercê de cinquenta
cruzados por cada ano [que] mandava pagar ao dito seu pai, e toma-lo por seu
moço de Câmara por respeito aos muitos serviços que o dito pai e mãe fez asua
irmã infanta minha mãe e ao dito senhor duque meu pai e a mim», acrescentandoainda «os
quais não tenho meios de satisfazer (…) pelas minhas poucas faculdades»…
Não
conseguimos apurar qual foi o desfecho desta pretensão, nem o destino deste
herdeiro da família Proença que, originária da Beira Interior em Portugal, foi
servir a rica corte dos duques da Sabóia.
Genealogia de
Belchior de Proença (1500?-1546?)
A família Proença deve em grande parte
da sua ascensão social à protecção do cardeal-infante D.
Henrique (1512-1580).
Era filho de
LUÍS DE PROENÇA, natural da Guarda, segundo refere a sua carta de brasão de armas
(1542), que o genealogista Manuel Abranches Soveral diz ser LUÍS ÁLVARES DE PROENÇA
(1470?-1541?),
fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique
(1512-1580) e seu guarda-roupa, nascido na citada cidade da Guarda por
volta de 1470 e falecido posteriormente a 1471.
Era
irmão de AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), cavaleiro fidalgo da casa do
cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), e seu mordomo, o qual também obteve uma
Carta de Brasão de Armas de sucessão dada em Évora a 20-IX-1536, registado na
Chancelaria de D. João III, liv. 22, fl. 120 v.
Era
neto paterno de ANTÃO LUÍS DE PROENÇA, segundo diz a respectiva carta de brasão
de armas, a qual nesta geração parece ter omitido uma quebra de varonia, segundo
o já citado genealogista Manuel A. Soveral, que diz este se chamar apenas ANTÃO
LUÍS, escrivão da corte dos reis D. João II (1481-1495) e D. Manuel I
(1495-1521), casado com D. CATARINA PROENÇA (n. 1448?),
esta sim uma Proença.
Bisneto
(pelo lado materno, segundo Manuel A. Soveral) de ÁLVARO DE PROENÇA (1410?-1468?), vassalo da Casa Real, que foi criado de
Diogo Lopes de Sousa (c. 1440),
e do infante D. Pedro (1392-1448) que acompanhou na batalha de Alfarrobeira
onde este foi morto a 20-V-1449, passando posteriormente ao serviço do rei D.
Afonso V (1448-1481).
Este Álvaro de Proença (1410?-1468?),
era filho de AFONSO GONÇALVES (n. 1387?), escudeiro de Diogo
Gomes da Silva (c. 1350), presumivelmente o 1º senhor da Chamusca, que terá
sido o responsável por ter influenciado o estabelecimento da família Proença em
Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão.
Este escudeiro DIOGO GOMES DA SILVA (C. 1350), caso
seja o que veio a ser 1º senhor da Chamusca, será o pai de RUI GOMES DA SILVA
(C. 1400), 2º senhor da Chamusca, e de seu irmão JOÃO GOMES DA SILVA (o qual de
Beatriz Barreiros de Oliveira, da Quinta do Outeiro em Aldeia de Joanes, no
concelho do Fundão, teve o filho natural D. Frei Diogo da Silva, 1.º
Inquisidor-mor).
Esta ilustre família da linhagem dos Silvas, uma
das mais influentes na hierarquia nobiliária do reino e nas ordens militares
(Cristo e Santiago), tinha na Beira Interior um apreciável património,
nomeadamente em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão, onde estes Proenças se
vieram estabelecer como grandes terratenentes, daqui espalhando a sua
descendência por todo o concelho do Fundão
Príncipe
do Piemonte / Casa da Saboia
O ducado de
Sabóia-Piemonte englobava um importante conjunto de territórios dispersos junto
às actuais fronteiras de França, Suíça e Itália, com uma população que então andaria
à volta de um milhão de habitantes.
Na realidade o
seu território compreendia os actuais departamentos franceses de Saboia e Alta
Saboia e, ainda, a parte da região italiana do Piemonte, com um património
imenso de palácios e fortalezas.
Era um território
com uma situação simultaneamente privilegiada, mas politicamente muito
instável, devido os interesses conflituantes de várias nações em guerra que
rodeavam este ducado. Estava na posse de uma das mais antigas e prestigiadas
famílias da antiga nobreza europeia que, por várias vezes, cruzou o seu destino
com a família real portuguesa, através de matrimónios.
No ano de 1536,
a Saboia foi invadida pelas tropas francesas de Francisco I, sob as quais
colapsou totalmente, perdendo a maior parte dos seus estados e ficando apenas
reduzida ao condado de Nice e ao Vale de Aosta. D. Beatriz veio a morrer
prematuramente em Nice a 8-I-1538, dois anos depois desta derrota, quando
contava 33 anos de idade.
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Emanuel Filiberto (1528-1580) |
O título de
príncipe do Piemonte, era atributo do filho herdeiro do Duque da Saboia.
A cronologia
diz-nos que, por esta altura, este título de príncipe pertencia a EMANUEL FILIBERTO
(1528-1580), o “Testa de Ferro”, devido à morte do então herdeiro do ducado que era
D. Luís (1523-1536), seu irmão mais velho, o qual contava 13 anos de idade
quando se finou prematuramente, passando o título a este irmão, seu sucessor.
Mais tarde,
quando o príncipe Emanuel Filiberto contava 25 anos de idade, veio a suceder no
ducado de Saboia (1553), por morte de seu pai o duque Carlos III (1486-1553), dito “o Bom”, assumindo então o poder num
ducado ocupado militarmente e completamente devastado pela guerra, o qual, por
via de uma aliança estratégica com Espanha, conseguiu recuperar em grande
parte.
Curiosamente, Emanuel
Filiberto (1528-1580), muito pouco tempo antes de morrer, foi um dos malogrados
pretendentes ao trono de Portugal por oposição ao seu primo o rei Filipe II de
Espanha (1517-1598), aquando da morte de seu tio o cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) que reinou em Portugal a partir de 1578.
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Carlos III (1486-1553),
Adicionar legenda |
Era neto por via
materna do rei D. Mamuel I de Portugal, e teve, como todos os outros candidatos
ao trono português, um representante da sua efémera causa em Lisboa, antes da
morte do Cardeal-Rei D. Henrique em 1580.
Foi o 3.º filho
de CARLOS III (1486-1553), 9.º duque da Saboia
(1504-1553), o qual casou em 1521 em Villefranche-sur-Mer (Sul de França, junto
a Nice) com a infanta D. BEATRIZ (1504-1538), um dos nove filhos do casamento de D.
Manuel I (1469-1521), rei de Portugal, com sua mulher D. Maria de Aragão
(1482-1517). Por este casamento foi cunhado do imperador Carlos V (1500-1558),
casado com a infanta D. Isabel (1503-1539), também ela filha de D. Manuel I.
D. Beatriz
(1504-1538), ao casar com o príncipe do Piemonte em 1521, levou consigo para a
Sabóia um numeroso séquito de dezenas de oficiais e serviçais, dos quais faziam
parte alguma nobreza do reino, da qual faziam parte várias senhoras e o ainda
jovem Belchior de Proença que, após a morte de D. Beatriz, passou a fazer parte
do séquito do seu filho Emanuel Filiberto (1528-1580).