Mostrar mensagens com a etiqueta Santa Iria da Azóia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Santa Iria da Azóia. Mostrar todas as mensagens

2015-05-10

Os PAIS, na origem dos CASTELO BRANCO.

   Morgado de Castelo-Branco-o-Novo
  (Pirescoxe, Santa Iria da Azóia, Loures)

Pedra de armas dos CASTELO BRANCO,
Castelo/ Paço de Santa Iria de Azóia.
(Reserva do MNAA, Lisboa)

                       Brasão de:   NUNO VAZ DE CASTELO BRANCO (f. 1447).
                       Forma:         Pedra de armas rectangular (620 x 980 mm), em pedra calcária, com
                               moldura de meia cana, perfilada de dois filetes e chanfro interior. 
          Escudo:       Boleado em bico, disposto ao balão, com um leão rampante pleno de
                                            campo, sem indicação gráfica de metais e esmaltes.
                       Elmo:           De justa de duas peças: calote e cara, sem viseira. Colocado de perfil
                                            e coberto de mantelete curto, de duas pontas. Sobre o elmo uma
                               barretina, em lugar do virol.
                       Timbre:        Penacho de cinco plumas, seguras no pé por um anel.
                       Local:          Incorporado na Reserva do Museu Nacional de Arte Antiga (Secção de
                               Escultura, n.º 20). Veio do Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azóia,
                               Loures.
          Legenda:    De ambos os lados do timbre, em caracteres góticos com capitular:
                                           «Cas/tel b r/anco./ho novo.»
                      Data:            Século XV (meados).



Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azoia, Loures.
      

Afonso IX, rei de Leão.
(Iluminura)
     As famílias PAIS e CASTELO BRANCO andaram aparentadas desde tempos recuados. A primeira destas terá dado origem à segunda, a qual usou um escudo de armas com um leão rampante, alusivo à bravura militar ou à sua origem leonesa.
O apelido PAIS, como patronímico de Paio, é usado por muitas famílias, as quais não tendo origem num tronco comum, terão diversas representações heráldicas. Um dos primeiros e mais destacados deste apelido foi o cavaleiro PEDRO PAIS DA MAIA (c. 1147) que foi alferes-mor do rei D. Afonso Henriques (1109-1185) até à derrota deste rei no cerco de Badajoz (1169) pelas tropas do rei de Leão (D. Fernando II)[1], ao serviço do qual passa a exercer o mesmo cargo de alferes-mor que ainda ocupava em 1186 (Machado, 1977, 2.º, 89). Desconhece-se o brasão de armas deste notável homem da corte e da guerra, que certamente o teria obtido ou assumido ao serviço do rei de Leão e, nesse caso, poderia ser um leão, símbolo deste reino.
      
Armas dos PAIS

   Uma das origens da família PAIS está em PAIO RODRIGUES DE VALADARES (c. 1210) que usava as seguintes armas: de prata, com nove lisonjas de veirado de azul e de vermelho, apontadas e firmadas nos bordos do escudo; por Timbre traziam um pavão de sua cor. Outros Pais usavam estas mesmas armas com diversas variantes nas suas metais esmaltes (Zúquete, 1961: 415).

     A origem dos CASTELO BRANCO, a partir da família PAIS, ter-se-á ficado a dever a VASCO PAIS [DE CASTELO BRANCO] (c. 1350), descendente das notáveis linhagem dos Eris de Baião e dos Paiva de Riba-Douro, alcaide-mor de Monsanto (1377), da Covilhã onde tinha muitas propriedades, e de Monforte, ao qual rei D. Pedro (1357-1367) «lhe fez mercê do lugar de Castelo Branco», do qual tirou o apelido que acrescentou ao seu nome e transmitiu aos seus filhos (Gaio, IV, 1992: 218).
Armas dos Castelo Branco,
Livro da Nobreza, fl. 12v.
     De Vasco Pais descende GONÇALO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1386)[2], o qual teve uma activa vida militar ao serviço do D. João I (1357-1433) nas guerras que este travou contra Castela, as quais lhe valeram a obtenção da “honra” do Sobrado e dos direitos reais de Paiva (15-IV-1386)[3], assim como obteve as alcaidarias de Moura e de Castelo Branco (Silva, 1999; 148-149). Já com alguma idade participou na conquista de Ceuta (1415), à qual levou sete dos seus vários filhos que aí se distinguiram e, por esse facto, tornaram-se proeminentes em honras e cargos de relevo (Silva, 1999: 148-149)[4]Estes viriam a perpetuar nas suas descendências o apelido Castelo Branco.

     Um filho deste último que foi NUNO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1415-1447), do qual há vários homónimos, juntamente com seu pai e irmãos tomou parte na conquista de Ceuta (1415) onde viria a ser armado cavaleiro pelo Infante D. Duarte, o qual o viria a fazer vedor da sua fazenda e lhe aforou terras em Monsanto e Medelim (1436)[5], no distrito de Castelo Branco. Faleceu em 1447.
Morgado de Castelo-Branco-o-Novo,
Santa Iria da Azoia, Loures.
Após esta gloriosa jornada de África, deixou a Beira Baixa e veio para Lisboa onde instituiu a 31-X-1422 o MORGADO DE CASTELO BRANCO-O-NOVO (Castelo/Paço de Pirescoxe, 1442) na antiga localidade de Pero Escouche, junto a Santa Iria da Azoia, com o claro objectivo de perpetuar obrigatoriamente o nome e a «honra» dos Castelo Brancos, “trazendo as armas direitas sem outra mistura nem diferença”. È por esta razão que os condes de Pombeiro e os marqueses de Belas, que vieram a suceder neste morgadio, usavam como armas um escudo pleno com o leão rampante dos Castelo Brancos, em detrimento de um escudo esquartelado com outras armas de família.
     Os bens com os quais constituiu este vínculo provinham da sua mulher D. JOANA JUZARTE, ainda viva em 1440, rica viúva de DIOGO AFONSO ALVERNAZ (c. 1387), sobrejuiz del`rei D. João I entre 1387 e 1409 e senhor do Paço de Pero Escouche que já existia como casa dos Alvernazes, certamente com uma configuração arquitectónica bem mais modesta da que atingiu com a família Castelo Branco que lhe sucedeu e o instituiu para cabeça do seu morgado (Castelo Branco, 1990: 37-48). 
Armas dos ALVERNAZ,
Livro da Nobreza, fl. 31v.
        Os Alvernazes eram uma antiga família alentejana com origem em Beja[6], a qual começou a distinguir-se na Baixa Idade Média e veio a adquirir poder económico e a ocupar cargos de relevo na justiça e na governação da cidade de Lisboa por via da sua formação letrada (Martins, 1997: 9-41). 
     DIOGO AFONSO ALVERNAZ (c. 1387), o detentor do Castelo/Paço de Pirescoxe, anterior à fundação do morgado dos Castelo Branco, era filho de Afonso Martins Alvernaz, “o Velho”, magistrado da cidade de Lisboa e de Coimbra, e um dos que ajudou o mestre de Avis (futuro D. João I) na defesa de Lisboa por altura do cerco que lhe foi imposto pelas tropas do rei de Castela D. Juan I, em 1384, segundo refere Fernão Lopes na sua «Crónica de El-Rei D. João I» (1450). Foi criado por seu amo Gil Afonso, escrivão da Casa do Cível (Martins, 1997: 35-36). Do seu casamento nas primeiras núpcias de JOANA JUZARTE, nasceram três filhos: Tomás, Inês Dias, e Joana.
Tomás, o mais velho, viria a casar por volta de 1416 com Leonor Vaz de Castelo Branco, nascendo deste casamento a filha Violante.

Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da Azoia, Loures.
     Este NUNO VAZ, segundo uma escritura de doação de 1-II-1421 existente no Mosteiro de Chelas, era irmão de D. LEONOR VAZ DE CASTELO BRANCO, então viúva de TOMÁS AFONSO ALVARNAZ, filho de Diogo Afonso Alvernaz (c. 1387), a qual, pela citada escritura, faz a seu irmão «livre e pura doação e acesom entre vivos» de todos os seus bens herdados de seu marido e filha — que revogaria após a morte de citado Nuno Vaz —, tudo isto em troca de uma pensão, vindo a professar no Mosteiro de Chelas do qual foi prioresa (Castelo Branco, 1990: 40, 42).   
Mosteiro de Chelas (Gravura antiga)
    Sobre este vínculo recaiam obrigações pias para com o mosteiro feminino de Chelas (convento de São Félix e Santo Adrião de Chelas) situado à saída de Lisboa, onde algumas filhas e viúvas dos Castelo Brancos professaram e foram prioresas. 
     Os administradores deste vínculo tinham a obrigação de usar o nome e o brasão de «Castelo Branco», o qual figurava numa monumental pedra de armas quatrocentista que estava à entrada deste morgado e acabou por ser apeada e incorporada na Reserva do Museu Nacional de Arte Antiga (Secção de Escultura, n.º 20) quando este paço entrou em ruína e parte da sua cantaria foi furtada para reutilização em edificações feitas à sua volta. Na sua origem teria uma extensão territorial muito apreciável com uma edificação acastelada ao centro, delimitada a Sul pela margem do rio Tejo, como se depreende de um inventário feito em 1868, no qual se refere que o respectivo castelo já estava em ruínas.
     NUNO VAZ não teve filhos e nomeou para suceder deste vínculo um sobrinho que foi «o primeiro filho barom lidimo de lopo vasques de castellobranco, alcaide de moura», o homónimo Nuno Vaz de Castelo Branco, do qual descendem os condes de Pombeiro e marqueses de Belas (Castelo Branco, 1990: 37-48).

Castelo/Paço de Pirescoxe, Santa Iria da
Azoia, Loures (Vista lateral)
     Na posse deste vínculo viria a suceder-lhe, muito mais tarde, um sexto-neto que foi D. PEDRO DE CASTELO BRANCO (1620-1675), 1.º visconde de Castelo Branco (25-IX-1649), 1.º conde de Pombeiro (6-IV-1662), capitão da Guarda Real de D. João VI, e herdeiro da casa de seus pais, o qual foi casado duas vezes, com geração do 2.º matrimónio com D. LUÍSA PONCE DE LEÃO (1623-1707), fidalga castelhana, dama da rainha D. Luísa de Gusmão, e depois camarista da infanta D. Catarina que foi rainha da Grã-Bretanha. Deste 2.º matrimónio nasceram três filhos.


José Luís de Vasconcelos
e Sousa (1740-1812),
1.º Marquês de Belas,
6.º Conde de Pombeiro.
D. Maria Rita de Castelo Branco
Correia e Cunha (1769-1832),
1.º Marquesa de Bela,
6.ª Condessa de Pombeiro,
14.ª Senhora do Morgado de
Castelo Branco.
     Uma trineta deste último casal, sucessora neste morgado, foi D. MARIA RITA DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA (1769-1832), 6.ª condessa de Pombeiro, 1.ª marquesa de Belas, a qual por morte de seu pai em 1784 ficou sendo a 17.ª senhora de Pombeiro, 14.ª senhora do morgado de Castelo Branco, 12.ª senhora de Belas, 12.ª senhora da Alcaidaria-mor de Vila Franca de Xira e dama de honor da rainha D. Maria I. Foi casada com D. JOSÉ LUÍS DE VASCONCELOS E SOUSA (1740-1812), 1.º marquês de Belas e 6.º conde de Pombeiro, título este que recebeu pelo seu casamento, assim como a administração da grande casa de sua mulher que incluía o morgado dos Castelo Branco, fidalgo da Casa Real, desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação, Conselheiro de Estado e Embaixador de Portugal em Londres, o qual era filho dos 1.ºs marqueses de Castelo Melhor. Curiosamente este casal teve um trineto que foi D. Manuel de Vasconcelos e Sousa (1910-1978), casado em 1943 com D. Maria Belarmina Franco Pinto de Castelo Branco (1905-1980), na Capinha, Fundão, matrimónio este que uniu os VASCONCELOS aos CASTELO BRANCO da Beira, estes últimos provavelmente descendentes de João Pais do Sabugal (séc. XIII), repovoador da Capinha, onde tinham a grande Casa do Adro que era herança da família PAIS.
D. António Maria de
Castelo Branco Correia e
Cunha Vasconcelos e Sousa
(1785-1834),
2.º Marquês de Belas,
7.º Conde de Pombeiro,
15.º Senhor do Morgado de
Castelo Branco.

     O filho herdeiro deste casal foi D. ANTÓNIO MARIA DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1785-1834), 2.º marquês de Belas7.º conde de Pombeiro15.º senhor do morgado de Castelo Branco por sucessão de sua mãe a 3-V-1832, entre vários outros vínculos que possuía, alcaide-mor de Vila Franca de Xira, capitão da Guarda Real dos Archeiros, ajudante de ordens do infante D. Miguel e brigadeiro do Exército. Casou em 1803 com D. CONSTANÇA MANOEL (1780-1834), 2.ª filha dos 3.ºs marqueses de Tancos. 

     Deste casamento nasceram cinco filhos, entre os quais D. JOSÉ INÁCIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1807-1867), 8.º conde de Pombeiro, 16.º senhor do morgado de Castelo Branco, entre vários outros vínculos, oficial de cavalaria do Exército. Foi sempre fiel ao partido legitimista de D. Miguel, e por isso não quis receber o título de marquês de Belas das mãos dos liberais, pelo que se assinava sempre conde de Pombeiro e senhor de Belas. Este foi casado em 1835 com sua prima D. MARIA FRANCISCA LUÍSA DE SOUSA (1815-1897), filha dos 2.ºs marqueses de Borba, da qual teve nove filhos.

     Destes, o filho sucessor nos títulos foi D. ANTÓNIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1842-1891), 9.º conde de Pombeiro, 3.º marquês de Belas, foi oficial-mor honorário da Casa Real, oficial de Cavalaria, e cavaleiro tauromáquico amador. Casou duas vezes: as 1.ªs núpcias foram com D. JÚLIA DE OLIVEIRA PIMENTEL (1840-1874), da qual teve três filhas; passou a 2.ªs núpcias com D. MARIA DA PIEDADE CORREIA DE LACERDA LEBRIM (1857-1925), da qual teve mais quatro filhos. A sua descendência entrou em diversas casas titulares, entre elas destacamos a dos Condes de Penalva d’Alva com as suas raízes na cidade da Covilhã e um solar armoriado na freguesia da Fatela, no concelho do Fundão.

D. António de Castelo Branco
Correia e Cunha Vasconcelos
e Sousa (1842-1891),
9.º Conde de Pombeiro,
3.º Marquês de Belas.
Castelo/Paço de
Pirescoxe, vista do
pátio interior,
parede com as armas
dos Castelo Branco.



Castelo/Paço de Pirescoxe, vista do
 pátio interior, parede com armas dos
Castelo Branco (alto-relevo).
     
     Em Maio de 1863 foi publicada a «Carta de lei pela qual ficam desde já abolidos todos os morgados e capelas actualmente existentes no continente do reino, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas e declarados alodiais os bens de que se compõem».
     Esta legislação pôs fim aos senhorios e vínculos desta casa titular, pelo que o morgado de Castelo Branco terminou aqui o seu percurso de vários séculos na posse de um único administrador que nesta data era o já citado D. JOSÉ INÁCIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1807-1867), 8.º conde de Pombeiro, 16.º senhor do morgado de Castelo Branco, falecido cerca de quatro anos depois.
No ano seguinte à sua morte, em 1868, é feito o inventário dos vínculos do condes de Pombeiro para se proceder à sua divisão, por iniciativa de seu filho D. ANTÓNIO DE CASTELO BRANCO CORREIA E CUNHA VASCONCELOS E SOUSA (1842-1891), 9.º conde de Pombeiro, no qual vem referenciada «a quinta denominada de Castelo Branco na freguezia de Santa Iria, Concelho de Vila Franca, chamado o Morgado de Castelo Branco, que se compõe de hum castelo em ruinas, algumas arribanas, lagar d’azeite, grande estenção d’olivedo, terras de semeadura, lezíria, marinha, pastagens».
Passados dezasseis anos, em 1886, a viúva e seus filhos põem à venda a «Quinta do Castelo», a qual é adquirida por Maria Amélia da Assunção Carvalho pela quantia de quinhentos e dez escudos. 
Daqui até ao nossos dias, foi o destino que conhecemos ... Prosseguiu o seu estado de ruína, até quase nada sobrar ... Os terrenos deste extenso morgado foram engolidos na voragem da urbanização desenfreada, sem gosto e sem critério, como vem sendo regra nas terras lusas...


Palácio dos Conde de Pombeiro,
Largo do Conde de Pombeiro, Lisboa.
(actual Embaixada de Itália)
Palácio dos Conde de Pombeiro,
Largo do Conde de Pombeiro, Lisboa.  Vista lateral.
(actual Embaixada de Itália)


















Brasão do
Marquês de Belas.
(Castelo Branco)
Quinta e Casa do Marquês de Belas,
Belas, Sintra.
















Armas dos Castelo Branco, Castelo/Paço de
Pirescoxe, Santa Iria da Azóia, Loures.
     O TIMBRE destas armas é bastante curioso. Em vez de um leão rampante como competiria aos Castelo Brancos, é constituído por um penacho de cinco plumas aparentemente seguras na sua base por um anel.
Para esta família de cavaleiros que batalharam nas conquistas de África e do oriente, seria mais adequado o tradicional leão (usado pelos Castelo Brancos), símbolo da força, da bravura e da nobreza.
Segundo distinta investigadora Theresa Maria Schedel de Castell Branco, este timbre remete-nos para a união dos “cinco” irmãos desta família que estiveram na tomada de Ceuta (Castelo Branco, 1990: 46,47), porém, outros investigadores com créditos firmados, mencionam que Gonçalo Vaz de Castelo Branco (c. 1386) levou a Ceuta “sete” dos seus muitos filhos (Silva, 1999: 148-149). Aqui registamos esta desconformidade e, sem querermos polemizar a questão, não podemos deixar de conjecturar, e aqui deixar expresso, que pensamos ser este timbre de plumas uma alusão à sua origem longínqua que entroncava na notável família PAIS, onde um dos seus ramos usava um pavão emplumado como timbre.








Cavaleiro Templário.
     Sempre duvidamos das versões correntes e desencontradas sobre origem da heráldica dos Castelo Branco. 
Á falta de documentação que esclareça cabalmente quando este apelido, e o respectivo escudo de armas (com um leão rampante), foi usado pela primeira vez, fomos procurar respostas para esta questão. Apesar da controvérsia, iremos aqui tentar dar breves achegas para o esclarecimento desta dúvida.
     O nome da então vila de Castelo Branco  Castelo dos Brancos, isto é, dos monges templários do manto branco, em nossa opinião, – nome que surge documentalmente em 1213 no foral que lhe foi dado pelo mestre templário Pedro Alvites (f. 1223), a qual, até aqui era designada por Vila Franca da Cardosa. Os grandes "rivais" dos templários era a Ordem dos Hospitalários (de Malta) que usavam sobre a armadura um manto preto, o que levaria as camadas populares as designá-los por brancos (Templários) e pretos (Hospitalários de Malta), estes últimos também implantados na Covilhã.

     
Cavaleiro Templário (de branco),
Cavaleiro Hospitalário (de preto).

Quanto ao apelido desta família, o Armorial Lusitano no título dos Castelo-Branco, refere que não se sabe ao certo a sua origem, apontando para o reinado de D. Afonso III (1248-1279) o aparecimento do primeiro a usar este nome que foi MARTIM DE CASTELO-BRANCO (c. 1255) que vivia na citada vila, onde era figura de relevo (Zúquete, 1961: 150).
     O Archivo Heráldico-Genealógico remete o seu aparecimento para um pouco mais tarde, afirmando que foi no reinado de D. Dinis (1279-1325) que esta família começou a ser conhecida nesta então vila (Baena, 1872, Vol. II: XVIV). É por esta altura que vemos aparecer JOÃO DE CASTELO BRANCO (c. 1285), Alvazir desta vila que em 1287 promoveu um tratado entre os seus moradores e os Templários que eram os senhores de Castelo Branco. O mesmo foi vereador da Covilhã, e teve um filho que foi VASCO PAIS DE CASTELO BRANCO, segundo consta no Geneall[7].

Representação Heráldica de
 João Pais do Sabugal (Séc. XIII),
 com um escudo contendo
 o leão rampante  da família
 Castelo Branco.
Casa do Adro, Capinha, Fundão.
      Como se vê os dois apelidos (Pais e Castelo Branco), andavam ligados desde tempos recuados e devem-se ter unido em várias gerações. 
     Esta família originalmente tinha o apelido PAIS – que viria a deixar cair –, ao qual acrescentou o de CASTELO BRANCO, referente os seus domínios territoriais.
Os Castelo Branco descendiam dos Pais, e as suas armas (escudo com um leão rampante) já eram usadas por estes, como se constata na representação heráldica que por nós já foi atribuída a João Pais do Sabugal (séc. XIII), o repovoador da Capinha. O leão poderia ser no escudo de armas dos PAIS uma alusão a estes terem servido os reis de Leão.



       Veja sobre JOÃO PAIS DO SABUGAL:
       «CASA DO ADRO - Capinha, Fundão. / Representação Heráldica de
       João Pais do Sabugal / Idade Média (Século XIII)». «EBVROBRIGA»,
       n.º 8 (2015), pp. 73-90, Museu Arqueológico Municipal José Monteiro,
       Rua do Serrão n.º 13-15, 6230-418 FUNDÃO, Tel: 275 774 581


Bibliografia

BAENA, Sanches de (1872), "Archivo Heráldico-Genealógico". Vol. I e II. Lisboa.
CASTELO BRANCO, Theresa M. Schedel (1990), “A Pedra d’Armas de Castelo Branco, o Novo”, in Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Boletim de Trabalhos Históricos, vol. XLI, 36-48. Guimarães: Arquivo Municipal Alfredo Pimenta.
GAIO, Manuel José da Costa Felgueiras (1992), "Nobiliário das famílias ilustres de Portugal" 12 Vols. Braga: Carvalhos de Basto.
MACHADO, José Carlos L. Soares (2004), "Os Bragançãos – História Genealógica de uma Linhagem Medieval. Lisboa.
MARTINS, Miguel Gomes (1997), “Os Alvernazes: um percurso familiar e institucional entre finais de Duzentos e inícios de Quatrocentos”. Cadernos do Arquivo Municipal, 6. Lisboa.
SILVA, Joaquim Candeias; e CASTELO BRANCO, Manuel da Silva , (1999) “A Beira Baixa na expansão Ultramarina”. Belmonte.        
ZÚQUETE, A. E. M. (1961), "Armorial Lusitano". Lisboa: Editorial Enciclopédia.

____________

Notas:
[1]   Tendo o rei português D. Afonso Henriques ido em socorro de Geraldo Geraldes «o sem pavor» que se encontrava numa situação difícil a sitiar Badajoz, foi surpreendido pela chegada de reforços do rei de Leão, seu sogro, nas mãos dos quais caiu prisioneiro, após encetar uma fuga em que ocorreu um acidente no qual partiu o fémur direito. A sua libertação só foi obtida a troco de um resgate e da entrega das praças de Trujillo, Cáceres e Montánchez, as quais estavam na posse de Portugal. Este acontecimento pôs fim á sua carreira militar, por não poder voltar a montar, assim como levou à substituição de vários dos principais dignatários da Corte do rei português.

[2]    GONÇALO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1386) teve vários homónimos o que causa alguma confusão aos genealogistas no apuramento dos seus traços biográficos.

[3]    IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Liv. 1, fl. 174.

[4]   Nem todos os estudos genealógicos que abordam este GONÇALO VAZ DE CASTELO BRANCO (c. 1386) são concordantes no número de filhos que ele levou à conquista de Ceuta (22-VIII-1415).

[5]   IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Liv. 1, fl. 226 v.

[6]  A família ALVERNAZ — ou ALBERNAZ, como também grafou o nome —, tem as suas primeiras referências documentadas na Baixa Idade Média, na pessoa de Martim Peres Alvernaz e seu filho Gil Martins Alvernaz, os quais adquiriram propriedades em Beja, assim como venderam ao rei no ano de 1287 várias propriedades que possuíam em Almodôver. Passaram a Évora, e depois a Lisboa onde se ligaram aos Cogominhos e fundaram uma capela na Sé de Lisboa com uma arca funerária armoriada de ALVERNAZ e COGOMINHO. Em princípio do século XIV já faziam parte da elite urbana desta cidade, na qual alguns membros desta família ocuparam cargos de relevo, o que lhes valeu terem sido oficiais concelhios, juízes e corregedores do rei, cargos reveladores da sua importância social. Na primeira metade do século XV, passam aos Açores e fazem parte dos povoadores do Faial.