Morgado de Castelo-Branco-o-Novo
Forma: Pedra de armas rectangular (620 x 980 mm), em pedra calcária, com
moldura de meia cana, perfilada de dois filetes e chanfro interior.
Escudo: Boleado em bico, disposto ao balão, com um leão rampante pleno de
campo, sem indicação gráfica de metais e esmaltes.
Elmo: De justa de duas peças: calote e cara, sem viseira. Colocado de perfil
e coberto de mantelete curto, de duas pontas. Sobre o elmo uma
campo, sem indicação gráfica de metais e esmaltes.
Elmo: De justa de duas peças: calote e cara, sem viseira. Colocado de perfil
e coberto de mantelete curto, de duas pontas. Sobre o elmo uma
barretina, em lugar do virol.
Timbre: Penacho de cinco plumas, seguras no pé por um anel.
Local: Incorporado na Reserva do Museu Nacional de Arte Antiga (Secção de
Timbre: Penacho de cinco plumas, seguras no pé por um anel.
Local: Incorporado na Reserva do Museu Nacional de Arte Antiga (Secção de
Escultura, n.º 20). Veio do Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azóia,
Loures.
Legenda: De ambos os lados do timbre, em caracteres góticos com capitular:
«Cas/tel b r/anco./ho novo.»
Data: Século XV (meados).
____________
Notas:
«Cas/tel b r/anco./ho novo.»
Data: Século XV (meados).
Afonso IX, rei de Leão. (Iluminura) |
As
famílias PAIS e CASTELO BRANCO andaram aparentadas desde tempos recuados. A
primeira destas terá dado origem à segunda, a qual usou um escudo de armas com
um leão rampante, alusivo à bravura
militar ou à sua origem leonesa.
O
apelido PAIS, como patronímico de Paio, é usado por muitas famílias, as quais
não tendo origem num tronco comum, terão diversas representações heráldicas. Um
dos primeiros e mais destacados deste apelido foi o cavaleiro PEDRO PAIS DA
MAIA (c. 1147) que foi alferes-mor do
rei D. Afonso Henriques (1109-1185) até à derrota deste rei no cerco de Badajoz
(1169) pelas tropas do rei de Leão (D. Fernando II)[1],
ao serviço do qual passa a exercer o mesmo cargo de alferes-mor que ainda ocupava em 1186 (Machado,
1977, 2.º, 89). Desconhece-se o brasão
de armas deste notável homem da corte e da guerra, que certamente o teria
obtido ou assumido ao serviço do rei de Leão e, nesse caso, poderia ser um leão, símbolo deste reino.
Armas dos PAIS |
Uma das origens da família
PAIS está em PAIO RODRIGUES DE VALADARES (c. 1210) que usava as seguintes
armas: de prata, com nove lisonjas de veirado de azul e de vermelho, apontadas
e firmadas nos bordos do escudo; por Timbre traziam um pavão de sua cor. Outros
Pais usavam estas mesmas armas com diversas variantes nas suas metais e esmaltes (Zúquete, 1961: 415).
A origem dos CASTELO BRANCO,
a partir da família PAIS, ter-se-á ficado a dever a VASCO PAIS [DE CASTELO
BRANCO] (c. 1350), descendente das notáveis linhagem dos Eris de Baião e dos
Paiva de Riba-Douro, alcaide-mor de Monsanto (1377), da Covilhã onde tinha
muitas propriedades, e de Monforte, ao qual rei D. Pedro (1357-1367) «lhe fez mercê do lugar de Castelo Branco»,
do qual tirou o apelido que acrescentou ao seu nome e transmitiu aos seus
filhos (Gaio, IV, 1992: 218).
Armas dos Castelo Branco, Livro da Nobreza, fl. 12v. |
De Vasco Pais descende GONÇALO VAZ
DE CASTELO BRANCO (c. 1386)[2],
o qual teve uma activa vida militar ao serviço do D. João I (1357-1433) nas
guerras que este travou contra Castela, as quais lhe valeram a obtenção da “honra”
do Sobrado e dos direitos reais de Paiva (15-IV-1386)[3],
assim como obteve as alcaidarias de Moura e de Castelo Branco (Silva, 1999;
148-149). Já com alguma idade participou na conquista de Ceuta (1415), à qual
levou sete dos seus vários filhos que aí se distinguiram e, por esse facto, tornaram-se
proeminentes em honras e cargos de relevo (Silva, 1999: 148-149)[4]. Estes viriam a perpetuar
nas suas descendências o apelido Castelo Branco.
Um filho deste último que
foi NUNO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1415-1447), do qual há vários homónimos, juntamente
com seu pai e irmãos tomou parte na conquista de Ceuta (1415) onde viria a ser armado
cavaleiro pelo Infante D. Duarte, o qual o viria a fazer vedor da sua fazenda e
lhe aforou terras em Monsanto e Medelim (1436)[5],
no distrito de Castelo Branco. Faleceu em 1447.
Morgado de Castelo-Branco-o-Novo, Santa Iria da Azoia, Loures. |
Após esta gloriosa jornada
de África, deixou a Beira Baixa e veio para Lisboa onde instituiu a 31-X-1422 o
MORGADO DE CASTELO BRANCO-O-NOVO (Castelo/Paço de Pirescoxe, 1442) na antiga localidade de Pero
Escouche, junto a Santa Iria
da Azoia, com o claro objectivo de perpetuar obrigatoriamente o nome e a
«honra» dos Castelo Brancos, “trazendo as
armas direitas sem outra mistura nem diferença”. È por esta razão que os
condes de Pombeiro e os marqueses de Belas, que vieram a suceder neste
morgadio, usavam como armas um escudo pleno com o leão rampante dos Castelo Brancos, em detrimento de um escudo
esquartelado com outras armas de família.
Os
bens com os quais constituiu este vínculo provinham da sua mulher D.
JOANA JUZARTE, ainda viva em 1440, rica viúva de DIOGO AFONSO ALVERNAZ (c.
1387), sobrejuiz del`rei D. João I entre 1387 e 1409 e senhor do
Paço de Pero Escouche que já existia
como casa dos Alvernazes, certamente com uma configuração arquitectónica bem mais
modesta da que atingiu com a família Castelo Branco que lhe sucedeu e o
instituiu para cabeça do seu morgado (Castelo Branco, 1990: 37-48).
Armas dos ALVERNAZ, Livro da Nobreza, fl. 31v. |
Os
Alvernazes eram uma antiga família alentejana com origem em Beja[6],
a qual começou a distinguir-se na Baixa Idade Média e veio a adquirir poder
económico e a ocupar cargos de relevo na justiça e na governação da cidade de
Lisboa por via da sua formação letrada (Martins, 1997: 9-41).
DIOGO
AFONSO ALVERNAZ (c. 1387), o detentor do Castelo/Paço de Pirescoxe, anterior à
fundação do morgado dos Castelo Branco, era filho de Afonso Martins Alvernaz,
“o Velho”, magistrado da cidade de Lisboa e de Coimbra, e um dos que ajudou o mestre
de Avis (futuro D. João I) na defesa de Lisboa por altura do cerco que lhe foi imposto
pelas tropas do rei de Castela D. Juan I, em 1384, segundo refere Fernão Lopes
na sua «Crónica de El-Rei D. João I»
(1450). Foi criado por seu amo Gil Afonso, escrivão da Casa do Cível (Martins,
1997: 35-36). Do seu casamento nas primeiras núpcias de JOANA JUZARTE, nasceram
três filhos: Tomás, Inês Dias, e Joana.
Tomás,
o mais velho, viria a casar por volta de 1416 com Leonor Vaz de Castelo Branco,
nascendo deste casamento a filha Violante.
Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azoia, Loures. |
Este
NUNO VAZ, segundo uma escritura de doação de 1-II-1421 existente no Mosteiro
de Chelas, era irmão de D. LEONOR VAZ DE CASTELO BRANCO, então viúva de TOMÁS
AFONSO ALVARNAZ, filho de Diogo Afonso Alvernaz (c. 1387), a qual, pela citada
escritura, faz a seu irmão «livre e pura
doação e acesom entre vivos» de todos os seus bens herdados de seu marido e
filha — que revogaria após a morte de citado Nuno Vaz —, tudo isto em troca de
uma pensão, vindo a professar no Mosteiro de Chelas do qual foi prioresa
(Castelo Branco, 1990: 40, 42).
Mosteiro de Chelas (Gravura antiga) |
Sobre este vínculo recaiam
obrigações pias para com o mosteiro feminino de Chelas (convento de São Félix e
Santo Adrião de Chelas) situado à saída de Lisboa, onde algumas filhas e viúvas
dos Castelo Brancos professaram e foram prioresas.
Os administradores deste
vínculo tinham a obrigação de usar o nome e o brasão de «Castelo Branco», o qual figurava numa monumental pedra de armas quatrocentista que estava à
entrada deste morgado e acabou por ser apeada e incorporada na Reserva do Museu Nacional de Arte Antiga
(Secção de Escultura, n.º 20) quando este paço
entrou em ruína e parte da sua cantaria foi furtada para reutilização em
edificações feitas à sua volta. Na sua origem teria uma extensão territorial
muito apreciável com uma edificação acastelada ao centro, delimitada a Sul pela
margem do rio Tejo, como se depreende de um inventário feito em 1868, no qual
se refere que o respectivo castelo já estava em ruínas.
NUNO VAZ não teve filhos e nomeou para
suceder deste vínculo um sobrinho que foi «o
primeiro filho barom lidimo de lopo vasques de castellobranco, alcaide
de moura», o homónimo Nuno Vaz de Castelo Branco, do qual descendem os condes de
Pombeiro e marqueses de Belas (Castelo Branco, 1990: 37-48).
Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azoia, Loures (Vista lateral) |
Na posse deste vínculo
viria a suceder-lhe, muito mais tarde, um sexto-neto que foi D. PEDRO DE CASTELO
BRANCO (1620-1675), 1.º visconde de Castelo Branco (25-IX-1649), 1.º conde de
Pombeiro (6-IV-1662), capitão da Guarda Real de D. João VI, e herdeiro da casa
de seus pais, o qual foi casado duas vezes, com geração do 2.º matrimónio com D.
LUÍSA PONCE DE LEÃO (1623-1707), fidalga castelhana, dama da rainha D. Luísa de
Gusmão, e depois camarista da infanta D. Catarina que foi rainha da
Grã-Bretanha. Deste 2.º matrimónio nasceram três filhos.
José Luís de Vasconcelos e Sousa (1740-1812), 1.º Marquês de Belas, 6.º Conde de Pombeiro. |
D. Maria Rita de Castelo Branco Correia e Cunha (1769-1832), 1.º Marquesa de Bela, 6.ª Condessa de Pombeiro, 14.ª Senhora do Morgado de Castelo Branco. |
Uma
trineta deste último casal, sucessora neste morgado, foi D.
MARIA RITA DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA (1769-1832), 6.ª condessa de
Pombeiro, 1.ª marquesa de Belas, a qual por morte de seu pai em 1784 ficou
sendo a 17.ª senhora de Pombeiro, 14.ª senhora do morgado de Castelo Branco,
12.ª senhora de Belas, 12.ª senhora da Alcaidaria-mor de Vila Franca de Xira e
dama de honor da rainha D. Maria I. Foi casada com D. JOSÉ LUÍS DE
VASCONCELOS E SOUSA (1740-1812), 1.º marquês de Belas e 6.º conde de Pombeiro,
título este que recebeu pelo seu casamento, assim como a administração da
grande casa de sua mulher que incluía o morgado dos Castelo Branco, fidalgo da
Casa Real, desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação, Conselheiro de
Estado e Embaixador de Portugal em Londres, o qual era filho dos 1.ºs marqueses
de Castelo Melhor. Curiosamente este casal teve um trineto que foi D. Manuel de
Vasconcelos e Sousa (1910-1978), casado
em 1943 com D. Maria Belarmina Franco Pinto de Castelo Branco
(1905-1980), na Capinha, Fundão, matrimónio este que uniu os VASCONCELOS aos
CASTELO BRANCO da Beira, estes últimos provavelmente descendentes de João Pais do Sabugal (séc. XIII), repovoador
da Capinha, onde tinham a grande Casa do Adro que era herança da família PAIS.
D. António Maria de Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa (1785-1834), 2.º Marquês de Belas, 7.º Conde de Pombeiro, 15.º Senhor do Morgado de Castelo Branco. |
O filho herdeiro deste casal foi D.
ANTÓNIO MARIA DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA
(1785-1834), 2.º marquês de Belas, 7.º conde de Pombeiro, 15.º senhor do morgado
de Castelo Branco por sucessão de sua mãe a 3-V-1832, entre vários outros
vínculos que possuía, alcaide-mor de Vila Franca de Xira, capitão da Guarda
Real dos Archeiros, ajudante de ordens do infante D. Miguel e brigadeiro do
Exército. Casou em 1803 com D. CONSTANÇA MANOEL (1780-1834), 2.ª filha dos 3.ºs
marqueses de Tancos.
Deste casamento nasceram
cinco filhos, entre os quais D. JOSÉ INÁCIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA
VASCONCELOS E SOUSA (1807-1867), 8.º conde de Pombeiro, 16.º senhor do morgado
de Castelo Branco, entre vários outros vínculos, oficial de cavalaria do
Exército. Foi sempre fiel ao partido legitimista
de D. Miguel, e por isso não quis receber o título de marquês de Belas das mãos
dos liberais, pelo que se assinava sempre conde de Pombeiro e senhor de
Belas. Este foi casado em 1835 com sua prima D. MARIA FRANCISCA
LUÍSA DE SOUSA (1815-1897), filha dos 2.ºs marqueses de Borba, da qual teve
nove filhos.
Destes,
o filho sucessor nos títulos foi D. ANTÓNIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA
VASCONCELOS E SOUSA (1842-1891), 9.º conde de Pombeiro, 3.º marquês de Belas,
foi oficial-mor honorário da Casa Real, oficial de Cavalaria, e cavaleiro
tauromáquico amador. Casou duas vezes: as 1.ªs núpcias foram com D. JÚLIA DE
OLIVEIRA PIMENTEL (1840-1874), da qual teve três filhas; passou a 2.ªs núpcias
com D. MARIA DA PIEDADE CORREIA DE LACERDA LEBRIM (1857-1925), da qual teve mais quatro filhos. A sua descendência entrou em diversas casas titulares, entre
elas destacamos a dos Condes de Penalva d’Alva com as suas raízes na cidade da
Covilhã e um solar armoriado na freguesia da Fatela, no concelho do Fundão.
D. António de Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa (1842-1891), 9.º Conde de Pombeiro, 3.º Marquês de Belas. |
Castelo/Paço de Pirescoxe, vista do pátio interior, parede com as armas dos Castelo Branco. |
Castelo/Paço de Pirescoxe, vista do pátio interior, parede com armas dos Castelo Branco (alto-relevo). |
Em Maio de 1863 foi publicada a «Carta de lei pela qual ficam desde já abolidos todos os morgados e capelas actualmente existentes no continente do reino, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas e declarados alodiais os bens de que se compõem».
Esta legislação pôs fim aos senhorios e vínculos desta casa titular, pelo que o morgado de Castelo Branco terminou aqui o seu percurso de vários séculos na posse de um único administrador que nesta data era o já citado D. JOSÉ INÁCIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1807-1867), 8.º conde de Pombeiro, 16.º senhor do morgado de Castelo Branco, falecido cerca de quatro anos depois.
No ano seguinte à sua morte, em 1868, é feito o inventário dos
vínculos do condes de Pombeiro para se proceder à sua divisão, por iniciativa de seu filho D.
ANTÓNIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1842-1891), 9.º
conde de Pombeiro, no qual vem referenciada «a
quinta denominada de Castelo Branco na freguezia de Santa Iria, Concelho de
Vila Franca, chamado o Morgado de Castelo Branco, que se compõe de hum castelo
em ruinas, algumas arribanas, lagar d’azeite, grande estenção d’olivedo, terras
de semeadura, lezíria, marinha, pastagens».
Passados dezasseis anos, em 1886, a viúva e seus filhos põem
à venda a «Quinta do Castelo», a qual é adquirida por Maria Amélia da Assunção
Carvalho pela quantia de quinhentos e dez escudos.
Daqui até ao nossos dias, foi o destino que conhecemos ... Prosseguiu o seu estado de ruína, até quase nada sobrar ... Os terrenos deste extenso morgado foram engolidos na voragem da urbanização desenfreada, sem gosto e sem critério, como vem sendo regra nas terras lusas...
Palácio dos Conde de Pombeiro, Largo do Conde de Pombeiro, Lisboa. (actual Embaixada de Itália) |
Palácio dos Conde de Pombeiro, Largo do Conde de Pombeiro, Lisboa. Vista lateral. (actual Embaixada de Itália) |
Brasão do Marquês de Belas. (Castelo Branco) |
Armas dos Castelo Branco, Castelo/Paço de
Pirescoxe, Santa Iria da Azóia, Loures. |
O TIMBRE destas armas é bastante
curioso. Em vez de um leão rampante como
competiria aos Castelo Brancos, é constituído por um penacho de cinco plumas aparentemente seguras na sua base por um
anel.
Para esta família de
cavaleiros que batalharam nas conquistas de África e do oriente, seria mais
adequado o tradicional leão (usado pelos Castelo Brancos), símbolo da força,
da bravura e da nobreza.
Segundo
distinta investigadora Theresa Maria Schedel de Castell Branco, este timbre
remete-nos para a união dos “cinco”
irmãos desta família que estiveram na tomada de Ceuta (Castelo Branco, 1990:
46,47), porém, outros investigadores com créditos firmados, mencionam que
Gonçalo Vaz de Castelo Branco (c. 1386) levou a Ceuta
“sete” dos seus muitos filhos (Silva,
1999: 148-149). Aqui registamos esta desconformidade e, sem
querermos polemizar a questão, não podemos deixar de conjecturar, e aqui deixar
expresso, que pensamos ser este timbre de
plumas uma alusão à sua origem longínqua que entroncava na notável família
PAIS, onde um dos seus ramos usava um pavão emplumado como timbre.
♦
Cavaleiro Templário. |
Sempre duvidamos das versões
correntes e desencontradas sobre origem da heráldica dos Castelo Branco.
Á falta de documentação
que esclareça cabalmente quando este apelido, e o respectivo escudo de armas (com um leão rampante), foi usado pela primeira
vez, fomos procurar respostas para esta questão. Apesar da controvérsia, iremos aqui
tentar dar breves achegas para o esclarecimento desta dúvida.
O nome
da então vila de Castelo Branco – Castelo dos Brancos, isto é, dos monges templários do manto branco, em
nossa opinião, – nome que surge documentalmente em 1213 no foral que lhe foi dado pelo
mestre templário Pedro Alvites (f. 1223), a qual, até aqui era designada por Vila Franca da Cardosa. Os grandes "rivais" dos templários era a Ordem dos Hospitalários (de Malta) que usavam sobre a armadura um manto preto, o que levaria as camadas populares as designá-los por brancos (Templários) e pretos (Hospitalários de Malta), estes últimos também implantados na Covilhã.
Cavaleiro Templário (de branco), Cavaleiro Hospitalário (de preto). |
Quanto
ao apelido desta família, o Armorial
Lusitano no título dos Castelo-Branco,
refere que não se sabe ao certo a sua origem, apontando para o reinado de D.
Afonso III (1248-1279) o aparecimento do primeiro a usar este nome que foi
MARTIM DE CASTELO-BRANCO (c. 1255) que vivia na citada vila, onde era figura de
relevo (Zúquete, 1961: 150).
O Archivo Heráldico-Genealógico remete o seu aparecimento para um
pouco mais tarde, afirmando que foi no reinado de D. Dinis (1279-1325) que esta
família começou a ser conhecida nesta então vila (Baena, 1872, Vol. II: XVIV).
É por esta altura que vemos aparecer JOÃO DE CASTELO BRANCO (c. 1285), Alvazir desta vila que em 1287 promoveu um tratado entre os seus moradores
e os Templários que eram os senhores de Castelo Branco. O mesmo foi vereador da
Covilhã, e teve um filho que foi VASCO PAIS DE CASTELO BRANCO, segundo consta
no Geneall[7].
Representação Heráldica de João Pais do Sabugal (Séc. XIII), com um escudo contendo o leão rampante da família Castelo Branco. Casa do Adro, Capinha, Fundão. |
Como se vê os dois
apelidos (Pais e Castelo Branco), andavam ligados desde tempos recuados e
devem-se ter unido em várias gerações.
Esta família originalmente tinha o apelido
PAIS – que viria a deixar cair –, ao qual acrescentou o de CASTELO BRANCO,
referente os seus domínios territoriais.
Os Castelo Branco
descendiam dos Pais, e as suas armas (escudo com um leão rampante) já eram usadas por estes, como se constata
na representação heráldica que por nós já foi atribuída a João Pais do Sabugal (séc. XIII), o repovoador da Capinha. O leão poderia ser no escudo de
armas dos PAIS uma alusão a estes terem servido os reis de Leão.
Veja sobre JOÃO PAIS DO SABUGAL:
«CASA DO ADRO -
Capinha, Fundão. / Representação Heráldica de
João Pais do Sabugal / Idade
Média (Século XIII)». «EBVROBRIGA»,
n.º 8 (2015), pp. 73-90, Museu Arqueológico
Municipal José Monteiro,
Rua do Serrão
n.º 13-15, 6230-418 FUNDÃO, Tel: 275 774 581
Bibliografia
BAENA,
Sanches de (1872), "Archivo Heráldico-Genealógico". Vol. I e II.
Lisboa.
CASTELO BRANCO, Theresa M. Schedel (1990), “A Pedra d’Armas de Castelo Branco, o Novo”,
in Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Boletim
de Trabalhos Históricos, vol. XLI, 36-48. Guimarães: Arquivo Municipal
Alfredo Pimenta.
GAIO,
Manuel José da Costa Felgueiras (1992), "Nobiliário das famílias ilustres
de Portugal" 12 Vols.
Braga: Carvalhos de Basto.
MACHADO, José Carlos L. Soares (2004), "Os Bragançãos – História
Genealógica de uma Linhagem Medieval. Lisboa.
MARTINS, Miguel Gomes (1997), “Os Alvernazes: um percurso familiar e
institucional entre finais de Duzentos e inícios de Quatrocentos”. Cadernos
do Arquivo Municipal, 6. Lisboa.
SILVA, Joaquim Candeias; e CASTELO BRANCO, Manuel da Silva , (1999) “A
Beira Baixa na expansão Ultramarina”. Belmonte.
ZÚQUETE,
A. E. M. (1961), "Armorial Lusitano".
Lisboa: Editorial Enciclopédia.
____________
Notas:
[1] Tendo o rei português D. Afonso Henriques ido em socorro
de Geraldo Geraldes «o sem pavor» que se encontrava numa situação difícil a
sitiar Badajoz, foi surpreendido pela chegada de reforços do rei
de Leão, seu sogro, nas mãos dos quais caiu prisioneiro, após encetar uma fuga
em que ocorreu um acidente no qual partiu o fémur direito. A sua libertação só
foi obtida a troco de um resgate e da entrega das praças de Trujillo, Cáceres e
Montánchez, as quais estavam na posse de Portugal. Este acontecimento pôs fim á
sua carreira militar, por não poder voltar a montar, assim como levou à
substituição de vários dos principais dignatários da Corte do rei português.
[2] GONÇALO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1386) teve
vários homónimos o que causa alguma confusão aos genealogistas no apuramento
dos seus traços biográficos.
[3] IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Liv. 1,
fl. 174.
[4] Nem todos os estudos genealógicos que
abordam este GONÇALO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1386) são concordantes no número
de filhos que ele levou à conquista de Ceuta (22-VIII-1415).
[5] IAN/TT,
Chancelaria de D. Duarte, Liv. 1, fl. 226 v.
[6] A família ALVERNAZ — ou ALBERNAZ, como
também grafou o nome —, tem as suas primeiras referências documentadas na Baixa
Idade Média, na pessoa de Martim Peres Alvernaz e seu filho Gil Martins
Alvernaz, os quais adquiriram propriedades em Beja, assim como venderam ao rei
no ano de 1287 várias propriedades que possuíam em Almodôver. Passaram a Évora,
e depois a Lisboa onde se ligaram aos Cogominhos e fundaram uma capela na Sé de
Lisboa com uma arca funerária armoriada de ALVERNAZ e COGOMINHO. Em princípio
do século XIV já faziam parte da elite urbana desta cidade, na qual alguns
membros desta família ocuparam cargos de relevo, o que lhes valeu terem sido
oficiais concelhios, juízes e corregedores do rei, cargos reveladores da sua
importância social. Na primeira metade do século XV, passam aos Açores e fazem
parte dos povoadores do Faial.