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2012-06-10

Castelo dos Trigueiros (1908), Fundão.

(Trigueiros Martel) 
Fundão, 1908


 Fundão, Castelo dos Trigueiros, 1908-1916.


História
       Esta singular casa acastelada, outrora na periferia do Fundão e actualmente integrada na sua malha urbana, é fruto do espírito do seu fundador: JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963), monárquico convicto e o “Último Romântico” do Fundão que iniciou a sua edificação em 1908.

       O seu programa estético é aparentemente o resultado da evolução da arquitectura do neoclassicismo para as diversas formas do romantismo: neste caso influenciado no nacionalismo romântico que vinha do século anterior e era marcado por uma concepção saudosista da história.

         O Castelo dos Trigueiros, ou Castelo do Fundão como também ficou conhecido, é um revivalismo neo-romântico de inspiração medieval, o qual reflecte a busca dos elementos definidores da arquitectura de raiz eminentemente portuguesa: tema então em debate na sociedade portuguesa, desde os finais de oitocentos, por um amplo sector do pensamento estético português que não conseguia obter consenso.

     Situado então numa pequena quinta, outrora fora de portas e hoje muito diminuída pela expansão da malha urbana à sua volta, tem quatro pisos articulados entre três jogos de massas arquitectónicas, cercado de um logradouro ajardinado com uma capela anexa e um pequeno lago de inspiração romântica; tudo cercado de um pequeno muro de forma amuralhada ao qual encostam vários anexos para arrecadação e para morada dos criados da casa.

       Esta sua residência foi projectada e edificada pelo construtor diplomado Januário Martins de Almeida, autor de várias obras no distrito de Castelo Branco, especialmente nos concelhos do Fundão (foi ele que em 1923 propôs a edificação da actual Avenida da Liberdade que viria a ser construída três décadas depois) e da Covilhã, assim como se destacou por trabalhos feitos para a Câmara Municipal de Évora na segunda década do século XX.

Belmonte, Castelo da família Cabral.
       A sua rica decoração foi feita à base de azulejos e de pinturas murais interiores com os grandes temas da história nacional, tão ao gosto do romantismo.
       A tipologia da sua planta e a fachada principal tem algumas analogias com o Castelo dos Cabrais em Belmonte, dos quais José Trigueiros Martel descendia pelo lado materno, e ao qual foi certamente buscar a inspiração.

       Sabemos que a sua construção foi, à época, alvo de algumas críticas por parte de adversários ideológicos do seu fundador, o qual era um homem cordial e muito afável, alvo da consideração e da simpatia da generalidade da população local.


Fundão, Castelo dos Trigueiros (traseiras), 1916. (foto: ?)
Fundão, Castelo dos Trigueiros,
capela anexa
, 1916.
     

















O período da sua edificação, nos finais da monarquia, é visto como uma época de decadência na arquitectura. Desta visão inevitavelmente republicana, discordamos, pois consideramos ser um período de riqueza cultural devido ao confronto de ideias e de novas correntes estéticas[1]. Datam da mesma época algumas construções acasteladas em vários pontos da província e nomeadamente no Estoril e em Cascais, estas últimas classificados de “caricaturas de quanto de mau [se] fizera”, as quais nos remetem para uma cenografia do Renascimento italiano[2]: o que não foi o caso desta edificação no Fundão, que procura apenas valorizar com sobriedade as raízes nacionais.



O seu edificador
José Trigueiros de Aragão Osório Martel
(1879-1963)
José Trigueiros de Aragão
Osório Martel (1879-1963), 
1893?
     JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) era um dos 10 filhos de Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa (1825-1900), 1.º Visconde do Outeiro e 1.º Conde de Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (1834-1878) que foi a última morgada de Peroviseu.
      Nasceu a 7-VI-1879 no Fundão, onde residiu e faleceu a 23-VII-1963. 
    Foi presidente da Câmara Municipal durante o consulado de Sidónio Pais (1918), assim com de 1932 a 1934, e provedor da Santa Casa da Misericórdia.
     Sempre pautou a sua vida por sólidos princípios morais e cívicos, assim como uma grande delicadeza de maneiras perante toda a gente, com especial referência pelos mais humildes e desfavorecidos aos quais nunca recusava auxílio, segundo testemunho dos seus contemporâneos.
   Teve um papel de relevo no dinamismo cultural e social do Fundão, mas o seu temperamento idealista e romântico, valorizando pouco os valores materiais, levaram-no a descurar a sua vida financeira o que lhe acarretou algumas dificuldades.
     Casou 2 vezes.
José Trigueiros Aragão Osório Martel (1879-1963),
Chofer, e
D. Estela Meireles Pinto Barriga (1876-1918).
      As primeiras núpcias foram com D. ESTELA MEIRELES PINTO BARRIGA (1876-1918), nascida a 20-III-1876, e falecida prematuramente a 26-X-1918, sem geração, filha de Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916)[3], 2.º Visconde de Tinalhas (decreto de 9-XII-1887), moço fidalgo da Casa Real, vereador e presidente da Câmara Municipal de São Vicente da Beira, chefe local do Partido Regenerador, deputado, Par do Reino (1906), procurador geral do distrito de Castelo Branco, e de sua mulher e prima, com quem casou a 24-VII-1868, D. Maria José de Meireles Guedes Cabral (n. 1853).
       Falecida sua 1.ª mulher, passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897), nascida na citada cidade a 23-IV-1897, filha do Dr. Luís António Gil da Silveira, e de sua mulher D. Filomena Cândida Matos da Silveira
        Teve 6 filhos do 2.º casamento.


Sucessão genealógica do fundador do Castelo dos Trigueiros

José Trigueiros de
Aragão Osório Martel
(1879-1963).
1.        JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) tomou a iniciati-
           va da edificação deste Castelo a partir de 1908, com o apoio do seu sogro que
           foi Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916),
           2.º Visconde de Tinalhas.
           Casou duas vezes.
          O seu primeiro casamento foi com D. ESTELA MEIRELES PINTO  BARRIGA (1876-1918), a qual faleceu prematuramente, sem  geração.
Passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897).
Teve 6 filhos do 2.º casamento:
           2.        D. MARIA DO PILAR TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1821-
                    -1996) que nasceu a 28-V-1921 no Fundão, e faleceu em 1966. Solteira.
          2.        CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012),
                    que segue abaixo.
2.        D. MARIA HELENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1926-1995), nasceu a 21-I-1926 no Fundão, e faleceu a 2-I-1995 em Cascais. Solteira.
2.       D. MARIA DE LURDES TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1927), nasceu a 31-I-1927 no Fundão. Solteira.
2.      D. MARIA FILOMENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1932), que nasceu a 19-V-1932 no Fundão.
Casou a 11-IX-1960 com ANTÓNIO ADÃO LEITE DE LIMA (n. 1926), nascido a 13-VII-1961 na freguesia do Rosário, concelho de Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores, filho de Manuel da Costa Lima e de sua mulher D. Maria dos Anjos Leite. Formado pelo Instituto Comercial de Lisboa, foi técnico de contas.
          Tiveram:
3.       MIGUEL TRIGUEIROS MARTEL LIMA (n. 1961), nasceu a 13-VII-1961 em Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores. Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Casou a 21-VIII-1992 na capela particular do Castelo dos Trigueiros, no Fundão, com D. MARIA MARGARIDA DE LEMOS CANEDO GIESTAS (n. 1960), nascida a 30-I-1960 na freguesia das Mercês, em Lisboa, licenciada pela Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorada pelo Instituto Superior Técnico, assistente de investigação no I.N.E.T.I.; filha de Manuel Joaquim Ferreira Giestas (n. 1925), natural de Vouzela, e de sua mulher D. Maria Luísa José de Queirós de Melo Sousa Canedo (n. 1926), natural da freguesia da Frazoeira, concelho de Ferreira do Zêzere.
          Tiveram:
 4.       D. CATARINA MARIA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n.  1993), nasceu a 18-VIII-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios,  em Lisboa.
 4.       D. MARIA RITA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n. 1995),  nasceu a 23-VI-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios, em  Lisboa.
 4.      FRANCISCO JOSÉ CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n.  1997), nasceu a 23-VI-1997 na freguesia de São Jorge de Arroios, em  Lisboa.
                      3.         MARIA HELENA TRIGUEIROS MARTEL LIMA, (n. 1962), nasceu a 30-XII-1962 no Fundão.
                               Cursou Comunicação Social no IATA., e foi técnica de tráfego na TAP - Transportes Aéreos
                               Portugueses.
                                Casou duas vezes.
As primeiras núpcias foram celebradas civilmente a 6-IX-1990 na 10ª Conservatória de Lisboa, com GILBERTO TRINDADE MACEDO GOMES, do qual se divorciou por sentença de 25-II-1994.
As segundas núpcias foram celebradas a 28-I-1995 na freguesia de São João de Brito, em Lisboa, com MÁRIO JOAQUIM RAMOS GARCIA (n. 1946), nascido a 12-I-1946 na freguesia de Lavacolhos, concelho do Fundão, técnico de tráfego da TAP, filho de Joaquim Clemente Garcia, natural de Lavacolhos, e de sua mulher D Maria Arcelina Ramos, natural da freguesia de São Mamede de Recezinhos, concelho de Penafiel; neto paterno de Manuel Clemente Garcia e de sua mulher D. Mariana Rita; neto materno de Francisco Ramos e de Maria da Piedade.
Tiveram:
4.        D. MARIA BEATRIZ TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA GARCIA (n. 1996), nascida a 25-IV-1996 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
3.        D. MARIA ISABEL TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA (n. 1965), nascida a 25-VI-1965 em Castelo Branco. Solteira, residente no Fundão.

2.       CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012) nasceu a 31-VII-1924 no Fundão, e veio a falecer a 28-X-2012 em Queluz. Senhor de uma notável erudição, cultura e delicadeza de maneiras herdadas de seu pai, é licenciado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, professor do ensino oficial, e proprietário. Residente em Queluz. 
Casou a 29-III-1958 na Capela do Palácio de Queluz com D. MARIA ESTER GUERNE GARCIA DE LEMOS (n. 1929), nascida a 2-XI-1929 na Quinta da Granja, freguesia do Carvalhal, concelho do Bombarral, filha de Jaime Garcia de Lemos, oficial da Arma de Artilharia, natural da freguesia de Salvador, em Santarém, e de sua mulher D. Ester Guerne, natural da freguesia de São Pedro de Alcântara, em Lisboa; neta paterna de António Garcia, e de D. Amélia Augusta de Lemos; e neta materna António Joaquim Guerne, e de D. Amélia Barbosa.
Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, na qual foi assistente (1957-1974), e deputada à Assembleia Nacional (1965-1969). Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, assim como escritora e ensaísta atenta aos problemas da juventude, tendo-se afirmado com duas obras: Rapariga (1949) e Companheiro (1960), esta última galardoada com o Prémio Eça de Queirós[4].  
          Tiveram:
3.       DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), que segue abaixo.
3.     PAULO JOSÉ GARCIA DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1964), nasceu a 25-I-1964 em Queluz. Licenciado em …., doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa, investigador científico e professor da Unidade de Ciências Exactas e Humanas da Universidade do Algarve
3.     D. MARIA DA PIEDADE DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1969), nasceu a 1-II-1969 em Queluz. Casou a 8-X-1994 com LUÍS MANUEL PERIQUITO FADISTA (n. .?).
                     Tiveram:
                     4.     GUILHERME TRIGUEIROS DE MARTEL FADISTA (n. 1996), nascido a 19-IV-1996 em Almada.
                     4.     ?
          3.        FILIPE CARLOS DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (1971-?), nasceu a 7-IV-1971 em Queluz.
                    Faleceu num acidente de viação.

3.     DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), nasceu a 15-I-1959 em Queluz. Licenciado em Engenharia Electrotécnica, é coronel da Força Aérea.
Casou a 30-III-1985 em Queluz com D. AURORA MARIA SILVEIRA TOMAZ (n. 1957), filha de Manuel Fernandes Tomaz (n. 1932), nascido a 3-VII-1932 em Pombal, tenente-coronel de Cavalaria, e de sua mulher D. Lília Ermelinda Flaviana América Picardo (1935-2009) nascida a 17-IV-1935 na freguesia de São Matias, Ilha da Piedade, em Goa, na Índia Portuguesa.
          Tiveram:
4.     D. ANA FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1988) que nasceu a 6-III-1988 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Licenciada em Direito.
4.     JOÃO FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1990) que nasceu a 2-II-1990 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Médico.
4.     D. INÊS FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1995) que nasceu a 19-VI-1995 em Castelo Branco. Licenciada em Educação de Infância.




 Notas:

[1]   A decadência veio a seguir com a bancarrota, com a perseguição da igreja que foi proibida de “exercer o ensino ou intervir na educação” e teve como consequência imediata o encerramento de muitas escolas, assim como a trágica entrada na 1.ª Guerra Mundial …

[2]   FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, vol. II (Lisboa, Bertrand, 1988), p. 168.

[3]   Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916), era filho de José Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (n. 1802), natural da Soalheira, Fundão, 1.º Visconde de Tinalhas por decreto de 10-X-1870, fidalgo cavaleiro da Casa Real, senhor dos morgados de Olhos de Água e de Alviela, casado  em 1843 com D. Maria Guilhermina Ribeiro Leitão.

[4]   Além destas obras, publicou vários trabalhos de ficção e de ensaio: «Mestre Chico Trapalhão», 1947; «D. Maria II, a Rainha e a Mulher», 1954; «A Clepsidra de Camilo Passanha», 1956; «Na Aurora da Nossa Poesia», 1956; «A Menina de Porcelana e o General de Ferro, 1957; «A Borboleta sem Asas», 1958; «Dezoito Anos», 1964; «A Rainha da Babilónia», 1964; «Gil Vicente Lírico», 1965; «Páginas de Eça de Queiroz», 1966; «Dezoito Anos», 1966; «No Centenário de Camilo Pessanha», 1967; «Luís de Camões», 1972; «Antologia Poética de Bocage» (introdução e selecção), 1972; «Elmanismo e Filintismo», 1972; «A Literatura Infantil em Portugal»; e «O Balão Cor de Laranja», 1982.