2019-08-05

Évora – CASA DO MORGADO DOS AZEREDO (séc. XVI e XVII), dita Casa dos Condes da Lousã


actual hotel «The Noble House»
Rua da Freiria da Baixo 16-20, Évora

e

Quinta da Fiúza
(freguesia de Guadalupe)


Évora, Casa do Morgado dos Azeredo,
Casa dos Condes da Lousã.

Fundada na primeira metade do século XVI, com alguns vestígios de épocas anteriores, esta enorme casa nobre, em confronto com outras vetustas casas apalaçadas de Évora quase passa desapercebida. Situa-se no seu centro histórico, a cerca de 200 metros da Sé e do chamado Templo de Diana.
A sua fachada principal não desafia a nossa curiosidade, não fosse o seu portal barroco armoriado, provavelmente datado de meados de Seiscentos, edificado em cantaria de granito com ombreiras apilastradas e um lintel de arco abatido com uma verga saliente: tudo isto sobrepujado por uma padieira que outrora ostentou uma enigmática pedra de armas, encastrada entre dois apoios. Todo o conjunto suportando um saliente dintel ligeiramente arqueado.

Casa dos Azeredo, Rua da Freiria de Baixo, 18.


Casa dos Azeredo, escudo de armas
(picado)















Casa dos Azeredo, Rua do Conde
da Serra da Tourega, 9 (traseiras).
O escudo da pedra de armas está completamente obliterado, pois foi picado quando a casa saiu da posse da família fundadora, talvez devido ao facto da sua remoção levantar alguma dificuldade por estar firmemente encastrado.
O acesso principal deste solar é feito pela Rua da Freiria de Baixo n.º 18, uma artéria de origem medieval com o seu traçado sinuoso e de largura variável, cujo topónimo foi tirado dos Freires de Évora, os quais deram origem à Ordem de São Bento de Avis sediada nesta zona da cidade, na proximidade de onde arrancam as ruas da Freiria de Baixo e de Cima.
Os alçados laterais da casa confrontam com o casario da rua, e as traseiras dão para a Rua do Conde da Serra da Tourega n.º 9 – a antiga Rua da Carreira do Colégio, onde houve várias casas dos antigos Estudos Gerais de Évora. 
A sua planta térrea foge à tipologia mais comum das casas solarengas deste meio urbano.

O espaço habitado abre-se para um pátio dianteiro, murado do lado da rua, com a qual comunica através do seu portal de acesso que lhe confere alguma privacidade e segurança.
Casa dos Azeredo, pátio dianteiro.
Originalmente, devido à sua localização periférica no primitivo núcleo urbano, tinha certamente uma função semi-rural: com um poço, um jardim, e uma horta, assim como a respectiva cocheira e arrumos diversos para a recolha de produtos agrícolas. Estas funcionalidades foram-se perdendo a partir do primeiro quartel do século XX, por adaptação às novas funções hoteleiras a que foi destinada, o que lhe alterou o seu espaço interior. Dispõe de 22 quartos ao todo.
Já no início do século XX perdeu a sua função residencial. Foi sucessivamente centro de actividade política republicana (1906), escola (1920), «Pensão Residencial Policarpo» (1960), à qual veio a suceder a actual unidade hoteleira de charme «The Noble House» (2017) – da cadeia «Unlock Boutique Hotels» –, responsável pela reabilitação deste secular edifício.


Casa dos Azeredo / Casa dos Condes da Lousã.
Por este lugar de memória passaram algumas gerações de uma aristocrática família da história eborense, hoje quase caída no esquecimento.
O resgate da sua lembrança só foi possível graças à designação porque actualmente ainda é conhecida – Casa dos Condes da Lousã –, assim como pela existência no seu portal de uma pedra de armas picada, encimada por um chapéu eclesiástico.
Há outra pedra de armas, pertencente à mesma família, que terá saído desta casa, o qual hoje se encontra no Museu de Évora. Estes elementos, acabaram por nos conduzirem à família AZEREDO, cuja história aqui recuperamos.

Já no fim da Idade Média, a aquisição de torres que faziam parte da Cerca Velha que estavam há muito abandonadas para fins defensivos, afigura-se como um importante mecanismo de afirmação social da oligarquia eborense, a qual se sentia atraída pela antiguidade e relação simbólica com estes lugares de poder.
Sabemos que o rei D. João I (1385-1433), o Mestre de Avis, doou em 1398 várias torres na Cerca Velha, entretanto sem importância defensiva, a um ramo da família Melo – antepassados destes Azeredos –, a qual apoiou as suas pretensões ao trono; assim como o rei D. Duarte (1433-1438), seu sucessor, doou a D. Fernando de Meneses do seu conselho (1478) a «torre grande e o muro velho com dois cubelos junto à igreja de Freiria», e a seu irmão D. João de Meneses, também do mesmo conselho (1490), doou uns «assentos de torres» no «castelo novo»[1]. Curiosamente, estes Meneses eram remotos antepassados do 2.º conde da Lousã que se uniu por matrimónio à dona desta casa.

Casa dos Azeredo, átrio de entrada com coluna dórica.
Casa dos Azeredo, interior com
muralha da Cerca Velha.
















Como se pode inferir, a edificação de casas sobre a primitiva cintura defensiva da cidade, devido à antiguidade do local, representava um sinal de estatuto e prestígio dos seus fundadores.
Em meados de Quatrocentos já existiriam neste local várias pequenas casas, as quais foram acrescentadas e alteradas ao longo do tempo. Algumas delas estavam adossadas à antiga muralha romano-medieval – a Cerca Velha – que atravessa o interior desta casa.  
Apesar das modificações sofridas ao longo do tempo, nesta residência nobre são ainda visíveis alguns relevantes elementos arquitectónicos, tais como abóbadas cilíndricas ou de berço, nervuradas com arcos quebrados e diagonais perfeitos, que, nos casos em que estão à vista, são de tijolo maciço de barro vermelho (tijolo lambaz, com o mesmo comprimento e largura) e respectivas juntas de argamassa de gesso; técnica esta tão ao gosto da arquitectura alentejana.
Um dos seus mais invulgares elementos arquitectónicos, é uma emblemática coluna dórica, talvez vinda de um passado mais distante, a qual suporta o átrio de entrada.

Casa dos Azeredo, interior.
Casa dos Azeredo, abóbada interior.





Desconhecemos ao certo a família fundadora da primitiva e modesta casa que esteve na sua origem, assim como quem a habitava na primeira metade do século XVI; porém, sabemos que já estava na posse dos AZEREDO no início de Seiscentos, quando estes lhe deram uma configuração já próxima da actual.
Esta família ficou na posse desta casa por cerca de três séculos. No testamento de uma das suas proprietárias, D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real (f. 18-IX-1798), é mencionada por «CASA DO MORGADO DOS SENHORES AZEREDOS» – morgado cujos bens e data da sua fundação desconhecemos.
As últimas gerações desta linhagem, devido ao facto de possuírem outras casas em localidades mais apetecíveis, só esporadicamente terão habitado o velho casarão, até ser definitivamente abandonado, provavelmente em fins de Oitocentos.
Conhecemos nesta família, o provável refundador desta casa, a qual já existiria anteriormente com uma configuração mais modesta.  Foi ele MIGUEL AZEREDO (c. 1570), governador da capitania do Espírito Santo no Brasil e seu capitão-mor (1593).

Este ramo da família AZEREDO é originária do lugar de Azeredo[2], província de Ourense, na Galiza, tendo passado a Portugal na pessoa de Vasco Rodrigues de Azeredo que viveu em Guimarães ao tempo dos reis D. Afonso V (1432-1481) e D. João II (1455-1495).

Évora, Templo de Diana (dedicado ao
Imperador César Augusto, venerado
como um Deus pelos romanos)
Um dos sucessores da linhagem passou a Vila Velha, a antiga capital da capitania do Espírito Santo no Brasil, assim como posteriormente à cidade de Évora, no Alto Alentejo, devido a um matrimónio com um elemento da família COUTINHO oriunda desta região.
A CASA DOS AZEREDO[3], em Évora, por falta de filhos varões em algumas gerações, esteve na posse de várias mulheres. Pelo casamento destas foi, nalguns casos, conhecida pelo apelidos dos respectivos maridos: «Casa dos Azeredos Corrêas», «Casa dos Azeredos Saldanha» e, finalmente, por «CASA DOS CONDES DA LOUSû, título da família Lencastre, seus últimos sucessores, descendentes dos capitães-mores do Espírito Santo (RTHG, IV, 1842: 321).

Capitães-mores do Espírito Santo
Neste ramo da família Azeredo conhecemos BELCHIOR DE AZEREDO (c. 1561), natural de Guimarães. Era um dos seis filhos conhecidos de João Álvares de Azeredo (c. 1545), e de sua mulher Isabel Luísa Lorena, que foi «Provedor da Fazenda Real» (D. Sebastião», Maio de 1565), e ainda «cavaleiro fidalgo por alvará do Senhor D. Sebastião» (27-XI-1566), «fidalgo  de geração, e família de seu apelido por brasão, que se lhe passou a 6-XII-1566» (RTHG, Tomo V: 436).
Capitanias heriditárias do Brasil.
Apesar da origem desta família numa linhagem cristã-nova (SALVADOR, 1994: 26), isso não o impediu de alcançar grande destaque social no Brasil, sob a protecção dos jesuítas «que o consideravam um homem nobre, virtuoso e enérgico» (SALETTO, 1998: 18). Certamente a sua remota ascendência judaica foi encoberta, o que lhe permitiu alcançar destacados cargos.  
Distinguiu-se militarmente no Rio de Janeiro contra os franceses e indígenas (1561), às ordens de Estácio de Sá (1520-1567), o fundador desta cidade e seu governador, o qual o nomeou então capitão da Galé Santiago (Jan.-1564), enviando-o para a Capitania do Espírito Santos como Provedor da Real Fazenda com a incumbência de aí fundar uma nova cidade e, como seu capitão-mor, apetrechar uma armada para voltar ao Rio de Janeiro (RTHG, V, 1843: 320).
Vasco Fernandes Coutinho
(c. 1480),
donatário da capitania do
Espírito Santo
Estácio de Sá considerava-o «ser pessoa a quem se podia confiar toda a coisa do serviço de Deus e de Sua Alteza», pelo que veio a ser o 1.º capitão-mor do Estado do Espírito Santo (de 1561 a 1564), na ausência do seu 1.º e legítimo donatário VASCO FERNANDES COUTINHO (c. 1480)[4], fidalgo da Casa Real[5].
Este obteve de D. João III a décima-primeira das quinze capitanias hereditárias do Brasil (1-VII-1534), a que ele mais tarde deu o nome de Capitania do Espírito Santo.
O nome atribuído a esta capitania, segundo alguns historiadores, foi provavelmente dado em memória da sua chegada na data aproximada da celebração católica do Pentecostes – celebração da vinda do Espírito Santo. Porém, não enjeitamos a possibilidade de o citado nome ter sido atribuído em lembrança da grande devoção ao Divino Espírito Santo existente na terra de Alenquer, de onde ele saiu, e do qual seria devoto. Nesta região são conhecidos quatro antigos oragos dedicados a este culto: Ventosa, Aldeia Gavinha, Aldeia Galega e Arneiro[6].
Os seus antepassados mais distantes foram alcaides-mores de Serpa, Évora, Castelo de Vide, Olivença, e Barbacena, no Alentejo; região de onde era procedente este ramo da família COUTINHO.
Vila de Vitória, 1884.
Vasco Coutinho, o legitimo donatário desta capitania, era senhor de uma valiosa quinta que havia adquirido em Alenquer (1529)[7], a qual vendeu para embarcar na sua nau Glória, rumo ao Brasil, com um contingente de cerca de sessenta colonos que foram recebidos com a maior hostilidade pelos índios goitacás.
À sua chegada ao Brasil em 23-V-1535, logo fundou o povoado de Vila Velha para cabeça da capitania, à qual viria a suceder a vila de Vitória (1551) na ilha de Santo António, local com melhores condições de defesa perante a continuada agressão dos indígenas, os quais recusavam a sua liderança. Em Vila Velha, iniciou a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário (1553), que chegou aos nossos dias e é uma das mais antigas do Brasil.
Vila Velha, Igreja de Nossa Senhora do
Rosário (1553), mandada edificar por
Vasco Fernandes Coutinho.
Posteriormente entra em litígio com a Câmara de Vitória, a respeito da jurisdição sobre o sertão que ele pretendia explorar, o que o levou à sua destituição (SANTOS, 2014, p. 47-49).
Como consequência do afastamento deste 1.º donatário, cuja missão foi muito ingrata devido à hostilidade dos indígenas, este terá sido levado a passar vários anos em Lisboa onde estava em 1553. Pediu então a demissão do seu cargo «dizendo-se velho e cercado de doenças, desrespeitado pelos colonos, fracassado como dirigente da capitania (…) pois ele não tem mais forças para a pesada tarefa» (SALETTO, 1998: 18). Veio a falecer por volta de 1561(?).
Como os filhos do seu casamento legítimo não lhe sucederam na capitania, ou por já terem falecido, ou por não quererem deixar a vida confortável que tinham em Lisboa, ocupou este lugar deixado vago o seu filho homónimo Vasco Fernandes Coutinho, bastardo reconhecido que teve de D. Ana Vaz Almada, com a qual Vasco viveu no Brasil. Parece que este seu sucessor, também renunciou ao cargo, falecendo logo de seguida.
Entretanto BELCHIOR DE AZEREDO foi nomeado capitão-mor da capitania do Espírito Santo (Fev.-1550), obtendo todos os poderes e jurisdições do seu antecessor Vasco Fernandes Coutinho (c. 1480), após ter sido eleito e aclamado pelos colonos e pela Câmara. Participou na expulsão dos invasores franceses da baía de Guanabara (Rio de Janeiro), os quais também combateu com sucesso por quatro vezes no Espírito Santo (1551, 1558, 1561 e 1567), com milícias de índios que finalmente conseguiu submeter e arregimentar, ao contrário do seu predecessor.
Em virtude do seu sucesso, Belchior de Azeredo alcançou grande destaque social e político, pelo que foi recompensado com a doação de uma vasta sesmaria onde se fixou com a família e, deste modo, granjeou meios de fortuna que fizeram dos seus sucessores – sobrinhos – uma das mais importantes e prestigiadas famílias desta capitania.
Dos sucessores de Belchior, destacaram-se:
MARCOS DE AZEREDO (1559-1618?), natural de Guimarães, falecido em Vitória, Espírito Santo, com testamento feito em 1618. Era filho primogénito de Lançarote de Azeredo (c. 1570) e de Isabel Dias Sodré, ambos nobres da vila de Guimarães, e sobrinho de Belchior de Azeredo (c. 1561), 1.º capitão-mor.
Cavaleiro da Ordem de Cristo, ocupou cargos de algum destaque na administração colonial: foi Provedor dos Defuntos e Ausentes (1598) e Provedor da Fazenda Real (SALETTO, 1998: 70).
Engenho de açucar.
Ao contrário dos seus antecessores, conseguiu conter a belicosidade dos indígenas pelo que dispôs de abundante mão-de-obra nativa e foi senhor do maior engenho de açúcar do Espírito Santo, com o qual iniciou então uma fase de expansão da sua produção. Tudo isto, com o consequente crescimento do seu comércio para a Europa, o qual atingiu o seu auge na primeira metade do século XVII, trazendo grande prosperidade a esta capitania.
Foi o primeiro desta família que em 1611 «se distinguiu muito no descobrimento das esmeraldas» (RTHG, V, 1843: 321). Este achado, fê-lo vir em 1613 junto da Corte de Filipe III, em Madrid, com quatro das pedras encontradas para comunicar sua descoberta, tendo então pedido recursos para retornar e tomar posse desta mina. O rei Filipe III concedeu-lhe a satisfação deste pedido, porém a expensas do governador-geral do Brasil, assim como hábito da ordem de Cristo e uma pensão[8]. Porém, a falta de recursos na colónia devido à guerra da reconquista do Maranhão aos franceses, acabou por frustrar este intento, tendo, ao que parece, morrido «no inculto sertão e reino dos bárbaros Mapaxós» sem deixar assinalada a localização das almejadas esmeraldas (SALETTO, 1998: 71).
Casou-se por volta de 1589 no Brasil com D. MARIA COUTINHO DE MELO (c. 1570), irmã de Vasco Fernandes Coutinho (filho) (f. 1589), e filha bastarda do 1.º donatário Vasco Fernandes Coutinho (c. 1480) (SALVADOR, 1994: 97-99).
Esta aliança matrimonial permitiu à família Azeredo consolidar a sua hegemonia nesta possessão colonial, estabelecendo uma rede de poder que lhe permitiria o acesso a cargos e ofícios. Deste modo, esta família guindou-o a uma posição destacada entre a elite local, condição esta cuja descendência conservou para além dos meados do século XVII (RIBEIRO, 2012, p. 173).
Teve geração e foi o patriarca do ramo brasileiros dos AZEREDO COUTINHO, durante muito tempo proeminentes no Brasil[9].
Os seus filhos, ANTÓNIO e DOMINGOS DE AZEREDO COUTINHO, em carta enviada ao rei D. João IV «agradecem ao rei pela honra e a mercê concedida ao seu pai Marcos de Azeredo pelo roteiro que os levaria à Serra das Esmeraldas e que tal empreendimento seria de muita serventia para o Império» (Simonato, 2017: 121-122). Estes fizeram uma entrada no sertão à procura da Serra das Esmeraldas (1647), mas não conseguiram encontrar o local original, pois só acharam pedras sem valor.
A sua mulher D. MARIA COUTINHO DE MELO (c. 1570) tinha as suas raízes na cidade de Évora, e certamente alguns bem herdados dos seus antepassados que foram gente proeminentes da nobreza do Alentejo.
Esta senhora, por linha materna era 4.ª neta de JOÃO DE MELO (c. 1405), alcaide-mor de Serpa; assim como 5.ª neta de MARTIM AFONSO DE MELO (c. 1360) que serviu o mestre de Avis, futuro rei D. João I (1357-1433), tendo participado na tomada de Ceuta (1415), assim como foi alcaide-mor de Évora (15-I-1390), de Castelo de Vide, de Barbacena, de Campo Maior, de Olivença, e teve ainda os senhorios de Barbacena, Arega (concelho de Figueiró dos Vinhos), da Herdade da Água de Peixes (Alvito), da Quinta de Vale de Palma (Évora), da Domus Fortis denominada Torre de Évora (que veio a pertencer à da Casa Cadaval); e 6.ª neta de VASCO MARTINS DE MELO (c.1320-1388), que tomou voz pelo mestre de Avis na crise de 1383-1385 e foi generosamente recompensado com a nomeação para alcaide-mor de Évora, Santarém, e Castelo de Vide, assim como obteve o senhorio de Castanheira (do Ribatejo), Povos e Cheleiros.
A descendência desta família, por alianças matrimoniais, deu origem a algumas das mais importantes casas titulares de Portugal com origem no Alentejo: duques de Bragança, duques do Cadaval, marqueses de Ferreira, condes de Tentúgal, e condes de Olivença, entre outras.
Outro dos sucessores de Belchior de Azeredo, foi:
MIGUEL DE AZEREDO (c. 1570), irmão do anterior Marcos de Azeredo (1559-1618?), sobrinho de Belchior de Azeredo (c. 1561). Foi ele o refundador da CASA DOS AZEREDO em Évora, conhecida posteriormente por CASA DOS CONDES DA LOUSÃ.

Sucessão da Casa dos Azeredo.
1.º
(o refundador da casa)
MIGUEL DE AZEREDO (c. 1570), irmão de Marcos de Azeredo (1559-1618?), filho de Lançarote de Azeredo (c. 1570)[10] e de Isabel Dias Sodré, foi chamado ao Brasil por seu tio Belchior de Azeredo (c. 1561).
Começou por ser adjunto do governo do Espírito Santo na ausência do 1.º donatário, mais tarde seu governador e capitão-mor (1593), assim como administrador supremo da justiça, após a morte de Vasco Fernandes Coutinho (RIBEIRO, 2012, p. 186), tudo isto, salvaguardando alguns direitos de D. Luísa Grimaldi (1541?-1626?), a viúva herdeira de Vasco Fernandes Coutinho (filho), 2.º donatário, falecido sem filhos, a qual, pela legislação em vigor e por ser mulher, não podia suceder nos cargos de seu marido.
Esta D. Luísa Grimaldi (1541?-1626?)[11], nascida em Nice, então pertencente a Itália, ainda era sua parente em grau que desconhecemos, pois era filha de Pedro Álvares Correia e de D. Caterina Grimaldi, esta última filha de Honoré I (1520-15819,) príncipe do Mónaco, e de D. Isabella Grimaldi.
Era amigo do padre jesuíta José de Anchieta (1534-1597), santo da Igreja Católica e um dos fundadores da cidade brasileira de São Paulo, o qual chegou a hospedar-se na sua fazenda junto ao Monte Moreno quando já estava muito doente, quase no fim da sua vida (SALETTO, 1998: 67).
P.e José Anchieta (1534-1597)
Devido a esta proximidade com este santo, vários elementos da família Azeredo a residir em Évora intervieram no Processo Apostólico (Abri-Maio, 1626), tendo aí prestado os seus depoimentos no Convento do Salvador. Foram eles: o cónego PEDRO ÁLVARES CORREIA (n. 1580?), com 36 anos de idade; D. LUÍSA CORREIA (n. 1582?), com cerca de 65 anos de idade, mulher de Miguel de Azeredo (c. 1570), a qual «conheceu muito bem ao Padre Anchieta que frequentava a sua casa no Espírito Santo»; D. LUÍSA GRIMALDI (1541?-1626?), viúva do filho homónimo Vasco Fernandes Coutinho (f. 1589), que também «conhecera muito bem o Padre Anchieta, que fora seu confessor»; Madre BEATRIZ DO ESPÍRITO SANTO (n. 1586’), com cerca de 40 anos de idade, filha de Miguel de Azeredo (c. 1570), e de D. Luísa Correia  (n. 1582?), que «guardava o quadro de Nossa Senhora que Anchieta dera ao seu pai»; Madre CÂNDIDA DE SÃO DOMINGOS (n. 1590?), filha de Miguel de Azeredo (c. 1570), e de D. Luísa Correia  (n. 1582?), que foi baptizada pelo padre Anchieta (Viotti, 1996: 27).
No Espírito Santo serviu por 22 anos, aí granjeando meios de fortuna, após o que retornou a Portugal no início de Seiscentos (1620?), tendo ido viver para Évora.
Não foi ao acaso que escolheu esta cidade alentejana para sua residência. Talvez aí tivesse algum património, pois, a família de sua mulher, D. Luísa Correia, era originária desta região; assim como a família de sua cunhada D. Maria Coutinho de Melo (c. 1570), filha do 1.º donatário, casada com o seu irmão Marcos, aqui ainda teria algum património.
Devido a estas origens familiares, «voltando para o Reino estabeleceu a casa dos Azeredos Corrêas d’Évora»[12], a qual também aí é mencionada como «casa dos Azeredos e Saldanha d´Évora» (RTHG, IV, 1842: 321). 
Com a fortuna angariada, terá refundado esta casa, provavelmente assente sobre outras casas mais antigas aí herdadas por sua mulher, vindas dos seus antepassados «Corrêas». Quando este regressou do Brasil, por volta de 1620(?), assentou arraiais nesta cidade alentejana onde veio a estabelecer a sua rede de relações.
Obteve Carta de Brasão de Armas de AZEREDO (1604), como descendente de João Álvares de Azeredo (1545)[13], natural de Guimarães, tronco deste ramo familiar, segundo referem os seus biógrafos sem esclarecer a composição das armas que lhe foram atribuídas. Com este brasão, terá esta família armoriado a fachada da sua nova residência em Évora, para deste modo ostentar a sua nova condição de fidalgos de cota d’armas. Esta primeira pedra de armas dos Azeredo, numa remodelação da casa, terá sido substituída pela actual pedra que se encontra picada, e aí terá sido posta por um descendente dos seus fundadores, talvez o seu trineto Manuel Correia de Azeredo Corte-Real que depois de viúvo foi deão da Sé de Évora.
Évora, Convento do Salvador.
Teve vários filhos com D. LUÍSA CORREIA, filha bastarda de Pedro Álvares Correia, o Moço, e de D. Antónia de Abreu, esta última da família de do 1.º donatário (SALETTO, 1998: 69).
Filhos:
1.  PEDRO ÁLVARES CORREIA (n. 1580?), homónimo de seu avô, licenciado em Cânones pela Universidade de Coimbra (17-III-1618), cónego da Sé de Évora. Nasceu por volta de 1580 no Espírito Santo, Brasil. A 27-IV-1626 quando contava 36 anos de idade foi depoente no processo de beatificação do Pe. José de Anchieta (1534-1597), no Convento do Salvador em Évora. Neste processo declarou «que o pai tinha guardado um dente do padre, assim como algumas cartas de Anchieta que trouxera do Brasil»[14]. Em 1640 foi nomeado testamenteiro de seu irmão Simão Correia de Azeredo (c. 1610).
2.   D. BEATRIZ DO ESPÍRITO SANTO (n. 1586), madre, natural do Espírito Santo, depoente no citado processo de beatificação do Pe. José de Anchieta (1534-1597), no Convento do Salvador em Évora. Neste declarou ter 40 anos e «guardar um quadro de Nossa Senhora que Anchieta dera ao pai dela».
3.    D. CÂNDIDA DE SÃO DOMINGOS (n. 1590), nascida no Espírito Santo. Em 1626, com 36 anos de idade, também depôs no processo de beatificação do Pe. José de Anchieta (1534-1597).
4.     LUCAS DE AZEREDO, falecido ao regressar de Inglaterra onde esteve preso. Sem geração.
5.     SIMÃO CORREIA DE AZEREDO (c. 1610), o herdeiro da Casa dos Azeredo em Évora, que segue.
2.º
O sucessor da Casa dos Azeredo foi SIMÃO CORREIA DE AZEREDO (c. 1610). Fez testamento em Évora a 16-XI-1640, pelo qual faz a «Instituição do morgado de Simão Correia de Azeredo», nomeando para seu testamenteiro o cónego de Évora seu irmão Pedro Álvares Correia (1570?)[15].
Casou em Moura, distrito de Beja, com D. CATARINA CORTE-REAL[16].
Filhos conhecidos:
1.  JOSÉ CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1706), padre em Évora. Frequentou a Universidade de Coimbra de Coimbra onde obteve o grau de Bacharel em Cânones a 28-01-1706) e a formatura (09-07-1796).
Residiu numa morada de «casas nobres na Rua de Burgos» – a actual Casa Nobre (?) –, na qual era proprietário de um correr de casas contíguas (4) que nesta rua iam até à antiga Rua da Selaria (actual Rua 5 de Outubro).
Fez testamento em 29-VII-1751, nomeando para testamenteiros o seu irmão Miguel Correia de Azeredo Corte-Real (c. 1630) que depois de viúvo foi deão da Sé de Évora, e a filha deste, a sua sobrinha D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real (1716-1798), sua universal herdeira.
Sé de Évora, Altar do Anjo
(Senhora do Ó).
Nesta sua última vontade começa por encomendar a sua sepultura na «Santa Sé de Évora, junto ao Altar de Nossa Senhora do Anjo» (Senhora do Ó) na nave central, assim como deixa muitas dezenas de missas por sua alma, e enumera vários dos seus bens fora do morgado e capela, dos quais pode dispor livremente: «uma morada de casas nobres citas nesta cidade na travessa de Burgos (actual Rua de Burgos) livres e isentas em q. vivo; outra morada de casas místicas a esta pela parte de baixo também livres e isentas, mais outra morada de casas junto a estas que estão na Rua de Sellaria (a actual Rua 5 de Outubro) por onde também tem uma porta (…), mais uma cavalariça com seus altos na mesma travessa de Burgos (…), mais uma morada de casas pequenas citas nesta cidade na Freiria de Baixo que partem com casas de meus irmãos o (…) Rdo. Senhor Manoel Correia de Azeredo, com casas de Lourença Perdigoa foreiras à Fábrica de Pez; mais uma horta chamada da Pontinha nos coutos desta cidade…»[17]. Neste testamento declara ainda que na escritura de dote de casamento que fez a sua sobrinha D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real (1716-1798), para casar com António Saldanha de Oliveira e Sousa (n. 1710), «lhe dotei tudo o que por minha morte se achar depois de pagas todas minhas dívidas», e após se subtrair à herança vários legados a favor de terceiros[18]
Filho:
2.    MIGUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1630), filho sucessor, que segue.

3.º
MIGUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1630), que depois de viúvo seguiu a vida religiosa e veio a ser deão da Sé de Évora.
Foi nomeado pelo seu irmão o padre José Correia de Azeredo Corte-Real (c. 1731), juntamente com sua sobrinha D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real (1716-1798), para seu testamenteiro (1751).
Casou com D. LUÍSA ROLIM, filha de Manuel de Faria da Costa, e de sua mulher D. Catarina Landim.
Évora (antiga).
Os Landim era uma velha família originária de Estremoz. Esta Catarina Lanlim poderá ser parente (filha?) de Catarina Lanlim Velha (c. 1660), natural de Évora, viúva de Mateus Serradas de Figueiredo, capitão de Ordenanças de Vila Viçosa e seu vereador (1656), a qual a fez testamento em Évora a 1-VI-1660, nomeando por testamenteiro o seu parente o Pe. Tomé Álvares Velho[19], pai de Maria Teresa Lalim Velho. Curiosamente este padre que veio a ser cónego da Sé de Évora em meados do Séc. XV, teve uma filha natural, perfilhada (1665), sua herdeira, que foi D. Maria Teresa de Landim Velho (b. 1661), para a qual instituiu um morgado. O P.e Tomé Álvares de Velho foi um dos donos da Quinta da Fiúza de Deus, junto a Évora, que por esta altura passou à posse da família AZEREDO, provavelmente por herança ou transacção entre parentes.
Filhos:
1.     D. CÂNDIDA, que viveu em companhia de seu irmão Simão, o qual a contemplou em seu testamento com «cem mil réis».
2.   D. BRITES, que também viveu em companhia de seu irmão Simão, o qual a contemplou em seu testamento com «cem mil réis».
3.    SIMÃO CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1660), que segue.

4.º
SIMÃO CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1660), cavaleiro da Ordem de Cristo e coudel-mor de Évora, de onde era natural.
Estando doente e acamado, fez testamento em 1709, no qual nomeou seu testamenteiro o Pe. Cristóvão de Chaves de Abreu[20].
Sé Catedral de Évora.
Casou com sua prima D. ÁGUEDA MARIA CORTE-REAL, baptizada na freguesia de São Vicente de Fora em Lisboa.
Sua mulher era filha de José de Chaves de Abreu e de D. Francisca Antónia Maria Corte-Real (f. 1709), ambos enigmaticamente falecidos no mesmo dia a 6-X-1709 na freguesia de São Pedro de Évora, sem testamento; ele foi sepultado na Igreja de São Mamede, e ela na Igreja do Salvador.
Filhos:
1.    JOSÉ CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1706). Frequentou a Universidade de Coimbra onde obteve o grau de bacharel em Cânones a 28-I-1706 e a formatura em 9-VII-1706. Em 1708 fez a habilitação «de genere» na vila de Estremoz, e ainda de «vita et moribus» em Évora, para as ordens menores[21], tendo sido deão da Sé de Évora.
       Foi padrinho de baptismo, a 26-VII-1731 na Sé de Évora, de sua sobrinha-neta D. Mariana Rosa Victória de Saldanha (n. 1731).
2.   JOÃO CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (f. 1751), cónego da Sé de Évora, cidade onde nasceu, e na qual morou numa sua casa à Travessa do Megué.
    Frequentou a Universidade de Coimbra aí obtendo o grau de bacharel em Cânones a 20-V-1714 e a formatura em 20-V-1714.
       Estando doente, ditou o seu testamento a 16-I-1756, no qual nomeou para seu testamenteiro o Pe. Manuel Correia Corte-Real, vindo a falecer a 15-II-1766. Deixou várias casas a diversos herdeiros, das quais destacamos as da Travessa das Gatas, Travessa de Jerumenha, e da Rua da Corredoura.
3.    MANUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1690), o herdeiro da casa, que segue.

5.º
MANUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1690), fidalgo da Casa Real, herdeiro da Casa dos Azeredo, cujo Morgado dos Senhores Azeredo muito aumentou.  A ele se terá ficado a dever obras de monta na casa da rua da Freiria, talvez até o portal de acesso com a inclusão da actual pedra de armas que se encontra picada; assim como obras de beneficiação na Capela da Quinta da Fiúza, com a inclusão do seu brasão.
Casou com D. MARIA MICAELA DA FONSECA PESTANA (c. 1690). e depois de viúvo ingressou na vida religiosa e foi deão da Sé de Évora.
Filha:
1.    D. FRANCISCA ANTÓNIA DE AZEREDO CORTE-REAL (n. 1716), que segue.

6.º
D. FRANCISCA ANTÓNIA DE AZEREDO CORTE-REAL (1716-1798), nasceu em Maio de 1716 na cidade de Évora onde residiu na sua grande Casa dos Azeredo sita á Rua da Freiria de Baixo n.º 16-20, e aí viveu confortavelmente rodeada de mais de 20 criados, número este só justificado pela grandeza desta casa e a frequente presença de vários familiares: no início 3 filhas, genros, netos, e diversa parentela. Sabemos que, tal como fez o seu pai, aumentou com os seus bens o Morgado dos Senhores Azeredos.
Faleceu a 18-IX-1798 nesta sua citada casa, com testamento ditado a 18-II-1798, já viúva e certamente desgostosa por ter perdido em vida o seu marido, as filhas e a neta herdeira dos vínculos da sua Casa, restando-lhe apenas a bisneta D. Mariana Antónia do Resgate com cerca de 14 anos de idade, à qual competiu a nomeação para herdeira do Morgado dos Azeredo.
A grande fortuna desta senhora, e a sua singular religiosidade, deduz-se a partir deste seu testamento, no tocante ao generoso auxílio deixado às diversas comunidades religiosas e aos muitos pobres da cidade de Évora. Nele nomeia seus testamenteiros, o Deão Joaquim José de Sousa e Meneses, sua filha D. Ana Joaquina de Saldanha, e seu neto D. António de Saldanha.
Évora, Igreja de São Francisco.
Neste documento expressa o desejo de ser sepultada na «Igreja de São Francisco na Capela da Ordem Terceira de quem sou irmã», onde solicitou uma «sepultura das que estão juntas às escadas do Altar mais próximo ao Santíssimo Sacramento», para cujo efeito deixou à Ordem Terceira «trinta mil réis de esmola»; dispondo ainda qual o cerimonial a seguir e os acompanhantes do seu funeral, que segundo sabemos, com a respectiva sepultura custou «quarenta mil e quatro contos»[22], acrescidos dos custos de um grande número de missas que a falecida determinou, as quais ultrapassaram o exorbitante número de 2.500 (duas mil e quinhentas) de «cento e cinquenta réis de esmola cada uma», cujos testamenteiros deram conta. Destes ofícios religiosos, destacamos as 200 missas por sua alma no «Altar Privilegiado da Santa Sé», mais as 1.000 missas da mesma esmola cujos destinatários enumera: todos os Santos e Santos do Purgatório (300 missas); por alma dos pais, filhas, marido, meus avós, meus tios, sogros «e de todos os meus defuntos», de «esmola de cento e vinte réis cada uma» (600 missas), etc. 
Deixou ainda vários legados, não esquecendo os seus mais de 20 criados, com especial referência para a sua criada Joaquina Rosa à qual deixou uma casa «foreira do cabido da Sé» que fica «defronte das janelas da minha sala».
À data deste testamento, tendo já falecido a sua filha primogénita D. Mariana Rosa (n. 1731), assim como a única filha desta que era a sua neta D. Maria Rosa (1753-1786), a destinatária dos bens vinculados desta Casa (morgadios), como lhe competia, foi a sua bisneta ainda adolescente D. MARIANA ANTÓNIA DO RESGATE DE SALDANHA CORTE-REAL DA CÂMARA E LENCASTRE (1784-1848), que viria a ser 3.ª Condessa da Lousã.
Segundo refere este testamento, esta sua bisneta D. Mariana, então no início da adolescência «é Legitima Senhora dos Bens vinculados da minha Casa» que incluíam o «Morgado dos Senhores Azeredos» com «vinte mil cruzados», que nele foram incluídos pelo pai da testadora o Deão Manuel Correia de Azeredo Corte-Real, os quais serviram para adquirir várias propriedades para o morgadio: a Herdade do Arcediago em Évora Monte (1774); a Horta das Figueiras (1779), e a Herdade da Noada (1780), ambas em Estremoz; e ainda o  Olival do Campo (actual Quinta Nova do Campo?), no termo da vila da Castanheira (do Ribatejo), comprada por 650 mil réis. Tudo isto no dizer da testadora D. Francisca Antónia.
D. Francisca Antónia casou a 1-V-1730 na Sé de Évora com ANTÓNIO SALDANHA DE OLIVEIRA E SOUSA (n. 1710), nascido a 3-IV-1710 na freguesia de Santa Engrácia, em Lisboa onde também residiu, o qual por herança paterna sucedeu no Morgado da Oliveira, situado na freguesia de Nossa Senhora da Graça do Divor, concelho de Évora, como referem as Memórias Paroquiais  Divor (vol. 13, n.º 18. Pp. 107-110).
Este antiquíssimo vínculo foi instituído em 13-VIII-1268 por D. Martinho Pires de Oliveira, Arcebispo de Braga e antigo cónego da Sé de Évora, cidade de onde era natural, mestre do príncipe D. Afonso, futuro rei D. Afonso IV que foi primogénito de rei D. Dinis, grande erudito e embaixador nas cortes de Roma e Espanha.
Nossa Senhora do Divor, Morgado de Oliveira.
Era composto da respectiva herdade com seu solar medieval (hoje adulterado por desastrosas modificações) e a respectiva capela de Nossa Senhora da Assunção – com capelão, missa cotidiana e festa a 15 de Agosto, por imposição do instituidor. A sua sucessão impunha filhos varões, o que não aconteceu nesta geração, pelo que não coube em herança às sua filhas, tendo então passado a sua administração à descendência da linha varonil do seu avô homónimo António de Saldanha de Oliveira e Sousa (1654-1706), do qual foi parar à Casa dos condes de Rio Maior. 
António Saldanha, seu marido, era filho das primeiras núpcias de Diogo Nicolau Miguel de Saldanha (1680-1712), moço-fidalgo e fidalgo-escudeiro da Casa Real, natural de Santarém, e de sua mulher D. Josefa Maria Madalena Pereira (n. 1682), natural de Lisboa, filha de Gaspar de Abreu de Freitas (c. 1650)[23], desembargador da Casa da Suplicação (Sousa, 1714: 244).
Além de dois filhos que morreram de pouca idade, tiveram 3 filhas:
1.    D. MARIANA VITÓRIA DE SALDANHA E TÁVORA (n. 1731), nascida a 11-VII-1731, filha primogénita, dotada com a terça de sua mãe para casar nas primeiras núpcias de D. José Pedro da Câmara (1721-1789) governador da Índia, que segue abaixo.
 2.  D. ANA JOAQUINA DE SALDANHA AZEREDO E TÁVORA (n. 1732), nascida a 30-IV-1732, foi baptizada a 14-X-1732 na Sé de Évora tendo por padrinho o seu avô paterno Manuel Correia de Azeredo Corte-Real.
Após a morte prematura de sua irmã primogénita, veio a casar nas segundas núpcias de seu cunhado D. José Pedro da Camara (1721-1789), governador da Índia. Tiveram três filhos que seguiram os apelidos CÂMARA.
3.   D. JOSEFA ANTÓNIA FRANCISCA DE SALDANHA E NORONHA (n. 1737), nascida a 4-X-1737, baptizada a 21-X-1737 na Sé de Évora pelo Deão José Correia de Azeredo Corte-Real, e a Sra. Santa Ana.
Casou nas primeiras núpcias de JOSÉ DE SOUSA MENESES PEREIRA DE BRITO E MORAIS (1741-1801), baptizado a 6-II-1741 em São Bartolomeu, Vila Viçosa, onde veio a falecer a 7-V-1891.
Seu marido foi moço fidalgo da Casa Real (alvará de 18-III-1743), familiar do Santo Ofício (carta de 23-I-1760), alcaide-mor de Borba (cartas de 7-X-1773 e 24-VII-1777), capitão de cavalos no Regimento de Évora, coronel de Milícias da Comarca de Avis. Foi ainda comendador de Santa Maria de Antime, de Santa Maria de Rio Frio (carta de 4-XI-1773), e de Santa Maria de Palmeira, assim como juiz da Confraria de Nossa Senhora da Conceição.
Era um dos 13 filhos de Tomé José de Sousa Brito (1692-1764), alcaide-mor de Arraiolos, casado em 1728 em Vila Viçosa com D. Maria Próspera de Meneses (n. 1706).
Tiveram geração que seguiu os apelidos SOUSA MENESES.

7.º
D. MARIANA VITÓRIA DE SALDANHA E TÁVORA (n. 1731), filha primogénita que não pode suceder no Morgado da Oliveira por ser mulher, nasceu a 11-VII-1731 e foi baptizada a 26-VII-1731 na Sé de Évora, apadrinhada pelo Deão José Correia de Azeredo Corte-Real (c. 1707). Era morgada de Cadafais (Alenquer), e presuntiva herdeira dos valiosos vínculos da Casa dos Azeredo, aos quais acabou por não suceder devido à sua morte prematura, ainda em vida de sua mãe.
José Pedro da Câmara
(1721-1789),
marechal de Campo,
77.º Governados da Índia.
Casou nas primeiras núpcias de D. JOSÉ PEDRO DA CÂMARA (1721-1789), nascido a 30-VII-1721 na freguesia dos Anjos, em Lisboa, e falecido em 1789, coronel e comandante do Regimento de Cavalaria de Olivença, conhecido por «Dragões de Olivença» (1758-1776), governador de Armas do Alentejo (1770), marechal de Campo, 77.º Governador e Capitão-geral da Índia (1774-1779).
Seu marido era filho de D. Francisco Estevão Xavier da Câmara (1691-1742), natural dos Açores, e de sua mulher D. Francisca Xavier de Castro (c. 1690), baptizada na Igreja Nossa Senhora dos Mártires ao Chiado, em Lisboa; neto de D. José Rodrigo da Câmara (1665-1724), 2º conde da Ribeira Grande, nos Açores, e de sua mulher D. Constança Emília (1667-1709), princesa de Rohan-Soubise (França); a qual era filha de Françoise Rohan (1630-1712), 1.º príncipe de Soubise, e neta paterna de Hercule de Rohan (1568-1654), 2.º duque de Montbazon e príncipe de Guéméné.
Filha:
1     D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), que segue.

8.º
D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), 2.ª condessa da Lousã pelo seu casamento, senhora da Casa dos Azeredos que posteriormente foi denominada Casa dos Condes da Lousã devido a este casamento com o respectivo titular (RTHG, V, 1843: 408). Era filha única, herdeira do morgado de Cadafais (Alenquer), natural de Évora onde foi baptizada a 28-I-1753 pelo deão Manuel Correia de Azeredo Corte-Real na «capela das minhas casas», que registou esta cerimónia nos livros da Sé desta cidade.
Lisboa, Convento de São Pedro de
Alcântara.
Faleceu a 19-III-1786 na freguesia da Mercês em Lisboa, onde foi sepultada no convento de São Pedro de Alcântara, ao Bairro Alto, sem testamento, deixando uma filha menor de pouca idade.
Casou a 3-III-1772 na capela da sua Quinta da Fiúza situada na extinta freguesia rural de São Matias, no concelho de Évora, com seu primo  D. LUÍS ANTÓNIO FRANCISCO DE BASTO BAHAREM E LENCASTRE (1751-1830), 2.º Conde da Lousã, 11.º senhor do morgado da Marinha, senhor da Vila de Cernache no concelho de Coimbra (1771), alcaide-mor de Celorico da Beira (1769) , e de Belmonte (1789), nascido a 23-IV-1751 na extinta freguesia de São Julião em Lisboa, e falecido a 8-VIII-1830 no seu palacete da Quinta da Damaia, na Amadora. 
Amadora, Quinta da damaia,
dos Lencastre.
Seu marido, entre muitos outros benefícios recebidos da Coroa, foi conselheiro do Rei D. José I (1767), tendo obtido deste rei os senhorios da Vila de Paraíba no Brasil, e as comendas de São Vicente de Fornelos (1769) e de Santa Maria da Assunção na Ordem de Cristo (1769). Como militar serviu o Regimento de Infantaria de Aveiras, do qual passou para a infantaria de Peniche e, por fim, para o Porto, tendo sido ajudante-de-ordens do duque de Lafões.
Para este casamento, obtiveram dispensa do impedimento de 3.º grau de consanguinidade – por terem um bisavô em comum.
Filha única:
1.  D. MARIANA ANTÓNIA DO RESGATE DE SALDANHA CORTE-REAL DA CÂMARA E LENCASTRE (1784-1848), 3.ª Condessa da Lousã, herdeira da casa, que segue.

9.º
D. MARIANA ANTÓNIA DO RESGATE DE SALDANHA CORTE-REAL DA CÂMARA E LENCASTRE (1784-1848), 3.ª Condessa da Lousã, título obtido ainda em vida de seu pai a pedido deste (1795), por já ser considerada única herdeira. Era senhora do morgado de Cadafais, no concelho de Alenquer, e da comenda de São Vicente de Fornelos da Ordem de Cristo que já fora de seu pai. A família Lencastre descendia de D. Jorge de Lencastre (1481-1550), 2.º duque de Coimbra e fundador da Casa de Lencastre, filho natural do rei D. João II (1455-1495) e de D. Ana de Mendonça (c. 1460). 
Nasceu a 22-IV-1784 e foi baptizada a 1-V-1784 na freguesia das Mercês em Lisboa, no Oratório da casa de seu pai o 2.º Conde da Lousã, por D. António de Lencastre cónego da Igreja da Patriarcal, e apadrinhada por D. Pedro de Lencastre também ele cónego da Igreja Patriarcal, e por D. Ana Joaquina Jerónima de Saldanha que era tia do dito conde da Lousã. À data do seu baptismo morava no palácio dos seus pais à rua da Cruz (dos Poiais).
O seu «fatal falecimento», como se lhe refere o seu marido D. Diogo no seu próprio testamento, ocorreu a 26-III-1848 na sua Quinta das Amendoeiras, freguesia de Cadafais, concelho de Alenquer. Não foi uma morte súbita, pois, no seu assento de óbito, o pároco regista que «fez testamento» e recebeu o «sacramento da extrema-unção». Talvez tenha sido vítima de uma epidemia de disenteria bacilar (febre tifóide) que então grassou em Lisboa onde residia, o que a terá levado a procurar refúgio nos bons ares desta região onde tinha várias propriedades, e onde acabou sepultada na antiga igreja de N.ª Sra. da Candeias, posteriormente designada por N.ª Sr.ª da Assunção (reconstruída em 1680), no carneiro da família do seu fundador e parente António Carvalho de Sousa, assinalado com uma lápide armoriada do lado do evangelho na capela-mor, tudo isto hoje desaparecido na última reconstrução da citada igreja já em meados do século XX.
A localização do seu testamento seria fundamental para compreender o destino que tiveram alguns dos seus bens vinculados (morgadios dos Cadafais e dos Azeredos). 
Quando contava 17 anos de idade, a 23-XI-1801, casou no oratório da casa do conde da Lousã na freguesia de São Mamede em Lisboa (L. 3-C, f. 83 v.), com D. DIOGO JOSÉ FERREIRA DE EÇA DE MENESES (1772-1862) de 28 anos de idade, então morador na casa de seus pais na freguesia da Ajuda, o qual viria a ser, entre muitos outros cargos, Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e presidente do Real Erário (1821) «onde deixa uma reputação de proverbial honradez» 
D. Mariana Antónia do Resgate de
Saldanha Corte-Real da Câmara
e Lencastre (1784-1848),
3.ª Condessa da Lousã,
Morgada de Cadafais (Alenquer),
e da Casa dos Azeredo (Évora)
D. Diogo José Ferreira de Eça
de Meneses (1772-1862),
3.º Conde da Lousã,
Secretário de Estado dos
Negócios da Fazenda e
presidente do Real Erário (1821)
D. Mariana, dois anos após este casamento e por disposição testamentária feita a 18-II-1798 por sua bisavó D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real (f. 18-IX-1798), entrou na posse vários vínculos da Casa dos Azeredo que a esta competiam por já não serem vivos os naturais sucessores – a mãe e a avó –, o que a deixou na posse de uma apreciável fortuna em comparação com o seu marido D. Diogo, cujos bens livres fora dos morgadios de família, se foram repartindo por muitos filhos nas duas gerações anteriores.
Depois de casados, residiram em vários locais em Lisboa, acabando D. Diogo os seus dias na sua casa situada na então Rua Direita da Patriarcal, na freguesia de São Mamede.
Em fins de Maio de 1834, esteve de passagem nesta casa de Évora, pois, pouco tempo antes da assinatura da Convenção de Évora Monte que pôs fim à guerra civil, juntamente com o visconde de Santarém (cuja mulher era sua parente)[24], e também ele ministro do rei D. Miguel I, quase foi vítima da vanguarda liberal e dos excessos do povo quando fugia de Évora na sua carruagem em direcção a Elvas (Alorna, 1928: p. 93).
Seu marido era filho D. Rodrigo José António de Meneses (1750-1807), 1.º Conde de Cavaleiros, estimado governador-geral da capitania de Minas Gerais (1780-1783), e da Bahia (1784-1788), e de sua mulher D. Maria José Ferreira de Eça e Bourbon (1753-1796), 12.ª senhora da Casa de Cavaleiros, filha única herdeira por falecimento de seu pai quando contava 6 anos de idade; neto paterno de D. Pedro José de Alcântara de Meneses Noronha Coutinho (1713-1799), 4º marquês de Marialva, e de D. Eugénia de Assis Mascarenhas (n. 1722). Os marqueses de Marialva foram uma das mais aristocráticas e poderosas famílias de Portugal, ao serviço da Corte.
Não houve geração deste casamento, o que aliado à extinção dos morgadios no reinado de D. Luís I, por Carta de 19-V-1863, terá levado à dispersão e alienação do imenso património deste casal – nomeadamente o da condessa D. Mariana, senhora de vários vínculos – pela parentela mais afastada.

Trajectória e declínio da casa
Ao certo sabemos que, em meados do século XVII, esta casa já estaria na posse da família do «MORGADO DOS SENHORES AZEREDOS», na qual se terá mantido até à segunda metade do século XIX.
Nos finais do século XVII, uma senhora desta família casou com o 2.º conde da Lousã, facto este que popularmente lhe mudou a designação para CASA DO CONDE DA LOUSÃ, título da família Lencastre, descendentes do 2.º duque de Coimbra, o fundador da Casa de Lencastre, filho natural do rei D. João II (1455-1495) e de D. Ana de Mendonça (c. 1460).
A sua passagem à posse da família Lencastre, ficou a dever-se ao 1.º matrimónio de D. LUÍS ANTÓNIO FRANCISCO DE BASTO BAHAREM E LENCASTRE (1751-1830), 2.º Conde da Lousã, com D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), a herdeira primogénita desta casa, cujos antepassados conhecidos – AZEREDO, ABREU, CÂMARA, CORTE-REAL, OLIVEIRA, SALDANHA, SOUSA (do Prado) –, estavam ligados à elite da região eborense.
A frequente presença da Corte nesta cidade, nomeadamente a partir dos finais de Quatrocentos, levou à fixação em Évora de algumas influentes famílias da nobreza com outra origem geográfica, cruzando-se com gente com forte enraizamento local. As ligações matrimoniais surgidas, foram socialmente prestigiantes e de grande utilidade estratégica para a população local, pois, deste modo, puderam aproximar-se de uma nobreza de maior estatuto, almejando cargos de prestígio ao serviço régio.

Foi o caso de parte dos antepassados mais longínquos desta casa que, originários da capital, e do norte do país, se deslocaram para esta zona. Este território, situado perto da fronteira, foi atravessado ao longo dos séculos por vários conflitos, os quais requereram a presença de gente vinda de fora ao serviço da administração e da guerra.
Grande parte dos remotos ramos alentejanos desta família, em termos de escalonamento social não competiam com a alta nobreza, porém usufruíam de grandes fortunas adquiridas no Brasil, o que os tornava credores do reconhecimento no meio do grupo a que pertenciam.
A família AZEREDO, viu-se deste modo elevada a um destacado nível social, só entrando em declínio com o triunfo do regime liberal (1834), ao qual a maioria dos seus membros não aderiu. A partir daí, tiveram uma clara perda do seu poder de influência.
Foram estes acontecimentos que levaram ao abandono desta habitação, então uma casa secundária, das muitas que estavam na posse dos seus herdeiros os Condes da Lousã. Estes titulares, apoiantes do rei D. Miguel nas Lutas Liberais (1828-1834), com a queda deste pretendente absolutista, acabaram por abandonar a cidade, ficando a casa e as propriedades ao abandono (?), até que começaram a ser vendidas pelos herdeiros.
O declínio, assim como a dispersão deste património por herdeiros afastados, não foi alheio a falta de geração dos 3.ºs condes da Lousã – D. DIOGO JOSÉ e sua mulher D. MARIANA ANTÓNIA DO RESGATE – talvez os derradeiros herdeiros desta casa.
A citada D. MARIANA (1784-1848), herdeira de vários vínculos, entre os quais o dos Azeredos em Évora, faleceu prematuramente em 1848, e cerca de quinze anos depois sucedeu a morte de seu marido D. DIOGO (1772-1862), ministro do rei D. Miguel I, falecido em 1862. A esta última morte, seguiu-se a extinção dos morgadios em 1863, com a consequente dispersão do legado deste casal por vários herdeiros distantes – a machadada final no vasto património desta casa reunido ao longo de vários séculos; quer no Ribatejo, quer no Alto Alentejo.
Évora, Rua da Freiria de Baixo.
Nesta casa, em 1870 vivia um membro afastado desta família de apelido FALCÃO (Falcão Cota de Menezes?), de Braga, dos quais sabemos serem descendentes dos Azeredos de Évora, nomeadamente de António Saldanha Oliveira e Sousa (n. 1710) e de sua mulher D. Francisca Antónia de Azeredo Corte-Real. (1716-1798).
O golpe final na ancestral casa nobre dos Azeredos, uma família tradicionalmente conservadora e monárquica, foi-lhe dada poucos anos antes da implantação da república.
Parte deste enorme casarão – o n.º 28 da Rua da Freiria de Baixo – estava na posse do médio e jornalista republicano Dr. Evaristo José Cutileiro (1864-1913), seu arrendatário (?) que a 25-XI-1906 aí instalou o «Centro Republicano Democrático de Évora» no qual acolheu o jornal «A Voz Pública» (bi-semanário), assim como uma escola com aulas de instrução primária e um ginásio para a prática de “ginástica sueca”.
Posteriormente esta casa passou a «Pensão Residencial Policarpo» (1960), antecessora do actual hotel de charme «The Noble House», cuja reabilitação devolveu alguma dignidade a este casarão secular.

Pedra de Armas
Armas dos AZEREDO.
Os AZEREDO, usavam a seguintes armas: de azul com dez bastões de ouro em contra-banda. Timbre: um leão sainte de azul com os bastões do escudo.
Quanto à pedra de armas do seu portal, picadas aquando da sua venda, talvez em meados do século XIX, em virtude dos seus últimos proprietários nesta família, provavelmente os terceiros condes da Lousã – D. Diogo José e D. Mariana Antónia do Resgate –, não terem tido filhos do seu casamento. Este facto, acabou por dispersar este património por parentes colaterais, os quais terão alienado a casa em data que desconhecemos.
Outro brasão desta família, apeado da fachada em que se encontrava, foi parar ao Museu de Évora.
Museu de Évora, armas dos AZEREDO.
Esquartelado: 1º- SALDANHA e OLIVEIRA,
2º- CORREIA e AZEREDO,
3º- SOUSA (do Prado) e CÂMARA,
4º- CORTE-REAL e ABREU.
A pedra de armas existente no Museu de Évora, apresenta o seguinte esquartelado: 1.º – partido de SALDANHA e OLIVEIRA; 2.º – partido de CORREIA e AZEREDO; 3.º – partido de SOUSA (do Prado) e CÂMARA; 4.º – CORTE-REAL e ABREU. Encimada por um coronel de nobreza[25],
Estas são armas de costado, vindas pelos avós paternos (1.º e 3.º quartel) e maternos (2.º e   4.º), de D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), a presuntiva herdeira da Casa dos Azeredos, em Évora, que foi casada com D. LUIS ANTÓNIO DE LENCASTRE BASTO BAHAREM (1751-1830), 2.º conde da Lousã.
Esta senhora, 2.ª condessa da Lousã por seu casamento, veio a falecer a 19-III-1786 no palácio da família Lencastre à Rua da Cruz (dos Poiais), na freguesia das Mercês em Lisboa, sem testamento.
Este casamento foi vantajoso para ambas as partes. D. Maria Rosa, filha única de uma abastada família de Évora, ligou-se por este enlace a uma das mais nobres e distintas famílias da alta nobreza com grande proximidade com a corte, o que lhe aumentou o seu estatuto social. Seu marido, D. Luís, 2.º conde da Lousã, herdeiro de uma fortuna já muito fragmentada pelas numerosas proles dos seus antepassados – o seu avô D. Rodrigo de Lencastre (1677-1755) teve 11 filhos, e seu pai D. João de Lencastre (1713-1765), 1º conde da Lousã, teve 10 filhos –, alcançou, deste modo a estabilidade económica que a fortuna herdada de seus pais por si só não lhe permitiria.
Évora, Rua da freiria de Baixo.
Este ramo da família Lencastre, que se salientou ao serviço da administração colonial, mais do que o seu património, deixou aos seus descendentes uma herança imaterial baseada na sua fama, honra e prestígio, granjeada nos serviços que prestou à Coroa e á sociedade, os quais se materializaram na instituição do título do 1.º conde da Lousã (27-III-1765).
Foi este consórcio do 2.º conde da Lousã que tornou esta casa nobre popularmente conhecida por CASA DOS CONDES DA LOUSÃ, apesar destes, terem casas em Lisboa, onde viviam, e só episodicamente terem residido nesta casa de Évora, a qual certamente albergava alguma parentela colateral; o que não evitou ter-se desvanecido a memória da família que lhe deu o nome – os AZEREDO.


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Origem dos quartéis deste escudo de armas:

1.º – partido de SALDANHA e OLIVEIRA, provém do tetra-avô por linha materna de D. Maria Rosa, o qual foi JOÃO SALDANHA DE SOUSA (c. 1620-1672),  militar na Guerra da Restauração, mestre de Campo na Batalha de Montijo em 1644 (na província de Badajoz, Espanha), tenente general de cavalaria da Beira, governador das Armas de Setúbal, deputado da Junta dos Três Estados, e senhor de vários vínculos (Azinhaga e morgado de Barcarena).
Casou a 16-II-1656 no «oratório das Casas do Morgado de Oliveira» em Santa Catarina, Lisboa, com D. INÊS ANTÓNIA DE TÁVORA (n. 1642), filha de LUÍS FRANCISCO DE OLIVEIRA E MIRANDA (c.1600), 13.º senhor do morgado de Oliveira (Évora) e de Patameira (Torres Vedras), natural de Santarém, e de sua mulher D. LUÍSA DE TÁVORA (1609-1692), a qual, por morte de seu marido, fundou o Convento dos Cardais para acolher a Ordem das Carmelitas Descalças, onde se acolheu e aí morreu, à Rua Formosa (actual Rua do Século), em Lisboa.

2. º – partido de CORREIA e AZEREDO, provém do tetra-avô por linha materna, MIGUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1630), filho de SIMÃO CORREIA DE AZEREDOL (c. 1610), casado com D. CATARINA CORTE-REAL; neto paterno de MIGUEL DE AZEREDO (c. 1570) que teve Carta de Brasão de Armas de AZEREDO em 1604, e foi governador e capitão-mor da capitania do Espírito Santo (1593-1605), e de sua mulher D. LUÍSA CORREIA, filha PEDRO ÁLVARES CORREIA e de D. ANTÓNIA DE ABREU.

3.º – partido de SOUSA (do Prado) e CÂMARA: o 1.º do partido, contra-esquartelado, provém do tetra-avô por linha paterna que foi DIOGO LOPES DE SOUSA (c. 1595-1640), 2º conde de Miranda, 27º senhor da Casa de Sousa, governador do Porto, e presidente do Conselho da Fazenda e do Conselho de Estado em Madrid; e o 2.º do partido vem do trisavô por linha paterna de D. Maria Rosa, D. MANUEL LUÍS BALTAZAR DA CAMARA (1630-1673), 1.º conde da Ribeira Grande, capitão donatário da Ilha de São Miguel, Açores, que foi casado com D. MÉCIA DE MENDONÇA (n. 1627), filha do anterior Diogo Lopes de Sousa.

4. º – partido de CORTE-REAL e ABREU: o 1.º do partido, provém do tetravô por linha materna de D. Maria Rosa, o qual foi JOSÉ CHAVES ABREU, cavaleiro da Ordem de Cristo, filho de ANTÓNIO DE FREITAS E ABREU (f. 1609), natural de Braga e falecido a  5-XII-1609 em Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira, e de sua mulher D. JOANA DE FREITAS; e o 2.º do partido provém da mulher deste que foi D. FRANCISCA MARIA CORTE-REAL.


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QUINTA DA FIÚZA

Casa e capela da Quinta da Fiúza.

Do imenso património dos Azeredos, e dos seus sucessores os condes da Lousã, destacamos a Quinta da Fiúza (de fedúcia, que significa confiança) – "Fiúza em Deus", de seu nome original.
Esta propriedade situada junto a Évora, na extinta freguesia rural de São Matias – substituída pela actual freguesia de Guadalupe –, talvez devido à sua proximidade à cidade tornou-se muito apreciada como casa de campo desta família. Seria um refúgio sazonal á canícula de Évora.
O apreço dos Azeredo pela Quinta da Fiúza em Deus, em detrimento de outras propriedades agrícolas que tinham espalhadas pelo Alto Alentejo, é atestado pela preservação e decoração da sua capela com dois escudos de armas desta família: um deles pintado no tecto deste pequeno templo; o outro num painel de azulejos monocromáticos, em azul cobalto, encimando a cornija do seu portado de granito. A sua sóbria fachada é encimada por um tímpano triangular, com luneta e peanhas angulares encimadas por pequenas esferas de alvenaria, assim como um pequeno campanário sobre a fachada norte. O corpo da nave e da capela-mor apresenta uma abóbada cilíndrica. Originalmente teve um retábulo no seu altar barroco de talha dourada, com diversas imagens sagradas, assim como silhares de azulejos – vandalizados e arrancados devido a décadas de abandono e à sua utilização profana em actividades de apoio à agricultura.
São José do Egipto era orago desta capela, a qual terá sido fundada por um dos proprietários desta quinta que foi D. João de Bragança (f. 1609), nos finais do século XVI. Esta, apresenta elementos decorativos já do século XVIII (?), tais como dois escudos com o citado brasão eclesiástico do proprietário seguinte, o deão MANUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1690), que foi casado com Maria Micaela da Fonseca Pestana (c. 1690), e depois de viúvo viria a ingressar na vida religiosa.


Capela da Quinta da Fiúza, Brasão sobre a cornija do seu portado.
Esquartelado: 1º e 4.º- CORREIA, 2º- AZEREDO, 3º- CORTE-REAL.
Armas do Deão Manuel Correia de Azeredo Corte-Real (c. 1690)
Capela da Quinta da Fiúza, tecto.




Estas armas apresentam o seguinte esquartelado: o 1.º e 4.º - CORREIA; 2.º - ZEVEDO; e 3.º - CORTE-REAL. Timbre: um leão sainte (dos Azeredo), encimado por um chapéu eclesiástico com os respectivos cordões de 6 borlas (1, 2, e 3), pendentes da cada um dos lados. O alto-clero quase sempre assumia as suas armas, as quais neste caso são articuladas com as armas de família que lhe pertenciam por origem. Neste caso, omitiram-se os ornatos exteriores ao escudo: virol, paquife, mantel, elmo e timbre (num dos casos), que eram honras e dignidades mais apropriadas para a vida secular.
A pequena capela que em meados do século XVIII já estava na posse do deão MANUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1690), casado com Maria Micaela da Fonseca Pestana (c. 1690), que depois de viúvo ingressou na vida religiosa, foi palco de pelo menos dois importantes acontecimentos sociais desta família.
A 28-I-1753 nela ocorreu o baptismo de MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), filha única e herdeira do morgado de Cadafais no concelho de Alenquer, e presuntiva herdeira do morgado da Casa dos Azeredos em Évora. O oficiante foi o proprietário da capela, o já citado deão da Sé de Évora, seu bisavô, o qual lançaria este assento nos livros da Sé da cidade como ocorrido na «capela das minhas casas».
A 3-III-1772 foi palco do casamento da mesma senhora D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786) com D. LUÍS ANTÓNIO FRANCISCO DE BASTO BAHAREM E LENCASTRE (1751-1830), 2.º conde da Lousã.

Enquadramento histórico
A Quinta da Fiúza foi na sua origem uma propriedade latifundiária que, em tempos medievais, era descrita como uma «quintã com suas herdades». 
Ao longo do tempo foi acrescentada por emparcelamentos, dos quais se destacam inicialmente a extensa herdade do Monte do Azinhal, antigo morgadio do Azinhal (1589), a qual englobava a Mouzinheira, e a Courela da Machoqueira (Barata, 1904: 1-2). 
Através dos últimos séculos foi mudando de mãos, estando quase sempre na posse da elite eborense, da qual se destacaram vários fidalgos da Casa Real, assim como cónegos da Sé de Évora.
A primeira vez que vemos mencionada esta emblemática propriedade, foi no século XIV quando foi doada pelo rei D. Pedro I (1357-1367) a FERNÃO GONÇALVES DE ARCA (c. 1386), o Velho, cuja família tirou o nome do Vale de Arca, no termo de Montemor-o-Novo, segundo referem os genealogistas. Posteriormente esta doação foi confirmada pelo rei D. Duarte I (1391-1438), ao seu filho homónimo (Espanca, 1957: 101-102).
Monte do Azinhal, casa já desaparecida
Este fidalgo, muito honrado no tempo do rei D. Fernando I (1345-1383) e D. João I (1357-1433), o Mestre de Avis, foi um dos apoiantes deste último monarca nas suas pretensões ao trono. Como regedor de Évora, com grande coragem e sucesso, levantou o povo contra os partidários de D. Leonor de Telles de Castela. Esta atitude valeu-lhe um rápido percurso ascensional na oligarquia política eborense, ocupando cargos da maior responsabilidade na governança da cidade e acumulando uma imensa fortuna fundiária. Teve filhos, um deles homónimo, mas não se sabe com quem casou (Serra, 2016).
A Fiúza em Deus, e a herdade do Monte do Azinhal, no seu imenso território, teriam certamente uma casa fortificada devido à instabilidade da época.
A família Arca não ficou muitas gerações na posse desta terra, pois, nos séculos seguintes, ela teve vários senhorios até ser adquirida (ou herdada?) pela família Azeredo.
Em 1494, a Fiúza era de Pedro Homem (f. 1498?), estribeiro-mor do futuro rei D. Manuel I, o qual, além cortesão, foi um humanista e poeta com trovas e cantigas de sua autoria no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), cujo original esteve na sua posse (Ramos, 2017: 9-33).
O Monte do Azinhal, que lhe foi incorporado, foi instituído como morgado (1539) por Rodrigo Homem, o qual veio parar à mãos de Luís Freire da Andrade por sucessão de sua mãe Antónia Pereira Barredo. João Freire de Andrade (f. 1589), senhor da Bobadela (Oliveira do Hospital), foi casado duas vezes e teve uma única filha que faleceu em criança. Porém, teve um filho bastardo que não foi reconhecido herdeiro, pelo que o vínculo do Azinhal passou à Coroa por falta de sucessão legitima (Barata, 1904: 1-2).
O proprietário seguinte da Quinta da Fiúza, talvez por doação régia, foi D. João de Bragança (f. 1609), cónego da Sé de Évora, inquisidor (1592), bispo de Viseu (1599-1609), falecido em 1609 na cidade de Évora; filho de D. Francisco de Melo (f. 1588), 2º marquês de Ferreira, e de sua mulher D. Eugénia de Bragança (c. 1530), antepassados da Casa Cadaval. Como fundador da capela, obteve autorização do Cabido da Sé para aí se poder celebrar ofícios religiosas a 8-XI-1597.
A este sucedeu outro proprietário que foi o Dr. Tomé Álvares Velho (f. 1672), filho de um homónimo, natural de Vila Viçosa, cónego da Sé de Évora, nomeado capitão de uma companhia de clérigos que em 1651 lutou na Guerra da Restauração opondo-se ao príncipe castelhano D. João de Áustria quando este ocupou a cidade em Junho de 1663. Foi reitor da Universidade de Évora (1663) e teve de D. Maria Teles, “hua molher livre desobrigada e de bons parentes[26], natural de Évora, uma filha natural que foi D. Maria Teresa Landim Velho (n. 1661)[27], baptizada a 2-III-1665 em Évora e legitimada por seu pai a 25-IV-1665, e sua herdeira para a qual instituiu um morgado com a grande fortuna que juntou[28].
Desconhecemos qualquer documentação que ateste se D. Maria Teresa foi a herdeira da Quinta da Fiúza, porém sabemos que foi casada com Pedro Mascarenhas da Gama, moço fidalgo da Casa Real, senhor do morgado Quinta de Madre de Deus, também conhecida por Quinta dos Mascarenhas, então no termo de Estremoz (hoje no concelho de Vila Viçosa), que nela residiu, dando origem à aldeia de Bencatel através de aforamentos que foi fazendo[29]
A esta família, na posse da Quinta da Fiúza, sucedeu finalmente a família AZEREDO, ao que parece na geração de MIGUEL CORREIA DE AZEREDO CORTE-REAL (c. 1630) que foi casado com D. Luísa Rolim (filha de Manuel de Faria da Costa, e de sua mulher D. Catarina Landim), já mencionada. Nela fez várias beneficiações, incluindo dois escudos com as suas armas
Permaneceu nesta linhagem durante várias gerações, até que os descendentes de D. Luís António Francisco de Basto Baharem e Lencastre (1751-1830), 2.º Conde da Lousã, afectos à causa do absolutista e do rei D. Miguel, se desfizeram desta quinta nos finais de Oitocentos. Isto terá ficado a dever-se às mudanças políticas talvez e à falta de talento destes para a actividade agrícola, pelo que ela foi parar às mãos de uma família de grandes lavradores afectos à causa liberal.
Esteve na posse do conde de Murça, ao qual passou talvez a partir de um dos herdeiros da família Azeredo (desconhecemos qual), e  terá sido adquirida por José Maria Ramalho Dinis Perdigão (1830-1884), o qual reuniu mais de 50 propriedades agrícolas – entre as quais a Fiúza – que fizeram dele um dos maiores latifundiários alentejanos da segunda metade do século XIX.
Este grande proprietário, com origem na emergente burguesia liberal Oitocentista, mais tarde nobilitada, iniciou em Évora a edificação da sua grande casa apalaçada (1857?), só terminada depois da sua morte, o qual ficaria conhecido por Palácio Barahona (actual Tribunal da Relação de Évora), nome tirado do proprietário seguinte que foi o segundo marido da sua mulher, a qual casou duas vezes e não teve filhos.
As primeiras núpcias deste grande terratenente foi com a abastada D. Inácia Angélica de Matos Fernandes (1844-1918), que enviuvou muito nova, sem filhos, pelo que passou a segundas núpcias (1887) com  o abastado Francisco Eduardo de Barahona Fragoso Cordovil da Gama Lobo (1843-1905)[30], bacharel em Direito, par do reino, moço-fidalgo da Casa Real (alvará de 30-X-1862), um dos maiores beneméritos da cidade de Évora, filho de José Maria de Barahona Fragoso Cordovil da Gama Lobo (1816-1895), 1º conde da Esperança.
Como não houve filhos de ambos os casamentos, o imenso património de D. Inácia Angélica, que sobreviveu aos dois maridos, foi distribuído por 16 dos seus sobrinhos por testamento feito a 11-IX-1911.
Sabemos que a Quinta da Fiúza coube a um destes herdeiros, de apelido Fernandes, cujos descendentes a venderam ao actual proprietário que é o Dr.  Manuel Calejo Pires (n. 1961), advogado, gestor, grande lavrador e ganadeiro, residente em Évora.

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Bibliografia:

ALORNA, Marquês de Fronteira e de – Memórias do marquês de Fronteira e de Alorna, vol. 5. Lisboa: Imprensa ad Universidade de Coimbra, 1928.
BARATA, António Francisco Barata – Évora e os seus arredores. Évora: Notícias de Évora, 1904.
COSTA, António Carvalho da – Corografia portuguesa e descrição do famoso reino de Portugal… vol. 2. Lisboa, Valentim da Costa Deslandes, 1708.
COSTA, João Paulo Oliveira e – Vasco Fernandes Coutinho, Construtor do Estado da Índia e do Brasil. In: D. João III e a Formação do Brasil. Lisboa: Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesas. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, 2004.
ESPANCA, Túlio – Património Artístico do Concelho de Évora. Évora: Câmara Municipal de Évora, 1957.          
RAMOS, Maria Ana Gassmann – «Os segredos das encadernações de um cancioneiro inacabado». In DUMANOIR, Virginie, edit. – De Lagrimas Fasiendo Tinta. Madrid: Casa de Veásques, 2017.
RTHG – Revista Trimensal de História e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, Tomo IV (1842), Tomo V (1843). Rio de Janeiro: Imprensa Americana de I. P. da Costa
SALETTO, Nara – Donatários, colonos, Índios e jesuítas: o início da colonização do Espírito Santo. Vitória: Arquivo Público Estadual, 1998.
SALVADOR, José Gonçalves de – A capitania do Espírito Santo e seus engenhos de açúcar (1535-1700): a presença dos cristãos-novos. Vitória: Secretaria de Produção e Difusão Cultural – UFES / Departamento Estadual de Cultura, 1994.
SERRA, Joaquim Bastos – Governar a cidade e servir o rei. A oligarquia concelhia de Évora em tempos medievais (1367-1433). Évora: Publicações do CIDEHUS, 2018.
SIMONATO, Juliana Sabino – A Capitania do Espírito Santo sob a égide dos Filipes: escravidão, comércio de escravos e dinâmicas de mestiçagens (1580-1640). Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2017.
SOUSA, António Caetano de – História genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo XI. Lisboa, Sylviana, 1714.  
VIOTTI, Hélio – Qualificação e depoimento das testemunhas nos processos anchietanos mais antigos, «Revista da ASBRAP», n.º 3. São Paulo, Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, 1996

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Notas:
[1]     ANTT, Odiana, I, fl. 13; IV, fl. 69v; Cnanc. D. João II, XII, fl. 17.
[2]     Aceredo, na língua galega.
[3]   «CASA DO MORGADO DOS SENHORES AZEREDO», como é referida no testamento aí feito a 18-II-1798 por D. Francisca Antónia de Azeredo Corte Real (f. 18-IX-1798).
[4]   VASCO FERNANDES COUTINHO (c. 1480), serviu durante duas décadas a coroa portuguesa na índia, no Extremo Oriente e na África do Norte, destacando-se pela sua bravura. Foi alcaide-mor da fortaleza de Ormuz no Golfo Pérsico, e esteve na conquista de Goa (1510), e do porto de Malaca (1511). Em recompensa dos seus serviços, recebeu do rei D. João III a Carta de Doação e o Foral da Capitania do Espírito Santo, no Brasil (1-VI-1534). Dos seus dois casamentos teve filhos legítimos, e um ilegítimo, o homónimo Vasco Fernandes Coutinho (c. 1530), seu sucessor como capitão donatário do Espírito Santo, Brasil. Era filho de Jorge de Melo (c. 1460), o Lagio, descendente dos alcaides-mores de várias praças de guerra alentejanas, e de sua mulher D. Branca Coutinho (c. 1460).
[5]   O brasão de Vasco Fernandes Coutinho é o mesmo da actual Universidade Federal do Espírito Santo: de ouro com cinco estrelas de cinco raios de vermelho, postas em sautor; por Timbre, um leopardo de vermelho, armado e lampassado de ouro, carregado de uma estrela de cinco raios do mesmo na espádua, tendo uma capela de flores na garra direita.
[6]  Segundo a tradição, atribui-se à freguesia da Ventosa a existência de paços da família real que a rainha Santa Isabel (1271-1336) transformou em albergaria para acolher os pobres, ligando-se este facto ao conhecido milagre das rosas. Diz uma tradição local que aqui se terão iniciado as festas Divino do Espírito Santo, rapidamente espalhadas por todo o reino, as quais acabaram por passar aos Açores e ao Brasil.
[7]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 44, n.º 29.
[8]    Carta de Felipe III ao governador-geral, 22-2- 1613, in Taunay, 1929, Vol. V, pp. 250-251.
[9]   Os descendentes de MARCOS DE AZEREDO (1559-1618?), povoaram grande parte das províncias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Entre eles, salientamos: 1.º - o bisneto, capitão COSME DE AZEREDO COUTINHO (1655-1723), senhor do Engenho de Itapacorá, falecido no Rio de Janeiro com testamento datado 1723; 2.º - o bisneto, DR. DIOGO DE AZEREDO COUTINHO (n. 1665), bacharel pela Universidade de Coimbra, juiz de Fora em Aldeia Galega (9-III-1696), Portugal; 3.º - o bisneto, CLEMENTE PEREIRA DE AZEREDO COUTINHO (1673- 1739), capitão-mor de Sabará (Minhas Gerais), senhor do Engenho de Itaúna e Guaxindiba, de sítios na Freguesia de São Gonçalo (Rio de Janeiro), e em Minas Gerais, para onde foi em 1709, onde foi Senhor do Engenho do Arraial Velho, junto à Vila Real, e de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, o qual teve Carta de Brasão de Armas. Do seu casamento a 16-IV-1698, na Igreja de N. S. da Ajuda, no Rio de Janeiro com Helena de Andrade Souto­Maior (c.1669), descende parte da família Andrade Souto Maior, do Rio de Janeiro, incluindo nesta descendência, o marquês de Itanhaém; 4.º - a bisneta, D. BÁRBARA VIEGAS DE AZEREDO (1668-1738), casada em segundas núpcias a 25XII-1697, com seu primo em 4.° grau, o coronel Francisco de Macedo Freire, senhor de Engenho em Inhaúma, de quem descendem parte dos Sá Freire e Macedo Freire; 5.º - o terceiro neto, ANTÔNIO DE AZEREDO COUTINHO (c.1678), o Flexa, senhor do Engenho de Itapacorá; 6.º - a terceira neta, D. HELENA DE AZEREDO COUTINHO (1700-1746), de quem descende os Pereira de Faria Coutinho; 7.º - a terceira neta, MARIA JOSEFA DE AZEREDO COUTINHO (c. 1712), que foi a matriarca da família Pinto Coelho da Cunha, de Minas Gerais; 8.º - o quarto neto, MARCOS DE AZEREDO COUTINHO (c.1703-1750), tenente-coronel da Nobreza, senhor de Engenho em Itapacorá; 9.º - o quarto neto, capitão JOÃO FREIRE DE AZEREDO COUTINHO (c. 1717), capitão de uma das Companhias do Esquadrão de Cavalaria Auxiliar, senhor de Engenho em Itapacorá, distrito da Vila de Santo António de Sá, no Rio de Janeiro; 10.º - o quarto neto, FRANCISCO MARTINS DA CUNHA TENREIRO (n.1720), nascido no Rio de Janeiro, tenente­-coronel do Regimento de Itapacorá, fidalgo da Casa Real; 11.º - o quarto neto, desembargador JOÃO PEREIRA RAMOS DE AZEREDO COUTINHO (1722-1799), natural do Rio de Janeiro, falecido em Lisboa, de quem descendem alguns Arnaut de Rivo do Rio de Janeiro, formado pela Universidade de Coimbra, doutor em Cânones (1744), lente da Universidade de Coimbra, desembargador do Paço, procurador da Coroa; 12.º - o quarto neto, D. JOSÉ JOAQUIM DA CUNHA DE AZEREDO COUTINHO (1742-1831), Bispo de Pernambuco [1794] e Bispo de Elvas (1806), Portugal; 13.º - o quinto neto, CLEMENTE PEREIRA DE AZEREDO COUTINHO (1731-1774), nascido em  Marapicú, Rio de Janeiro, falecido em Lisboa, militar, e governador da Capitania do Maranhão; 14.º - o quinto neto, desembargador MANUEL PEREIRA RAMOS DE AZEREDO COUTINHO RAMALHO, nascido em Santos-o-Velho, Lisboa, Moço Fidalgo, com geração em Portugal, e filho do citado desembargador João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho; 15.º - o quinto neto, desembargador FRANCISCO DE LEMOS PEREIRA DE FARIA COUTINHO (n. 1778), nascido em Santos-o-Velho, Lisboa, filho do citado desembargador João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, foi  Moço Fidalgo, Conselheiro, Desembargador, 3.° Senhor do Morgado de Marapicú, no Rio de Janeiro, que retornou ao Brasil, casado  com D. Maria Carolina Pinto Coelho da Cunha, irmã do barão de Cocaes, membros da importante família Pinto Coelho da Cunha, de Minas Gerais; 16.º - o quinto neto, D. FRANCISCO DE LEMOS DE FARIA PEREIRA COUTINHO (1735-1822), bispo de Coimbra, reitor da Universidade de Coimbra, foi agraciado com o título de conde de Arganil; 17.º - o sexto neto, FRANCISCO DE MACEDO FREIRE DE AZEREDO COUTINHO (1746-1823), natural de Inhaúma, Rio de Janeiro, senhor do Engenho Tiririca, Rio de Janeiro, matriculado a 23-X-1773, na Universidade de Coimbra, onde se formou em Leis, capitão-mor de Cabo Frio (18-I-1803), fundou na margem oci­dental da Lagoa de Araruama um porto; 18.º - o sexto neto, FRANCISCO DE LEMOS PEREIRA DE FARIA COUTINHO (n. 1820), nascido em Minas Gerais, que foi, por seu casamento, visconde de Aljezur, Portugal; 19.º - o sexto neto, MANUEL INÁCIO DE ANDRADE SOUTO MAIOR PINTO COELHO, marquês de ltanhaém; 20.º - o sexto neto, BENTO ANTÓNIO VAHIA, conde de Sarapuí; 21.º - o sexto neto, MANUEL DE AZEREDO COUTINHO MESSEDER, natural do Rio de Janeiro, cavaleiro da Ordem de Cristo, que teve Carta de Brasão de Armas; 22.º - o sétimo neto, major JOÃO BARBOSA DE AZEREDO COUTINHO (1875), fazendeiro de Café em Araruama, Juiz de Paz; 23.º - o sétimo neto, coronel JOSÉ FELICIANO PINTO COELHO DA CUNHA, barão com honras de grandeza de Cocais, de Minas Gerais; 24.º - o sétimo neto, conselheiro AURELIANO DE SOUZA E OLIVEIRA COUTINHO, que foi agraciado com o título de visconde de Sepetiba, do Rio de Janeiro; 25.º - a sétima neta, D. CECÍLIA ROSA DE ARAÚJO VAHIA, condessa de Iguaçú; 26.º - o sétimo neto, SATURNINO DE SOUZA E OLIVEIRA COUTINHO (n. 1803), natural do Rio de Janeiro, matriculado no curso de Direito da Universidade de Coimbra (23-XI-1820), bacharel em Direito (21-VII-182), Ouvidor da Comarca do Rio Negro (1827), Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, Capelas e Resíduos, da Comarca do Rio Negro (Alvará Régio de 22-I-1827). Alguma desta descendência, rumou a Lisboa.
[10]  Lançarote de Azeredo, após ter enviuvado, foi para frade capucho.
[11]  D. Luísa Grimaldi (1541?-1626?), depois de viúva, professou no já demolido Mosteiro de Nossa Senhora do Paraíso, em Évora, com o nome de Luísa Grimaldi das Chagas.
[12]  A casa dos “Azeredos Corrêas d’Évora”, vem referida em «Annaes do Rio de Janeiro pelo Conselheiro Balthazar da Silva Lisboa» (Tomo 1.º Cap. VI),
[13]  João Álvares de Azeredo (1545) era bisneto Álvaro Rodrigues de Azeredo, escudeiro-fidalgo, juiz da cidade do Porto (1469), e chanceler da província de Entre Douro e Minho.
[14]   In http://www.guia.heu.nom.br/genealogia/LanceroteAzevedo_IsabelDiasSodre.html
[15]   ADE (Arquivo Distrital de Évora), Testamento de Simão Correia de Azeredo, Cx. 4, n.º 32
[16]  D. CATARINA CORTE-REAL é provavelmente da família dos descobridores e colonizadores da Terra Nova (Canadá). Um seu provável parente próximo foi Jerónimo Corte Real (1530?-1588), f), neto materno de Garcia de Melo (c. 1440), alcaide-mor de Serpa.
     Serviu no Oriente e do Norte de África e, contando já uma avançada idade, foi feito prisioneiro em Alcácer Quibir. Quando regressou a Portugal, foi viver para a sua Quinta de Vale de Palma, nas proximidades de Évora. Foi nomeado Provedor da Misericórdia de Évora (1586).
     Cultivou a música e a pintura, ilustrando ele mesmo os seus poemas. Na Igreja de Santo Antão, Capela das Almas, há volumoso retábulo maneirista de sua autoria representando «São Miguel e as Almas do Purgatório», do último quartel do século XVI. Há outro painel que lhe é atribuído, no dormitório do Convento de Santa Clara, em Évora, e do qual se desconhece o paradeiro.
[17]   ADE, Testamento do padre José Correia de Azeredo Corte Real (1751), Cx.31, n.º 47.
[18]   Ibidem.
[19]   ADE, Testamento de Catarina Landim Velha (1660), Cx. 8, n.º 9.
[20]   ADE, Testamento de Simão Correia de Azeredo Corte Real (1709), Cx. 8, n.º 136.
[21]   ADE, Proc. N.º 1107, Mç. N.º 54.
[22]   ADE, Testamento de Francisca Antónia de Azeredo Cort- Real, 1803, Pç. 155, Cxª 12.
[23]  GASPAR DE ABREU DE FREITAS, desembargador da Casa da Suplicação, do Conselho de El-Rei e de Sua Fazenda, comendador da Ordem de Cristo, embaixador a Roma, Holanda e Inglaterra.
[24]  Manuel de Barros Leitão e Carvalhosa (1791-1856), 2.º visconde de Santarém era casado com D. Maria Amália de Saldanha da Gama Melo e Torres (1798-1866), filha do 6.º conde da Ponte.
[25] Coronel de Nobreza – espécie de coroa aberta, semelhante à dos barões, com uma fieira de pedras preciosas postas ao meio e paralelamente aos bordos, engastadas em peças com a forma de losango (rubis) e paralelogramo (esmeraldas), com pérolas pequenas a separá-las.
[26] Segundo uma habilitação para o Santo Ofício de Pedro Mascarenhas da Gama, sua sogra D. Maria Teles, era filha de Domingos Simões, de Vila Viçosa, e de Domingas Teles, da cidade de Évora.
[27]  D. MARIA TERESA DE LANDIM VELHO (N. 1661), é o nome que lhe dá Túlio Espanca, enquanto Felgueiras Gaio dá-lhe o nome de Maria Teresa Teles.
[28]  No processo de habilitação de Pedro Mascarenhas da Gama para FSO, sua mulher é dada como filha (legitimada em 25-4-1665) de Tomé Álvares VELHO, cónego da Sé de Évora.
[29]  Antes de 1680 ainda não existia a aldeia de Bencatel.
[30]  Francisco Eduardo de Barahona Fragoso Codovil da Gama Lobo (1843-1905), doou à cidade de Évora a colecção de escultura e pintura, hoje na Biblioteca Pública de Évora / Museu de Évora, tendo igualmente edificado a expensas suas o teatro Garcia de Resende e o Asilo Ramalho-Barahona.