2020-01-11

Os PROENÇA (da Covilhã) e GOULÃO (de Alcains), na origem da cidade de PETRÓPOLIS (Rio de Janeiro)


Palácio Imperial de Petrópolis (actual Museu Imperial)

Introdução
Nas diversas pesquisas genealógicas feitas nos distritos de Castelo Branco e da Guarda, em Portugal, deparámo-nos com duas antigas famílias de pioneiros que desbravaram o sertão brasileiro e obtiveram sesmarias na região do Rio de Janeiro[1]. São elas os PROENÇA da Covilhã, e os GOULÃO de Alcains.
PROENÇA
Estes dois clãs familiares, na sua origem pequenos lavradores/agricultores de sucesso devido à rentabilidade das suas fazendas na região da Beira Baixa, em Portugal, começaram a sua lenta ascensão social em meados do século XVI.
Devido ao se esforço bem-sucedido, vieram a ser recompensados com o estatuto de fidalgos de cota de armas (brasão). Alguns deles, por alianças matrimoniais, vieram a ligar-se à pequena nobreza desta região.
Ramos mais desfavorecidos destas famílias, viriam a emigrar para o Brasil onde se distinguiram pelas fortunas aí acumuladas, e pelos serviços prestados. O seu sucesso seria recompensado com a concessão de várias sesmarias de terras incultas que lhes foram doadas junto ao Rio de Janeiro, no primeiro quartel de Setecentos. Algumas destas terras, pouco produtivas, deram origem a um pequeno povoado agro-pastoril que, mais de um século depois, serviu de assentamento à cidade imperial de PETRÓPOLIS, um dos mais aprazíveis aglomerados urbanos desta região.
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O escudo do brasão de Petrópolis, datado de 11-VI-1894, com sucessivas alterações que lhe melhoraram a estética, apresenta actualmente um escudo mantelado, cujo chefe, de azul, apresenta a sigla PII (Pedro II) encimada pela coroa imperial, de ouro; o contrachefe tem o vértice um pouco abaixo do bordo do chefe e, representa a Serra da Estrela (no sertão do Rio de Janeiro), de ouro, carregada com uma águia de uma só cabeça, de negro, armada e membrada de vermelho.

Curiosamente, a águia representa os colonos germânicos que povoaram Petrópolis; mas, involuntariamente, também é a águia do timbre das armas da família Proença cujas propriedades estiveram na origem desta cidade.


As sesmarias da região de Petrópolis
Curiosamente, a serra onde se estabeleceu a magnífica urbe de Petrópolis, após a descoberta do Brasil (1500) ficou quase intocada por cerca de mais de dois séculos, devido ao seu acidentado relevo e à hostilidade dos indígenas que aí habitavam. Era então conhecida por Serra Acima do Inhomirim” ou “Sertão dos Índios Coroados” e, por iniciativa dos primeiros povoadores que nela se fixaram, veio a ser designada por Serra da Estrela.
Serra da Estrela (gravura).
A designação deste importante relevo montanhoso – apesar de outras possíveis interpretações – parece ser derivada do nome de uma serra homónima que, sendo a mais alta montanha de Portugal continental, está situada na região de origem destas duas famílias de povoadores. Também sabemos que nesta região do Brasil há um arreigado culto a Nossa Senhora da Estrela; quiçá derivado de um dos maiores cultos medievais da freguesia da Boidobra, junto á Covilhã[2].
Nos finais do século XVIII, o quase esgotamento dos abundantes minerais preciosos até aqui explorados, levou à reorientação da política ultramarina em relação ao Brasil, a qual foi então direccionada para exploração das riquezas agrícolas e pecuárias desta Colónia.
Encontro de índios com viajantes
europeus
Foi por esta altura que se incrementou a atribuição de sesmarias na região do Rio de Janeiro, destinadas a empreendimentos agrários para desbravar o sertão, explorando a silvicultura, as frutíferas, e a pecuária: tudo isto necessitando de caminhos mais rápidos e seguros para abastecer os grandes meios urbanos que começavam a surgir.
Regra geral, estas concessões tinham o tamanho de uma légua quadrada (6.600x6600m), 3.600 hectares, sendo posteriormente reduzidas para meia légua, ou menos.
Os seus donatários – ou sesmeiros –, quando requeriam a atribuição destas “quadras”, nome pelo qual vulgarmente eram conhecidas, deviam demonstrar possuir escravos para o trabalho braçal.
Em contrapartida, exigia-se aos sesmeiros a prestação de alguns serviços a favor da Coroa, ou da comunidade local, os quais nesta região eram:

1.  Manter conservada a via de comunicação entre as Minas e o porto do Rio de Janeiro;
2.  Proporcionar abrigo e alimentação aos tropeiros, funcionários e animais de carga;
3.  Prestar serviços de travessia dos rios por meio de canoas;
4.  Construir e manter em bom estado pontes sobre os rios;
5.  Propagar o Cristianismo;
6.  Manter o monopólio sobre as riquezas naturais, em especial de madeira, para a construção de navios e cuidar do seu replantio.

Estas obrigações não impediam a sua posterior divisão por sucessões hereditárias ou vendas a terceiros, o que contribuiu para o aumento dos produtores agrícolas e florestais desta região, com o surgimento de diversas roças ou fazendas menores, muitas delas atribuídas a amigos dos sesmeiros originais.

Os pedidos destas concessões começavam por ser encaminhados à Câmara Municipal da Vila de Magé, a antiga Magepemirim (fundada em 1566), à qual estava subordinado o território desta região.
Não havendo nenhum obstáculo por parte do município, que verificava se as terras a concessionar não tinham dono nem estava ocupada por posseiros[3], estes pedidos eram remetidos ao Provedor da Coroa que verificava se esta atribuição servia os interesses da Coroa.
Feita a mediação da sesmaria, o Governador produzia o respectivo documento de doação – foral –, o qual, após dois anos da sua posse com o cumprimento das obrigações impostas e o bom aproveitamento das terras agrícolas, era confirmada por carta régia.
Segundo regista a História de Petrópolis[4], as mais antigas sesmarias aí atribuídas foram doadas em 1686 na “subida da serra da Estrela” – Fazenda do Alto da Serra – a dois irmãos: o padre Francisco de Matos Filgueiras e João Matos de Souza, cuja atribuição ficou documentada na posterior Carta Régia de 22-VIII-1686.
Com estas, houve outras duas que foram concedidas a 12-IX-1686 no “sertão de Inhomirim da Serra-acima", ao capitão João da Silveira Garcês[5], e a Gonçalo Fernandes Pires.
Já nos princípios do século XVIII, foram ainda atribuídas algumas quadras no vale do Rio Piabanha, onde este atravessava o território da futura Petrópolis. A primeira destas foi a de José Ferreira da Fonte (c. 1713), secretário do governo da Capitania do Rio de Janeiro (1721), que aí obteve a denominada “Quadra do Secretário” (1703), e bem mais tarde a “Quadra de Magé” (1734).
A estes sesmeiros, na ocupação do futuro solo petropolitano, sucederam ainda o capitão Luís Peixoto da Silva, na sua “Quadra das Araras” (1723), posteriormente chamada Fazenda do Rio da Cidade, a qual viria a seria vendida a Manuel Antunes Goulão (f. 1770), natural de Alcains; Eusébio Alves Ribeiro, na “Quadra das Pedras”; Francisco Moniz de Albuquerque, na “Quadra do Alcobaça” (1741) e na “Quadra da Paciência” (1743), mais tarde vendidas a Manuel Correia da Silva (f. 1784), casado com D. Brites Maria da Assunção Goulão (1722-1800?), natural de Alcains, filha de Manuel Antunes Goulão (f. 1770).

Posteriormente, vemos aí dois beirões contemplados com a atribuição de sesmarias.
Petrópolis, Fazenda do Córrego Seco.
O primeiro destes é BERNARDO SOARES PROENÇA (f. 1735) que recebe a “quadra do Itamarati” (1721), da qual se desmembrou a “Fazenda do Córrego Seco[6] – mais tarde comprada pelo futuro Imperador D. Pedro I (1798-1834) do Brasil –; assim como MANUEL CORREIA GOULÃO, que recebe a então designada “Quadra do Rio Morto” (1723), também conhecida por Sítio da Posse ou Sítio do Correia, uma exploração agrícola modelo com alta produtividade agrícola, em contraciclo com alguma pobreza dos seus solos, assim como a hostilidade dos Índios .
Esta últimas quadras viriam a servir de berço à cidade de Petrópolis (Petrus+Pólis), fundada por iniciativa do Imperador D. Pedro II (1825-1891).
Uma delas, conhecida por sesmaria Itamaraty de Bernardo Soares Proença, então no meio da mata virgem, veio a dar origem ao bairro de Itamarati, o núcleo inicial da cidade de Petrópolis onde ele construiu a sua residência num ponto extremo desta propriedade[7].
Nesta fazenda hospedava os seus parentes e amigos, divulgando deste modo os singulares encantos da natureza deste local privilegiado, induzindo-os a obterem sesmarias à beira do novo caminho que abriu a expensas suas, o que potenciou o rápido desenvolvimento desta região.

Com a morte de Bernardo Soares de Proença (f. 1735), seu filho ANTÓNIO PROENÇA COUTINHO BETENCOURT sucedeu-lhe na posse do que restava das terras do Itamarati, um lote de 770 braças[8], parte da sesmaria inicial.
A este último sucederia o seu filho, neto do fundador, o capitão ANTÓNIO BERNARDO PROENÇA, o qual acabou por vender a terra restante da sesmaria inicial a João Leite Pereira (19-XI-1789). A partir deste último, por venda, passou à posse de outros proprietários, um dos quais se endividou tanto que para saldar o passivo acabou por vendê-la ao Imperador D. Pedro II.
Estes pioneiros pertenciam a duas relevantes famílias: a dos PROENÇA, originária da Covilhã, na qual se destacou FÉLIX DE PROENÇA MAGALHÃES (1649?-1735), e o seu filho o sargento-mor BERNARDO SOARES PROENÇA (f. 1735); assim como a família GOULÃO, natural de Alcains, celebrizada no Brasil apenas pelo sobrenome CORREIA, onde se destacou MANUEL CORREIA GOULÃO.
Estas duas linhagens familiares, conhecidas desde o início do século XVI em Portugal, tinham origem em antigos proprietários rurais que viviam da sua lavoura, na qual granjearam apreciáveis cabedais, o que lhes facultou a mobilidade social, acabando por ascender à categoria de fidalgos de cota de armas. 
Passaram ao Brasil onde se destacaram a arrotear as terras incultas do sertão onde acabaram por estabelecer fazendas de alta produtividade, as quais viriam a despertar a atenção do futuro D. Pedro IV (Pedro I do Brasil) que as adquiriu, e mais tarde serviram de assentamento à Cidade Imperial de Petrópolis.



A FAMÍLIA PROENÇA
(Covilhã)
Os PROENÇA, na sua origem tardo-medieval, faziam parte de um clã de pequenos proprietários rurais que se espalharam pelo centro de Portugal, nomeadamente pela Beira Interior. 
Tiveram a sua lavoura em várias freguesias dos concelhos da Guarda e da Covilhã, este último outrora muito extenso, pois englobava um imenso território entre o rio Côa a Norte, e o rio Tejo a Sul. No actual concelho do Fundão – autonomizado da Covilhã a 23-XII-1746 – tornaram-se abastados lavradores, nomeadamente na freguesia de Aldeia de Joanes e na contígua Aldeia Nova do Cabo[9].
Desde finais da Idade Média, expandiram-se pelo concelhos da Covilhã, Guarda e Belmonte, tendo alguns elementos desta família ascendido socialmente sob a protecção do cardeal-rei D. Henrique (1512-1580), acabando por alcançar, já nos séculos XVII e XVII, a condição de fidalgos de cota de armas, estabelecendo ligações matrimoniais com algumas das casas nobres da Beira Interior (distritos de Castelo Branco e Guarda).

Félix de Proença de Magalhães (1649?-1735)
FÉLIX DE PROENÇA DE MAGALHÃES (1949?-1735)[10], terá nasceu por volta de 1949 na freguesia de São Pedro da Covilhã, filho de pais também eles naturais da mesma cidade, segundo afirma uma habilitação para familiar do Santo Ofício do seu neto Nicolau de Proença (1685-1785).
Foi ele o genearca deste ramo familiar dos Proença brasileiros, o qual foi herdeiro da sua irmã CATARINA (1649-1671). Esta comprovadamente nasceu na freguesia de São Pedro da Covilhã[11], como consta por um assento de baptismo:
CATARINA (n. 1649), nasceu a 5-VII-1649 e foi baptizada sete dias depois a 12-VII-1649 na freguesia de São Pedro da Covilhã pelo padre António de Abreu Pessoa[12], filha do licenciado ANTÓNIO MENDES e de sua mulher ANA GOMES, tendo o padre omitido o apelido Ravasco que ela veio a incorporar no seu nome e foi tirado de uma madrinha sua parente(?). Foram padrinhos Manuel Falcão e sua irmã D. Maria Falcão Ravasco[13].
Esta sua irmã CATARINA ficou ainda conhecida pelo seu testamento (1671), que supomos feito quando se encontrava doente na Covilhã, na casa onde residia e que fora dos seus progenitores já falecidos, segundo declarou João Sansão Pinheiro, antigo pároco de São João de Malta na Covilhã, no processo para familiar do Santo Ofício de Nicolau Viegas de Proença (1685-1785).
Este testamento, com a sua última vontade, foi redigido pelo padre Pedro Francisco e aprovado pelo tabelião André do Vale, tendo sido aberto pelo Juiz de fora Dr. Manuel da Silva Mergulhão em 1671, ano do seu falecimento[14]. Nele se nomeia para seu testamenteiro o seu tio Domingos da Veiga, o qual, no seu dizer, gozará da sua fazenda até “vir seu irmão Félix Mendes que está no Rio de Janeiro”.
FÉLIX era filho do boticário covilhanense ANTÓNIO MENDES DE PROENÇA (c. 1624?)[15], e de sua mulher D. ANA GOMES RAVASCO, cujo neto Nicolau, no seu processo de habilitação para familiar do Santo Ofício disse serem ambos – pai e filho – naturais da freguesia de São Pedro da Covilhã onde foram moradores, mas dos quais não se encontraram os respectivos assentos de baptismo e de casamento. O Santo Ofício corrobora esta tese não fundamentada documentalmente, quando diz parecer “indubitável que os sobreditos foram naturais, e moradores donde se diz”; depois de ouvidas as doze testemunhas covilhanenses que foram arroladas, das quais, só duas delas atestam a origem covilhanense desta família, por “ouvir dizer” …
Covilhã (antiga).
O comissário covilhanense do Santo Ofício, João Nogueira Nunes, pároco da Igreja da Madalena, inquiriu várias testemunhas na Covilhã as quais nada acrescentam quanto à identificação de Félix de Proença de Magalhães (1649?-1735), o que é compreensível por este ter ido muito novo para o Brasil. Porém, quanto ao seu alegado pai, o boticário António Mendes de Proença, e sua mulher, vários depoentes foram muito contidos nas informações prestadas, por “ouvir dizer”, ou “por não os conhecer”, o que nos levanta algumas dúvidas quanto à sua origem covilhanense.
Pesquisas por nós efectuadas, num período temporal da primeira metade do século XVII, em diversas freguesias de São Pedro (de Aldeia de Joanes, da Covilhã, e da Guarda), assim como em Aldeia Nova do Cabo, apenas encontramos o assento de baptismo de um único FÉLIX nestas paróquias:
FÉLIX (1666-?), nascido a 2-IX-1666 e baptizado a 16-IX-1666 pelo padre Manuel de Andrade na igreja de São Pedro de Aldeia de Joanes, concelho do Fundão, tendo por padrinhos Nuno Cardoso e sua mulher D. Isabel da então vila da Covilhã.
Era filho legítimo de CRISTÓVÃO SOARES, administrador de capelas vinculares em Aldeia de Joanes[16], e de sua mulher D. CATARINA DE PROENÇA (n. 1646), (Aldeia de Joanes, Nascimentos 1654-1710, Livro 3, f. 65v), a qual  nasceu a 23-IV-1646 e foi baptizada a 30-IV-1646 em Aldeia de Joanes, filha de Pedro Lopes e de D. Ana de Proença da contígua freguesia de Aldeia Nova do Cabo, tendo por padrinhos António Leitão e D. Maria Leitão («Livro de Registo de Baptismos de Aldeia de Joanes (Aldeia de Joanes, Nascimentos 1654-1710, Livro 3, f. 39).
O limitado estado actual dos nossos conhecimentos sobre esta família não nos permite fazer a ligação entre estes dois FÉLIX: o FÉLIX (1649?-1735), que o Santo Ofício, sem provas documentais, diz ter nascido na Covilhã, o que é referido por testemunhos que constam do processo da habilitação para o Santo Ofício do seu neto Nicolau (n. 1685); e o FÉLIX (n. 1666) nascido dezassete anos depois em Aldeia de Joanes, cujo assento de nascimento foi por nós encontrado na freguesia de São Pedro de Aldeia de Joanes.
Estes dois FÉLIX, muito provavelmente, seriam parentes, com alguma proximidade.
Aldeia de Joanes, e a contígua Aldeia Nova do Cabo, eram, desde a primeira metade do século XVI, o berço de muitas dezenas de Proença que se espalharam pela região, como se pode constatar nos respectivos livros de assentos paroquiais, porém, o uso do nome Félix era então muito raro nesta região.
O boticário covilhanense ANTÓNIO MENDES DE PROENÇA (c. 1624?), pai de FÉLIX DE PROENÇA DE MAGALHÃES (1949?-1735), bem poderia ter sido natural de Aldeia de Joanes que, à época do seu nascimento, pertencia ao concelho da Covilhã, o qual só a partir de 1746 veio foi incorporada no recém-criado concelho do Fundão; tudo isto ao arrepio do que atestam duas das doze testemunhas que depuseram na habilitação para familiar do Santo Ofício do seu neto Nicolau.
Esta aparente troca, ou possível encobrimento da origem geográfica de Félix, a ter existido, é da responsabilidade dos dados genealógicos que constam da petição inicial para familiar do Santo Ofício do seu neto Nicolau (feita a 15-II-1743), e terá sido involuntária. Certamente ficou a dever-se ao costume, ainda hoje existente nesta região de, ao mencionar-se a origem das pessoas, referir-se a sede de concelho – neste caso a Covilhã – sem mencionar a pequena e então quase desconhecida Aldeia de Joanes.
Ainda de pouca idade, em data que não conseguimos apurar, Félix passou ao Rio de Janeiro, Brasil, onde já teria parentes que o acolheram.
Terá emigrado para esta colónia em busca de fortuna, como o fizeram então milhares de portugueses, no auge da exploração aurífera.
Porém, o seu sucesso adveio-lhe, acima de tudo, do vantajoso casamento que fez com abastada D. ÁGUEDA GOMES SARDINHA DE PERADA (1654-1736), baptizada a 30-III-1654 na freguesia de Santo António de Sá, em Santana de Macacu (posteriormente Japuíba), Rio de Janeiro, apadrinhada por António Freire e por D. Susana de Figueiredo.  Era grande proprietária de terras e senhora de “39 escravos, entre grandes e pequenos, velhos e moços[17].
Após este casamento, estabeleceu-se no Suruí, Rio de Janeiro, onde Félix de Proença de Magalhães (1649?-1735) se tornou um grande fazendeiro e senhor de um engenho; situação da qual beneficiou a sua descendência que foi gente abastada e de relevo nesta colónia.
Suruí com Igreja de São Nicolau.
Segundo declarou o seu filho Nicolau, na habilitação que fez para o Santo Ofício (1743), sua mulher era filha de JORGE DA COSTA SOARES, natural da cidade da Bahia de Todos os Santos, Brasil, e de D. MARIA FREIRE SARDINHA, nascida e baptizada na freguesia de Santo António da Vila de Macacu, Rio de Janeiro, onde foram moradores tendo aí vivido de sua lavoura. Neta materna de PEDRO DA COSTA e D. MARIA DO ESPÍRITO SANTO.
Félix de Proença de Magalhães (1649?-1735) foi juiz ordinário de Santo António de Sá da vila de Macacu[18], Rio de Janeiro, segundo menciona o pároco da respectiva igreja matriz que foi Miguel António Ascoli (1727-1751), na já citada habilitação para o Santo Ofício do seu filho Nicolau.
A 20-V-1699, no Rio de Janeiro, ele e sua mulher D. Águeda Gomes Sardinha de Perada (f. 1736), nomearam para seus procuradores bastantes na Covilhã, o Dr. Fr. Corte-Real e Filipe Caldeira Castelo Branco, para “eles lhe cobrarem os débitos das fazendas que nela tinha e venderem (…)”[19].
Suruí, Igreja de São Nicolau.
D. ÁGUEDA GOMES SARDINHA DE PERADA (f. 1736), sua mulher, foi herdeira de uma apreciável fortuna que permitiu a este casal adquirir no Suruí, município de Magé, aos herdeiros do falecido Nicolau Baldim uma grande sesmaria de 1.550 braças – a primeira sesmaria aí fundada em 1614 – com o respectivo engenho de açúcar e uma pequena capela (1628). Este pequeno templo religioso por ele beneficiado, entrou posteriormente em ruína e foi substituída pela nova Igreja de São Nicolau de Suruí (1710), cuja capela-mor custeou e foi elevada a paróquia em 11-I-1755.  
À devoção deste santo são consagradas raríssimas igrejas no Brasil, mas, curiosamente, este era o santo da devoção de um ramo desta família portuguesa em Alcongosta, Fundão – Morgado de São Nicolau[20].
Este casal, com os seus 10 filhos, está na origem de uma significativa parte dos actuais Proença brasileiros que até agora desconhecem a terra portuguesa onde têm a sua remota origem familiar: a Covilhã, ou Aldeia de Joanes, uma pequena localidade do actual concelho do Fundão.
Tiveram 10 filhos, dos quais conhecemos:
1. – NICOLAU VIEGAS DE PROENÇA (1685-1785), baptizado a 10-II-1685 na freguesia de Santo António de Sá da Vila de Macacu, e morador em São Nicolau de Suruí, estado do Rio de Janeiro, tendo por padrinhos de baptismo André da Costa e D. Maria Freire[21]. 
Como filho primogénito, foi o herdeiro a grande propriedade familiar de Suruí com seu engenho de açúcar, e fez diligências para se habilitar para Familiar do Tribunal do Santo Ofício[22].
Casou a 15-VI-1738 na freguesia de São Nicolau de Suruí com D. PLÁCIDA DE VALADARES VIEIRA (b. 1722), baptizada a 27-XII-1722 na freguesia de São João de Meriti, Rio de Janeiro, filha de Pedro Álvares Barros (b. 1700), baptizado a 24-VI-1700 na freguesia da Candelária, Rio de Janeiro, o qual casou a 25-VI-1716 na freguesia da Candelária, Rio de Janeiro, com D. Maria Pais (b. 1703), baptizada a 15-VIII-1703 na freguesia de São João de Meriti, Rio de Janeiro, onde foram moradores; neta paterna de Frutuoso Álvares Barros (1665?-1716?), lavrador, natural da freguesia de Santa Maria de Sarraquinhos, Montalegre, Portugal, casado em 1695 com D. Plácida de Valadares (1675-1702), nascida na freguesia de Santa Marinha, Ribeira de Pena, Portugal, e falecida a 16-VIII-1702 na freguesia da Candelária, Rio de Janeiro, a qual era irmã do licenciado padre Lourenço de Valadares Vieira (n. 1673), comissário do Santo Ofício e cónego da Sé do Rio de Janeiro; e neta materna de Francisco Pais Ferreira, natural da freguesia de Santo António de Jacutinga,  Rio de Janeiro, e de D. Bárbara Abreu.
2. – BERNARDO SOARES DE PROENÇA (f. 1735), filho segundo deste casal, que muito se notabilizou e vai biografado abaixo.
3. – ÁGUEDA GOMES DE PROENÇA. Casou com FRANCISCO FAGUNDES DO AMARAL (c. 1725), senhor de “uma légua de terras, em quadra, no sertão da Serra do Frade” (carta de 30-III-1725)[23], que deles fez dos primeiros ocupantes do solo petropolitano, tendo fundado o Arraial Sant’Ana do Sebolas no sertão da Paraíba do Sul, estado do Rio de Janeiro.
Tiveram geração, da qual se conhece o filho INÁCIO VIEGAS DE PROENÇA, nascido no Saruí, casado a 7-VIII-1740 na Sé do Rio de Janeiro com D. Sebastiana Teresa de Matos, filha de João Baptista Ferreira e de D. Maria de Matos Coutinho.
4. – ANA DE PROENÇA (f. 1720), falecida em 25-VII-1720. Casou sucessivamente com ANTÓNIO DE MUROS, e com FRANCISCO CABRAL DE TÁVORA, dos quais não teve geração.
5. – CATARINA DE PROENÇA (f. 1737), nascida em Irirí, distrito da vila de Santo António de Sá, tendo falecido a 29-I-1737. Casou com o capitão LUÍS PEREIRA RIOS, do qual teve um filho.
6. – LUÍSA DE PROENÇA. Faleceu na freguesia de são José do Rio de Janeiro com testamento aprovado a 25-IV-1709.  Casou com ANDRÉ ÁLVARES DE ALVARENGA.
Tiveram cinco filhos, um deles, homónimo do seu avô, foi FÉLIX PROENÇA DE MAGALHÃES, baptizado na igreja da Candelária, casado a 14-XI-1744 na Sé do Rio de Janeiro com D. Helena Rosa de Sousa, filha de João Álvares de Sousa e de D. José Alvares Figueira.
7. – BRÍGIDA VIEGAS DE PROENÇA (c. 1723), nascida na freguesia de Santo António de Sá, Rio de Janeiro. Casou em 1723 na Igreja de São Nicolau de Suruí, Rio de Janeiro,  com ANTÓNIO CORDEIRO DA SILVA, nascido na freguesia de Santa Maria da Feira, em Beja, Portugal, filho de António da Silva e Izabel das Candeias.
8. – JOSEFA DE PROENÇA DE MAGALHÃES, nascida no Rio de Janeiro. Casou com o capitão FILIPE DE SIQUEIRA UNHÃO, nascido na região da Serra da Estrela, bispado da Guarda, Portugal, do qual teve geração.

Bernardo Soares de Proença (f. 1735)
BERNARDO SOARES DE PROENÇA (f. 1735), nascido no Brasil colonial em data e local que desconhecemos.
Foi o mais destacado elemento de uma prole de dez irmãos, filhos de Félix de Proença Magalhães (1649?-1735) que nasceu em Portugal.
Faleceu a 10-VII-1735, com testamento, na sua propriedade de Suruí, Rio de Janeiro, tendo recebido sepultura no interior da respectiva igreja de São Nicolau de Suruí que ele mandara edificar em 1710, segundo refere o vigário Custódio Leite no respectivo assento de óbito[24].
Em 1992, aquando da última requalificação desta igreja de São Nicolau de Suruí, encontrou-se o seu túmulo e o de sua mãe D. Águeda Gomes Sardinha de Perada (f. 1736), cujo achado foi assinalado no local com a seguinte inscrição:
«DESCOBERTA HISTÓRICA / – NESTA RESTAURAÇÃO 1992 / os Túmulos de Dona ÁGDA GOMES / de PERADA e seu filho C.el BERNARDO / SOAREZ DE PROENÇA. / Ele Morreu em 1735 Ela 1736 / Construtores deste Templo C.el BERNARDO / Em Suruí Construiu a Ponte Velha a / Cadeia Pública o Antigo Porto e o – / Caminho [d]as Minas Gerais em 1723 / Desbravador e Fundador de Petrópolis / em 1721 a 1735 – Filho Honrado e / Patriota de Suruí / PRÓ MEMÓRIA DE MAGÉ – INST. HISTÓRICO DE MAGÉ» (sic).
Inicialmente viveu na fazenda de Saruí, na capitania do Rio de Janeiro onde seguiu a vida militar por mais de trinta anos: foi sucessivamente sargento, capitão, sargento-mor da Ordenança (carta de 23-II-1720)[25], tenente-coronel (1733), coronel de um dos regimentos de Infantaria Auxiliar, e mestre de campo da capitania do Rio de Janeiro à data da sua morte (1735).
Foi ele o primeiro sesmeiro a receber terras na região de Itamarati, em Petrópolis, através da Carta Foral de 11-VI-1721, sendo esta confirmada dois anos depois em 30-VII-1723.
A 18-V-1725, e posteriormente, requereu outras sesmaria entre Suruí, Inhomerim e Pacopaíba, o que fez dele um fazendeiro de sucesso no sertão carioca (cartas de 29-V-1725, e de 30-VII-1730)[26].
Antes de Março de 1725, já concluída a empreitada do novo caminho, na qualidade de sargento-mor de um dos regimentos auxiliares do Rio de Janeiro, fez um requerimento a solicitar a “concessão de licença para viajar para a Corte [Lisboa] a fim de resolver seus negócios[27].
Devido à sua acção, Bernardo Proença recebe três homenagens em Petrópolis: um monumento próximo à Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, o nome de uma rua no bairro do Itamarati e o de um conjunto habitacional em Correias.
Casou duas vezes.
As suas primeiras núpcias foram com D. ISABEL DE AZEREDO COUTINHO (1649-1718), filha de Cosme de Azeredo Coutinho e de D. Águeda de Betencourt, neta paterna de António de Azeredo Coutinho (1621?-1706?) e de D. Isabel Borges.
António de Azeredo Coutinho, avô paterno da primeira mulher de Bernardo Proença, era neto de Marcos de Azeredo (1559-1618?) que foi capitão-mor da capitania do Espírito Santo e «se distinguiu muito no descobrimento das esmeraldas»[28], tendo casado por volta de 1589 no Brasil com D. Maria Coutinho de Melo (c. 1570), filha bastarda do 1.º donatário da capitania do Espírito Santo Vasco Fernandes Coutinho (c. 1480)[29].
Marcos de Azeredo (1559-1618?), era irmão de Miguel de Azeredo (c. 1570), o refundador da Casa dos Azeredo em Évora, conhecida posteriormente por Casa dos Condes da Lousã, situada na Rua da Freiria de Baixo nesta cidade.
Já viúvo de sua primeira mulher, passou a segundas núpcias a 15-VIII-1720 na igreja da Candelária no Rio de Janeiro com D. MARIA DA SILVA SALGADO (c. 1720), filha de Manuel da Silva Salgado e de D. Catarina Carvalho, da qual não teve filhos.
A 24-VII-1752 fez testamento no qual nomeou para herdeiro o seu filho homónimo António de Proença Coutinho, ficando sua mãe como tutora. Faleceu a 25-XI-1752 e foi sepultado na igreja paroquial de São Nicolau do Suruí, conforme consta do Livro de Óbitos e Testamentos de Suruí (fl. 68).
Do seu 1.º casamento teve[30]:
1. – ANTÓNIO DE PROENÇA COUTINHO BETENCOURT (1715-1752), baptizado a 21-VII-1715 na primitiva igreja da Candelária, Rio de Janeiro. Faleceu a 25-XI-1752 em Suruí, Rio de Janeiro, sendo sepultado também na Igreja de São Nicolau de Suruí.
Foi ele o herdeiro da fazenda da família no Itamarati, a qual dirigiu de 1735 a 1752 – o actual centro de Petrópolis –, na então designada Serra do Frade, tendo nela edificado instalações de apoio aos viajantes e tropeiros[31].
Em Novembro de 1747 contraiu matrimónio na Matriz do Suruí com sua prima D. ISABEL DE AZEVEDO COUTINHO, sendo os noivos “dispensados do impedimento em 2º grau de consanguinidade”, em cerimónia oficiada por Frei Francisco de Santa Maria Quintanilha, primo dos nubentes, doutor em Teologia, e por três vezes eleito Provincial dos Carmelitas. Este casal deixou descendência em Vila Inhomirim, Magé, Rio de Janeiro.
2. – INÁCIO VIEGAS DE PROENÇA COUTINHO (c. 1735), fazendeiro em Suruí, Rio de Janeiro, o qual pediu baixa do serviço militar “alegando os privilégios que gozava por ser filho de Francisco Fagundes do Amaral e neto de Félix de Proença[32], os quais teriam prestado relevantes serviços à Coroa no domínio de obras públicas por si custeadas.
3. – D. MARIA DE AZEVEDO COUTINHO (c. 1743), casada em 1743 com João Cardoso Machado, natural de Magé.
Tiveram uma filha que foi D. MARIA ANTÓNIA DE AZEREDO COUTINHO, casada com Silvestre Gonçalves Santiago, pais de D. Francisca Flávia de Proença Coutinho (c. 1795), a qual por sua vez casou em 1795 em Niterói, Rio de Janeiro, com o coronel Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho. Estes últimos foram pais do homónimo Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho (1800-1855), 1.º visconde de Sepetiba, juiz de fora, juiz de órfãos e político brasileiro (deputado, ministro, senador), o qual foi o construtor do canal de Magé (1847), com numerosa descendência que vem até aos nossos dias.

O construtor do Caminho do Proença
Bernardo Soares Proença (f. 1735), como concessionário de duas sesmarias, manteve abertos e em boas condições os caminhos ao longo do seu trajecto que servia as suas propriedades em direcção a Minas Gerais.
Tropeiro.
Deste modo, ofereceu-se a expensas suas para abrir o Caminho Novo de Minas, popularmente designado por Variante do Proença do Caminho Novo, ou Caminho do Proença (1722-1725)[33], em substituição do anterior Caminho Novo do Guada-Mor Garcia Rodrigues Pais (1707): uma gigantesca obra à qual sacrificou parte da sua fortuna e saúde pessoal.
As trilhas primitivas não permitiam o emprego de carros de bois ou carretas puxadas a cavalos, devido às escarpas íngremes e à travessia dos rios impraticáveis na época das chuvas; obstáculos estes que dificultavam o avanço da "vida civilizada" nesta "mata virgem e terra devoluta" da então designada Serra da Estrela, levando à perda de muitos tropeiros e respectivos animais de carga.

Para este efeito, com experientes mateiros, escravos e índios, valendo-se de algumas trilhas indígenas já existentes, traçou este caminho alternativo com melhor pavimento, menos sinuoso e mais seguro.
Viajantes e tropeiros.
Deste modo, facilitou-se o escoamento de todo o tipo de riquezas de Vila Rica (actual Ouro Preto) em Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, devido ao encurtamento do anterior percurso em uso. Este novo caminho, concluído em 1725, tornou-se o preferido pelos tropeiros, viajantes, e comerciantes que por ele passavam com todo o tipo de riquezas e mercadorias em direcção ao porto da Estrela no rio Inhomirim – também designado por Rio da Estrela –, no fundo da baía de Guanabara.


Calçada com pedras, algumas com a
cruz gravada.
Esta nova trilha que veio a substituir o “Caminho Velho” (de 1698), foi vital para a economia da região, pois, além de facilitar o escoamento do ouro e das pedras preciosas, também agilizou o processo de ocupação das terras da "serra acima de Inhomirim", então habitadas por índios que manifestavam hostilidade aos intrusos europeus[34]. Por iniciativa do rei D. João VI recebeu um calçamento de pedras (1802-1809), das quais algumas delas com 150 Kg apresentam uma cruz gravada que, segundo a tradição, assinalam os escravos mortos na sua difícil construção.
Foi este novo traçado viário, mais suave e de rara beleza paisagística, que acabou por levar à fundação de Petrópolis na belíssima fazenda que Bernardo Soares Proença (f. 1735). 

Caminho do Proença.
Caminho do Proença.

















Com este melhoramento, facilitador do acesso a estas terras incultas, Bernardo Soares Proença induziu parentes e amigos a obterem sesmarias à beira do novíssimo caminho de Minas por ele aberto, para estes auxiliarem e darem apoio à abertura, manutenção, e há recuperação de algumas despesas[35]. Em consequência desta sua acção, foi ele o grande responsável pelo povoamento e desenvolvimento desta região, cuja abundância de água e a facilidade da sua captação não foram alheias. 
Ponte do Caminho do Proença.
Esta cidade de montanha, uma das mais belas criações urbanísticas do estado do Rio de Janeiro, encanta qualquer viajante pelo seu clima ameno, tornando-se actualmente uma das mais pacificas e seguras cidades deste distrito.
O mérito do lançamento das bases para o progresso deste território, e a fundação da cidade, ficou a dever-se essencialmente a uma família de pioneiros com origem no então concelho da Covilhã, em Portugal:
Segundo alguns investigadores brasileiros “em consequência da construção dessa estrada a família Proença foi uma das primeiras a adquirir terras e a habitar Petrópolis. Portanto, BERNARDO SOARES DE PROENÇA deveria ser oficialmente reconhecido como fundador de Petrópolis[36].



Surgimento da cidade de Petrópolis
Índios Coroados.
Esta região sertaneja, até ao século XVIII, era exclusivamente habitada pelos índios coroados – nome dado pelos portugueses[37]  –, os quais na realidade eram os Índios Puris, divididos em várias tribos, que armados como arco e flecha se guerreavam com violência, subsistindo com uma alimentação frugal à base de fruta, caça e pesca.
O seu modo de vida, e a hostilidade face aos colonos portugueses, criavam dificuldades acrescidas aos pioneiros portugueses que aí pretendiam estabelecer-se para viver da agricultura e da criação de gado.

Parte destes índios seriam dizimados pela varíola e por outras doenças europeias, por via no contacto com os colonos recém-chegados. O mesmo aconteceu com grande parte dos povos indígenas da América Latina, os quais acabaram por sucumbir, deixar o terreno livre à penetração e à exploração dos abundantes recursos do território.

D. Pedro I (1798-1834) do Brasil (D. Pedro IV de Portugal), numa viagem para Minas Gerais onde foi em busca de apoio à independência desta colónia no ano de 1822 – ano do Grito do Ipiranga (7-IX-1822) em que se fez sagrar imperador (12-X-1822) –, alojou-se na Fazenda de Correias, uma sesmaria que tinha sido concedida em 1760 a Manuel Antunes Goulão. Nesta fazenda pernoitava a maioria dos viajantes que atravessavam a Serra da Estrela em direcção a Minas Gerais. 

Córrego Seco, com a figueira que
abrigou o malogrado Tiradentes.
Na Fazenda de Correias – antigo Córrego Seco , segundo a tradição, houve uma figueira centenária cuja frondosa copa agasalhou pela última vez o Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), o célebre Tiradentes, alferes dos Dragões Reais de Minas que teve a responsabilidade de patrulhar o “Caminho Novo”. Foi à sombra desta árvore tutelar que este herói brasileiro acampou para passar a noite na sua derradeira viagem de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, onde pouco tempo depois foi preso, enfrentando um julgamento que durou três anos, no qual foi sentenciado pelo crime de “lesa-majestade”, morto por enforcamento e esquartejado (21-IV-1792), sendo as várias partes do seu corpo expostas em diversos locais públicos. Tudo isto devido ao seu acto sedicioso em prol da independência de Minas (Inconfidência Mineira).


Imperador D. Pedro I
(1798-1834), reconstituição
facial a partir do crânio
O futuro Imperador, ficou muito agradado com o clima fresco e a beleza verdejante desta região – que lhe lembraria a vila de Sintra em Portugal –, pelo que se tornou hóspede frequente deste belíssimo espaço rural onde amiúde se refugiava com a família, fugindo da canícula do Rio de Janeiro.

Quando a fazenda passou à posse de D. Arcângela Joaquina da Silva (1760-1836), irmã e herdeira de António Tomás de Aquino Correia da Silva (1759-1824) – o célebre Padre Correia –, neto materno de um português nascido em Alcains, propôs-se D. Pedro I a adquiri-la para sua residência de Verão.  
D. Arcângela, não querendo desfazer-se do seu património, alegando motivos sentimentais e familiares, recusou esta proposta régia.
Em alternativa, sugeriu a D. Pedro I a compra da Fazenda do Córrego Seco que lhe ficava próxima e fora da família Proença, a qual, depois de ter passado à posse de vários herdeiros e já diminuída da sua área inicial, pertencia agora ao sargento-mor José Vieira Afonso que, devido a estar endividado, a vendeu ao Imperador por escritura de 6-II-1830, acrescentada da fazenda do Alto da Serra (com 50 braças de testada, por meia légua de fundo). Foi então rebaptizada de «Imperial Fazenda da Concórdia».
Imperador D. Pedro II
(1825-1891).
D. Pedro I (1798-1834), logo de seguida abdicou do trono e abandonou o Brasil (1831), rumando a Portugal onde veio a falecer pouco depois (1834), não concretizando o seu grande sonho de aí edificar o seu refúgio de Verão – o projectado Palácio da Concórdia, actual Palácio Imperial –, desígnio este que só viria a ser concretizado muitos anos depois (1862) por seu filho o Imperador D. Pedro II (1825-1891).
Nesta fazenda, à volta deste palácio, está actualmente localizado o Centro Histórico da primitiva cidade de Petrópolis (de Petrus+Pólis), o qual se desenvolveu rapidamente por iniciativa do novo Imperador e sob o impulso dos colonos alemães aí chegados a 29-VI-1845. O seu planeamento urbano ficou a dever-se ao engenheiro militar Júlio Frederico Koeler (1808-1847), de origem franco-alemã. Esta chegou a ser capital estadual entre 1894 e 1902.
A expansão da malha urbana incorporou a antiga Fazenda do Padre Correia que, entretanto, foi adquirida aos seus descendentes, dando origem a um bairro, hoje designado por Correias.

Documentos:

Trechos da Carta Foral de 11-Junho-1721, concedendo a sesmaria do Itamarati
a Bernardo Soares Proença (f. 1735):
«Aires de Saldanha (...) Governador da Capitania do Rio de Janeiro (...) faço saber aos que esta minha carta de sesmaria virem que havendo a representar-me por uma petição o Sargento Mor Bernardo Soares de Proença que no distrito desta cidade, onde acabam as terras da sesmaria de Francisco de Matos Filgueiras e de João de Matos Sousa, detrás da Serra do Frade e da Serra da Tocaia Grande, se acham terras devolutas e ele suplicante com obrigação de fixar e com escravos para as poder cultivar pedindo-me que lhe mandasse dar por sesmaria uma légua de terras em quadra (...) correndo o sertão pelo mesmo rumo que correr o caminho geral que se há de abrir de Paraíba a vir buscar as saídas das quebradas da dita Serra do Frade para que assim fique dividido o dito caminho geral pelo meio a dita terra em quadra desde o fim do seu sertão até o seu principio (...) para (...) efeito de mais utilidade e serventia das ditas serras e para melhor aproveitamento de que também se sirva de proveito aos Reais Dízimos e bem comum; hei por bem fazer mercê ao dito Sargento-Mor Bernardo Soares de Proença de lhe dar em nome de Sua Majestade, que Deus guarde, as referidas terras por sesmarias (...) sem prejuízo de terceiro ou do direito de algumas pessoas possam ter a elas, com a declaração que as cultivará e mandei confirmar esta minha carta por sua Majestade, que Deus guarde(...).
Dada nesta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, aos 11 dias do mês de novembro de 1721.
João Pai de Paredes a fez
O Secretário José Ferreira da Fonte a fez escrever
(assinado) Aires Saldanha».

Trechos da Carta Régia de 30-Julho-1723, confirmando a sesmaria
a Bernardo Soares Proença (f. 1735):
«Dom João, por graça de Deus, rei de Portugal dos Algarves daquém e além-mar em África, Senhor de Guiné e da conquista, navegação, comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc. Faço saber aos que essa minha carta de confirmação de data de terras e sesmaria virem que tendo respeito e se me apresente e por parte do Sargento-Mor Bernardo Soares de Proença (...) pedindo-me(...) por quanto (...) o Governador (...) lhe fizera mercê em meu nome de uma légua de terra em quadra no distrito detrás da Serra do Frade e da Serra da Tocaia Grande (...) Hei por bem fazer-lhe mercê de lhe demarcar a dita légua de terra (...) que antes de tomar posse será obrigado a medir e demarcar essa data (...) e pagar dízimos e os demais encargos que lhe quiser impor de novo. Pelo que mando ao Governador e ao Provedor de minha fazenda dela e mais Ministros a que pertencer cumpram e guardem esta minha carta de confirmação e a façam cumprir e inteiramente como nela se contém (...).
Ribeiro fez em Lisboa Ocidental, 30 de Julho ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1723.
O secretário André Lopes de Lavre a faz escrever
(assinado) EL REI».

A FAMÍLIA GOULÃO
(Alcains, Castelo Branco)
A família GOULÃO, ligada ao mundo rural na sua origem (séc. XVI?), começou por ser um pequeno grupo de modestos proprietários agrícolas que ao longo do tempo foram aumentando o seu património e, alguns deles, vieram a ser terratenentes da zona de Alcains, onde se fixaram à procura de melhores solos agrícolas. Aí foram militares que ganharam algum destaque, logo no início da Guerra da Restauração (1640-1668), e um dos seus ramos teve uma das maiores casas agrícola desta localidade, com uma vetusta casa que na primeira metade do século XVII começou por ganhar um carácter apalaçado, vindo a ser conhecida por Solar dos Goulões e é actualmente sede do Museu do Canteiro. Estes foram feitos fidalgos de cota de armas[38], e o seu património, já no século XIX, espalhava-se por grande parte do distrito de Castelo Branco.

Alcains, Solar dos Goulões (antigo).
Neste caso, cremos ser o seu apelido de origem toponímica, tirado do Monte da Goula, de onde hipoteticamente seriam originários.
Ao topónimo GOULA, juntou-se o sufixo aumentativo -ão, provavelmente referente à grande estatura física ou proeminência social de algum deles, originado, a partir desta alcunha, o apelido GOULÃO (GOUL+ÃO), como supomos ter acontecido.

O Monte da Goula[39], caracterizado pelo seu isolamento e constituído por solos pobres e acidentados, é uma anexa da freguesia de Sarzedas, no concelho de Castelo Branco, à distância de 35 km de Alcains.
Alcains, Solar dos Goulões (actual).

Apesar de serem conhecidos nesta região, devido ao seu passado com alguma proeminência, as suas numerosas proles dificultaram a ligação genealógica ao ramo brasileiro desta família, pois, nesta pequena terra, à época pouco populosa, todos os Goulão seriam aparentados.
A sua passagem ao Brasil terá ficado a dever-se ao grande número de filhos de alguns dos seus núcleos familiares, o que os remetia para uma vida difícil e os levava a procurar longe da casa paterna o seu sustento. Terá sido este o caso do ramo aqui em apreço, que vinha dos Goulão por uma linha feminina.
 
Manuel Antunes Goulão (f. 1770),
um pioneiro na origem de Petrópolis.
A família GOULÃO foi uma das primeiras que esteve na origem de Petrópolis, devido a ter acolhido numa fazenda que aí possuía – Quadra do Rio Morto / Fazenda dos Correias – o futuro Imperador D. Pedro I (1798-1834), D. Pedro IV de Portugal.
Este monarca ficou muito agradado com esta região sertaneja devido aos seus bons ares, à temperatura amena, assim como à sua paisagem paradisíaca que era caracterizada por uma vegetação abundante de fazer inveja à Sintra portuguesa.
O futuro Imperador D. Pedro I intentou então adquirir a Fazenda dos Correias [Goulão], cujos proprietários recusaram a sua venda, pelo que este acabou por comprar a Fazenda do Córrego Seco que lhe ficava próxima, e pertencera inicialmente à família Proença, originária da Covilhã, em Portugal.

1.    MANUEL ANTUNES GOULÃO (f. 1770), homónimo de seu avô materno, era natural de Alcains, concelho de Castelo Branco, em Portugal.
Talvez devido à proeminência da sua família materna, em Alcains, adoptou os seus apelidos (Antunes Goulão), em detrimento dos apelidos paternos (Rodrigues), cuja origem era bem mais modesta.
       Passou ao Brasil, em data que desconhecemos, e aí enriqueceu, ao que parece na mineração.
  
       Já viúvo de D. Caetana de Ascensão, fez uma habilitação para servir o Santo Ofício (1744-49), a qual, ape-
       sar de incompleta (por não ter sido concluída?), fornece-nos grande quantidade de informações genealó-
       gicas sobre esta família e o seu enquadramento socioeconómico. Neste processo ele é referido pelas
       testemunhas com o ofício de carpinteiro”, ou “de alcunha Carpinteiro”, ofício mecânico este que, assim
       como a família modesta dos seus antepassados paternos (Rodrigues), ligados ao pequeno campesinato
       e aos ofícios mecânicos, hipoteticamente ter-lhe-hão frustrado este intento; ao contrário da família ma-
       terna (Goulão) que ocupou cargos proeminentes a nível militar e na administração local.
       Obteve uma sesmaria em 1760, pelo que, pouco tempo depois, antes de 1763, solicitou ao rei D. José I a
       sua confirmação por carta régia de posse “de meia légua de terra em quadra junto à freguesia de Inhomi-
       rim, na capitania do Rio de Janeiro"[40], apesar da pouca fertilidade dos solos desta região, dos quais
       fez bom aproveitamento agrícola, rentabilizando-os com sucesso.
       Viveu na sua Fazenda do Rio da Cidade, comprada ao capitão Luís Peixoto da Silva[41], à qual juntou a
       quadra do Rio Morto, ou dos Correias – na confluência do Rio Morto e do Rio Piabanha –, distrito do Rio
       de Janeiro.
       Os seus herdeiros, por heranças e aquisição de outras quadras contíguas, transformaram esta fazenda
       num dos maiores latifúndios desta região, dando origem ao bairro de Correias em Petrópolis.

Fazenda do Rio da Cidade de Manuel Antunes Goulão (f.1770)
 
Fazenda do Rio da Cidade de Manuel Antunes Goulão (f. 1770),
que veio a ser do seu neto o Padre Correia (actualidade).

N. Sr.ª do Amor de Deus
(1751)
       Foi nestas terras que sua filha D. Brites ampliou e modernizou o primitivo casarão
       colonial, ao qual veio a acrescentar a Capela de Nossa Senhora do Amor de Deus
       (1751)[42], então centro religioso da vasta vizinhança, na qual colocou uma
       magnifica e veneranda imagem da Virgem Maria, esculpida em madeira e estofada
       a ouro, segurando no peito a pomba do Espírito Santo[43].
       Esta imagem que segundo a tradição foi trazida de Portugal, é considerado a mais
       antigo ícone sagrado de Petrópolis, de cuja diocese foi padroeira[44].
       Quanto à fazenda em apreço, foi conhecida por sucessivas designações através do
       tempo. Em meados do século XIX era mencionada por Fazenda do Padre Correia,
       o António Tomás de Aquino Correia da Silva, neto do seu fundador.
       Situada à beira do Caminho Novo, era muito popular entre os viajantes e tropeiros
       por oferecer hospedagem e alimentação a quem transitava por ela.
      
       Era filho legítimo de MARTINHO RODRIGUES, natural de Oliveira de Baixo, freguesia de Bodiosa-Velha,
       no concelho de Viseu, e sua mulher D. CATARINA ANTUNES GOULÃO, natural de Alcains.
       Neto paterno de MANUEL RODRIGUES DA LAGE e de D. MARIA JOÃO, naturais de Oliveira de Baixo, fre-
       guesia de Bodiosa-Velha; e neto materno do avô homónimo MANUEL ANTUNES GOULÃO (1629-1681), la-
       vrador, nascido a 14-XI-1629 em Alcains, onde faleceu em a 24-IX-1681, casado a 16-VI-1652 na Matriz de
       Alcongosta, concelho do Fundão, com D. BEATRIZ DIAS (n. 1634), nascida a 28-IX-1634 em Alcongosta,
       em cuja Igreja Matriz foi baptizada a 8-X-1634, os quais foram moradores  em Alcains[45].  
       O seu avô materno Manuel Antunes Goulão (1629-1681) era filho de ANTÓNIO ANTUNES (n. 1592?), nas-
       cido por volta de 1592 em Alcains, já defunto em 1653, e de sua mulher D. APOLÓNIA VAZ, residentes em
       Alcains; e a sua avó paterna D. Beatriz Dias, natural de Alcongosta, era filha de INOCENTE DIAS, já de-
       funto em 1652, e de sua mulher D. CATARINA DOMINGUES, ambos naturais de Alcongosta.

        MANUEL ANTUNES GOULÃO (f. 1770), o genearca do ramo brasileiro deste clã familiar, quando ainda re-
        sidente em Portugal, casou com D. CAETANA DE ASCENSÃO, natural da freguesia do Campo Grande em
        Lisboa, já falecida em 1744. Com esta senhora viveu durante algum tempo na Rua dos Açougues, na ci-
        dade alentejana de Portalegre, onde lhe nasceu uma filha de nome BRITES.
Sua mulher era filha de BARTOLOMEU NUNES (b. 1648), carpinteiro, baptizado a 18-XI-1648 na freguesia de Murçós, concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, o qual passou a viver na freguesia de Sezulfe do mesmo concelho, e faleceu em Lisboa, cidade onde casou na Misericórdia com D. MARIA ANTUNES (b. 1619), baptizada a 7-V-1619 na freguesia do Campo Grande, em Lisboa, onde eram moradores em “umas casas suas junto à Igrª. Do Campo G.de, os quais se mudaram para o Alentejo onde sua mulher faleceu, tendo ele regressado a Lisboa; neta paterna de FRANCISCO NUNES e de sua mulher D. CATARINA FERNANDES, natural de Murçós, concelho de Macedo de Cavaleiros, os quais foram moradores na freguesia do Campo Grande, em Lisboa; e neta materna de ANDRÉ FERNANDES (c. 1612) casado a 26-VIII-1612 na freguesia do Campo Grande, em Lisboa, com D. MARIA ANTUNES, onde foram moradores, naturais de Vermoim, Famalicão, distrito de Braga.
        Filha única:
        2.    BRITES MARIA DA ASSUNÇÃO GOULÃO (1722-1800?), que segue.

2.     BRITES MARIA DA ASSUNÇÃO GOULÃO (1722-1800?), nasceu e foi baptizada a 20-VII-1722 na Sé Cate-
        dral de Portalegre, Portugal, tendo por testemunhas Fernando Pereira de Moura e Brites de Moura[46].
Filha única, moradora em Alcains, concelho de Castelo Branco, em Portugal, passou ao Brasil com seus pais.
Casou por volta de 1755 no Brasil com o seu vizinho MANUEL CORREIA DA SILVA (f. 1784), rico proprietário de várias sesmarias, entre elas a do Rio da Paciência onde hoje se localiza o Bairro Carangola, Vale do Caetitu e Bonsucesso.
Petrópolis, Fazenda de Samambaia
(antiga)
Seu marido, enriquecido nos negócios do minério e beneficiado por este casamento vantajoso, sem nunca ter sido sesmeiro, nem ter herdado nenhuma gleba de seus pais, por compras que foi fazendo tornou-se no maior latifundiário desta região sertaneja.
Quando faleceu em 1784, tinha na sua posse cerca de um terço das terras do actual Município de Petrópolis[47]. Era filho de ANTÓNIO CORREIA DA SILVA e de D. MARIA MARQUES.
Uma das mais emblemáticas sesmarias na posse deste casal foi a Fazenda de Samambaia (antiga Belmonte) com o seu casarão colonial do séc. XVIII, actualmente um ecomuseu que é sede do ISCA – Instituto Samambaia de Ciência Ambiental. Desta fazenda faz parte a emblemática Capela Santo António – a primeiro templo oficial de Petrópolis, reconhecido pelo Vaticano. 

Petrópolis, Fazenda de Samambaia (actual)
Fazenda de Samambaia,
Capela de Santo António.















Filhos conhecidos:
3.     LUÍS CORREIA DA SILVA, natural de Inhomirim, Rio de Janeiro.  Doutor em Leis pela Universidade
        de Coimbra (21-VI-1778), radicou-se em Portugal, de onde nunca mais voltou ao Brasil.
3.     AGOSTINHO INÁCIO CORREIA DA SILVA GOULÃO (1754-1847), baptizado a 26-XII-1754 na Capela
        de Santana do Córrego Seco, em Petrópolis.
        Faleceu a 10-XI-1847, solreiro, com 93 anos, na sua Fazenda de Santo António da Soledade, em Itai-
Petrópolis, Fazenda de Santo António.
        pava, Petrópolis com testamento aberto a 11-XI-1847, no qual
        deixou os seus bens aos sobrinhos, tendo nele disposto a liber-
        tação de todos os seus escravos, e legando a Fazenda de Tape-
        ra (o actual Quilombo de Tapera que acolheu os descendentes
        dos seus escravos africanos), em Itaipava, à sua escrava de no-
        me ISABEL; e um sítio banhado pelo córrego do Carvão a uma
        outra escrava de nome JÚLIA; assim como a propriedade da fa-
        zenda a GREGÓRIO JOSÉ TEIXEIRA (c. 1859), que os seus bió-
        grafos presumem ser seu filho natural, tendo sido procurador
        da Câmara Municipal de Petrópolis (1859?-1863?).
        Matriculou-se no curso de Matemática da Universidade de Coimbra (22-X-1773), na qual também foi
        bacharel em Direito (1777).
        De regresso ao Brasil, dedicou-se à agricultura, cultivando café, cereais, e cana de açúcar para ex-
        portação.
        Foi professor de Filosofia e Retórica no Rio de Janeiro, ocupando na política o cargo de deputado
        provincial e deputado à Assembleia Geral Constituinte do Império (1823).
3.     MARIA BRÍGIDA DA ASSUNÇÃO GOULÃO (1756-1829), nascida em 1756 em Inhomirim, Rio de Janei-
        ro, e falecida em 1829 na fazenda de Samambaia, em Petrópolis. 
        Casou com PEDRO GONÇALVES DIAS, natural do arcebispado de Braga, do qual teve geração que
        se fixou no Rio de Janeiro. 
        Foi seu filho primogénito o cónego LUÍS GONÇALVES DIAS GOULÃO, ordenado padre em 1780, pri-
        meiro vigário de Petrópolis, falecido na fazenda de Samambaia (antiga Belmonte)[48]. Este exerceu 
        o curato criado em 1844 no distrito de São José do Rio Preto, a que Petrópolis, ainda uma simples
        fazenda pertencia e, posteriormente, por ocasião da criação da freguesia de São Pedro de Alcântara
        de Petrópolis (1846), tornou-se vigário da mesma até à sua morte.
3.     ANTÓNIO TOMÁS DE AQUINO CORREIA DA SILVA (1759-1824), o célebre PADRE CORREIA, que se-
        gue abaixo. 
3.     ARCÂNGELA JOAQUINA DA SILVA (1760-1836), nascida a 15-IX-1760 em Inhomirim, Rio de Janeiro,
        e falecida a 1-IX-1836 no Rio de Janeiro.
Foi herdeira da Fazenda do Rio da Cidade, deixada por seu irmão o Padre Correia, tendo recebido
uma proposta para a sua compra (1829) pelo Imperador D. Pedro I, a qual recusou.
Casou em 1779 com JOSÉ DA CUNHA BARBOSA (1734-1809), natural da freguesia dos Anjos, Lisboa.
Estes tiveram três filhas – Maria Inês, Ana Leocádia, e Feliciana –, casadas, com numerosa geração no Brasil que não seguiu o apelido Goulão.

3.     ANTÓNIO TOMÁS DE AQUINO CORREIA DA SILVA (1759-1824), o célebre PADRE CORREIA, herdeiro da
        Fazenda do Rio da Cidade – rebaptizada de Fazenda do Padre Correia – na qual nasceu a 15-IV-1759, e
        por sua morte a 19-VI-1824 foi deixada em herança a sua irmã D. Arcângela Joaquina da Silva.
O assento de baptismo do padre Correia menciona:
«Aos 15 dias do mês de Abril de 1759, na Capela de Nossa Senhora do Amor de Deus, no Rio da Cidade, filial desta freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim, baptizou e pôs os santos óleos de licença o reverendo padre Manuel Gonçalves Ramos a ANTÓNIO, filho legítimo de MANUEL CORREIA DA SILVA e de sua mulher BRITES MARIA DE ASSUNÇÃO GOULÃO, neto paterno de ANTÓNIO CORREIA e de MARIA MARQUES DA SILVA e materno de MANUEL ANTUNES GOULÃO e de CAETANA DE ASSUNÇÃO. Foram padrinhos António Rodrigues Sá e Ana Maria, mulher do dito, todos fregueses desta freguesia. António Francisco Betencourt, vigário.»
O PADRE CORREIA foi um dos mais salientes membros da família Goulão do Brasil.
Seguiu a vida eclesiástica e foi ordenado sacerdote em 1783, tendo-se dedicado aos estudos das Ciências Humanas, da Teologia, e da Filosofia, da qual foi mestre régio no Rio de Janeiro (1785) em substituição dos jesuítas que foram afastados do ensino pelo marquês de Pombal.
Petrópolis, Fazenda do Córrego Seco.
Foi um grande empreendedor, tendo contribuído muito para o desenvolvimento da agricultura no estado do Rio de Janeiro.
Revelou-se dotado de grande capacidade administrativa, pelo que lhe coube a gestão de várias propriedades familiares, entre as quais a Fazenda do Rio da Cidade, posteriormente designada por “Fazenda do Padre Correia”, a mais próspera iniciativa agrária do vale do rio Piabanha, à beira do Caminho Novo. Esta tornou-se conhecida por oferecer hospedagem aos viajantes, assim como pelas suas frutas de clima europeu com as quais abastecia a Corte no Rio de Janeiro, e ainda por se dedicar à fabricação de ferraduras, um bem essencial ao apoio dos tropeiros.

Segundo Jerónimo F. A. Netto «Viajantes ilustres deixaram registados inúmeros elogios ao Padre Correia e à sua fazenda. Entre eles destacamos os cientistas alemães Spix e Martius, o geólogo inglês João Emanuel Pohl, o botânico francês Saint-Hilaire, o barão de Langsdorff, cônsul da Rússia e muitos outros»[49].
Dos sobrinhos netos do Padre Correia descendem, no Brasil e em Portugal: os ULRICH, que deram João Henrique Ulrich Jr. (1850-11895); os MOREIRA GUIMARÃES, que deram José Agostinho Moreira Guimarães, 1.º Barão de Guimarães (Brasil); os MIRANDA, os RIBEIRO DO VALE, e os OLIVEIRA MARTINS, que deram o 1.º Barão de Matos Vieira (Brasil), entre muitos outros.

Conclusão:
Esta relação genealógica não é exaustiva devido à impossibilidade de englobar as muitas centenas de descendentes destas duas famílias pioneiras da penetração e povoamento da Serra da Estrela, junto ao Rio de Janeiro, muitos dos quais já nem sequer usam o apelido original.
Alguns destes, embora conhecidos pelas suas destacadas actividades intelectuais e militares, ficaram de fora deste estudo, devido ao facto de não conhecermos os seus ascendentes, o que nos impossibilita a sua inserção neste trabalho.
Temos a noção exacta que haverá erros, pois recorreu-se a várias fontes secundárias, algumas pouco fiáveis e até contraditórias, além de, em épocas mais recuados, muitos dos biografados aparecem com diversas sequências de apelidos ao longo da sua vida.
Se a tudo isto acrescentarmos os vários homónimos e os seus múltiplos casamentos, daremos aqui uma pálida ideia das dificuldades que se depararam a esta investigação.
A tudo isto acresce também o facto das extensas sesmarias que obtiveram no Brasil, foram sendo fragmentadas em fazendas mais pequenas para venda a terceiros, ou por herança dos respectivos herdeiros, os quais as rebaptizaram com diversas designações que dificultam a sua identificação.
Por todos esses erros involuntários, desde já pedimos desculpa.
Será bem-vinda a colaboração dos nossos leitores para a rectificação dos lapsos que vão encontrando, o que muito agradecemos.
Por fim, aqui deixamos uma sugestão, ao cuidado da Junta de freguesia de Alcains, para honrar este notável filho da terra na toponímia local, dando o seu nome a uma rua desta vila do concelho de Castelo Branco. Falamos de MANUEL ANTUNES GOULÃO (?-1770), que subiu a vida a pulso e foi um dos pioneiros, juntamente com a família Proença, da colonização de Petrópolis, no então sertão dos índios coroados, posteriormente denominado de Serra da Estrela.

            João Trigueiros





Catedral de São Pedro de Alcântara.
Petróplolis, Câmara Municipal,
(Palácio Amarelo, antiga residência).






Palácio Quintandinha.
(Hotel-Casino, 6 pisos c/ 50.000 m2
e 440 quartos)










Palácio Quintandinha.

Mansão Tavares Guerra (seu edificados),
Casa da Ipiranga, ou Casa dos Sete Erros
(assimetrias)





Castelo do Barão de Itaipava.
Casa de veraneio de Santos Dumont
(Pai da Aviação).



















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Bibliografia:

ARAUJO, José de Souza Azevedo Pizarro e – Memórias Históricas do rio de Janeiro, Tomo I. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1820.
AMBRÓZIO, Júlio César Gabrich – O Presente e o Passado no Processo Urbano da Cidade de Petrópolis. São Paulo: Faculdade de Filosofia, 2008.
LACOMBE, Lourenço Luís – Antecedentes Históricos; penetração para Minas; as sesmarias. In: Geopolítica dos Municípios, Rio de Janeiro, 1958
MOYA, Salvador de (Dir.) – Genealogia Latina, vol. 8. São Paulo: 1956.
POLLIG, João Victor Coutinho – Apropriação de Terras do Caminho Novo. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2012.
KOBELISKI, Michel – História, cultura e religião: a Cidade Imperial e região do Contestado nas apreensões de Estanislau Schaette e Hermann Schiefelbein (1926-1950). In Revista Ensino & Pesquisa, v.14, Suplemento Especial 2016, p. 52-77. Online.
RABAÇO, Henrique José – História de Petrópolis. Petrópolis, Instituto Histórico de Petrópolis, 1985.
SCHAETTE, Estanislau – Pré-História de Petrópolis. Petrópolis, 1953;
         – Fazendeiros e Fazendas Serra Acima. In Anuário do Museu Imperial. Petrópolis, Ministério da Educação e Saúde, 1948.

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Notas:

[1]  SESMARIAS – Terras incultas ou abandonadas cedidas pela Coroa Portuguesa a sesmeiros que se dispunham cultivá-las, mediante alguns encargos a favor da Coroa ou da população.
[2]     Não enjeitamos a hipótese de para este nome ter contribuído a memória de Nossa Senhora da Estrela, na freguesia da Boidobra, concelho da Covilhã, cuja devoção era celebrada a 8 de Setembro. Esta grande festa popular, outrora uma das maiores desta região, remontava à Idade Média e atraía grande parte da população deste território. Supomos que seja no Brasil a origem do culto de Nossa Senhora da Estrela dos Mares.              
[3]     Os POSSEIROS são trabalhadores rurais que ocupam terras incultas sem possuir o título de propriedade.
[4]     FRÓIS, Carlos Oliveira, “Petrópolis a saga de um caminho, Génese e Evolução do Território Petropolitano”, Cap. 7. 
[5]     Este capitão JOÃO DA SILVEIRA GARCÊS, parece ser o mesmo que em 1725 tinha uma capela instituída na Igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça em Lisboa. in ANTT, Hospital de São José, escrivão Pontes, mç. 107, n.º 11, cx. 1219.
[6]     CÓRREGO – caminho apertado entre montes.
[7]   ITAMARATI – Segundo Teodoro Sampaio, na sua obra O Tupi na Geografia Nacional (São Paulo. 1901), é uma corruptela de itamarã-ty, a “torrente por entre pedras soltas”, ou “rocha brilhante” em tupi/guarani.
[8]     Braça — antiga medida de comprimento equivalente a 2,20 metros, a qual variava de região para região.
[9]    ALDEIA DE JOANES é uma das mais antigas aldeias do concelho da Covilhã, a qual passou a integrar o concelho do Fundão quando este foi criado em 1746. Esta localidade já existia em 1233 e o seu orago é de São Pedro, sendo o nome de Joanes a designação arcaica de João, talvez por ter estado na posse de um grande terratenente medieval desta região que foi o cavaleiro e alcaide-mor da Covilhã Estevão Joanes, ao qual sucedeu o seu filho Joane Esteves, durante o reinado de D. Sancho II (1209-1248). Estes também foram senhores da aldeia do Alcaide e de um casal no Fundão, segundo consta nas Inquirições Dionisíacas.
[10]    O apelido MAGALHÃES, que ele usou, não vem dos seus progenitores.
[11]   A antiga freguesia de São Pedro da Covilhã, englobava antigamente as freguesias de São João de Malta, Santa Maria Madalena e São Tiago, e tinha então como igreja matriz a desaparecida Igreja de São Pedro, que se situava perto do lugar da Misericórdia e da Judiaria, junto à actual Praça do Município.
[12]    ANTÓNIO DE ABREU PESSOA, pároco da freguesia de São Pedro, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã no biénio de 1663-1664.
[13]   Os RAVASCO da Covilhã, no século XVII e XVIII, deram algumas gerações de letrados que se destacaram no meio social como párocos, médicos, tabeliães, procuradores do concelho, provedores da Santa Casa da Misericórdia, etc.
[14]    ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Nicolau, mç. 4, f. 66, 66v.
[15]    ANTÓNIO MENDES DE PROENÇA, boticário, teve um homónimo – ou ele próprio? – matriculado sucessivamente em Cânones (25-X-1623) e em Leis (26-IV-1624) na Universidade de Coimbra (PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/P/008081).
[16]   Num «Livro de Registos das Capelas» da paróquia de Aldeia de Joanes (registos n.º 6 e 38), há referências a capelas vinculares administradas por Cristóvão Soares, segundo informação que nos foi facultada pelo distinto investigador Doutor Joaquim Candeias da Silva.
[17]   SILVEIRA FILHO, Oazinguito Ferreira, “Escravismo e Abolição em Petrópolis”.
         in http://petropolisnoseculoxx.blogspot.com/2010/12/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html
[18]    O JUIZ ORDINÁRIO, popularmente conhecido por juiz da terra, era inicialmente um juiz de primeira instância eleito pelo povo para julgar na comarca onde residia.
[19]    ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Nicolau, mç. 4, f. 66, 66v.
[21]    ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Nicolau, mç. 4, doc. 52, f. 43.
[22]    ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Nicolau, mç. 4, doc. 52.
[23]    AHU, Conselho Ultramarino, Rio de Janeiro-CA, cx. 22, doc. 4883-4884
[25]    ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 11, f.240
[26]    ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 15, f. 135
[27]    AHU, Conselho Ultramarino, Rio de Janeiro, cx. 16, doc. 16.
[28]   Revista Trimensal de História e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro, Tomo IV (1842), Tomo V (1843), (Rio de Janeiro: Imprensa Americana de I. P. da Costa), P. 321.
[29]  SALVADOR, José Gonçalves de – A capitania do Espírito Santo e seus engenhos de açúcar (1535-1700): a presença dos cristãos-novos. Vitória: Secretaria de Produção e Difusão Cultural (UFES / Departamento Estadual de Cultura, 1994), pp. 97-99.
[30]  WERNECK, Francisco Klörs, «História e genealogia fluminense: Sargento-Mor Bernardo Soares Proença, in «Revista Genealógica Latina», vol. 8, (São Paulo, 1956), p. 211-213.
[31]  Tropeiros – condutores de tropas ou comitivas de muares e cavalos de carga entre as regiões de produção e os centros consumidores no Brasil a partir do século XVII. 
[32]   AHU, Conselho Ultramarino, Rio de Janeiro, cx. 37, doc. 8606-8607.
[33]   O CAMINHO DO PROENÇA, segundo a descrição de um autor brasileiro «partia do porto de Estrela no fundo da baía de Guanabara e, evitando a perigosa e acidentada subida por Xerém, seguia o rio Inhomirim. Depois iniciava um caminho terrestre que subia pela Serra da Estrela até Itamarati (Petrópolis). A partir daí, seguia o rio Piabanha, descendo pelos distritos de Correas e Itaipava. Depois desviava-se para a freguesia de Santana de Sebolas (o actual distrito de Inconfidência, Paraíba do Sul) onde entroncava-se com o Caminho Novo, permitindo seguir-se até à actual cidade de Paraíba do Sul».
[35]    POLLIG, João Victor Coutinho, «Apropriação de Terras do Caminho Novo», p. 183.
[37]   ÍNDIOS COROADOS é o nome dado pelos portugueses aos indígenas de várias regiões do Brasil, pelo facto de usarem uma espécie de coroa de plumas na cabeça.
[38]    Um dos primeiros fidalgos de cota de armas deste ramo foi JOÃO JOSÉ MARTINS PEREIRA DO REGO GOULÃO (n. 1758), o qual por Carta datada de 20-III-1821 teve Brasão partido em pala de PEREIRA e de REGO, e foi um dos grandes proprietário do distrito de Castelo Branco, onde tinha avultado património fundiário e diversas casas, nomeadamente em Idanha-a-Nova, Sarnadas e Alcains, localidade esta onde residia no Solar dos Goulões, o actual Museu do Canteiro, tendo casado com D. MARIA ANTÓNIA TRIGUEIROS MARTEL REBELO LEITE (n. 1770). Foram quintos avós do autor destas notas.
[39]    MONTE DA GOULA terá tirado o seu nome de GOLA – provincianismo beirão, com o significado de passagem estreita; espécie de redemoinho, ou rápido, que se forma nos pegos dos rios ou ribeiras.
[40]    AHU, Rio de Janeiro, cx. 75, doc. 62
[41]    LUÍS PEIXOTO DA SILVA (c. 1722), natural de Lisboa, foi capitão de infantaria de uma companhia do terço velho da guarnição do Rio de Janeiro.
[42]    Manuel Antunes Goulão, segundo mencionam os biógrafos brasileiros desta família, em Outubro de 1749 pediu licença à Câmara Eclesiástica do Rio de Janeiro para edificar uma capela em sua fazenda, dedicada a Nossa Senhora do Amor de Deus. Esta foi construída e inaugurada em 1751, tendo um cemitério anexo.
[43]    A imagem da Nossa Senhora do Amor de Deus, foi transferida para a actual igreja matriz de Correias (Santuário de Nossa Senhora do Amor Divino) que veio substituir o antigo pequeno templo.
[44]    O Imperador D. Pedro I (1798-1834), visita assídua desta fazenda, várias vezes se ajoelhou diante desta imagem para implorar o restabelecimento da saúde de sua jovem e doente filha Paula Mariana (1823-1833), que esteve nesta fazenda em busca de cura (para a meningite ou malária?) durante algum tempo, por indicação médica. O Imperador, de regresso de uma viagem a Minas, assistiu ali à primeira missa do ano 1831, o último da sua estadia no Brasil.
[45]     ANTT, Registos Paroquiais, Castelo Branco, Fundão, Alcongosta, Lv. Misto (1621-1677), f. 171.
[46]    Livro de Baptismos da Sé de Portalegre, iniciado no ano de 1722, p. 59v.
[47]    MANUEL CORREIA DA SILVA (f. 1784), em 1752, segundo conseguimos apurar, foi senhor das seguintes extensas propriedades: Fazenda do Rio da Cidade, que confrontava com uma sua propriedade, para a qual vai residir; Fazenda da Arca de Noé (actual Arcas); Sesmaria do Engenho das Terras Frias de Nossa Senhora da Soledade (actual Fazenda de Santo António); Fazenda Engenho da Soledade (actual Fazenda de Santo António); Fazenda Samambaia (antiga Belmonte); e a Fazenda Olaria de Colares (actual Castelo de São Manuel), entre outras.
[48]    SILVA, Danuzio Gil Bernardino da (Organizador) – Os Diários de Langsdorff, Rio de Janeiro e Minas Gerais 1824-182”, Vol. I, Rio de Janeiro, Ed. Fiocruz, 1997, p.2.
[49]  Jerónimo Ferreira Alves Netto, Curso de História de Petrópolis, Boletim Semestral do IHP, Ano I, Número 2, Julho/Dezembro/2006