2012-01-30

LEITÕES - Beira Interior (Generalidades).

LEITÃO
                                                                            
                                        Forma:     Escudo português. Em campo de prata, três faixas
                                                         de vermelho.
                                       Timbre:     Leitão passante de prata, carregado de um filete
                                                         vermelho em faixa.


       A família LEITÃO, segundo o grande linhagista Conde D. Pedro  ̶  D. Pedro Afonso (1287-1354 )   ̶ , parece proceder de D. GUEDA «O VELHO» (c. 1096?), rico-homem que acompanhou o conde D. Henrique quando este veio tomar posse do Condado Portucalense e era originário de uma grande estirpe de Toledo que procedia do rei visigodo Chindasvinto que reinou de 642-653 e tinha fama de sábio legislador. Deste descendem vários ramos desta família, os quais tomaram diferentes apelidos.
       
      Alguns destes viveram em Lodares, concelho de Lousada, tendo acrescentado ao nome o apelido LEITÃO.
      O primeiro que conhecemos foi MARTINS PIRES LEITÃOfidalgo principal e senhor de Lodares, do morgado de Cidoros e do padroado da Igreja de Santa Marinha no termo de Barcelos (filho de Pedro Martins de Lodares  e de sua mulher D. Sancha Pires de Valdomar), casado com D. TERESA RODRIGUES DE URRÔ (f. 1317), da qual teve cinco filhos que propagaram e multiplicaram este apelido até aos nossos dias.
      Vários ramos desta família criaram raízes no centro do país, nomeadamente na Beira Interior onde proliferaram com sucesso, deles havendo importantes núcleos de dispersão, a partir de meados do século XVI, na Sertã, em Vila de Rei, em Oleiros, em Pedrógão Grande, na Idanha-a-Nova, em São Vicente da Beira, em Castelo Novo, terras onde instituíram diversos morgados. São, em toda a Cova da Beira, um apelido muito generalizado devido à sua grande antiguidade.

      Destes destacamos um AFONSO VAZ LEITÃO, 5.º neto do anteriormente mencionado MARTINS PIRES LEITÃO (séc. XIV) de Lodares, que foi cavaleiro de D. João I e alcaide-mor de Idanha-a-Nova, do qual se desconhece o nome da sua mulher que lhe deu quatro filhos que serviram os reis D. João I e D. Duarte, e continuaram o apelido. A sua descendência serviu nos ofícios de Alcaide, Escrivão da Câmara e na Alfandega de Idanha-a-Nova onde viveram. Estes viriam a ligar-se às mais ilustres famílias da Beira Interior, tais como: os Sousa Refóios, antepassados da Casa da Graciosa (Idanha-a-Nova); à Casa da Borralha, que tem a varonia dos Leitão, descendentes de MARTINS PIRES LEITÃO (Borralha, Sertã e São Vicente da Beira); à Casa Tudela Castilho (Praça Velha, Fundão); à Casa Feio de Andrade (Largo da Igreja, Fundão), à Casa dos Brito Homem (Alpedrinha); aos Taborda (Fundão e Alpedrinha); à Casa dos Alvaiázere (Aldeia Nova do Cabo); aos Caldeira (Alpedrinha); à Casa do Morgado de São Nicolau (Alcongosta); á Casa dos Leitões, de Silvestre Fernandes Leitão (Castelo Novo); à dos Achiolli da Fonseca (Oledo e Castelo Branco), e dos Trigueiros Frazão (Salgueiro e Quintãs), entre muitas outras da Beira Interior.

      Fomos encontrar uma vergôntea do ramo da Idanha-a-Nova fixada em São Vicente da Beira: é PEDRO LEITÃO neto do já mencionado AFONSO VAZ LEITÃO que serviu em África os reis D. Afonso V e D. João II, pelo que teve a comenda de São Vicente da Beira e foi casado com D. CATARINA GONÇALVES da qual teve seis filhos. Parte desta descendência veio a espalhar-se pelas diversas aldeias do então concelho de São Vicente da Beira, no qual se incluía em épocas recuadas grande parte da actual Cova da Beira onde este apelido se tornou dos mais comuns devido à sua antiguidade.
     O filho primogénito deste casal foi BARTOLOMEU VAZ LEITÃO foi casado com D. ISABEL FERNANDES MAGRO, da qual teve: GASPAR VAZ LEITÃO, prior em São Vicente da Beira; CRISTÓVÃO VAZ MAGRO; FAGUNDA VAZ LEITÃO; e D. CATARINA VAZ LEITÃO, da Soalheira. Hipoteticamente poderá estar neste ramo o antepassado da família LEITÃO do Souto da Casa, concelho do Fundão, a qual usou por mais de uma vez o nome de baptismo Bartolomeu.

        Tal como os aparentemente muito comuns apelidos dos PROENÇA, e dos OLIVEIRA, o apelido LEITÃO e o sangue herdado de D. GUEDA «O VELHO», companheiro de armas do Conde D. Henrique, continua a circular nas veias de grande parte da população da Beira.

2012-01-29

OLIVEIRAS - Souto da Casa, Fundão (Generalidades).


OLIVEIRA

                             Forma:      Escudo português. Em campo vermelho uma oliveira de verde,
                                               arrancada de prata e frutada de ouro.
                            Timbre:      A oliveira do escudo.


Este apelido bastante comum em toda a Beira Interior espalhou-se por todo o concelho do Fundão onde é conhecidos desde os alvores do século XIV, ligando-se à quase totalidade das linhagens das diversas casas solarenga mais antigas, nelas espalhando as suas vergônteas até aos nossos dias. Esta família é uma das principais famílias fundadoras deste concelho.

Os OLIVEIRAS eram originários da freguesia de Santa Maria de Oliveira, termo de Arcos de Valdevez, onde tinham o seu paço no qual provavelmente terá nascido de Pedro Oliveira, 1.º senhor do Morgado de Oliveira (fundado em 1306), o qual era um dos mais antigos de Portugal e veio posteriormente ter a sua sede no Alentejo.
No concelho do Fundão este apelido é bastante comum devido à sua antiguidade, e a sua hipotética origem está nas contíguas freguesias de Aldeia de Joanes e de Aldeia Nova do Cabo.

         Um dos primeiros desta família, conhecido nesta região nos primórdios do século XVI, foi Pedro de Oliveira de Proença, 10.º neto de Rui Martins de Oliveira, do tronco dos Oliveira, o qual casou com ANA DE PROENÇA, irmã de BELCHIOR PROENÇA, moradores no Freixial. Foram pais de GASPAR PROENÇA casado com sua parente D. ANA DE OLIVEIRA, herdeira do Morgado das Grangeas em Aldeia Nova do Cabo, filha de DIOGO PAIS DA CUNHA (f. 1575) e de D. MARIA VAZ (f. 1549), os quais tiveram filhos que deixaram numerosa prole que esteve na origem Oliveiras que se espalharam nesta região.
          Alguns deles tiveram Carta de Brasão de Armas e ligaram-se por casamentos às mais ilustres famílias, das quais destacamos as casas de Sarnadas (Condes de Tondela), do Outeiro (Condes de Idanha-a-Nova), do Morgado de São Nicolau (Alcongosta), dos Geraldes de Melo (Idanha-a-Nova e Aldeia Nova do Cabo), do Terreiro (Aldeia Nova do Cabo), dos Figueira Castelo Branco (Aldeia Nova do Cabo), dos Nogueira de Andrade (Fundão), dos Oliveira e Cunha (Fundão), dos Tudela Castilho (Fundão), do Salgueiro e das Quintãs (Viscondes do Sardoal), entre muitas outras por toda a Beira Interior.

    Destes OLIVEIRAS destacou-se também nesta época D. BEATRIZ BARREIROS DE OLIVEIRA, supostamente nascida em Aldeia de Joanes, mãe de D. Frei DIOGO GOMES DA SILVA (1485-1541), 1.º Inquisidor Geral de Portugal (1531-1539), desconhecendo-se o nome do seu antepassado Oliveira, assim como a sua origem geográfica, já que os genealogistas e biógrafos do Inquisidor detiveram-se mais nos costados da família SILVA devido à sua proeminência social, pois provinham da velha linhagem da ilustre Casa dos Silvas, família de altos dignitários da corte e dos maiores terratenentes de Portugal cujos extensos domínios se estenderam até Aldeia de Joanes.

O mais antigo Oliveira que encontramos no Souto da Casa foi:

1.   DOMINGOS DE OLIVEIRA (n. 1639), nasceu a 16-I-1639 em Aldeia Nova do Cabo, concelho do Fundão,
     filho de SIMÃO RODRIGUES e de D. MARIA DE OLIVEIRA; neto materno de Baltazar de Oliveira e de sua
     mulher D. Isabel Nunes Proença.
     Casou a 2-XII-1666 no Souto da Casa, Fundão, com D. CATARINA ROSQUILHA, natural de Aldeia Nova do
     Cabo, Fundão, filha MATEUS RODRIGUES ROSQUILHA e de D. MARIA NUNES.
     Tiveram:
     2.   D. MARIA DE OLIVEIRA (n. 1669), que segue abaixo.
     2.   DOMINGOS DE OLIVEIRA (n. 1681), nasceu a 12-IX-1672.
     2.   JOÃO DE OLIVEIRA (n.1681), nasceu a 17-I-1681.

2.    D. MARIA DE OLIVEIRA (n. 1669), nasceu a 29-IX-1669 no Souto da Casa, tendo casado com MATIAS
      FERNANDES LAGARTO, filho de António Fernandes Lagarto, natural do Souto da Casa, e de D. Maria
      Fernandes. Desta família é conhecido outro (?) António Fernandes Lagarto, casado em 1704 com sua
      mulher D. Domingas Vaz, natural de São Vicente da Beira.
     Tiveram:
     3.   MATIAS (n. 1705), nasceu a 26-X-1705 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   DOMINGOS (n. 1713), nasceu a 27-XII-1713 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   D. MARIA (n. 1718), nasceu a 26-VII-1718 no Souto da Casa, Fundão.
     3.   AGOSTINHO DE OLIVEIRA (n. 1721), que segue.

3.   AGOSTINHO DE OLIVEIRA (n. 1721), nasceu a 5-V-1721 no Souto da Casa, Fundão, tendo casado com
     D. MARIA PINHEIRO.
     Tiveram:
     4.   JOSÉ DE OLIVEIRA, o qual casou com D. JACINTA MARIA, filha de António  Assunção e de D. Ana
          Maria. Estes tiveram geração que propagou este apelido até aos nossos dias.


-------------------------------------

Apêndice:


As Terras de Oliveira

                                                                                           Se queres compreender qualquer coisa, 
                                                                                           observa o seu ínicio e o seu desenvolvimento
                                                                                                                                             Aristóteles
Texto gentilmente cedido por
António Coutinho Coelho
                                                          

      No Dicionário de Américo Leal encontramos mais de 300 lugares com o nome de Oliveira, no território português, embora os possamos encontrar igualmente na Galiza. São, essencialmente,  pequenos lugares mas também vilas e cidades como Oliveira de Azeméis, Oliveira de Frades, Oliveira do Bairro, ou Oliveira do Hospital.

     "Oliveira", com variações de grafia, como Olveira, Ulveira, ou Ovar, é um topónimo cuja origem se associa à existência de um pântano ou de zona alagada. Uma "Ulveria", deriva do latim ulvaria, solo pantanoso, terra de lameiro (local onde abunda a ulva, alga palustre), nada tendo a ver com a árvore cujo fruto é a azeitona. Ulva (Linnaeus 1753) e Ulvaria (Ruprecht 1850)  são dois géneros distintos de algas verdes da família Ulvaceae. As terras de Oliveira, com efeito, estendem-se ao longo da bacia hidrográfica do Vouga, uma bacia entre grandes serras, de um lado o Caramulo, o Karmel, a montanha dos canaanitas e hebreus, e do outro a Gralheira, e que na sua parte mais baixa se sabe ter já existido um lago, que terá sido a ulveria ou ulveira. Oliveira passou a ser o modo mais fácil e generalizado de pronunciar ulveira ou ulveria.

     O rio Vouga era, em tempos antigos, navegável em grande extensão e conhecido de fenícios e púnicos. Aí se desenvolveram férteis terrenos agrícolas, o que se traduziu desde tempos muito antigos numa significativa densidade populacional. Com um clima temperado, de características quase mediterrânicas, poderemos até aí observar extensos e magníficos laranjais.

     O primeiro documento (que se conhece) a dar notícia da existência das terras de Oliveira tem data de 922, e faz parte da doação do rei Ordonho II, de Leão, ao bispo Gomado, de várias terras ao Mosteiro de Crestuma (Castro de Uíma): ” E a Vila de Oliveira, com a sua igreja de São Miguel com seus direitos e aumentos”. Sabe-se também da doação do antigo Couto de Ulveira feita por D. Afonso Henriques aos monges de Santa Cruz de Coimbra, em 1169 (Cf. Foral de Oliveira de Frades - Arquivo Nacional da Torre do Tombo, livro 3, maço 12, dos Forais Antigos, fls. 69-verso).

     Sendo a terra rica, haveria de ter necessidade de escoar os seus produtos. A feira surge, assim, como inevitável e nada melhor para a sua localização que a antiga estrada romana que de Conimbriga se dirigia a Cale. E, talvez em 910, com Afonso III, de Leão, surge num cabeço, onde terá existido um santuário tribal, junto ao entroncamento com a estrada para Viseu, uma das mais antigas feiras do território, que hoje é Portugal: a feira de Santa Maria (Cf. José Mattoso – A Terra de Santa Maria na Idade Média, ed. Castelo da Feira, 1993). E como onde surgiam feiras sempre surgiam judeus, que prestes aí se instalavam, fazendo valer os seus excelentes dotes de mercadores e comerciantes. Pouco mais tarde, surge outra feira, igualmente importante, em Trancoso, logo adiante da nascente do Vouga, na Serra da Lapa, em Sernancelhe.

      São Miguel, o patrono de Israel é o patrono e orago das ricas terras de Oliveira, o que é usual em terras de cristãos-novos: “Naquele tempo levantar-se-á Mihael, o grande príncipe celestial, o patrono dos filhos do teu povo” (Daniel: 12-1).
     Junto a Romariz encontramos a povoação de Goim. Goy (do hebraico גוי, plural goyim גויים) é a transliteração da palavra hebraica para nação ou povo, também utilizado pela comunidade judaica para se referir aos não judeus, ou gentios. E os gentios destas terras elegeram como seu doce preferido, a fogaça, que nada mais é que uma adaptação do chalat, o pão da bênção do Shabat judaico.

     O rio Vouga que une as terras dos interiores com as terras de fronteiras permeáveis ao mar. Terras onde existem as tais Naves, as “nawes cannanitas”, que seriam as pastagens de um povo, em grande parte dependente do pastoreio. Naves que vão desde o planalto da Nave até às naves de Trancoso ou Sabugal e Almeida, e até essa curiosa Nave de Santo António, na Estrela, em que se consagram as pastagens a Santo Antão, padroeiro dos pastores. Santo António será, como em tantos outros locais, a “cristianização” de um santo egípcio que lembrava mais Athon, que o santo eremita. E tantas outras marcas canaanitas. Rio que segundo parece, os fenícios tanto navegaram. E o barco moliceiro que tantas marcas fenícias tem…
Nomes que perduraram até hoje, pois aos diversos colonizadores, o que menos interessava era o nome dos rios, das terras, das aldeias. Mudá-los para quê? Os nomes dos sítios são estáveis como as sociedades que os utilizam, e insubstituíveis porque são referências indispensáveis à vida quotidiana.
     Por todas estas terras de Oliveira, a fogaça, o folar, a broa de pão de ló como dizem em Ovar, os caladinhos, que se fazem pela Páscoa, sem fermento e sem leite, porque não podem os Judeus comer carne e leite na mesma refeição. “Não comerás o cabrito com o leite de sua mãe” (Deut: 14-21).


2011-06-27

D. Pedro Martín Romo, 1.º Marquês de Caravina (1725)

Pedra sepulcral de D. Pedro Martín Romo
Igreja Matriz de Alcains
(Século XVIII, 1.ª metade)

Brasão de  D. Pedro Martín Romo,
Viena de Áustria, 1719.
(Lápide sepulcral da  Igreja Matriz de Alcains)
         
                    Brasão:     D. Pedro Martín Romo, 1.º Marquês de Cravina (Reino de Nápoles, 1725).
                    Forma:      Escudo esquartelado: O 1.º com uma águia bicéfala estendida, com ambas
                                      as cabeças coroadas, aparentemente carregando sobre o peito uma arruela;
                                      o 2.º com um leão rampante e coroado; o 3.º com uma clavina e respectiva
                                      bandoleira; e o 4.º com um castelo.
                   Elmo:         De grades voltado de perfil, olhando à direita do escudo.
                   Timbre:      Várias plumas sobre o elmo.
                   Local:        Pedra sepulcral, actualmente embutida numa parede da sacristia da Igreja
                                      Matriz de Alcains (N.ª Sr.ª da Conceição).
                   Data:          1719 (ano da concessão).




     
          No verão de 1958, durante as obras de remodelação na Igreja Matriz de Alcains, quando se procedeu ao levantamento do pavimento deste templo para o substituir e nivelar para uma cota mais alta, descobriu-se junto ao altar da Senhor da Agonia uma misteriosa lápide sepulcral de granito de grão médio com 190 x 90 cm. Armoriada e epigrafada com algum cuidado, despertou a curiosidade e foi poupada à destruição, tendo sido recolhida e posteriormente embutida na parede oriental da sacristia do lado norte, onde actualmente pode ser observada.
         O brasão desta pedra de armas, pisada pelos fiéis ao longo do tempo, encontra-se ainda com as peças heráldicas num razoável estado de conservação que permitem a sua leitura. Quanto ao campo epigráfico que se encontra distribuído aparentemente por oito linhas, o seu desgaste é bastante acentuado e está completamente ilegível na parte inferior.
         Após a sua descoberta foi observada por várias estudiosos que tentaram a sua decifração, porém sem sucesso pois nada concluíram quanto à identificação do seu destinatário. A localização privilegiada desta sepultura dentro da igreja indicia ter pertencido a alguém que teve algum destaque social nesta pequena comunidade local.
      O seguinte registo de óbito dado a conhecer pelo já falecido investigador José Sanches Roque, em «Alcains e a sua História» (1970), permite estabelecer uma relação com a citada pedra tumular:
        
                  «Em 18 de Setembro de mil setecentos e dezassete, faleceu D. Catarina Bravo, natural da Vila de
            Cantalejo, reyno de Castela, Bispado de Segóvia, mulher que era do Governador de São Félix[1],
            Dom Pedro Martins[2], como fez testamento e recebeu os Sacramento todos com muita boa disposi-
            ção de católica, era sepultada na Matriz deste lugar, junto à Capela-mor»[3].

Igreja Matriz de Alcains.
       Posteriormente, o Cónego Franco Infante, no seu livro «Património Cultural de Alcains» (1992), volta a este assunto e socorre-se da opinião de um especialista, o qual lhe confirma que as armas deste brasão "não pertencem ao armorial português". O mesmo afirma ainda que "a legenda abreviada e muito carcomida pela acção do tempo (…) se refere à SEPULTURA DE P.º MARTINS (OU MARINEZ) ROMO (marido de D. Catarina Bravo)". Acrescenta, sem mencionar a fonte, que o mesmo terá "falecido na Alemanha cerca de 1732, ou seja 15 anos depois da morte da esposa, sendo de crer que ele fosse sepultado na campa de D. Catarina, e sendo nesta altura esculpida e legendada a mesma campa ..."[4].
        Apesar destes elementos, muitas interrogações se nos deparam ainda perante este misterioso Pedro Romo, cuja família através desta pedra tumular pretendeu perpetuar a sua memória, hoje quase perdida não fosse a nossa persistência em desvendar este enigma.
        Quem foi este casal de origem Castelhana? Qual o seu papel social? Porque razões se acolheram em Alcains? Estas, e outras interrogações, desafiaram a nossa imaginação.
     O nosso gosto pelos enigmas da heráldica desta região, alguns dos quais tem resistido a vários especialistas que sobre eles se têm debruçado, como é este o caso, levou-nos a visitar a Matriz de Alcains e a fotografar a citada pedra tumular no Natal de 2009, partindo então em busca de elementos que satisfizessem a nossa curiosidade.
          Nas primeiras cinco linhas da inscrição tumular vemos ainda algumas letras da seguinte inscrição: 

«S·D·P·O M.(?)R·MO
DE·L· A·F·DO·D IM(?) D·S·M
CESA·HE·CA FAL·Co·B
AL·DA·P·DE CR·XTO·HE
SARGE·TO (…) HE CRD / (….)».

             A sua provável interpretação é:
         «S(epultura) D(e) D. P(edr)O M(z?) R(o)MO / DE L(?) F(idalgo) DO IM(pério) D(e) S(ua) M(ajestade) / CESA(rea)[5] HE C(asa) A(ustria) FAL(ecido) EM C(astelo) B(ranco) /  AL … DA P(az?) DE CRIXTO H(omem) E / SARG(ento) … …»
 
             Assim, teremos:
         SEPULTURA DE D. PEDRO MARTÍM ROMO / DE (…) FIDALGO DO IMPÉRIO DE SUA MAGESTADE / CESÁREA (…) CASA DE ÁUSTRIA. FALECIDO EM CASTELO BRANCO. / AL (….) DA PAZ DE CRISTO HOMEM E / SARGENTO (… … …).

Em busca do detentor do brasão
       Desde a descoberta desta pedra sepulcral, nuvens de mistério se adensam sobre quem seria o seu destinatário. O escudo de armas que nela figura tem as suas peças heráldicas ainda legíveis, mas o facto de ser um brasão de origem estrangeira afastou os investigadores que têm procurado a sua decifração. Quanto ao seu campo epigrafado, distribuído por várias linhas, o desgaste do granito e algumas pequenas escoriações apresentadas impedem a sua cabal leitura não acrescentando muita informação.
        Pela sua inscrição, apenas sabemos ser destinada à última morada de Pedro Romo, com um outro apelido intermédio, o qual devido ao desgaste da pedra, tanto aparenta ser a abreviatura de Martín, como de Martins.
O assento de óbito de Catarina Bravo, mulher do armigerado, já nos proporciona mais algumas pistas que foram importantes para a descoberta de outros dados biográficos[6].
O primeiro documento por nós encontrado, e talvez um dos mais significativos, é uma notícia com origem em Viena de Áustria, datada de 23-I-1726 e publicada na «Gazeta de Lisboa Ocidental» (14-III-1726), que nos faz avançar no conhecimento de D. Pedro M. Romo. Eis a sua transcrição com a grafia modernizada[7]:

        «ALEMANHA. Viena 23 de Janeiro. (…) Em consideração dos relevantes serviços, que tem feito à
               Augustíssima Casa de Áustria D. Pedro Martins Romo, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Sargento-mor
               e Governador, que foi no político, e militar da Praça de S. Felices de los Galegos[8], de Abadengo, e
               Ribeira, e Superintendente geral das Rendas Realis foi S. Mag. Imp. Servido fazer-lhe mercê do título
               de Marquês de Caravina no Reino de Nápoles, de juro, herdade, para sempre, enquanto durarem
               seus descendentes por linha masculina, ou feminina, com todas as honras correspondentes a esse
               título; é já no ano de 1719 lhe havia feito a mercê de Armas novas[9].
        
«Gazeta de Lisboa Ocidental»
n.º 11, 14-III-1726
 Notícia sobre D. Pedro Martíns Romo,
«Gazeta ...», n.º 11, 14-III-1726
           
















          A partir dos dados biográficos recolhidos na notícia da «Gazeta», referente ao ano de 1725 e publicada com cerca de um ano de atraso, pesquisamos Felgueiras Gaio no seu Nobiliário[10]. Tivemos sucesso, pois aqui conseguimos localizar uma Árvore de Costados que lhe diz respeito e onde figura com a indicação da sua parentela mais chegada[11]. Com estas informações, às quais acrescem mais elementos colhidos no Arquivo da Torre do Tombo, assim como informações dispersas em diversos estudos espanhóis sobre a Guerra da Sucessão, conseguimos obter alguns dados sobre a vida deste militar «austracista»[12].
          Esta notícia teve origem na sua elevação à nobreza titular como Marquês de Caravina do então Reino de Nápoles «de juro, herdade, para sempre», pelo Imperador Carlos VI (1685-1740), na sua corte de Viena, cidade que naquela data era sede do Sacro Império Romano-Germânico[13]. Ainda refere que já anteriormente, em 1719, lhe tinha sido feita «mercê de armas novas», as quais são estas aqui gravadas na sepultura de Alcains.


            A morte sem herdeiros directos do monarca espanhol Carlos II pertencente à Casa de Habsburgo (Áustria), casado com a rainha D. Maria Luísa de Orleans, da família real francesa, originou-se um conflito armado na Europa, transformando a Península Ibérica num dos campos de batalha entre os Bourbons (centralistas), e os Habsburgos (federalistas), estes últimos com grandes apoios na Catalunha. 
         À sucessão ao trono de Aragão e Castela, perfilaram-se dois pretendentes: um deles o Arquiduque Carlos de Áustria, que contestou a ocupação do trono pelo pretendente francês Filipe de Anjou em 1700. Este último acabaria por vencer o conflito e reinar como Filipe V, após ter derrotado o pretendente austríaco na Guerra da Sucessão de Espanha (1701-1714), mas perdendo para os austríacos os Países Baixos do Sul, Milão, a Sardenha e o Reino de Nápoles.
          Esta guerra dividiu os espanhóis em dois campos: Castela, inicialmente fica maioritariamente fiel às pretensões do candidato francês, enquanto os antigos territórios da Coroa de Aragão alinham pelos interesses austríacos a partir de 1705.
          Nesta disputa pelo trono espanhol, Portugal, depois de alguma hesitação, alinhou pelos interesses do arquiduque. De imediato tivemos que nos confrontar com a invasão do nosso país por um exército de cerca de 40.000 homens fiéis ao candidato borbónico Filipe V, o qual devastou ou tomou de assalto várias praças fronteiriças como Salvaterra do Extremo, Penha Garcia, Segura, Idanha-a-Nova, Monsanto e Castelo Branco, cujas defesas muralhadas e castelos foram muito danificados.
          Como resposta a este ataque, o nosso país tornou-se a base inicial das operações militares do arquiduque austríaco, agora com o nome de Carlos III de Aragão e Castela, como foi aclamado em Viena de Áustria a 12-VIII-1703, desembarcou em Lisboa com as suas tropas a 9-III-1704. Foi recebido com fausto e avançou militarmente sobre Castela com o apoio de generais ingleses e portugueses que escolheram a fronteira da Beira junto à cidade da Guarda para atacarem Cidade Rodrigo. Esta campanha fracassou e obrigou Carlos III a embarcar em Lisboa numa esquadra inglesa para se dirigir à Catalunha, a partir da qual fez algumas operações militares. Entretanto no nosso país preparam-se outras incursões terrestres sob o comando de generais portugueses, as quais tiveram início nos dois anos seguintes.
          D. Pedro M. Romo, comandante de uma praça de guerra espanhola junto à fronteira portuguesa, como muitos outros destacados espanhóis torna-se apoiante da causa austríaca, sendo deste modo arrastado para este grande conflito armado que mais uma vez trouxe a guerra civil ao território espanhol.
          Nestas operações, o comando da Beira e do Alentejo estavam sob as ordens de D. António Luís de Sousa, 4.º marquês das Minas, e de D. Dinis de Melo e Castro, 1.º conde das Galveias, os quais atacaram com sucesso Valência de Alcântara a 8-V-1705, e logo depois Albuquerque. O marquês das Minas retomou as praças ao norte do rio Tejo como Salvaterra do Extremo, Idanha-a-Nova, Segura, Monsanto e Castelo Branco. Na campanha de 1706, Alcântara rendeu-se a 14 Abril e foram caindo as terras da Estremadura, e em Castela a zona de Cidade Rodrigo e Salamanca, onde operava como militar Pedro M. Romo, o qual então terá aderido à causa do arquiduque austríaco e provavelmente participado nas subsequentes operações militares, início da sua ascensão social que terminaria anos mais tarde em Viena de Áustria.
          No mesmo ano de 1706, após estas vitórias para as armas portuguesas, o marquês das Minas seguiu por Peñaranda de Bracamonte em direcção a Madrid onde penetrou triunfante em Junho de 1707.
          Entretanto Carlos III toma de assalto Valência e Barcelona e cria a Real Junta do Estado da Catalunha, ficando o trono espanhol à sua mercê. Porém não tinha muitos seguidores entre a população civil, enquanto Filipe V recebia constantes socorros de além Pirinéus, cujos reforços o acabariam por fortalecer até à sua vitória na Batalha de Almansa em 1707; início da derrocada das pretensões do candidato austríaco. A tomada de Saragoça em 1710 por Carlos III, seguida da sua entrada em Madrid ainda deu algum alento às suas hostes, enquanto Filipe V retirava para Valladolid para regressar mais tarde por entre o apoio popular como já havia acontecido anteriormente. 
       
Imperador Carlos VI
      Carlos VI (1685-1740), Imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1711-1740), reuniu debaixo do seu ceptro vastos domínios territoriais por toda a Europa[14]. Como Arquiduque da Áustria, tinha-se feito coroar em Madrid com o título de Carlos III de Castela[15], mas acabou por ter que abandonar o território espanhol e regressar à Áustria para aí assumir aí o trono (1711) devido à morte súbita em Viena do seu irmão o Imperador José I da Germânia (1678-1711).
      Por esta altura a guerra afrouxa na Catalunha e recrudesce na fronteira de Portugal, até que o Tratado de Ultrech (1713)[16] e o de Rastatt (1714) põem finalmente termo a este conflito.
      Filipe V passa a reinar em Espanha, sem contestação, mas perde a favor da Casa de Habsburgo vários domínios como Milão, Nápoles e Sardenha, os quais foram ocupados por tropas leais à Áustria, nomeadamente por militares espanhóis fiéis ao Imperador. Na sequência destes tratados Portugal assinou a paz com a França em 1713, e com a Espanha em 1715.
          Os espanhóis que defenderam a candidatura do Arquiduque Carlos de Áustria tiveram que abandonar a sua pátria e acolheram-se aos diversos territórios do Império: nomeadamente na Hungria, em Itália (Nápoles, Sicília, Sardenha, Milão) e principalmente na Áustria, debaixo do braço protector do Imperador. Este jamais renunciou à Coroa de Espanha e fez-se rodear de muitos cortesãos e militares espanhóis que o tinham acompanhado na aventura Ibérica[17]. Entre estes, que no seu conjunto seriam da ordem de alguns milhares, estaria presumivelmente D. Pedro M. Romo. O Imperador sempre lhes dispensou grande acolhimento, atribuindo-lhes pensões, assim como cargos civis e militares para os compensar das perdas pessoais sofridas, podendo assim sustentarem-se com alguma dignidade.
     O financiamento para estas pensões provinha do rendimento dos bens confiscados em Itália, nomeadamente no reino de Nápoles, Sardenha e Estado de Milão, aos partidários de borbónicos, à semelhança do que estes haviam feito em Espanha aos seguidores da dinastia dos Habsburgos.  
          Carlos VI recebeu com agrado a influência da cultura espanhola, em especial da catalã; quer no plano político, quer no plano cultural e económico. Mandou construir em Viena o edifício da famosa Escola Espanhola de Equitação (1735), entre muitas outras edificações barrocas com que embelezou esta cidade. Para apoio dos exilados espanhóis espalhados pelos diversos territórios do seu império e resolução dos seus inúmeros problemas, dando resposta às suas diversas carecias, criou várias instituições cuja gestão lhes foi entregue. Assim surgiu na capital austríaca, entre outras instituições destinadas a tratar das questões espanholas, a Secretaria de Estado e do Despacho Universal, também conhecida por Despacho do Conselho de Espanha (1713), da qual dependia o Real Bolsilho Secreto que permitia o apoio financeiro de carácter assistencial a estes exilados sem dependerem da intervenção dos ministros austríacos[18]. Criou também o Hospital dos Espanhóis (1718) com dotação económica própria para tratamento dos enfermos dos estados da monarquia de Espanha, assim como disponibilizou fundos para o Hospital de Monserrate de Roma. 
          Carlos VI dispensou particular protecção aos espanhóis que vagueavam por Viena e que lutaram nas suas hostes em Espanha, permitindo-lhes a continuação das suas carreiras nos extensos territórios da Casa de Áustria. 
      Em 1719, o ano em que foram concedidas as armas a Pedro M. Romo, são reorganizados dois Regimentos de Cavalaria e três de Infantaria, destinados a lutar contra os Turcos na Hungria, ou na defesa dos territórios italianos de Nápoles, Milão e Sicília, quando estes estavam debaixo da administração austríaca.

Brasão       
          A pedra de armas representada na metade superior da pedra sepulcral, certamente saída das mãos de um canteiro de Alcains, apresenta um escudo esquartelado e encimado por um elmo colocado de perfil com o respectivo paquife e timbre, que neste último caso parece representar um conjunto de plumas.
          Estas armas foram concedidas pelo Imperador Carlos VI «no ano de 1719», conforme menciona a notícia da Gazeta, mas não se conhece o documento original desta concessão.
          A partição do escudo é esquartelada, como em qualquer brasão de costados que represente as armas dos apelidos paternos e maternos. Este facto levou alguns investigadores a andaram erroneamente em busca dos apelidos dos seu ascendentes, o que em rigor não é   este o caso. Estamos perante um brasão de «armas novas» concedidas em recompensa de feitos e serviços prestados, sem correspondência com os apelidos dos seus antepassados.
          Os oficiais de armas ao serviço do arquiduque elaboraram esta composição com significado simbólico, para a qual, apesar de não conhecermos a representação das cores e metais, arriscamos aqui a nossa interpretação[19]
Armas de D. Pedro Martín Romo (1719).
          O 1.º QUARTEL, com uma ÁGUIA BICÉFALA estendida, com ambas as cabeças coroadas e, apesar do desgaste que actualmente acusa, aparentemente está carregada de uma arruela[20], como as armas usadas por Carlos VI, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que lhe terá concedido o privilégio de usar armas imperiais como recompensa dos bons serviços prestados à sua causa. O 2.º QUARTEL, com um LEÃO rampante e coroado, representando as armas do Reino de Leão[21], de onde D. Pedro M. Romo era originário e onde serviu em cargos da governação. O 3.º QUARTEL, com uma CLAVINA com a respectiva bandoleira. O 4.º QUARTEL, com um CASTELO, provavelmente alusivo ao reino de Castela que o armigerado serviu. O 3.º e 4.º, em conjunto, também poderão representar algum feito militar no qual o armigerado se distinguiu.





Armas da Boémia, de Carlos VI.

Armas do Reino de Leão
Armas da Casa de Habsburgo
(Áustria)


Armas do Império Austríaco


D. Pedro Martins Romo
1.º Marquês de Caravina (1725)
          Não tendo acesso a muitos fontes primárias e documentos fidedignos para apurar alguns dados devido à maior parte da sua carreira ter decorrido em Espanha e noutros países do Sacro Império Romano-Germânico, tivemos que recorrer a algumas fontes que nos merecem algumas reservas, assim como a um Site genealógico[22].
       Aqui damos conhecimento de tudo o que conseguimos apurar, para que outros investigadores com acesso aos diversos arquivos espanhóis e austríacos possam vir a ter maior sucesso[23]. 
Saucelles, Igreja.
D. Pedro Martín Romo (n. 1666?) nasceu por volta de 1666 no pequeno povoado de Saucelle, na província de Salamanca, reino de Castela e Leão, junto à fronteira de Portugal e perto da vila portuguesa de Freixo de Espada à Cinta. Era filho de Lourenço Martín Romo, capitão de Infantaria de Castela, e de sua mulher D. Maria Martins (ou Martín?). 
          Ainda novo, por volta de 1685, casou em San Felices de los Gallegos, província de Salamanca, uma localidade que fica a cerca de 40 Km mais a Sul da sua terra natal, com sua parente D. Catarina Bravo (1668?-1717), nascida em Cantalejo, na província Segóvia, e falecida por volta dos cinquenta anos de idade a 18-IX-1717 em Alcains, no Concelho de Castelo Branco. Esta senhora era filha de André Bravo (c. 1667) que obteve o hábito da Ordem de Cristo a 2-XII-1667[24], e de D. Maria Martins que presumimos ser descendente da família Martins de Alcains, como adiante veremos.
San Felices, Castelo.
          Deste casamento de D. Pedro M. Romo, conhecemos um filho que fez carreira em Portugal e foi D. João Francisco Martins Romo de Caravina (n. 1686?-1734)[25], 2.º marquês de Caravina[26], o qual nasceu por volta de 1686 em San Felices de los Gallegos, na província de Salamanca, vindo a falecer a 23-IX-1734 na freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa, em cuja igreja foi inumado em sepultura de fábrica. Foi capitão de Cavalos e obteve o hábito da Ordem de São Tiago do Convento de Palmela e uma tença de 12$000 rs[27], tendo sido casado com D. Francisca Xavier de Melo (c. 1680), da qual sabemos ter tido duas filhas.
          A primogénita deste casal foi D. Vicência Antónia Romo de Caravina (n. 1706?), nascida por volta de 1706 em Coimbra como consta no seu assento de casamento, ou em São Paulo, Lisboa, a qual obteve uma tença a 8-VII-1755[28], tendo casado por volta de 1744 com José da Silva Rodarte[29], do qual terá tido nove filhos, quatro dos quais foram:
San Felices, Torre de las Campanas.
         1. - António Alexandre Romo Rodarte de Caravina (c. 1778), o qual obteve foro de Fidalgo a 23-IX-1778[30], baptizado na freguesia de Santo Estêvão de Alfama em Lisboa, cidade onde casou na freguesia dos Anjos a 30-VII-1783 com D. Petronilha Inácia Xavier do Prado, também baptizada em Lisboa;
          2. - Pedro Faustino Romo Rodarte de Caravina (f. 1811), que obteve o foro de Fidalgo Cavaleiro em 30-VIII-1780[31]. Faleceu sem geração;
          3. - João António Norberto Rodarte Caravina;
          4. - D. Maria Plácida Antónia
A filha secundogénita foi D. Crispina Teresa Romo de Melo (c. 1725) que foi casada com o doutor em Cânones João Anastácio da Veiga (c. 1720), natural de Salvador, Arraiolos. 


          Quanto a D. Pedro M. Romo sabemos que terá levantado pendão pelo Arquiduque da Áustria, antes de 1706 quando estava à frente da governação de San Felices de los Gallegos.
          Por uma listagem de bens confiscados pela repressão borbónica na Coroa de Castela, sabemos que em 1706, na sequência de ter passado ao serviço da causa austríaca foi-lhe sequestrada uma propriedade rústica com vinha na Vila de San Felices, a qual à data nada rendia por falta de cultivo[32].
Sobradillo, Castelo.
          Quanto à sua vida militar em Castela, o que conseguimos apurar passou-se por volta de 1707 quando o exército português seguiu por Peñaranda de Bracamonte em direcção a Madrid, cidade onde penetrou triunfante em 28-VI-1707. Foi por esta altura que várias praças de guerra espanholas caíram na posse dos portugueses. D. Pedro M. Romo era então «Sargento-mor e Governador da Praça de S. Felices de los Galegos, de Abadengo[33], e Ribeira»[34], e já tinha aderido às pretensões do Arquiduque de Áustria, juntando-se às suas hostes. Em 1706, em plena guerra, os portugueses ocuparão a vila de San Felices pelo espaço de vários meses até Outubro de 1707, quando a abandonaram, e foi então que D. Pedro M. Romo ordenou a demolição das defesas naturais de Sobradillo[35], como relatou Francisco Gamito, o escrivão público desta localidade.
          Após a retirada dos portugueses de San Felices, Pedro Martín Romo terá saído em direcção a Portugal, à semelhança do que fizeram muitos dos seus correligionários, como foi o caso de Diego Montojo regedor e alferes-mor de Salamanca[36]; ou, em alternativa, terá participado na expedição da Guerra da Catalunha (1707-1712), como fizeram outros militares portugueses. Muitos destes combatentes passaram a Lisboa, após o que foram para Barcelona e, na sequência da queda desta cidade, acabaram por se exilar nos diversos territórios austríacos.
          Em Fevereiro de 1719, dois anos após o falecimento de sua mulher em Alcains, o rei D. João V concede-lhe uma tença de 12$000 rs. e o hábito da Ordem de Cristo, provavelmente por ter prestado serviços relevantes à Coroa Portuguesa[37]. Neste mesmo ano foi agraciado por D. Carlos VI com a «merced de hidalguía y nobleza perpetua de los reyes de Castilla»[38], com as respectivas «armas novas» mencionadas na notícia da Gazeta, as quais figuram na sua sepultura. O motivo desta última promoção social é-nos desconhecido, mas, pela iconografia das mesmas armas, provavelmente ficou a dever-se à retribuição de algum relevante feito militar que praticou na tomada ou na defesa de alguma praça de guerra quando passou ao serviço de candidato austríaco.
          Em 30-IV-1725 dá-se a assinatura do Tratado de Paz de Viena, entre Filipe V e Carlos VI, pondo-se então fim ao atribulado conflito que afligiu os reinos ibéricos. Por este tratado foi acordada «a amnistia recíproca» e a restituição dos bens confiscados, assim como de todas as dignidades concedidas por ambos os contendores até ao ano de 1725. Porém, a restituição dos bens aos austracistas regressados a Espanha, por parte de quem deles desfrutava, assim como a sua reinserção nos cargos que ocupavam, levantou muitos obstáculos que deixaram outros tantos litígios sem resolução e com graves prejuízos para os espoliados. 
          Na sequência da paz firmada em Viena, o Conselho de Espanha passa a organizar o regresso dos exilados civis, assim como os eclesiásticos e militares que pretendam voltar a suas casas, dotando-os do dinheiro necessário para empreenderem a viagem de retorno. Muitos espanhóis, a maioria deles com recursos mais baixos, decidiram ficar nos domínios imperiais onde dispunham de algum tipo de ofício público, ou pertenciam à administração ou ao exército, o que lhes permitia receber um soldo regular e continuar as suas carreiras ao serviço do imperador. Muitos destes acabaram por morrer em Viena ou noutras localidades do Império.
          Neste mesmo ano de 1725, vemos D. Pedro M. Romo ser agraciado por Carlos VI com o título de Marquês de Caravina, como se constata na já mencionada notícia da Gazeta, e receber a 27-VII-1725 a quantia de 300 florins, pagos pelo Real Bolsilho Secreto do Conselho de Espanha «para passar a Lisboa»[39].
          Com cerca de sessenta anos de idade termina a sua vida aventurosa ao serviço da Casa de Áustria não voltando a Saucelle terra da sua naturalidade, ou à vila de San Felices de los Gallegos onde outrora casou, adquiriu bens e onde passou a viver e a servir em cargos da governação. Em alternativa, escolheu como terra de acolhimento a então pequena aldeia de Alcains, onde sua mulher Catarina Bravo, filha de Maria Martins (de Alcains?), falecera cerca de oito anos antes. Curiosamente, em 1730 é conhecido em Alcains o Padre Manuel Rodrigues Bravo (c. 1730), cuja ligação a esta família é para nós outra incógnita…
          Todos os conflitos armados, especialmente guerras civis como esta, geram sempre um saldo negativo para os perdedores e exilados, com danos irreparáveis e fracturas sociais a nível das pequenas comunidades envolvidas, que impedem o retorno dos seus filhos.
          Certamente houve constrangimentos ao regresso de D. Pedro M. Romo, em consequências das suas opções ideológicas e dos actos de guerra praticados na governação de Sam Félices e de outras terras no seu limite, os quais lhe terão causado inimigos e outros obstáculos legais. Talvez por isso não regressou à sua terra natal ou à da sua mulher.
          Não passando de mera suposição, estamos em crer que o seu acolhimento em Alcains ficou-se a dever à existência de alguns parentes e amigos nesta região, os quais já tinham recebido anteriormente a sua mulher aqui falecida, durante a sua atribulada vida de refugiado austraciano. Pensamos que os seus presumíveis parentes seriam, do lado de Catarina Bravo, os proeminentes Martins Goulão.
Alcains, Solar dos Goulões
(Martins Goulão).
Actual Museu do Canteiro.
          Os MARTINS eram uma numerosa e proeminente família de Alcains com ramificações em várias freguesias limítrofes a partir do último quartel do século XVI. Não enjeitamos a possibilidade de uma das avós de D. Pedro M. Romo pertencer a esta família, a qual por alianças matrimoniais ocorridas nos finais do século XV se uniu aos GOULÕES e deram a ilustre geração dos MARTINS GOULÃO. Estes por vários séculos deram alguns religiosos de ambos os sexos e inúmeros militares com as mais diversas patentes, muitos dos quais se distinguiram nos inúmeros conflitos militares que assolara a região[40]
Alcains, Solar dos Goulões,
escadaria.
          O primeiro MARTINS que se salientou na história local de Alcains foi o ilustre e abastado capitão António Martins (f. 1623), grande proprietário em Alcains, Cafede e no Salgueiro, casado, que teve quatro filhos e fez testamento pelo qual instituiu duas capelas dentro da Igreja Matriz[41]: uma delas a de São Miguel onde ficou sepultado quando faleceu a 15-I-1623, assim como outros seus familiares[42]. Este teve um filho que se notabilizou como militar e foi o capitão Simão Martins Goulão (1593-1658), grande combatente na Guerra da Restauração, casado duas vezes, com dez filhos, dois dos quais também foram militares conhecidos: o primeiro deles, o capitão Manuel Martins Goulão (f. 1711) que foi comandante da praça de guerra de Alcains durante a Restauração, casado e com sete filhos; outro dos foi o sargento-mor José Martins Goulão (1647-1716), que prestou serviço durante a Guerra da Sucessão, quando os espanhóis invadiram Portugal em 1704, tomando de assalto Salvaterra do Extremo, Segura, Monsanto e Castelo Branco.
          A história de Alcains registou mais alguns elementos desta família que até à segunda metade do século XIX se distinguiram na vida militar[43], os quais tiveram por berço o Solar dos Goulões, um dos mais belos exemplos da arquitectura solarenga de Alcains. Esta casa, com várias remodelações através do tempo, chegou aos nossos dias em razoável estado de conservação pelo que veio a ser classificada como Imóvel de Interesse Público (2002) para acolher o actual Museu do Canteiro que foi inaugurado em 2005.

San Felices de los Gallegos
San Felices de los Gallegos
          A povoação espanhola de San Felices de los Gallegos, na província de Salamanca, onde D. Pedro Martín Romo foi Sargento-mor e Governador, assim como Superintendente geral das Rendas Reais, é uma pequena localidade junto à fronteira, a norte de Cidade Rodrigo da qual dista cerca de 30 Km. Terá sido fundada por volta de 690 por Dom Félix, sucessivamente Bispo do Porto, e de Braga (693), sendo povoada com população oriunda da Galiza. 
         Situada numa zona de fronteira, à mercê dos interesses conflituantes de dois grandes reinos ibéricos, mudou várias vezes de mãos. Foi em tempos um importante e disputado ponto estratégico, quase sempre envolto nas diversas disputas fronteiriças que alternaram ao longo do tempo o seu senhorio entre Castela e Portugal.
San Felices de los Gallegos
          Em 1296, o rei de português D. Dinis (1279-1325) entrou em Castela e apoderou-se, entre outros lugares, da vila de San Felices cuja conquista foi confirmada pelo Tratado de Alcanizes (1297), logo tratando este rei de aí erguer o seu castelo.
          Em 1327 passa à posse de Castela, e em 1370 retornar a Portugal para, passado um ano, regressar de novo ao senhorio anterior. Mais tarde foi entregue a Garcia Alvarez de Toledo (f. 1488), 1.º duque de Alba, que a desenvolveu e  fez dela a base das suas investidas militares contra Portugal.
          Depois da proclamação da independência de Portugal em 1640, esta vila, juntamente com outras situadas nesta região, foi várias vezes atacada e tomada pelos portugueses.

Foi muito gratificante descobrir a quem pertenceu esta pedra tumular, assim como encontrar alguns traços biográficos do seu destinatário. Deste modo, D. Pedro Martín Romo foi resgatado do esquecimento para lembrança dos seus descendentes que, com outros apelidos, sabemos ainda ter em Portugal e no Brasil: são eles os Rodarte de Almeida, e os Rodarte Veloso, entre muitos outros.




Notas:

[1]   San Felices de Los Gallegos, na raia de Espanha, 30 Km a noroeste de Cidade Rodrigo, na província de Salamanca.  
[2]   O apelido Martins, na realidade era Martin, pois era de origem espanhola.
[3]   ROQUE, Sanches, Alcains e a sua História, Castelo Branco, e. a., 1970. pp.  77 e 106.
[4]   INFANTE, Cónego Franco, Património Cultural de Alcains, Alcains, 1992, pp. 103-104.
[5]   Sacra Majestade Cesárea Católica, era um dos tratamentos honoríficos atribuídos ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
[6]   Cremos que o seu sobrenome é MARTÍN, embora na documentação portuguesa apareça referido como MARTINS. É de referenciar que tinha duas avós com este apelido, tendo provavelmente uma delas origem portuguesa, nomeadamente em Alcains.
[7]   A Gazeta de Lisboa foi o primeiro periódico português publicado em Lisboa no ano de 1641, durante o reinado de D. João IV. Em 1715, no reinado de D. João V, reaparece como jornal oficial. Ao longo do tempo teve diversos títulos e foi uma antepassada do Diário do Governo (1869-1976) e do actual Diário da República. 
[8]   San Felices de los Gallegos (São Félix para os portugueses), é uma pequena localidade junto à fronteira portuguesa, a norte da Cidade Rodrigo.
[9]   «Gazeta de Lisboa Ocidental», Nº. 11, 14-III-1726, p. 86.
[10]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, 12 vols, Braga, Carvalhos de Basto, 1992. – Apesar de não estar isenta de erros, esta obra fornece-nos pistas preciosas para a investigação genealógica.
[11]  GAIO, Felgueiras, Op. Cit., Costados n.º 160 - Rodarte, v. XI, p. 620.
[12]  Austracistas é o nome dado pela historiografia espanhola aos partidários do imperador austríaco, os quais, em grande número, se refugiaram na Áustria e nos territórios que faziam parte do Sacro Império após a sua derrota em Espanha.
[13]  Carlos VI, até 1725, foi concedendo aos exilados espanhóis diversos títulos nobiliárquicos, assim mercês de Grandeza de Espanha (máxima dignidade da nobreza espanhola), na qualidade de Rei de Espanha, segundo as leis do Reino de Aragão e da Coroa de Castela. Nápoles estava sob a autoridade da coroa espanhola, pelo que nessa qualidade os monarcas  espanhóis concediam os títulos referentes a este reino. 
[14]  Era Imperador da Germânia (1711-1740), rei titular de Espanha (1703-1713), da Boémia e da Hungria (1711-1740), de Nápoles (1714-1734), da Sardenha (1713-1720), príncipe dos Países Baixos (1714-1740), duque da Mântua (1706-1740), de Milão (1714-1740), de Parma e de Piacenza (1735-1740).
[15]  Carlos III, não consta na lista de reis espanhóis devido ao facto de ter perdido a Guerra da Sucessão a favor de Filipe V de Espanha.
[16]  Na cidade flamenga de Ultrecht, juntaram-se os ministros dos dois blocos em guerra.
[17] Segundo as estimativas de vários autores, o número de exilados espanhóis da Guerra de Sucessão oscilaria entre os 16.000 a 30.000.
[18]  LEÓN SANZ, Virgínia, «Patronazgo Político en la Corte de Viena: Los Españole y el Real Bolsilho Secreto de Carlos VI», Revista de História Moderna, Universidade de Barcelona, Any XVIII, n.º 18-II, pp. 577-598.
[19]  Oficiais de armas - funcionários régios encarregados de por em prática as Leis Heráldicas.
[20]  Arruela  – círculo em forma de moeda, que pode ser carregado de outras peças heráldicas, neste caso as armas do reino da Germânia e de Áustria .
[21]  Antes da união final com a Corona de Castela, no século XIII, o reino de Leão abrangia várias comunidades autónomas nas quais se incluía grande parte da província de Salamanca.
[22]  GAIO, Felgueiras, loc. cit.; e http:www.familysearch.org – Ver Pedro Martins Romo de Caravina.
[23]  Grande parte da documentação que diz respeito a este período encontra-se no «Staatsarchiv» em Viena de Áustria.
[24]  IAN/TT, Registo Geral de Mercês, Ordens, liv. 6, fl. 431.
[25]  Nos documentos que fomos encontrando, o apelido Caravina também aparece grafado de Cravina, ou de Clavina.
[26]  Título reconhecido por D. João V, segundo Felgueiras Gaio, Op. Cit., Costados n.º 160 - Rodarte, v. XI, p. 620.
[27]  AN/TT, Registo Geral de Mercês de D. João V, liv. 5, fl. 258 v.
[28]  IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 3, fl. 266 v.
[29]  José da Silva Rodarte era um dos filhos do desembargador do Paço Dr. João da Silva Rodarte (n. 1669).
[30]  IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv. 5, f. 175.
[31]  IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv. 9, f. 205.
[32]  LEÓN SANZ, Virgínia, «Confiscación de biens y represión borbónica en la Coroa de Castilla a comienzos del siglo XVIII», Cadernos de Historia Moderna, 1998, n.º 21, pp. 153, 171
[33]  El Abadengo é uma região natural de Espanha, tendo por capital Lumbrales, na província de Salamanca, perto da fronteira portuguesa. O seu nome refere-se a um território que esteve sob a jurisdição dum abade da Ordem Templária, passando, após a extinção desta Ordem, a depender do bispado da Cidade Rodrigo.
[34]  Aldeadávila de la Ribera, na província de Salamanca, sessenta quilómetros a norte de San Félices, junto à fronteira de Portugal.
[35]  Pequeno povoado espanhol a cerca de catorze quiilómetros de Sam Félices.
[36]  ZAPATER, Juan C. Saavedra, «Entre el Castigo y Perdón. Felipe V y los Austracistas de la Corona de Castela, 1705-1715», Espacio, Tiempo y Forma, Historia Moderna, 2000, t. 13, 2000, p. 481
[37]  IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. João V, liv. 10, fl. 331.
[38]  LEÓN SANZ, Virgínia, «Los Españoles Austracistas Exilados y las Medidas de Carlos VI (1713-1725)», Revista de História Moderna: Anales de la Universidad de Alicante, n.º 10, 1991, p. 176. – O Imperador do Sacro Império continuou a conceder títulos referentes aos territórios castelhanos, mesmo depois de ter acordado a paz com Castela.
[39]  LEÓN SANZ, Virgínia, «Patronazgo Político en la Corte de Viena …», p. 594.
[40]  Veja ROQUE, Sanches, Op. Cit., Passim.
[41]  Na data do seu falecimento a Matriz de Alcains estava sedeada na Capela do Espírito Santo.
[42]  ROQUE, Sanches, Op. Cit, p. 302.
[43]  O último destes, se bem que já não usava os apelidos Martins Goulão, foi Joaquim Trigueiros Martel (1801-1873), 1.º Conde de Castelo Branco (1870), general da Arma de Cavalaria (1866), o qual foi um dos heróis da Causa Liberal, tendo desembarcado com o exército libertador em Pampelino, próximo da Praia do Mindelo, o qual de distinguiu pela sua bravura militar em diversas recontros.