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2012-02-24

Cristóvão de Lemos Coutinho Correia Barreto Coellho (c.1831) - Fundão.


Cristóvão de Lemos Coutinho Correia Barreto Coelho (c. 1831)
1.º- CORREIA; 2.º- COELHO; 3.º- BARRETO.
Museu Arqueológico José Monteiro (Reserva) - Fundão.


               Brasão de:    Cristóvão de Lemos Coutinho Correia Barreto Coelho (c. 1831).
               Forma:           Escudo boleado com o chefe de linhas concavas, terciado em Mantel: o 1.º de
                                      CORREIA – em campo ouro, fretado de correias vermelhas, repassadas umas
                                      por outras de seis peças (mal representadas quanto ao seu número); o 2.º de
                                      COELHO – de ouro, leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho,
                                      carregado de três faixas xadrezadas de azul e de ouro, com bordadura de
                                      azul, carregada de conco coelhos de prata (aqui sete); e o 3.º de BARRETO – de
                                      prata, semeado de arminhos negros (mal representados).
               Elmo:             Desaparecido?
               Paquife:         Palmas.
               Data:              Século XIX (1.º quartel)?
               Local:             Museu Arqueológico José Monteiro (Reserva), Fundão.


Brasão
      Esta pedra de armas, juntamente com a armas da Casa do Serrão[1], e da Casa Nogueira de Andrade[2], foi uma das representações heráldicas que mais tempo resistiu às nossas tentativas de atribuição, com a qual concluímos um dos três maiores enigmas heráldicos do concelho do Fundão.

     Faz parte das colecções do Museu Arqueológico José Monteiro do Fundão (Reserva). O antigo catálogo deste museu com o título «Pequena História de um Museu» (Fundão, 1978), apresenta a sua reprodução fotográfica (Fig. 88, p.101) acompanhada da seguinte legenda que agora sabemos estar incorrecta: «Pedra de armas da família Correia, Coelhos e Veigas de Nápoles».

     De influência barroca, esta pedra de armas está incompleta, muito provavelmente por ter sido danificada quando foi apeada da respectiva fachada. O campo do escudo é terciado em mantel; um tipo de partição bastante raro em Portugal, sendo mais comum em Espanha e na França. Observa-se a hipotética e estilizada representação do gorjal que serviria de apoio a um elmo, o qual parece ter-se partido.

O Detentor do Brasão
      A sua atribuição foi feita por mero acaso, aquando da leitura de um documento sobre à história fundanense no qual fomos encontrar um vereador com a mesma sequência dos três últimos apelidos que figuram na partição deste brasão: CORREIA, COELHO e BARRETO.

       O citado documento é uma «Certidão do Auto de Câmara Geral», referente à reunião de 31-VIII-1831 na qual participaram cerca de 220 cidadãos do concelho do Fundão. Consta do Livro dos Autos de Vereações e vem transcrita no jornal oficial da época a «Gazeta de Lisboa» (n.º 54, 3-III-1832, pp. 275-277).

        Os participantes deste evento declaram-se incondicionais apoiantes do Rei D. Miguel I e expressam estar «dispostos a defender e sustentar a indisputável Legitimidade com que Vossa Magestade Occupa tão gloriosamente o Throno Português», assim como «põem a disposição do Governo de Vossa Magestade suas pessoas, bens, e faculdades».

       Esta assembleia das forças vivas do Fundão é certamente uma resposta local às ameaças que vinham sendo feitas pela oposição Liberal então concentrada na ilha Terceira, nos Açores, com planos para a  invasão e tomada do poder em Lisboa.
         
        A citada proclamação de lealdade, é feita e assinada pelo juiz de fora, vereadores, procuradores, clero, nobreza, povo, juízes de vintena e regedores das diversa aldeias, assim como homens bons do concelho: certamente muitos deles por convicção, e outros por calculismo para ficarem ao abrigo de perseguições futuras.

         O terceiro subscritor deste documento é o vereador CRISTÓVÃO DE LEMOS COUTINHO CORREIA BARRETO COELHO (c. 1831) que, ao encabeçar um lugar de destaque nesta lista de apoiantes, revela ter tido algum relevo na dedicação à causa do miguelismo, o que certamente lhe viria a trazer futuros dissabores com a queda dos partidários da legitimidade do rei D. Miguel I.

       Sucede que esta personagem sempre figurou na história local com o nome abreviado de Capitão CRISTÓVÃO DE LEMOS COUTINHO. Foi este facto que nos dificultou, até agora, a identificação da citada pedra de armas, caso não aparecesse esta listagem com o seu nome completo.

       Muitas interrogações ficam no ar quanto ao enigma do uso destes três apelidos (Correia, Barreto, Coelho) nesta ocasião, os quais constam da pedra de armas em apreço.


«GL», n.º 54, p.273, 3-III-1832.
«GL», n.º 54, p.273, 3-III-1832.








«GL», n.º 54, p.275, 3-III-1832.
«GL», n.º 54, p.276, 3-III-1832.


















    

   

                                 
Santo Ofício, Habilitações,
Pe. Dr. Crostóvão Correia Barreto.
(1693)
        CRISTÓVÃO DE LEMOS COUTINHO CORREIA BARRETO COELHO (c. 1831) foi capitão de ordenanças e vereador na Câmara do Fundão em 1828 (regência de D. Miguel), 1831, e 1832/33 (reinado de D. Miguel), já falecido em Outubro de 1836 quando a sua irmã Josefa morreu. Sabemos que morou em Alcongosta, mas não conseguimos apurar quais eram os seus progenitores, o seu estado civil, assim como não sabemos de deixou descendência. 
Ao certo apenas ficamos a saber, pelo Livro de registo de Óbitos do Fundão (1798-1840), que teve uma irmã de nome JOSEFA DE LEMOS COUTINHO (1760?-1836), falecida de “febre catarral” (bronquite, ou tuberculose?) a 7-X-1836 no Fundão quando contava 76 anos e já era viúva de Martinho José da Costa, filho de Manuel da Costa, tendo recebido sepultura na capela de Nossa senhora da Conceição. Fez testamento, no qual deixou o encargo de 145 missas por sua alma dos seus antepassados, entre os quais destacamos este seu irmão Cristóvão; os seus tios Domingos, Manuel, e João de Lemos; assim como o seus avós Manuel de Morais Sarmento, e Bartolomeu Pires. 

        Esta família, aparentemente caiu no esquecimento, ao qual não terá sido alheio o triunfo da causa do liberalismo. Não sabemos se abandonaram esta vila, à semelhança do que aconteceu com outras que foram perseguidas por servirem a causa do Rei D. Miguel I.
    Sabemos ter havido por estas bandas pessoas cujos apelidos podem indiciar algum parentesco[3].

      Senão vejamos:
     No «Livro para óbitos na freguesia do Fundão em 1866» (Arquivo Distrital de Castelo Branco, PFND18/3/Liv08O Mç 49), fomos encontra o assento do falecimento de BERNARDETE DE LEMOS COUTINHO (1858?-1866), de “oito anos e oito meses” de idade que morreu a 22-VIII-1866 na Rua da Corredoura (actual Rua Dr. José Germano da Cunha), filha de JOSÉ DE LEMOS FREIXO e de D. BERNARDA DE LEMOS COUTINHO BARRETO. Porém, não conseguimos apurar o grau de parentesco destes com Cristóvão de Lemos.
      Destes prováveis parentes encontramos, quase um século antes, o Padre Dr. CRISTÓVÃO CORREIA BARRETO (f. 1731), clérigo do hábito de São Pedro, natural da Covilhã, o qual também foi morador em Alcongosta, terra onde veio a falecer a 13-III-1731, com testamento cujo teor desconhecemos. Dele ficamos a saber, por uma habilitação que este sacerdote fez no ano de 1693 para o Santo Ofício, que era filho de GASPAR CORREIA BARRETO, natural da Covilhã onde foi provedor da Santa Casa da Misericórdia (1665-1666), e de D. MARIANA DE AGUILLAR, natural da Covilhã; pelo lado paterno, era neto de CRISTÓVÃO PROENÇA DA FONSECA (c. 1600), natural da Guarda, falecido na Quinta do Ortigal, freguesia do Telhado, concelho da Guarda, e de sua mulher D. CATARINA MENDES CORRÊA,, natural de Beja; e pelo lado materno, neto de CUSTÓDIO DE AGUILLAR DE SOUSA e de D. ANA DE FORTES[4].
 

Telhado, Quinta do Ortigal,
com pedra de armas dos PROENÇA.
     Recuando no tempo, vamos encontrar um JOSÉ COUTINHO (f. 1771), capitão de ordenanças em 1757, falecido no Fundão a 20-VII-1771, o qual foi casado em Alcongosta com D. MARIA DE LEMOS (f. 1784), também falecida no Fundão a 22-VIII-1784. Poderá estar neste casal a progenitura do nosso Cristóvão de Lemos Coutinho (como indiciam os seus apelidos e o casamento de seus pais em Alcongosta), entretanto armigerado (?), e por essa via acrescentando ao seu nome de baptismo os apelidos CORREIA, BARRETO, e COELHO, recuperados de antepassados mais longínquos.

    Outra hipótese de parentesco em relação aos apelido de LEMOS, COUTINHO e BARRETO que usou, parece ter origem nos senhores da Quinta do Ortigal, mais precisamente em JOSÉ DIOGO DA FONSECA COUTINHO (n. 1733), nascido na Covilhã a 2-VIII-1733, senhor do Ortigal em 1753, casado a 10-II-1754 com sua prima D. JOSEFA BERNARDA CORTE-REAL, o qual era filho de LUÍS DE LEMOS COUTINHO (1666-1743), senhor da Quinta do Ortigal, e de sua mulher e prima D. BRÍZIDA TERESA BARRETO DE SOUSA, natural da Lardosa [5].

Deixamos aqui registo dos elementos apurados sobre este enigmático cidadão fundanense, possibilitando, deste modo, a outros investigadores mais afortunados o aclarar do que aqui reportamos.

      ________________

Notas:

[1]   Cf. João Trigueiros, «A casa e o brasão de Gonçalo Serrão de Azevedo – Atribuição inédita de um Brasão», Jornal do Fundão, Fundão, 2002-VIII-23, p. 42.
[2]   Cf. João Trigueiros, «Casa Nogueira de Andrade», Ebvrobriga, n.º 5, Museu Arqueológico José Monteiro, Fundão, pp. 69-80.
[3]   Muita da informação relativa aos seus presumíveis parentes foi-nos cedida pelo Doutor Joaquim Candeias da Silva, notável investigador da historia local que nunca nos recusou a sua colaboração e ao qual prestamos aqui o nosso tributo de gratidão. Deixamos apenas um lamento, referente à sua obra «Concelho do Fundão – História e Arte» (Vol. II), que há vários anos aguarda oportunidade de ser editada pela CMF, sem que tal se concretize.
[4]   IAN/TT, Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações incompletas, doc. 1151.
[5]   Cf. FALCÃO, Armando de Sacadura, Freires Corte-Reais, Lisboa, Universitária Editora, 2000, p.174.