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2011-06-26

D. Diogo José Ferreira de Eça de Meneses (1772-1862), 3.º Conde da Lousã

    
Uma família do Antigo Regime, entre Portugal e o Brasil


D. Diogo José Ferreira de Eça e Meneses (1772-1862),
3.º Conde da Lousã, por casamento.
(Colecção Particular, Lisboa)


           D. DIOGO JOSÉ FERREIRA DE EÇA DE MENESES (1772-1862), 3.º Conde da Lousã, pelo seu matrimónio com a condessa do mesmo título e por carta de mercê de 25-IV-1804, o qual lhe foi cedido pelo seu sogro ainda em sua vida e antes do seu segundo e não previsto casamento já tardio, do qual nasceriam mais filhos varões com direito à sucessão. Par do Reino, ocupou várias vezes ao longo da vida cargos destacados nos Negócios da Fazenda, tanto em Portugal como na colónia do Brasil onde a sua família prestou relevantes serviços desde sempre.
Guimarães, Casa do Arco.
      Nasceu a 1-VIII-1772 na secular Casa do Arco, sita na Rua de Santa Maria em Guimarães, cidade onde foi baptizado a 13 do mês seguinte na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Teve por padrinho o conde dos Arcos, irmão de seu pai, com procuração a D. Luís Joaquim de Noronha, e por madrinha a condessa de Cantanhede, sua tia e cunhada de seu pai, que passou procuração a D. Martinho de Almeida, coronel em Chaves. 
      Faleceu a 4-II-1862 pelas «dez horas da noite na casa número quarenta e dois da Rua da Escola Politécnica desta freguesia de São Mamede de Lisboa»[1], e foi sepultado no jazigo n.º 596, na Rua 27 do cemitério dos Prazeres, o qual era de D. Luísa Perpétua Carneiro Sotomaior (c. 1785) casada nas suas segundas núpcias com seu irmão D. José Tomás de Eça e Meneses (c. 1780)Foi posteriormente trasladado (29-12-1917) para o jazigo n.º 2579.
Não teve filhos e deixou testamento no qual dividiu o que restava da sua fortuna por cinco principais herdeiros seus familiares, assim como por servidores da maior confiança e familiares. D. Luís Vitorino de Lencastre (1809-1893), seu cunhado, foi nomeado testamenteiro e, em recompensa deste encargo, herdou a sua Quinta das Amendoeiras em Cadafais, no concelho de Alenquer. Deixou ainda alguns legados em dinheiro para distribuir por alguns conventos de freiras de Lisboa, por caseiros e criados de menor importância, assim como pelos pobres da sua freguesia.

Seus pais
       Era terceiro filho de D. RODRIGO JOSÉ ANTÓNIO DE MENESES (1750-1807), 1.º Conde de Cavaleiros (decreto de 27-XI-1802), nascido a 12-II-1750 na freguesia de Santa Maria dos Olivais em Lisboa, e falecido a 13-V-1807 na Quinta do Furadouro no concelho de Óbidos.
D. Rodrigo José António
de Meneses (1750-1807),
Governador de Minas Gerais
e da Bahia.
(Câmara Municipal de Salvador)
Este foi moço fidalgo e fidalgo escudeiro da Casa Real (21-2-1794)[2], conselheiro da Fazenda (7-V-1790)[3] e da Casa e Estado das Rainhas, mordomo-mor e veador da Infanta D. Carlota Joaquina, membro do Conselho de Maria I, deputado da Junta da Administração do Tabaco (19-XII-1792)[4], comendador da Ordem de Cristo, governador-geral do Estado de Minas Gerais (1780-1783)[5] e da Bahia (1784-1788), no Brasil. Casou a 27-IX-1769 no oratório da Casa do Arco em Guimarães com D. MARIA JOSÉ FERREIRA DE EÇA E BOURBON (1753-1796), 12.ª senhora da Casa de Cavaleiros, filha única herdeira aos 6 anos de idade por falecimento de seu pai, nascida a 27-IX-1753 na Quinta do Furadouro, freguesia de Nossa Senhora da Tornada, no concelho de Óbidos, e falecida a 25-XI-1796. Por altura deste casamento, o noivo tinha 16 anos e a noiva apenas 13.
Brasil, Ouro Preto.
      Seu pai D. Rodrigo, com 30 anos de idade, foi sucessivamente nomeado governador-geral da capitania de Minas Gerais (1780-1783) e da Bahia (1784-1788) 
    Inicialmente foi residir no Palácio dos Governadores em Vila Rica (actual Ouro Preto), então capital do Estado de Minas Gerais. Aí chegado, e constatando a decadência em que se encontrava esta capitania, logo adoptou o Palácio dos Governadores em Cachoeira do Campo, a cerca de vinte quilómetros de Vila Rica, o qual ampliou e remodelou para poder governar em tranquilidade longe do bulício da mineração. No dizer de insuspeitos historiadores brasileiros, apesar da sua curta permanência em Minas Gerais, foi um dos seus melhores e mais actuantes administradores coloniais. 
Ouro Preto, Palácio dos Governadores.
   Promoveu a liberdade das indústrias, a criação de um serviço de correios, dinamizou os empréstimos de dinheiro aos mineiros a taxas mais baixas, criou uma siderurgia e uma Casa da Moeda, melhorou o estado de todas as estradas e ainda construiu mais três, assim como pontes, lagos artificiais para represar e distribuir a água, tendo dinamizado a agricultura com a distribuição de terras incultas. 

    Ainda resta em Ouro Preto um chafariz feito por sua iniciativa com a seguinte inscrição: 
Chafariz de Ouro Preto,
edificado por D. Rodrigo, 1782.


ESTA FONTE E ESTE CA
 MANDOU FAZER O ILL E EX  S 
D. RODRIGO JOSÉ DE MENEZES 
G E CAP GEN  
 DESTA CAP DE M G  
EM 1782.

Cuja leitura é:


ESTA FONTE E ESTE CA [MINHO]
MANDOU FAZER O ILL [USTRÍSSIMO] E EX [CELENTÍSSIMO] S [ENHOR] 
D. RODRIGO JOSÉ DE MENEZES 
G [OVERNADOR] E CAP [ITÃO] GEN [ERAL] 
DESTA CAP [ITANIA] DE M [INAS] G [ERAIS] 
EM 1782.



Cachoeira do Campo,
Palácio dos Governadores.
   Homem culto e «apreciador das belas letras», no dizer de outro insuspeito brasileiro, «foi incensado por poetas do calibre de Cláudio Manuel da Costa, Tomás António Gonzaga e Alvarenga Peixoto exactamente porque permitia que esses homens de cultura frequentassem o palácio do governo para sessões lítero-musicais».
   Foi um grande estadista colonial e um dos mais empreendedores governadores desta época, suscitando até a admiração de Joaquim José da Silva Xavier (f. 1792), o Tiradentes[6], o qual em 1780, por altura da chegada de D. Rodrigo a Vila Rica, se foi alistar na tropa da capitania, tendo sido nomeado para patrulhar o «caminho novo» que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro, via por onde se escoava todo o ouro e diamantes que viriam a embarcar no porto do Rio de Janeiro em direcção ao reino. O Tiradentes acabou por abandonar a sua carreira militar, juntando-se posteriormente com parte do clero e da elite militar e civil de Minas a um movimento que contestava o sucessor de D. Rodrigo, o qual era acusado de despotismo, incompetência, corrupção, e conduziu esta capitania a uma situação administrativa caótica. 
      De 6-I-1784 a 18-IV-1788, D. Rodrigo, passou a governador-geral da capitania da Bahia, tendo feito grandes melhoramentos urbanísticos em Salvador, entre os quais o alargamento das ruas e a edificação da Praça da Piedade, o Hospital dos Lázaros, o Celeiro Público na Quinta do Tanque, e ainda renovou a cultura da pimenta da Índia. 
Salvador, Praça da Piedade.
Data desta época o seu único retrato conhecido pertencente ao acervo da Casa da Câmara Municipal da Cidade de Salvador, o qual é uma razoável pintura a óleo sobre tela (95,0x71 cm), de autor desconhecido da escola baiana. O retratado veste traje de gala composto por uma casaca vermelha ornamentada de amarelo e branco, com um colete a condizer com estas duas últimas cores, e ostenta uma peruca empoada. A gravata é de garrote com peitilho rendado. No peito ostenta a insígnia de comendador da Ordem de Cristo e, na parte inferior do quadro, traz a seguinte legenda: «Exmo Sen’r D. Rodrigo José de Meneses, Governando da Bahia / crêou n’ella o Hospital dos Lázaros e o Celleiro Publico em 1785».

A 7-X-1788, ao regressar da Bahia, entra no Tejo ao comando da fragata «Nossa senhora da Graça», e vai passar grande parte do tempo que lhe resta na sua Quinta de Cavaleiros em Vila do Conde, mas foi na sua Quinta do Furadouro em Óbidos que a 13-V-1807 entregou a alma ao Criador.

Seus avós    
 Era neto paterno de D. PEDRO JOSÉ DE ALCÂNTARA DE MENESES NORONHA COUTINHO (1713-1799), 4.º Marquês de Marialva (carta de 4-IX-1750)[7], e 6.º Conde de Cantanhede, herdeiro de um palácio que foi arrasado pelo Terramoto de 1755 e ocupava o espaço do actual Largo de Camões em Lisboa[8], pertenceu ao conselho de D. José I, foi tenente-general, estribeiro-mor e exímio cavaleiro cuja arte passou à História com o nome de Arte de Marialva. Casou em 1737 com D. EUGÉNIA DE ASSIS MASCARENHAS (1722-1752), filha de D. Manuel Assis de Mascarenhas (n. 1699), 3.º Conde de Óbidos (carta de 30-IV-1791)[9], meirinho-mor do Reino, e de sua primeira mulher D. Helena Josefa de Lorena (1704-1738), filha dos 3.ºs Marqueses do Alegrete.

D. Pedro de Meneses (1713-1799),
4.º Marquês de Marialva.
Pano de Cavalo de
D. Pedro de Meneses (1713-1799),
4.º Marquês de Marialva,
(Museu N. dos Coches, Lisboa)

















Sela de montar de
D. Pedro de Meneses (1713-1799),
4.º Marquês de Marialva,
(Museu N. dos Coches, Lisboa).
D. Pedro de Meneses (1713-1799),
4.º Marquês de Marialva.






 








       
        Neto materno de GREGÓRIO FERREIRA DE EÇA (f. 1759), 11.º senhor da Casa de Cavaleiros, falecido a 3-XI-1759 na Casa do Arco em Guimarães, capitão-mor de Guimarães por carta de 24-V-1714, como seu pai Manuel Ferreira de Eça (f. 1724)[10], e fidalgo cavaleiro da Casa Real (4-IV-1720)[11], familiar do Santo Ofício por carta de 13-VI-1720, que veio viver para a Corte, instalando-se no seu Palácio do Bom Sucesso junto a Belém[12], e de sua segunda mulher D. ISABEL DE BOURBON (n. 1727), nascida a 16-11-1727, filha de D. João de Almeida Portugal (1675-1749), vedor da rainha D. Maria Ana de Áustria, casado com D. Joana Cecília de Noronha (c. 1680), neta paterna de D. António de Almeida Portugal, 2.º conde de Avintes. Deste casamento nasceram nada menos do que dezassete filhos[13].

Sua mulher e sogros
D. Mariana Antónia do Resgate
de Saldanha Corte-Real da Câmara
Lencastre (1784-1848),
3.ª Condessa da Lousã.
(paradeiro desconhecido)
     Diogo José Ferreira de Eça de Meneses casou a 23-XI-1801 no oratório da casa do 2.º conde da Lousã na freguesia de São Mamede em Lisboa (L. 3, f. 83v.) com D. MARIANA ANTÓNIA DO RESGATE DE SALDANHA CORTE-REAL DA CÂMARA E LENCASTRE (1784-1848), 3.ª Condessa da Lousã, título obtido ainda em vida de seu pai, a pedido deste, por já ser considerada única herdeira, assim como também herdou os bens vinculados da Casa dos seu bisavós maternos António Saldanha de Oliveira e Sousa (n. 1710), fidalgo da Casa real e alcaide-mor de Évora, casado com D. Francisca Antónia de Azeredo Corte Real (1716-1798), natural de Évora, onde vivia no seu solar da Rua da Freiria de Baixo, n.º 16.
Sua mulher nasceu a 22-IV-1784 e foi baptizada a 1-V-1784 na freguesia das Mercês em Lisboa, no Oratório da casa de seu pai o 2.º Conde da Lousã, por D. António de Lencastre cónego da Igreja da Patriarcal, e apadrinhada por D. Pedro de Lencastre também ele cónego da Igreja Patriarcal, e por D. Ana Joaquina Jerónima de Saldanha que era tia do dito conde da Lousã. À data do seu baptismo morava no palácio dos seus pais à Rua da Cruz (dos Poiais).
Lisboa, Rua da Cruz dos Poiais,
Palácio dos Lencastre.
  O seu «fatal falecimento», como se lhe refere o seu marido D. Diogo no seu próprio testamento, ocorreu a 26-III-1848 na sua Quinta da Amendoeiras», freguesia de Cadafais, no concelho de Alenquer. Não foi uma morte súbita, pois, no seu assento de óbito, o pároco regista que «fez testamento» e recebeu o «sacramento da extrema-unção». Talvez tenha sido vítima de uma epidemia de disenteria bacilar (febre tifóide) que então grassou em Lisboa onde residia o que a terá levado a procurar refúgio nos bons ares desta região onde tinha várias propriedades, e onde acabou sepultada na antiga igreja de N.ª Sra. da Candeias, posteriormente designada por N.ª Sr.ª da Assunção (reconstruída em 1680), no carneiro da família do seu fundador e parente António Carvalho de Sousa, assinalado com uma lápide armoriada, do lado do evangelho na capela-mor, tudo isto hoje desaparecido na última reconstrução da citada igreja já em meados do século XX.

   Era senhora do morgado de Cadafais, no concelho de Alenquer[14], e da comenda de São Vicente de Fornelos da Ordem de Cristo que já fora de seu pai[15]. Descendia de D. Jorge de Lencastre (1481-1550), 2.º duque de Coimbra, e fundador da Casa de Lencastre, filho natural do rei D. João II (1455-1495) e de D. Ana de Mendonça (c. 1460).
D. MARIANA era filha das primeiras núpcias de D. LUÍS ANTÓNIO FRANCISCO DE BASTO BAHAREM E LENCASTRE (1751-1830), 2.º Conde da Lousã (12-I-1767), 11.º senhor do morgado da Marinha[16], senhor da Vila de Cernache no concelho de Coimbra (1771)[17], alcaide-mor de Celorico da Beira (1769)[18], alcaide-mor de Belmonte (1789)[19], nascido a 23-IV-1751 na extinta freguesia de São Julião em Lisboa, e falecido a 8-VIII-1830 no seu palacete da Quinta da Damaia, na Amadora. 
Brasão dos Lencastre
  (Casa da Lousã)
Entre muitos outros benefícios recebidos da Coroa foi conselheiro do Rei D. José I (1767)[20], tendo obtido deste os senhorios da Vila de Paraíba no Brasil[21], e as comendas de São Vicente de Fornelos (1769)[22] e de Santa Maria da Assunção na Ordem de Cristo (1769)[23]. Como militar serviu o Regimento de Infantaria de Aveiras, do qual passou para a infantaria de Peniche e, por fim, para o Porto, tendo sido ajudante-de-ordens do duque de Lafões. 
Segundo alguns memorialistas, residiu ao Bairro Alto junto ao desaparecido convento da Trindade, num palácio que foi completamente arrasado pelo Terramoto de 1755. Porém, à data do nascimento de sua filha Mariana (n. 1784), é dado como residente na Rua da Cruz dos Poiais, onde a família Lencastre tinha um palácio que resistiu ao Grande Terramoto.
Armas dos AZEREDO, de
 D. Mariana Rosa Vitória de
Saldanha (n. 1731)113x85 cm.
Esquartelado, cada quartel partido
de: 1.º - SALDANHA, e OLIVEIRA,
2.º - CORREIA, e AZEREDO;
3.º - SOUSA do PRADOe CÂMARA;
4.º - CORTE-REAL, e ABREU.
Com um Coronel de Nobreza.
(Museu de Évora - erradamente
atribuído aos Condes da Lousã).
O sogro de D. Diogo, pai de D. Mariana, o atrás citado D. Luís António Francisco de Basto Barahan e Lencastre (1751-1830), 2.º conde da Lousã, teve uma vida matrimonial assaz curiosa. 
Obteve dispensa para casar no 3.º grau de consanguinidade, nas suas primeiras núpcias celebradas a 3-III-1772 na capela da Quinta da Fiúza (da família da nubente?), na hoje extinta freguesia rural de São Matias – então constituída por 22 herdades –, no concelho de Évora, por delegação de do bispo de Elvas D. Lourenço de Lencastre, com sua prima D. MARIA ROSA DE SALDANHA ROHAN DA CÂMARA (1753-1786), filha única, herdeira do morgado de Cadafais no concelho de Alenquer, a qual era natural de Évora onde foi baptizada a 28-I-1753 pelo deão Manuel de Azeredo Correia Corte Real na “capela das minhas casas”, que registou esta cerimónia nos livros da Sé desta cidade; tendo falecido prematuramente a 19-III-1786 na freguesia das Mercês em Lisboa, onde foi sepultada no convento de São Pedro de Alcântara, sem testamento, deixando uma filha menor de pouca idade.

D. José Pedro da Câmara
(1721-1789),
77.º Governador da Índia
(1774-1779).
D. MARIA ROSA era filha de D. José Pedro da Câmara (1721-1789), nascido a 30-VII-1721 na freguesia dos Anjos, em Lisboa, e falecido em 1789, coronel e comandante do Regimento de Cavalaria de Olivença (1758-1776), governador de Armas do Alentejo (1770), marechal de Campo, 77.º Governador e Capitão-geral da Índia (1774-1779), casado nas suas primeiras núpcias com D. Mariana Rosa Victória de Saldanha (n. 1731), morgada de Cadafais, baptizada a 26-VII-1731 na Sé de Évora, tendo por padrinhos o deão José Correia de Azeredo, a qual residiu na vila de Olivença, então na posse de Portugal, e posteriormente em Évora.

Sabemos que D. Maria Rosa, assim como sua mãe D. Mariana Rosa, faleceram prematuramente, pelo que o seu património, que incluía o solar nobre desta família na Rua da Freiria de Baixo, n.º 16, passou directamente para D. Mariana Antónia do Resgate, 3.ª condessa da Lousã por seu casamento. Neste solar, cuja antiguidade remonta ao século XVI, está actualmente instalado o hotel de charme “The Noble House”.


São Matias, Quinta da Fiúza.
Évora, Casa dos Condes da Lousã.










Luís António Francisco de Basto Barahan e Lencastre (1751-1830) (1751-1830), 2.º Conde da Lousã, quando já contava cerca de 58 anos de idade e 23 anos de viuvez, teve de D. Margarida Dalenária um filho natural reconhecido que foi D. Luís Vitorino de Basto Baharem e Lencastre (1809-1893), cavaleiro da Ordem de Cristo e moço fidalgo com exercício no Paço (23-VII-1822)[24], nascido a 30-X-1809 em Lisboa e falecido com 84 anos de idade a 11-IX-1893 na sua Quinta das Amendoeiras na freguesia de Cadafais, em cujo cemitério foi sepultado em jazigo próprio. Este foi um dos herdeiros de várias quintas e terrenos na malha urbana de Lisboa que lhe foram deixados por seu cunhado D. Diogo, tendo casado a 23-IV-1836 em Lisboa com 
D. Luís Vitorino de Basto
Baharem e Lencastre
(1809-1893)
D. Germana Rosa (1808-1886)[25], falecida com 78 anos de idade a 27-I-1886 na citada Quinta das Amendoeiras, da qual teve duas filhas:          
     1. - D. Virgínia Adalgisa de Basto Baharem e Lencastre (n. 1835), nascida em 26-X-1835 em Lisboa, que foi moradora na Castanheira do Ribatejo, falecida solteira, sem geração;
     2. - D. Constança Luísa de Basto Baharem e Lencastre (1837-1908), herdeira de várias quintas ao Arco do Cego em Lisboa (Quinta das Salgadeiras, entre outras), nascida a 4-II-1837 e baptizada a 22-II-1837 na freguesia de Nossa Senhora da Encarnação em Lisboa, cidade onde residiu e veio a falecer a 29-III-1908 no Largo D. Estefânia, n.º 14, 2.º Direito, freguesia de São Jorge de Arroios, solteira, sem geração, com testamento datado de 26-I-1907 no qual nomeia para sua herdeira D. Georgina de Jesus Monteiro (1892-1975), natural de Cadafais, a qual, segundo a tradição, criou como filha devido ao facto de na sua juventude se ter apaixonado pelo pai desta senhora que era filha e neta de servidores da Casa Lousã, cuja paixão foi contrariada devido às diferenças sociais. Este tipo de sentimentos já teriam causado vários constrangimentos aos seus pais e avós.  

D. Constança Luísa de Basto
Baharem e Lencastre
(1837-1908)
D. Virgínia Adalgisa de Basto
Baharem e Lencastre
(n. 1835).
     D. Luís António de Lencastre Basto e Baharem, 2.º conde da Lousã, cerca de 11 anos depois de ter tido este filho natural e estando à beira dos 70 anos, contra todas as expectativas e 10 anos antes de falecer[26], voltaria a casar a 15-VI-1820 em Alcântara, Lisboa, nas suas segundas núpcias com uma jovem de 18 anos que era D. FRANCISCA DE SALDANHA DA GAMA (n. 1802), nascida a 17-II-1802 na freguesia de Alcântara, em Lisboa, filha de João de Saldanha da Gama Torres Guedes Brito (1773-1809), 6.º Conde da Ponte, e de sua mulher D. Maria Constança de Saldanha Oliveira e Daun (1775-1833). Não se poderá dizer que este enlace matrimonial serôdio fosse em vão, pois, apesar da sua provecta idade, ainda teve mais três rebentos:
D. António Maria de
Lencastre (1857-1941), 
médico da Casa Real.

           1. - D. Maria João de Lencastre (1821-1823);
      2. - D. João José de Lencastre Basto Baharem (1823-1883), filho varão primogénito que sucedeu no título a seu tio D. Diogo e foi 4.º Conde da Lousã, par do Reino e governador civil de Vila Real, Viana do Castelo e Lisboa, o qual das suas segundas núpcias com D. Carlota Inenss (n. 1826), teve nada menos que dezasseis filhos. Entre estes destacou-se D. António Maria de Lencastre (1857-1941), o último médico da Real Câmara e amigo pessoal do rei D. Carlos, assim como médico particular da rainha D. Amélia, deixando o seu nome ligado à criação dos serviços de luta antituberculosa no ano de 1908. O seu bom gosto é revelado pelas casas edificadas por sua iniciativa: uma delas, a sua morada principal, foi um bonito palacete que outrora existiu na Rotunda do Marquês de Pombal, e ainda o magnífico Palacete Lencastre, também conhecido por «casa do telhado amarelo» (actual Hotel Albatroz) que ele mandou edificar para sua moradia de férias junto à Praia da Conceição em Cascais, em terrenos que lhe foram cedidos pela duquesa de Palmela;
Cascais, Praia da Conceição,
 Palácio de António de Lencastre.
        3 - D. António Manuel de Saldanha e Lencastre (n. 1826), 1.º Visconde de Lencastre (20-VIII-1866) e 1.º Conde de Lencastre (11-IX-1873). Casou a 20-IX-1858 nas segundas núpcias da excêntrica e perdulária D. Adeline Louíse Maria de Horsey (1825-1915)[27], condessa de Cardigan[28], nascida em Horsey, em Inglaterra, e falecida sem geração, a qual nos deixou um livro autobiográfico (Minhas Memórias). 





      D. Diogo
  Em 1779, ano do falecimento do seu avô paterno o marquês de Marialva, o pai de D. Diogo fecha a casa do Arco em Guimarães e deixa o seu património à deriva para embarcar juntamente com parte da sua família para Vila Rica (actual Ouro Preto), no Brasil. Aí vai ocupar o cargo de governador-general de Minas Gerais (1780-1783), ao qual se sucederia o da Bahia (1784-1788).
Durante a viagem de seus pais para o Brasil a bordo da nau «Gigante», nascer-lhe-ia o irmão D. Manuel José de Meneses (1779-1808), que viria a morrer afogado no Rio de Janeiro. Em Vila Rica nascer-lhe-iam mais dois irmãos: D. Isabel José de Meneses (n. 1781) , e D. José Tomás de Eça e Meneses (c. 1780).
Quanto a D. Diogo, que contaria então seis anos de idade, não se sabe ao certo se acompanhou os progenitores nesta viagem, ou se ficou entregue à família na sua casa de Lisboa, o que parece ser o mais provável.
Seguiu a vida militar, como impunha a tradição familiar: primeiro foi nomeado Cadete, e depois Alferes do regimento de Cavalaria de Alcântara a 11-VIII-1789, passando a Capitão em 15-XII-1791. Foi promovido a sargento-mor a 3-VIII-1798.
Foi oficial-às-ordens do seu tio o ajudante-general D. Diogo José Vito de Meneses (1739-1803), 5.º Marquês de Marialva, e vivia então no Palácio deste ao Bom Sucesso em Lisboa.
Foi ainda fidalgo escudeiro por alvará de 8-III-1795, e moço fidalgo por Alvará de 7-X-1795 da rainha D. Maria I[29].

Em 25-XI-1796, quando contava 24 anos de idade, morre-lhe a mãe D. Maria José, senhora do morgado de Cavaleiros e de muitos outros vínculos, pelo que neles vai suceder o seu irmão primogénito D. Gregório José, que também viria a suceder no título de conde de Cavaleiros.

       A 23-XI-1801, então com 29 anos de idade, contraíu matrimónio com D. Mariana Antónia do Resgate de Saldanha Corte-Real da Câmara e Lencastre (1784-1848), 3.ª Condessa da Lousã, então com 17 anos de idade, bisneta de Francisca Antónia de Azeredo Corte Real (1716-1798), natural de Évora, da qual é a «Legítima Sucessora dos Bens Vinculados da minha Casa, e de seus Bisavós», como está referido no testamento de D. Francisca.

    No ano seguinte, a 14-XI-1802, foi colocado no prestigiado Regimento de Cavalaria de Mecklemburgo[30], e cerca de três anos depois, a 15-VIII-1805, é promovido à patente de tenente-coronel, mas acabou pedindo a demissão do exército a 29-VIII-1808.

       Em Maio de 1807, seu pai, então viúvo há cerca de um quarto de século, entrega a alma ao Criador na sua quinta do Furadouro em Óbidos, provavelmente amargurado com um escândalo familiar que envolveu uma sua filha, e com o destino que o país leva: as botas napoleónicas preparam-se para esmagar este pequeno e indefeso reino, enquanto a Família Real prepara a sua retirada para o Rio de Janeiro.
        
       A 29 de Novembro de 1807, no início da 1.ª Invasão Francesa e da consequente ida de D. João VI para o Brasil, D. Diogo, então com 35 anos de idade, partiu com a esquadra em fuga[31], mais precisamente na nau «Martim de Freitas»[32], a qual ia sob as ordens da fragata «Urania» que era comandada por seu primo D. João Manuel de Meneses (1783-1831), 1.º marquês de Viana, com a incumbência de escoltar a nau capitania onde seguia a rainha D. Maria I e seu filho príncipe regente D. João, o seu neto Príncipe da Beira, mais tarde primeiro Imperador do Brasil D. Pedro I, além de outros membros da família real.

Chegada da Esquadra Portuguesa ao 
Rio de Janeiro com a Família Real
(8-III-1808).
Embarque da Família Real e da Corte
na sua retirada para o Brasil
 (29-XII-1807).



        









      No biénio de 1812-1813, sabemos que foi nomeado provedor da aristocrática e antiquíssima Real Irmandade da Santa Cruz e Passos da Graça, o que nos leva a concluir que se encontrava em Lisboa.

           Em 1816, com 44 anos de idade, vamos encontrá-lo novamente no Brasil.

Castiçal de D. Diogo de Meneses,
com o respectivo monograma «DM».
Estilo George II,

da autoria de John Cafe (c. 1756).
(Colecção particular, Lisboa)
      No ano seguinte, em 1817, depois de ter desempenhado os cargos de ministro de Estado e deputado da Junta dos Três Estados, foi nomeado mordomo-mor da princesa real a arquiduquesa D. Maria Leopoldina (1797-1826), filha do Imperador Francisco I da Áustria, e, juntamente com seu primo D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho (1774-1823), 6.º marquês de Marialva[33], assistiu a 13-V-1817 ao casamento por procuração desta princesa em Viena, após o que a 3 do mês seguinte partiu para o porto italiano de Livorno onde a esquadra portuguesa aguardava esta princesa para a conduzir na nau «D. João IV» ao Rio de Janeiro. A partida de Livorno deu-se a 14-VIII-1817 e a chega ao Rio de Janeiro a 5-IX-1817, após o que D. Maria Leopoldina foi entregue ao príncipe real D. Pedro, futuro D. Pedro IV de Portugal (de cuja coroa abdicou em sua filha D. Maria II no ano de 1828) e primeiro Imperador do Brasil.

D. João VI (1767-1826)
 e D. Calota Joaquina (1775-1830).
       A 26-II-1821, ainda no Brasil, integrou o governo de D. João VI como Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e presidente do Real Erário «onde deixa uma reputação de proverbial honradez», passando a assistir D. Pedro quando este assumiu a regência do Brasil em 22-IV-1821, nas vésperas do regresso de D. João VI a Portugal, o qual acompanharia na viagem para Lisboa. 

        D. Diogo de Meneses, nunca foi partidário da independência desta colónia, tendo-se por isso oposto aos intentos do Infante D. Pedro quanto a esta colónia, motivo porque se tornou um destacado Miguelista ao longo de toda a sua vida, assim como foi um homem crente e de firmes convicções religiosas, como aliás se depreende do seu testamento. 

        Aos 25-XI-1823, na sua residência alugada, o Palácio Cruz-Alagoa na então Rua Direita da Fábrica das Sedas (actual Rua da Escola Politécnica que então ia do Chafariz do Rato até à Faculdade de Ciências) na freguesia de São Mamede em Lisboa, juntamente com sua mulher D. Mariana, faz a escritura de aforamento perpétuo da Quinta do Monte, «situada no Termo da Villa da Castanheira», pela quantia anual de «dezanove mil e duzentos réis». A mesma quinta fazia parte do vínculo do morgado de Cadafais, composto de vários bens, que fora instituído por António Saldanha de Oliveira junto ao Convento de Santo António da Castanheira.

         A 17-VII-1825, por procuração passada ao major Francisco de Paula Durão Padilha, foi padrinho de baptismo em Idanha-a-Nova de Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa (1825-1900), futuro visconde do Outeiro e conde de Idanha-a-Nova.

D. Miguel (1802-1866),
Rei de Portugal (1828-1934)
       A 30-IV-1826, durante o reinado de D. João VI, é nomeado Par do Reino tendo jurado e tomado posse dessa dignidade na sessão da Câmara dos Pares de 31-X-1826. Acabaria no entanto por ver o pariato suspenso em consequência do decreto de 28-V-1834, que obrigava a resignar a essa honra todos aqueles que tivessem praticado actos políticos ofensivos à Carta Constitucional ou se tivessem oposto ao regime constitucional da monarquia. Esta disposição acabou por ser posteriormente anulada pelo decreto de 23-V-1851, o qual veio restabelecer o exercício do pariato: D. Diogo, porém, recusou-se a voltar a ocupar o seu lugar na Câmara dos Pares.

       A 14-XI-1826 obteve a pensão de 240$000 rs. imposta no rendimento da Comenda de Santa Maria de Almonda da Ordem de Cristo[34].

         A 8-VI-1827, durante a Regência de D. Isabel Maria, foi novamente nomeado Secretário de Estado da Fazenda, substituindo neste cargo o barão do Sobral.

       Em 26-II-1828, quando o Infante D. Miguel assume a regência de Portugal, é nomeado Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e Presidente do Tesouro Público, cargo que ocupa até 1-VIII-1833, e o qual abandona na sequência da entrada dos Liberais em Lisboa.

         Já em fins de Maio de 1834, pouco tempo antes da assinatura da Convenção de Évora Monte que pôs fim à guerra civil, juntamente com o Visconde de Santarém, ia sendo vítima da vanguarda liberal e dos excessos do povo quando fugia de Évora na sua carruagem em direcção a Elvas, segunda relato do Marquês da Fronteira nas suas «Memórias do Marquez de Fronteira e d´Alorna …» (Parte V – 1833 a 1834, p. 93).

        No testamento feito a 11-III-1837 por seu tio D. Desidério de Lencastre (1763-1841), principal da Igreja Patriarcal de Lisboa[35], falecido a 20-V-1841 na então Rua da Patriarcal Queimada n.º 53 (actual Rua da Escola Politécnica, n.º 42, próximo do Largo do Príncipe Real), D. Diogo é nomeado seu testamenteiro e dado como vivendo no prédio contíguo, sendo-lhe legados, entre outros bens: um «prazo em fateusim[36] situado na Rua Direita do Collégio dos Nobres, e Rua de S. Marçal» em Lisboa; outro vínculo no termo de Óbidos, o qual compreendia os Moinhos na Ribeira da Caldas, e todas as casas, prazos e vínculos a eles anexos; assim como sua sobrinha e D. Mariana, casada com D. Diogo de Meneses, é instituída para universal herdeira dos seus bens que incluíam «casas e prazos, e mais bens de raiz de que não faço particular menção (…) com a obrigação que lhe imponho de conservar as nove Creadas e três Creados», as quais «foram de minha Irmã a Exma. Senhora D. Thereza Theodóra de Lencastre[37], e a Nicolau António dos Santos e a José Maria Leal, enquanto todos vivos forem, não se esquecendo de José Maria Leal».

Caçarola de campanha com as iniciais 
«C.L.  D.D.» - «Conde da Lousã D. Diogo»
(Colecção particular, Lisboa)
Era senhor de uma razoável fortuna, constituída por diversas casas nobres e grandes propriedades agrícolas da parte da herança que lhe coube pela morte de seus pais e tios, muito acrescentada com os bens adquiridos pelo seu casamento com a rica 3.ª condessa da Lousã. Do seu património, à data da sua morte, destacava-se pela sua dimensão: a Quinta Amendoeiras, junto ao Carregado; a Quinta da Parvoíce (actual Quinta das Hortênsias), e a quase contígua Quinta do Monte, na Castanheira do Ribatejo; a Quinta do Olival das Almas, em Vila Franca de Xira; o que restava da Quinta dos Cavaleiros, em São Martinho do Outeiro, concelho de Vila do Conde; três domínios directos em Marvila, Lisboa, com respectivas casas nobres que provavelmente integravam a Quinta dos Marqueses de Marialva, seu avós; domínios directos nos Olivais, em Lisboa; um prazo enfitêutico na Lourinhã[38]; um prazo situado no termo da Vila de Óbidos; um prazo na Rua Direita do Colégio dos Nobres e Rua de São Marçal em Lisboa, junto ao qual tinha a sua casa no prédio da Rua da Escola Politécnica n.º 38 a 46, herança de seu tio D. Desidério de Lencastre (1763-1841), principal primário da Patriarcal de Lisboa. Tinha ainda acções da Companhia dos Canais de Azambuja. Estes bens, na ausência do seus titular quando residente no Brasil, eram administrados por um procurador – um deles foi José Maria Leal –, o qual coordenava vários caseiros nas diversas localidades onde havia propriedades agrícolas a administrar[39].

A 19-V-1845, D. Diogo agora «residente no seu Palácio na Rua Direita da Patriarcal, Freguesia de São Mamede», faz uma escritura de aforamento perpétuo a D. Prudenciana Angelina de uma «Propriedade de Casas Nobres com seu Quintalão, Citas em o Sul da Rua Direita de Marvila … freguesia de Santa Maria dos Olivais», da qual fazem parte «um Pátio de Entrada, havendo nele um plano térreo, dez Casas, em que entra Cavalariça e Cocheira, com seu Palheiro, por cima, tendo algumas das ditas Cazas também porta para a dita Rua de Marvila, e no Pátio uma Escada de Pedra que dá Servidão ao Quarto Nobre, havendo mais em o Pátio, um Poço de Água para balde, e o Quarto Nobre é dividido em oito cazas…», a qual «confronta com o Duque da Lafões», e «pertenceu ao Marquez de Marialva, Estribeiro Mor D. Pedro». Esta propriedade é a chamada Quinta do Marquês de Marialva, ou parte dela, que foi de D. Pedro José de Alcântara de Meneses Noronha Coutinho (1713-1799).

        A 20-III-1848 fica viúvo devido ao «fatal fallecimento» de sua esposa D. Mariana de Lencastre, como refere no seu testamento. Registamos que por esta data propagou-se por toda a Europa e chegou a Lisboa uma epidemia de disenteria bacilar (febre tifóide) que poderá ter sido a responsável por esta morte.

Em 2-VIII-1856 dita o seu testamento na sua residência na Rua do Colégio dos Nobres, freguesia de São Mamede em Lisboa, muito provavelmente intimidado com a epidemia da cólera e de febre-amarela que então grassavam em Lisboa, as quai vitimaram mais de 3.000 pessoas por volta desta altura.

Assinatura de D. Diogo, 
com o monograma inicial de 
«DM» (Diogo de Meneses.
        A 30-VI-1853 sucedeu na comenda de Nossa Senhora da Assunção, nos Açores, a qual fora criada cerca de três séculos antes para recompensar alguns fidalgos da família Coutinho (Marialva). D. Diogo no âmbito destas funções organizou e regulamentou as côngruas aos párocos e as necessidades dos cultos nas igrejas da Comenda, assim como ordenou a criação do curato da Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho, na Almagreira, concelho da Vila do Porto, na Ilha de Santa Maria, nos Açores. Com a morte do 3.º conde da Lousã, sem herdeiros directos, extinguiu-se esta organização comendatária na ilha de Santa Maria[40].
        Foi grã-cruz da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa, comendador da Ordem de Cristo, grã-cruz da Ordem de São Leopoldo de Áustria, e sócio honorário da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Testamento de D. Diogo de Meneses (1772-1862),
feito a 2-VIII-1856
«Em nome e na presença da Santíssima Trindade, um só Deus verdadeiro, uno na essência e Trino nas pessoas Padre, Filho, e Espírito Santo, em quem firmemente creio espero e confio, eu Dom Diogo de Meneses, Conde da Louzã, miserável pecador, mas fiel cristão e servo do meu Senhor Jesus Christo, achando-me em perfeito accordo e com saúde, considerando a certeza da morte, e ignorando como e quando me poderá surpreender, usando do Direito que pelas Leis me é concedido, determino fazer o meu testamento, sendo esta a minha última vontade.
Em primeiro lugar peço a Deus perdão da ingratidão com que eu tenho correspondido aos inúmeros benefícios que em toda a minha vida confesso ter recebido da sua infinita liberalidade, e da misericórdia e suma paciência com que me tem esperado, merecendo eu pelos meus mais miseráveis e inúmeros peccados as penas do Inferno. Espero contudo nos infinitos merecimentos do meu Senhor Jesus Christo, na sua Sagrada morte e paixão, e na poderosa intercepção da Santíssima Imaculada Virgem Maria Senhora Nossa, em companhia de todos os bem aventurados Santos; Santas, do meu anjo da guarda e de todos os espíritos Angélicos, a quem bem humildemente peço e rogo p. queiram interessar por mim na presença do Nosso Benfeitor. Declaro que sou natural da Villa de Guimarães e baptizado na freguesia da Senhora da Oliveira da mesma Villa, filho legítimo do Excellentíssimo Senhor Conde de Cavaleiros Dom Rodrigo José de Meneses, e de sua esposa a Excellentíssima Dona Maria José Ferreira d’Eça e Bourbon já fallecidos, que fui legitimamente casado com a Excellentíssima Senhora Condessa da Lousã Dona Marianna do Resgate de Saldanha e Lencastre, de quem estou viúvo, não tendo havido filhos do nosso consorcio, e que não tendo herdeiro algum ascendente, ou descendente, dos necessários pela leis que terão forçosamente herdar meus bens, direitos e acções, por isso posso previamente dispor de todos quantos seja senhor à hora do meu óbito o que faço da seguinte maneira. 
Ficando por minha morte em desamparo pessoas da minha família a quem minha querida e sempre saudosa esposa haverá criado e conservado em sua companhia até seu fatal fallecimento, quero quanto couber nas minhas posses fazer-lhe todo o possível benefício. Portanto pagas as minhas dívidas, se as houver ao tempo do meu fallecimento, e separados os legados ao diante declarados, instituo por minhas universais herdeiras, conjuntamente com meu cunhado Dom Luiz Victorino de Lencastre, a Maria do Carmo de MattosLourença Marianna, Emília de Sá, Marianna do Resgate; compreendendo-se (?), Prazos, Direitos e acções, tudo dividido em cinco porções iguais.
Em testemunho de gratidão pelo singular desvello, e constante cuidado com que sempre me tem tratado Maria do Carmo de Mattos, e atendendo à recomendação que lhe faço de tomar à sua conta o pobre João Maluco e Gertrudes Magna, lhe deixo além da parte que lhe pertence na herança, as minhas pequenas casas; Rua Direita da Patriarchal queimada com seu quintal, e o terreno e barracas que ficam defronte das ditas casas na Rua de São Marçal. 
Rogo a meu cunhado Dom Luiz Victorino de Lencastre, que queira ser meu testamenteiro por confiar tudo (?) na sua amizade, intelligência, e honrado carácter, e rellativo à conta que tem no Juízo respectivo será acreditado por sua simples attestação firmada (?). Por este encargo deixo-lhe a minha Quinta das Amendoeiras no Districto de Alenquer, com todas as suas pertenças officinas, vasilhame, e tudo o que se achar na mesma Quinta que lhe pertencer.
Deixo a meu sobrinho Dom Rodrigo José de Meneses[41], as Courellas de terra que comprei junto ao muro da Quinta de Cavaleiros, assim todas as fazendas, das quais eu lhe havia pago a parte que lhe pertencia por transacção; outro sim (?) e possível que (?) represente meu pai e meu irmão Manuel.
Deixo a minha Sobrinha a Dona Maria da Dores de Portugal[42], o broxe de camafeo cravado de brilhantes, que representa uma caçada, e um faqueiro de prata dourada com cabos da agatha, com meia dúzia de talheres para seus almoços.
Deixo a meu Thio o Senhor Principal Câmara quatro centos mil reis, e uma lãmina de prata que representa a Senhora da Graça.
Deixo a Angélica cem mil reis por uma vez somente. Deixo a Joaquim da Silva meu creado quatrocentos mil reis em uma só vez. Deixo a Pedro da Gama também meu creado trezentos mil reis, e igual quantia a João Gregório, e só por uma vez. Deixo a Gertrudes duzentos mil reis, idem. Deixo a Henriqueta cinquenta mil reis, idem. Deixo a Joaquim Pereira Caseiro da Quinta das Amendoeiras, e igualmente deixo a mesma quantia a Manuel Monteiro caseiro da Quinta da Parvoíce, tudo por uma vez.
Deixo para esmolas a casas de pessoas pobres e doentes da minha freguesia duzentos mil reis.  
Deixo aos Conventos de Freiras de Carnide, do Sacramento em Alcântara, ao do Rato, e das Francesinhas, quarenta mil reis a cada um.
Determino que o meu funeral seja feito sem o mais pequeno aparato para evitar despezas superfluas e alheias de tão humilde acto, com uma sege de vidros com o caixão adiante, e outra sege para os dois sacerdotes que hão-de acompanhar o meu corpo à sepultura.
A todas as pessoas da minha família, logo que se lembrem da minha alma, e de sua boa falecida ama, e a todas agradeço o seu bom serviço e affecto com que me têm tratado.
Declaro que todos os bens que pertencerão a meu Tio o Excelllentíssimo Senhor Principal Lencastre, estão sujeitos aos encargos que o seu testamento impôs em beneficio das pessoas no mesmo designadas, enquanto vivas forem, e para suprir o que por ventura puder faltar, pela separação que faço das Casas piquenas (sic), se prehencha do rendimento das Casas grandes, o que em (…) será de pouca monta.
 Por suffragios quero que se digão unicamente missas de corpo presente, de esmola cada uma de quatro centos reis, e outras cinquenta de esmola de esmola de duzentos e quarenta reis, nos dias (…) datas, ou mais próximos, tanto por minha alma como de minha mulher. Deixo ao arbítrio do meu testamenteiro, todas as mais despezas que se julgar se deverão fazer, sem alteração ao que fica exposto a respeito da simplicidade do meu funeral. Por esta forma dou por concluído este meu Testamento, sendo esta a minha última vontade, o que faço para poder em tempo dispor com pleno acordo na Saude, o que não seria fácil em artigo (?) de morte, ao que esta fosse imprevista e arrebatada.
Feito em Lisboa em dois de Agosto de mil oitocentos e cinquenta e seis ‘’Conde da Louzã Dom Diogo’’ – Aprovação – Saibão quantos este Instrumento de approvação do Testamento virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e cinquenta e seis aos vinte e cinco dias do mês de Agosto nesta cidade de Lisboa, Rua do Colégio dos Nobres, número quarenta e nove, freguesia de São Mamede, e casa de morada do Ilustríssimo e Excellentíssimo Conde da Louzã D. Diogo de Meneses, onde eu Tabellião por seu chamado vim, e ahi foi o mesmo Excellentíssimo Conde presente em bom estado de saúde, que deu fé ser o próprio, e estar em seu próprio juízo, e logo das suas mãos, às de mim Tabellião na presença da Teastemunhas abaixo nomeadas e assignadas, me foi dado este papel serrado, dizendo-me que este era o Testamento o qual lança (?), escripto todo, e assignado pela sua própria mão, e que por estar escrita a sua vontade, agora o aprovo e rectifico (… …). Por mim João Chrisóstomo  da Silva Freire»[43].


Seus irmãos e sobrinhos
D. Diogo era o 3.º filho de uma prole de oito irmãos, os quais foram:

Lisboa, Rua da Junqueira;
Casa de D. Gregório José de Meneses,
2.º Conde de Cavaleiros.
1.º - D. GREGÓRIO JOSÉ ANTÓNIO FERREIRA DE EÇA E MENESES (1769-1825), 2.º Conde de Cavaleiros, filho primogénito nascido a 6-VI-1769 na Casa do Arco em Guimarães, tendo por padrinho o Marquês de Marialva, e falecido a 25-XII-1825 (?). Há autores brasileiros que o dão falecido no Rio de Janeiro, na Cascatinha da floresta da Tijuca, num lamentável acidente em que escorregou e despenhou-se ao pisar uma pedra escorregadia quando aí passeava com a família real. Foi o 13.º senhor do morgado de Cavaleiros por sucessão a sua mãe em 25-XI-1796. Era moço fidalgo (7-X-1785), fidalgo escudeiro (8-III-1785), do Conselho de D. João VI, estribeiro-mor de D. Carlota Joaquina que ele acompanhou quando a Corte partiu para o Brasil a 29-XI-1807, levando então consigo sua esposa e mais 7 criados e 5 criadas, para os quais comprou no Rio de Janeiro «umas boas casas com sua chacra» onde ficaram alojados. 
Em Lisboa foi tenente-coronel do Regimento de Cavalaria n.º 7 (do Cais) e casou a 13-V-1800 na Ajuda, nas segundas núpcias de D. Francisca Correia de Lacerda Melo Pita Pacheco (1770-1829), 13.º senhora de Favelães, dama de honor das rainhas D. Maria I e D. Carlota Joaquina, a qual fora casada nas suas primeiras núpcias com D. Pedro Álvares da Cunha (1762-1798), 3.º Conde da Cunha. Comprou então um bonito palácio na da Rua da Junqueira, em Lisboa, não longe da casa paterna: a opulenta Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha[44], edificada em 1734 pelo arquitecto Carlos Mardel. Deste casamento não houve geração.

2.º - D. PEDRO DE MENESES (n. 1771), nasceu a 22-VII-1771 e foi baptizado a 28-VIII-1771, tendo por padrinhos o conde de Cantanhede e a condessa dos Arcos, respectivamente irmão e cunhada de seu pai. Faleceu menino.

3.º - D. DIOGO (1772-1862), aqui biografado. Sem geração.

4.º - D. EUGÉNIA JOSÉ DE MENESES (1775-1818), nasceu a 9-III-1775 na Casa do Arco em Guimarães, e veio a falecer a 21-I-1818 no Convento de São Bernardo em Évora. Foi dama de honor das rainhas D. Maria I e de D. Carlota Joaquina. A sua vida esteve envolta em tragédia que vai mencionada em separado.

5.º - D. ANTÓNIO DE MENESES (n. 1777), nasceu a 23-VII-1777, tendo por padrinhos os condes de Cavaleiros e os condes da Atalaia, seus cunhados. Faleceu muito novo.

6.º - D. MANUEL JOSÉ DE MENESES (1779-1808), nasceu a 24-IX-1779 a bordo da nau «Gigante» durante uma viagem dos seus pais para o Brasil. Regressou a Portugal e foi moço fidalgo a 7-IV-1797[45]. Em finais de 1807, como capitão-de-mar-e-guerra ao comando da nau «Martim de Freitas», acompanhou a Família Real na sua retirada para o Brasil (29-XI-1807). Nascido no mar, nele veio a morrer afogado a 29-I-1808 na Bahia de Guanabara, no Rio de Janeiro, quando ao subir ao portaló da sua nau enganchou a espada nas pernas e caiu à água. Solteiro, sem geração.

D. João de Almeida
Melo e Castro (1756-1814),
5.º Conde das Galveias.
7.º - D. ISABEL JOSÉ DE MENESES (n. 1781), nasceu em Vila Rica (actual Ouro Preto), estado de Minas Gerais, no Brasil. Já viúva a 11-XI-1820 obteve a comenda de São Pedro das Aradas na Ordem de Cristo[46].
Casou em 1798 com D. João de Almeida de Melo e Castro (1756-1814), 5.º Conde das Galveias, nascido a 23-I-1756 em Lisboa, e falecido a 18-I-1814 no Rio de Janeiro, o qual foi conselheiro da Fazenda (1791)[47], ministro interino da Guerra (1812-1814) no reinado de D. João VI, embaixador de Portugal em Londres (1801), Viena, Roma e Haia, assim como oficial superior do Exército e várias vezes ministro da Guerra. Este acompanhou a Família Real ao Brasil onde ocupou o cargo de Ministro da Marinha (1811), tendo aí falecido. 
No Rio de Janeiro viveu num palacete por si edificado em Mata-Porcos (junto à actual Rua Frei Caneca), perto do Palácio Imperial de São Cristóvão. Em Portugal habitava o Palácio das Galveias no Campo Pequeno em Lisboa, o qual adquiriu em 1801 e tinha sido confiscado aos Marqueses de Távora em 1759. Faleceu sem geração.  
Lisboa, Campo Pequeno;
Palácio das Galveias,
D. Rodrigo José de Meneses
de Eça (1813-1881),
3.º Conde de Cavaleiros.
8.º - D. JOSÉ TOMÁS DE EÇA E MENESES (c. 1780) nasceu em Vila Rica (actual Ouro Preto), estado de Minas Gerais, no Brasil, e faleceu no Rio de Janeiro, em datas que desconhecemos. Foi do Conselho do Rei D. João VI, comendador da Ordem de Avis, cavaleiro da Ordem Soberana e Militar de São João de Jerusalém, coronel de cavalaria, governador e capitão-general da província do Maranhão (1809-1811). Casou nas segundas núpcias de D. Luísa Perpétua Carneiro Sotomaior (c. 1785)[48].
Deste casamento teve dois filhos: 1.º – D. Rodrigo José de Meneses de Eça (1813-1881), 3.º Conde de Cavaleiros (17-XI-1865), e 15.º senhor da Casa de Cavaleiros, a qual foi vendida após a sua morte (?), nascido a 13-V-1813 no Rio de Janeiro, veio a ser Par do Reino por carta de 5-III-1853 só tomando posse a 3-II-1866, governador civil de Lisboa e Braga, deputado em várias legislaturas, casado a 24-XI-1834 em Lisboa com D. Maria das Dores de Portugal e Castro (1819-1888)[49], sem geração[50]; 2.º – D. Maria José de Meneses (f. 1843), falecida prematuramente a 13-XI-1843, sem geração.

Sucessão dos Condes da Lousã
A sucessão dos condes da Lousã recaiu na senhora D. TERESA MARIA BLECK DE LENCASTRE (n. 1925)[51], 8.ª condessa da Lousã (Conselho de Nobreza, alvará de 5-I-1996, n.º 1607), filha de D. Luís João Afonso de Lencastre Basto Baharem e de D. Edith Beatrice Bleck, casada com CARLOS AUGUSTO MONTE BOM DE SOUSA DE MELO E CASTRO (n. 1951), 4.º conde das Antas (Conselho de Nobreza, alvará de 30-XII-1996, n.º 1706). Têm geração.

A irmã de D. Diogo
D. Eugénia José de Meneses (1775-1818)
(Um drama romântico)
D. Eugénia José de Meneses (1775-1810) nasceu a 9-III-1775 na Casa do Arco em Guimarães, tendo por padrinho o Infante D. Pedro, marido e tio da Princesa do Brasil. Depois de uma curta e infeliz vida faleceu a 21-I-1818 no Convento de São Bernardo, em Évora. Era filha do 1.º Conde de Cavaleiros e neta paterna do 4.º marquês de Marialva.
D. Eugénia foi dama camarista do Paço e envolveu-se num dos maiores dramas românticos da sua época quando a Corte se encontrava em Queluz.
       Esta ilustre senhora, ex-amante do príncipe regente D. João segundo rumores que então circulavam em Lisboa, aparece grávida em Maio de 1803 e abandona a Corte para ir com licença por uns dias para o palácio que o seu irmão primogénito D. Gregório José António recentemente adquirira à Rua da Junqueira (actual reitoria da Universidade Independente).
Na sequência desta inoportuna gravidez e na noite de 27-V-1803, D. Eugénia, senhora de 28 anos de idade, foi raptada da casa de seu irmão, segundo a versão oficial, pelo fidalgo da Casa Real e médico da Real Câmara João Francisco de Oliveira (1761-1829), um homem então com 42 anos de idade, casado e com quatro filhos do seu casamento legítimo[52], bem-falante, sedutor e reincidente nestas façanhas de alcova, motivo pelas quais anteriormente fora expulso da ilha da Madeira de onde era natural, após o que andou na campanha militar do Rossilhão e, ao que parece, daí trouxe uma francesa. A estas aventuras ainda averbou o rapto de uma freira quando andava na campanha do Alentejo.
Este médico aventureiro era próximo do príncipe D. João e do seu filho o infante D. Miguel, o qual o nomeou ministro dos Negócios Estrangeiros durante a contra-revolução da Vilafrancada (27-V-1823), cargo que ocupou apenas por dois dias.
João Francisco de Oliveira, aparentemente sem futuro mas já com um grande passado de aventureiro, acabou por ser condenado à morte pelo rapto de D. Eugénia, a qual a 2-VI-1803 foi proscrita da corte e «riscada do titulo de dama, privada de todas as mercês e honras, e excluída da sucessão dos bens da coroa e ordens a que tenha, ou possa ter algum direito…»[53].
Quanto ao médico, cerca de um ano depois, a 12-VI-1804 e por Sentença da Casa da Suplicação foi condenado «de a raptar, ausentando-se com ella fugitivo …», pelo que se determina que «com baraço e pregão seja levado até ao lugar da forca, onde morrerá…» sendo os seus bens confiscados. Esta condenação, que nunca seria consumada, talvez não passasse de uma farsa destinada a encobrir o adultério do verdadeiro autor da indesejada gravidez que os boatos e as entrelinhas de jornais sensacionalistas da época atribuíam ao ainda príncipe D. João.
Após o escândalo, corria de boca em boca por toda a capital do reino que o executor deste rapto, há muito ligado a aventuras deste género, apenas emprestara o seu nome para encobrir o verdadeiro autor da gravidez.
       Estes boatos eram aparentemente apoiados pelos factos. João Francisco Oliveira partiu com D. Eugénia, já grávida, numa embarcação que saiu de uma praia próxima a Caxias, em direcção a Cádis em Espanha, onde esta logo deu à luz uma menina a 2-X-1803, também de nome Eugénia, após o que é abandonada à sua sorte pelo suposto raptor, como quem cumpre uma missão… A infeliz mãe, com a criança nos braços e as e as respectivas criadas, regressa a Portugal onde ingressam no Convento da Ordem de São Bernardo de Tavira, com o sustento a cargo do Erário Régio.
De Tavira, esta infeliz senhora e sua filha seria transferida em 1814 para o Convento de Portalegre, segundo ordem de Sua Alteza vinda do Brasil, para seguir Frei Tomé de Castelo de Vide, seu confessor que fora transferido para o Convento de Santo António de Portalegre. Aí veio a falecer, quatro anos depois, em 1818. Sua filha continuou no citado convento até 1821, recebendo do Real Bolsinho 500$00 anuais para seu sustento.
        Quanto ao citado raptor, logo após o nascimento da indesejada criança embarcou para os Estados Unidos onde parece ter-se fixado em Filadélfia. Um quarto de século depois, por decreto de 5-IV-1820 é-lhe concedido o perdão real passado na Corte do Rio de Janeiro, para onde se dirigiu e onde foi bem recebido, obtendo uma comenda da Ordem de Cristo no ano seguinte (6-XI-1821), assim como importantes doações na Ilha da Madeira. Em 1822 legitima a filha que abandonara, vindo a falecer tranquilamente em 1829 no Funchal, sua terra natal, não se cumprindo assim a sentença que o condenou à forca... Talvez como recompensa dos serviços prestados, e perante a estupefacção de grande parte da opinião pública da época, ainda foi nomeado encarregado dos negócios em Londres e depois em Paris. Esta benevolência com que o dito raptor foi tratado, mais adensou as suspeitas de o rei D. João VI ser o presumível autor da citada gravidez.
         À criança que resultou deste drama foi dado o nome de Eugénia Maria do Rosário de Meneses (1803-1863) e nasceu a 2-X-1803 em Cádiz, tendo falecido a 19-IX-1863 em Lisboa com 60 anos de idade, sendo inumada na tumba n.º 1379 do cemitério dos Prazeres. Foi legitimada já adulta em 1822, quando contava 26 anos de idade e já tinha saído do convento. Contraiu matrimónio a 30-XI-1839 na freguesia da Lapa, em Lisboa, nas segundas núpcias de WILLIAM SMITH (1788-1865)[54], cônsul geral da Grã-Bretanha em Lisboa (1834-1865), cidade onde faleceu a 11-XI-1865 com 77 anos de idade, e ao qual também era atribuída ascendência real, pois dizia-se ser filho bastardo de William IV (Guilherme IV), rei da Inglaterra. Deste casamento nasceram duas filhas e um filho, todos falecidos prematuramente: 1. - Alexandre Douglas Smith (n. 1840?), que terá falecido em criança; 2. – Maria Eugénia Smith de Meneses (1840-1842), nascida a 14-IX-1840 em Lisboa, cidade onde faleceu ainda criança a 1-IV-1842; 3 – Elisabete Maria Smith de Meneses (1844-1866), nascida a 8-V-1844 em Lisboa, e falecida aos 22 anos em 1866.

        A Rainha D. Maria II, a 8-IX-1849 revogou os decretos de condenação da infeliz D. Eugénia, a rogo da sua filha, reabilitando a sua memória 31 anos após a sua morte.
        Estes segredos de alcova e a presumível origem real dos seus actores, aqui ficam registados para os vindouros.
Boato, ou não, este drama só teriam sido possível de esclarecer pelos próprios intervenientes que carregaram consigo este mistério para os seus túmulos nos quais repousam no cemitério dos Prazeres em Lisboa, num grande e discreto jazigo da casa dos Marialva e dos Cavaleiros, que ainda existia há uma vintena de anos e ostentava na fachada o nome dos SMITH.
O Palacete de D. Diogo de Meneses
Casa da Praia dos Marqueses de Marialva, 
ao Bom Sucesso, Lisboa.
(local actualmente ocupado 
pelo 
Centro Cultural de Belém)
      Ao consultarmos diversa documentação particular como contratos, certidões, testamentos, e outros actos notariais desta família, fomos confrontados com a indicação de diversas moradas e números de polícia para residência dos 3.ºs condes da Lousã, dentro da cidade de Lisboa ao longo dos anos.
    Ainda jovem, D. Diogo começou por viver ao Bom Sucesso, junto a Belém, onde seus avós paternos, os marqueses de Marialva, tinham um grande casarão.
Lisboa, Rua da Escola Politécnica,
Palácio Cruz-Alagoa.
Residência de D. Diogo.
   Passou ao Brasil várias vezes, regressando definitivamente com o rei D. João VI em Julho de 1821, arrendando então para sua morada uma parte do grande Palácio Cruz-Alagoa que ficava situado quase defronte para o Palácio dos Duques de Palmela na actual Rua da Escola Politécnica, o qual passara a prédio de rendimento e onde viveu cerca de dez anos «pagando de renda de 800$00 réis, razão pela qual o pátio interior da casa teria ficado conhecido por pátio do conde», segundo informação que obtivemos do investigador Dr. João Figueiroa-Rego.
Lisboa, Rua da Escola Politécnica.
Casa de D. Diogo.
        As últimas três décadas da sua vida, a partir da morte do seu tio D. Desidério de Lencastre do qual foi herdeiro, foram passadas no seu palácio da Rua da Escola Politécnica, n.º 38 a 46, endereço este que figura no «processo de inventário dos seus herdeiros» e respectivos «Autos de liquidação da Contribuição do Registo pella transmissão da Herança do Conde da Lousã» , que foi concluído na Repartição de Fazenda do Bairro Alto a 24-II-1864 (processo n.º 26).
      A actual Rua da Escola Politécnica, assim designada a partir de 1859, teve várias denominações ao longo dos séculos XVIII e XIX, quando ainda era um arrabalde semi-rural com arruamentos e quintas à mistura, das quais algumas pertenceram à família Lencastre. Pela documentação consultada sabemos ter sido designada por Rua da Fábrica das Sedas, num dos seus troços, junto ao Largo do Rato (desde 1742), Rua Direita da Cotovia (1753), Rua Direita da Patriarcal e Rua da Patriarcal Queimada (1767 e 1769), assim como Rua do Colégio dos Nobres; nomes que em diversa documentação vão surgindo para morada deste titular.
         Esta casa tem uma história interessante, aliás com a maioria dos palacetes desta zona que serviram de residência às famílias mais destacadas, as quais após o Grande Terramoto e com a cidade reduzida a escombros aí procuravam os bons ares para edificar os seus palacetes.
       A moradia, uma das mais antigas desta zona, teve várias ampliações ao longo do tempo e deu origem ao palacete actual onde residiu o 3.º conde da Lousã. Pertencia em 1728 a Pereira de Azambuja, cavaleiro da Ordem de Cristo, o qual em meados do século XVIII o arrendou (em enfiteuse?) a José António de Castilho Correia Freire (n. 1725), neto do 3.º morgado dos Castilhos, casado com D. Madalena Xavier Ana de Mendonça de Saldanha (n. 1711), o qual o remodelou e lhe acrescentou mais dois pisos.
Este último casal teve duas filhas e um filho, curiosamente todos eles casados com filhos de D. João de Lencastre (1713-1765), 1.º conde da Lousã (Carta de 28-III-1765), alcaide-mor de Celorico da Beira a 22-11-1765[55], que a 16-V-1770 ainda é dado como vivo (?) ao obter um alvará para «mais uma vida para o sucessor de sua casa nas terras e tenças»[56], sabendo-se que veio a morrer no mar a 23-VIII-1765, a caminho do oriente para onde foi nomeado Vice-Rei e capitão-general da Índia, cargo que não chegou a ocupar.
Quantos aos três filhos do senhor desta vetusta casa, todos eles casados com filhos do 1.º conde da Lousã, temos:
1.º - D. Maria Xavier de Mendonça (c. 1755), casada nas primeiras núpcias de D. Rodrigo António de Lencastre (1753-1819), o primeiro filho varão de uma prole de dez irmãos, falecido sem geração;
2.º - D. Ana José de Castilho e Alcáçova (n. 1756), casada com D. José Francisco de Lencastre (n. 1765), o segundo filho varão, sem geração; 
3.º - Jerónimo José Xavier de Castilho e Alcáçova (c. 1760), único filho varão, casado com D. Teresa de Lencastre (n. 1761), a última herdeira da casa, falecida também sem descendência, pelo que esta passaria à posse do seu irmão D. Desidério de Lencastre (1763-1841), principal da Patriarcal de Lisboa, que por sua vez a deixou em testamento à sua sobrinha D. Mariana Antónia do Resgate de Saldanha Corte-Real da Câmara e Lencastre (1784-1848), 3.ª condessa da Lousã que aí habitou com seu marido D. Diogo.
        No século XIX passou esta residência à posse dos condes do Restelo, após o que mudou inúmeras vezes de mãos até aos nossos dias, nela funcionando actualmente a sede da «EastBanc Portugal – Gestão e Desenvolvimento Imobiliário Lda» e da «Rockbuilding – Soluções Imobiliárias Lda», entre outras ocupações comerciais.


Anexos:

Retratos de D. Diogo de Meneses e D. Mariana de Lencastre 
D. Diogo de Meneses
(1772-1862),
3.º Conde da Lousã.
Atrib: 
Henrique José da Silva,
1802.
      D. Diogo de Meneses, no seu único retrato conhecido e actualmente na posse de particulares[57], está representado a meio corpo voltado a três quartos à esquerda e olhando para o mesmo lado, pintado sobre um fundo castanho escuro. Apresenta uma peruca curta de rabicho e empoada, assim como uma pequena argola de oiro no lóbulo da orelha esquerda[58]. Veste casaca de cor azul com um corte aparentemente rodado, e um colete branco bordado com raminhos que desce abaixo do ventre, com mangas de canhão do mesmo tecido, dos quais saem punhos de renda branca que condizem com uma gravata de garrote. Aparenta ser um homem à volta dos trinta anos de idade, e terá encomendado este retrato por volta 1802 (?), a seguir ao seu matrimónio.
    Se esta maneira de trajar poderia datar esta pintura com sendo dos finais do século XVIII, não devemos perder de vista que este era o modo de vestir na Corte da nobreza mais conservadora dos princípios do século XIX, o que levava mais tarde a aristocracia liberal a apelidar este tipo de vestuário já a cair em desuso, à Portugal-velho. Esta moda tentou resistir até mesmo depois da vinda da Corte do Brasil (1821)[59].
     Quanto à autoria deste retrato do 3.º conde da Lousã, cuja factura se deve ainda a uma estética classicizante, subsistem algumas dúvidas. Ele está acima das possibilidades de execução da maioria dos pintores nacionais da época em que foi pintado (1800-1820).
D. João VI (1767-1826)
Atrib: Henrique José 
da Silva.
(Fundação Maria Luís e Óscar
Americano, São Paulo, Brasil)
     O mais destacado pintor oficial da Corte que nesta época estava no auge como retratista da alta aristocracia e da burguesia endinheirada era Domingos Sequeira (1768-1837), cujo esquema neoclássico, que praticava por esta altura – numa fase de retratista pouco divulgada – está próximo deste retrato. Em 1803 chega a Portugal o pintor veneziano Domenico Pellegrini (1759-1840) que irá influenciar a obra de Sequeira no que diz respeito ao realce da cor e da Luz, sendo os retratos desta fase os mais conhecidos. Acresce que Sequeira, morador em Belém junto ao palácio os marqueses de Marialva, que frequentava, foi por estes protegido e promovido desde pequeno, recebendo, através deles, encomendas de retratos como foi o caso dos quadros que pintou para Beckford[60]. Segundo os seus biógrafos, Sequeira foi preso a 15-XII-1808 quando saía da casa do marquês de Marialva, onde jantara em companhia deste, do conde da Lousã, e do abastado José Pedro da Silva que era dono do botequim das Parras[61], pois andavam vigiados pela polícia por aceitarem sem oposição o domínio das tropas francesas, além de contribuírem para o empréstimo que os invasores exigiam.
D. Pedro I do Brasil
(IV de Portugal).
Assin. e dat: «H.J.S. Fecit. 1822».
(Museu Imperial de Petrópolis).
     Outro não menos provável autor do retrato de D. Diogo, poderá ser - e foi - o menos conhecido pintor Henrique José da Silva (1772-1843), amigo do citado José Pedro da Silva. Este pintor, autor de alguns bons retratos[62], em 1819 embarcou para o Rio de Janeiro para solicitar a nomeação do seu filho para um cargo público, acabando por aí ficar a convite do Secretário de Estado de Negócios do Reino que tinha em conta os seus bons conhecimentos de pintura e desenho. Foi director da «Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitectura Civil», e «pintor da Imperial Câmara» até à sua morte em 1843. Alguns retratos da sua autoria têm analogias quanto ao desenho e ao cromatismo com o retrato de D. Diogo. Um destes é o «Retrato de Dom Pedro I» (90,0 x74,0 cm), assinado e datado «H.J.S. fecit, 1822», que se encontra no Museu Imperial de Petrópolis.
Sta. Madalena Arrependida.
Assin. e dat: «H.J.S.ª inv. 1815»
(Colecção particular, Lisboa).
        Este autor costumava assinar os seus quadros, como sabemos também por uma «Santa Madalena Arrependida» (38,5x32,0 cm), assinada e datada «H.J.S. inv. 1815», a qual foi de D. Diogo e apresenta um cromatismo muito semelhante ao do retrato em apreço.
      O facto do retrato de D. Diogo não estar assinado e datado, ao contrário do que acontece à maioria das obras de Henrique José da Silva, deve-se a uma alteração muito antiga, não datável, que supomos próxima da altura em que o retrato foi pintado, feita para aumentar o tamanho inicial da tela (92,0x 75,0 cm), para um tamanho maior (110,0x88,0 cm), pela justaposição de quatro rectângulos de tela colados sobre uma tela de entretelagem. Por coincidência, as medidas iniciais da tela deste retrato (92,0x 75,0 cm), são sensivelmente iguais às do já citado «Retrato de Dom Pedro I» (90,0 x74,0 cm), que Henrique José da Silva fez em 1822. 
     O aumento das dimensões do retrato inicial parece ter ficado dever-se à necessidade deste quadro fazer pendent com um outro belíssimo retrato da condessa da Lousã que lhe será posterior. A partir desta alteração os dois retratos ficaram com molduras douradas rigorosamente iguais quanto ao tipo e dimensões, tendo cada uma 10 cm de largura.
D. Diogo de Meneses
(1772-1862).
(Esquema de telas
justapostas.)
     Por altura de um restauro com uma nova entretelagem feita em 1983, ao proceder-se a uma radiografia à tela, verificou-se que havia uma primeira camada cromática com um retrato de D. Diogo, invertido em relação ao actual, representado quase de frente e pintado até altura do busto. Presumimos que o destinatário desta frustrada representação iconográfica, não deve ter gostado desta posição e pediu uma outra, pelo que o pintor terá invertido a tela para não se confundir com o rosto e ombros já pintados.
D. Mariana de Lencastre
(1784-1848)
3.ª Condessa da Lousã.
(paradeiro desconhecido)
    Um outro retrato que representa a sua esposa D. Mariana de Lencastre, cujo paradeiro é desconhecido e do qual conhecemos uma má representação fotográfica a preto e branco, supostamente foi pintado por volta de 1801, altura do seu casamento aos 17 anos de idade.
Está representada, sob um fundo com uma paisagem de cenografia muito discreta, a pouco mais de meio corpo e sentada de frente, com um rico vestido drapejado sob uma echarpe ondulante sobre os ombros, apresentando uma grande incidência de luz sobre o rosto pálido e um pescoço desnudado por um amplo decote, assim como mangas curtas e tufadas. O penteado liso achata-se e ostenta uma fiada de pérola. Com o braço direito apoiado segura o longo cabelo liso que vem desse lado até à cintura, caindo o braço esquerdo com naturalidade sobre o regaço onde segura um pequeno cão de companhia – o bichom havanês que mal chegava aos 20 cm de comprimento e estava em moda na alta sociedade da época.

   Este retrato revela uma composição ao estilo de Luise Elisabeth Vigée Le Brun (1755-1842), grande retratista francesa que operou na grande maioria das capitais europeias mas nunca esteve em Portugal.
Lisboa, Carnide; «Q.ta do Bom Nome»
do Visc. de Juromenha..
     A posse deste quadro passou da condessa da Lousã para seu meio-irmão D. Luís Vitorino de Lencastre (1809-1893), e deste passou a sua filha D. Virgínia Adalgisa de Lencastre (n. 1835), falecida sem herdeiros directos, pelo que, segundo relatos orais que nos foram transmitidos, os bens foram leiloados no primeiro quartel do século XX (?). Posteriormente, este retrato voltou a aparecer num leilão feito a 17-XI-1962 pela firma «Leiria e Nascimento» no qual foi vendido parte do recheio do palacete da Quinta do Bom Nome[63], em Carnide, que em tempos pertenceu ao Visconde de Juromenha. Neste leilão o citado retrato estava referenciado como «Pintura 312 / Retrato de Senhora/ Pintura a óleo sobre tela / Escola Francesa / séc. XVIII [o que é errado] / Alt. 1,09; Larg. 0,85». A citada firma leiloeira não tinha nessa época catálogos anotados que nos permitam chegar ao comprador, pelo que supomos perdido o rasto desta notável obra.

 

D. Maria I e D. Pedro III.
            Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, no título «Maria», referente às rainhas de Portugal, vêm publicada uma litografia com a legenda «D. Maria I e D. Pedro II» (o que parece ser erro, pois devia ser D. Pedro III), datada já do século XIX, onde à semelhança com os condes da Lousã é notória, tanto na fisionómica como no trajar, pelo que não quisemos deixar de referir aqui esta surpreendente coincidência a adensar o mistério à volta dos retratos deste casal.





Morgado da Casa de Cavaleiros
(Ferreira de Eça)
       A Quinta de Cavaleiros com o seu solar medieval datado do século XI situa-se na freguesia de São Martinho do Outeiro (Outeiro Maior), no concelho de Vila do Conde, da qual só restam ruínas. Começou por pertencer aos Ferreiras que alguns linhagistas mais antigos dizem descender de D. Álvaro Ferreira, senhor da «vila de Ferreira hoje em Castela», o qual foi pai de D. Fernando Álvares Ferreira «que viveu em Portugal no Paço de Ferreira, freg.ª de S. João de Eriz, conc. de Aguiar de Souza» e foi rico-homem do Rei D. Sancho I[64]
Lintel medieval da Casa de Cavaleiros
com o mais antigo escudo de armas
dos FERREIRAS.
(Museu N. Soares dos Reis, Porto)
 A origem deste vínculo terá ficado a dever-se a uma façanha feita por Martim Ferreira que fez frente aos castelhanos quando estes quiseram tomar Guimarães e, nessa refrega, por nunca virar a cara ao inimigo recebeu «uma honrada cutilada pelos focinhos» cuja grande cicatriz passa à tradição valendo-lhe o nome de Martim Narizes, assim como a recompensa de um vínculo instituído que se perpetuou e foi acrescentado por outros vínculos ao longo dos tempos.
Um sucessor nesta casa que foi Estêvão Ferreira (c. 1511), senhor de Cavaleiros, contraiu casamento com uma senhora de grande linhagem que foi D. Brites de Eça, de varonia real, descendente do Infante D. João, filho do Rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro. Tiveram um filho varão Martim Ferreira (c. 1521), que sucedeu no vínculo de Cavaleiros, mas só teve filhas do seu casamento, das quais uma lhe sucedeu no morgado: D. Joana de Eça. Desde esta senhora até aos fins do século XVIII, o morgado de Cavaleiros passa por sucessivas atribulações que não cabe aqui explicar, as quais em muito lhe diminuem a imensa extensão territorial que tinha no início, apesar de ainda ter anexos os morgados de São Mamede de Recezinhos (concelho de Penafiel) e de São Tomé de Negrelos (concelho de Santo Tirso, e o de Fajozes.
Após o falecimento de D. Rodrigo José de Meneses de Eça (1813-1881), 3.º conde de Cavaleiros (17-XI-1865), esta quinta, acaba por ser vendida em hasta pública e retalhada em diversas parcelas.
A representação da família Ferreira de Eça passou para os marqueses de Alegrete, e o título de Cavaleiros está na casa dos Duques de Lafões e Marqueses de Marialva.

Quinta do Marquês de Marialva
(Lisboa, Marvila, Santa Maria dos Olivais) 
Esta nobre quinta teve um casarão edificado por D. António Luís de Menezes (1603-1675), 1.º marquês de Marialva, 3.º conde de Cantanhede, um dos mais activos elementos da Restauração (1640), desde a fase conspirativa até a Batalha de Montes Claros (1665).
Lisboa, Marvila;
Q.ta do Marquês de Marialva.
        No início da sua fundação confrontava com os terrenos do convento de São Bento de Xabregas. A sua casa, com capela anexa e um altaneiro mirante[65], circundada por um magnífico jardim com a sua luxuriante vegetação, era uma das residências secundárias do marquês de Marialva cuja casa principal estava inicialmente onde hoje é o Largo de Camões, junto ao Chiado, e depois do Terramoto passou para o Palácio do Bom Sucesso, junto a Belém.
      Foi nesta quinta que nasceu D. RODRIGO JOSÉ ANTÓNIO DE MENESES (1750-1807), 1.º Conde de Cavaleiros, pai de D. Diogo, 3.º Conde da Lousã.
Lisboa, Marvila; 
Q.ta do Marquês de Marialva, Mirante
(interior).
        Por morte do 6.º marquês de Marialva (f. 1823), falecido sem filhos, passou à posse dos duques de Lafões, dos quais um deles era casado com a filha mais velha da Casa Marialva.
        Nos meados do século XIX foi atravessada pela linha de caminho de ferro que ligava Lisboa ao Carregado, inaugurada em 1856, cujo traçado acabou por levar ao abandono da casa solarenga. Entretanto foi ocupada por uma enorme unidade fabril, a qual também já não existe. Hoje apenas resta o mirante, colado à linha-férrea, em completo estado de abandono.




Quinta do Furadouro
(Amoreira, Óbidos)
          A emblemática Quinta do Furadouro tem uma mansão solarenga que acolhe no seu interior uma capela dedicada a Nossa Senhora do Livramento, na qual figura a respectiva imagem em madeira. 
           Situada na freguesia da Amoreira, no concelho de Óbidos, foi fundada no princípio do século XII por D. João Manuel, rico fidalgo castelhano. 

Óbidos, Amoreira, Quinta do Furadouro, portal de acesso.
Quinta do Furadouro, pátio interior.












Portal de acesso.
Q.ta do Furadouro,
Pedra de armas: 1.º Ferreira;
2.º Eças. 
Timbre: Ferreira.
Tinha outrora uma imensa extensão territorial, designada então pelo nome de Olho Marinho, e andou associada a várias histórias românticas. 
Segundo a lenda, D. Pedro I, filho do rei D. Afonso IV, permanecia nesta região por longos períodos para aí se dedicar à caça então abundante nestas paragens, usando este local para os seus encontros amorosos com D. Inês de Castro (f. 1355) que, em consequência deles, acabou tragicamente morta em Coimbra em 1355. Na sequência do seu falecimento, a quinta foi doada pelo rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro I, a D. João de Eça[66], filho destes funestos amores reais.
Após a morte de D. João de Eça, foi comprada pelo Infante D. Henrique, passando posteriormente para o rei D. Afonso V, que dela faz doação a Joan Vasques por «Carta Régia de Doação da Terra do Olho Marinho» no ano de 1449, como reconhecimento pelos serviços prestados por este cavaleiro ao Príncipe D. Fernando, como seu conselheiro privado até à sua morte durante o seu cativeiro em Fez. 
      Em meados do século XVI, uma grave crise económica vai obrigar os seus proprietários a desfazerem-se de uma parte da quinta, começando esta a desmembrar-se, dando origem ao aparecimento da Quinta do Ceilão aforada a Estêvão Ferreira da Gama, o filho do navegador Vasco da Gama que então pagava um moio de trigo (60 alqueires) de foro anual à Quinta do Furadouro.
     No século XVIII, em consequência de mais uma crise económica, o que restava da Quinta do Furadouro foi comprada por GREGÓRIO FERREIRA DE EÇA (f. 1759), avô do biografado D. Diogo, e senhor do morgado de Cavaleiros, o qual já tinha ocupado com mérito importantes cargos no Brasil que lhe granjearam grande fortuna. Por herança viria a juntar-se-lhe a vizinha Quinta do Ceilão, também conhecida por Quinta de Cima que em tempos lhe andou anexa.
       Anos mais tarde, as novas crises económicas e políticas da segunda metade do século XIX forçam o conde de Cavaleiros a vender a quinta aos duques de Palmela para resolver os problemas financeiros com que se debatia. A partir de agora esta grande propriedade vai mudar várias vezes de mãos até chegar no século XX à posse da família Pinto Basto que a venderia nos anos cinquenta do século XX à multinacional Stora Enzo (Celbi) que então aqui se dedica aos melhoramentos genéticos de eucaliptos para a produção de celulose.

Quinta da Marinha
(Carregado)
      A Quinta da Marinha, junto ao Carregado, no concelho de Alenquer, já teve vários nomes ao longo dos séculos e é uma das quintas mais antigas do Ribatejo, com limites mais ou menos definidos desde tempos recuados.
       O seu edifício residencial, apesar de muitas alterações, ainda preserva os vestígios arquitectónicos dos finais do século XVII. A capela anexa, dedicada a São Sebastião, data de 1669 e foi mandada fazer por um descendente do fundador do morgado.
Q.ta da Marinha, Alenquer.
         Já foi conhecida por Prazo do Mestre (da ordem de Avis), seu nome inicial; Quinta do Baharem (em 1560); Quinta do Carregado; e Quinta da Condessa por ter pertencido D. Mariana Joaquina de Basto Baharem (n. 1731), casada a 11-IV-1714 com D. João de Lencastre (1713-1765), 1.º Conde da Lousã (Carta de 28-III-1765), filha de Luís António de Basto Baharem (c. 1710), alcaide-mor da vila de Linhares, que nela instituiu um morgado em 1715.
       Nos seus primórdios pertenceu à ordem de Avis, cujo mestre D. Jorge de Lencastre (1481-1550), 2.º duque de Coimbra, a terá dado de enfiteuse a António Correia Baharem (1490-1566) para nela instituir o morgado da Marinha.
       António C. Baharem era um dos mais notáveis soldados da Índia ao serviço do rei D. Manuel e participou na maioria dos combates do mar de Ormuz tendo libertado a cidade de Malaca que estava sitiada, e mais tarde venceu e matou o rei Mochrim do Baharem, que conquistou em 1521, pelo que tirou deste feito o apelido que acrescentou ao seu nome, assim como esquartelou o seu brasão com a cabeça do mouro que venceu por ordem do rei D. João III e por Carta de 14-I-1540 (Chancelaria de D. João III, liv. 50 de Doações, fl. 20v.). A este bravo soldado, filho de Ayres Correia que foi na 2.ª armada de Pedro Álvares Cabral à Índia onde os mouros o mataram, ser-lhe-ia dado o padroado da capela-mor do Convento de Santa Catarina da Carnota (Cadafais, Alenquer), em agradecimento da sua generosidade na reedificação desta casa, e aí ficou sepultado em campa onde se lavrou o seu epitáfio.
        António Correia Baharem (1490-1566), senhor da Quinta da Marinha, casou com D. Isabel de Castro, da qual teve apenas um filho que foi Manuel Correia de Baharem, o qual morreu com o Rei D. Sebastião em Álcacer Quibir em 1578. Na posse desta quinta sucedeu-lhe um outro António Correia de Baharem, casado com D. Joana de Távora. Um neto homónimo deste último, teve por herdeira uma filha que foi D. Paula Maria de Alcáçova Baharém, a qual, por sua vez, casou com Luís António de Basto e Baharem (c. 1710), moço-fidalgo com exercício no Paço, comendador da Ordem de Cristo e alcaide-mor de Linhares, na Beira. Deste último terá sido uma pedra de armas que foi retirada do portal da citada quinta e se encontra actualmente no Museu Municipal de Vila Franca de Xira. Uma neta deste veio a casar com o 1.º conde da Lousã, passando então a quinta, nesta família, a ser conhecida por Quinta da Condessa.
       Em 1877 esta propriedade viria a ser adquirida pela família Pinto Barreiros que aqui instalou uma afamada ganadaria.

Quinta dos Condes da Lousã
(Quinta Grande da Damaia, Amadora)
         A Quinta dos Condes da Lousã com o seu palácio dos meados do século XVIII situa-se na freguesia da Damaia, no concelho da Amadora. 
Q.ta dos Condes da Lousã, 
Damaia, Amadora.
     Outrora ocupou uma vasta área territorial que actualmente sucumbiu à anárquica expansão urbanística da segunda metade do século XX. Esta típica casa de campo de planta rectangular era constituída por grandes divisões e tectos em masseira, assim como algumas paredes decoradas com azulejos alegóricos datados de 1730. Tinha anexa uma capela particular cujo orago era de Nossa Senhora da Conceição, na qual estava sediava uma confraria que organizava uma festa anual «na oitava do Espírito Santo, com missa cantada e dois sermões» em honra desta Santa para os residentes e vizinhos. O proprietário apenas cedia a capela e pagava ao capelão, enquanto os mordomos, escolhidos pelo povo, tratavam de tudo e responsabilizavam-se pelas despesas.
Q.ta dos Condes da Lousã, 
Damaia, Amadora.
        Inicialmente, nos fins do século XVII, andou na posse da família dos condes de Cocolim (Mascarenhas), parentes dos marqueses da Fronteira, dos quais o 2.ºs e o 3.ºs condes casaram com filhas dos condes de Sarzedas e de Vila Nova de Portimão, títulos da família Lencastre, para cuja descendência passou esta quinta.
        Pertenceu esta quinta de D. João de Lencastre (1713-1765), senhor donatário do Carregado, comendador de S. Vicente de Fornelos na Ordem de Cristo, alcaide-mor de Linhares, tendo perdido a vida numa viagem à Índia (27-III-1765), que nela terá feito obras de beneficiação, pois era uma das suas propriedades favoritas.
  Nela chegou a viver o não menos célebre Manuel António Gomes (1868-1933), mais conhecido como Padre Himalaya (alcunha devida à sua grande estatura), um destacado cientista e inventor português.
  Em 2003, a Câmara Municipal da Amadora adquiriu o Palácio aos descendentes dos condes da Lousã com o objectivo de assegurar a sua preservação.


   Deste modo, aqui deixamos memória dos 3.ºs condes da Lousã, a qual só foi possível por termos tido acesso privilegiado a documentos que andam em mãos de particulares.
   E tudo isto ... a propósito de um simples retrato a óleo que, por herança familiar, veio parar à posse do autor destas notas! .... 




Notas:

[1]   Freguesia de São Mamede de Lisboa, Livro de Óbitos n.º 4, fl. 209 v.
[2]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv. 22, f. 56v
[3]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.4, f. 139v
[4]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.4(2), f. 133v
[5]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.5(2), f. 133
[6]   Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), «o Tiradentes», foi dentista (daí o cognome), minerador, comerciante, militar, e grande activista político do Brasil colonial, tendo-se tornado mártir do movimento a favor da independência de Minas Gerais – a Inconfidência Mineira. Julgado e morto por enforcamento no Rio de Janeiro a 21-IV-1792, tornou-se num herói nacional. O dia da sua morte é feriado nacional.
[7]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 1, f. 483
[8]  Após o terramoto, o Palácio Marialva junto ao Chiado foi abandonado, deslocando-se esta família para a sua casa de praia (Palácio da Quinta da Praia ou do Bom Sucesso), actualmente desaparecida para dar lugar ao Centro Cultural de Belém. A Casa de Marialva possuía os senhorios das vilas de Cantanhede, Marialva, Mondim, Melres, Ermelo, Vilar de Ferreiras, Leomil, Atei, Álvaro, entre outras, e os morgados de Medelo e de S. Silvestre.
[9]  D. Manuel de Mascarenhas (n. 1699), 3.º conde de Óbidos, de dois casamentos que fez teve nada menos que dezassete filhos e filhas, cuja descendência, por sua vez, se veio a ligar a algumas das grandes casas titulares de Portugal. Em 1760 foi preso no forte da Junqueira, acusado de fazer parte da conjura do Duque de Aveiro contra o rei D. José I. 
[10]   D. Manuel Ferreira de Eça (f. 1724), 10.º senhor da Casa de Cavaleiros, foi casado com D. Francisca Benta Josefa de Távora, nascida na Amoreira, Óbidos, neta de D. Antão de Almada, 10.º senhor dos Lagares d’El-Rei e um dos Restauradores de 1640, vivia em 1687 na Quinta dos Cavaleiros, tendo falecido a 21-I-1724 na Casa do Arco, em Guimarães. Dedicou-se ao estudo da genealogia e deixou quatro volumes manuscritos: «Famílias Ilustres de Portugal». Esses manuscritos, hoje encontram-se em paradeiro incerto, caso não façam parte de lote de manuscritos que já no século XX foram descobertos emparedados na Quinta do Furadouro, aquando de obras aí feitas na época, segundo nos foi relatado.
[11]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. João V, liv. 11, fl.336
[12]   Cf. MORAIS, Maria Adelaide Pereira de Morais, «Velhas Casas XI: A do Arco na Rua de Santa Maria em Guimarães», in Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Boletim de Trabalhos Históricos, vol. XLI, Guimarães, 1990, p. 210..       
[13] Gregório Ferreira de Eça (c. 1714), casou em primeiras núpcias a 21-II-1730 em Lisboa com a condessa D. Luísa de Gera, natural de Linz, na Áustria, dama camarista da rainha D. Maria Ana de Áustria. Teve ainda dois filhos naturais que foram reconhecidos: 1. – Manuel Caetano Ferreira de Eça, que em 1761 foi Arcediago de Vila Cova; 2. – D. Catarina Bernarda, falecida solteira.
[14]  O Morgado de Cadafais foi instituído por António de Saldanha, um dos conjurados de 1640 que foi alcaide-mor de Vila Real, comendador de São Salvador de Sarrazes na Ordem de Cristo, capitão-mor das Naus da Índia em 1633, governador da Torre de Belém, e membro do Conselho da Guerra.
[15]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Pedro IV, liv.3, fl.72
[16]   O Morgado da Marinha tinha sede na quinta do mesmo nome ao Carregado, onde foi instituído em 1715 por Luís António de Basto Baharem (c. 1710), alcaide-mor de Linhares.
[17]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 24, f. 219
[18]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 20, f. 429
[19]   IANTT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.4, f. 16
[20]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 20, f. 429
[21]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 20, f. 429
[22]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 20, f. 429v
[23]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 19, f. 323v.
[24]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. João VI, liv.16, fl.14
[25]   Este casamento foi celebrado na ermida do Senhor Jesus dos Terramotos, na antiga freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, onde ficou registado no Livro Segundo dos Matrimónios de Consciência (Ocultos), a fls. 167. - Germana Rosa era filha de João António Lopes e sua mulher Maria Rosa, casados na freguesia da Encarnação, em Lisboa. O casamento realizou-se «pelas seis horas da manhã» com «dispensa dos proclamas de estilo por decreto do Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardial Patriarca … ». Ambos eram «solteiros e moradores na freguesia da Encarnação» (ao Chiado).
[26]   Por esta altura parece já ter cedido o título da Lousã à sua filha D. Mariana, casada com D. Diogo, por não esperar vir a ter mais filhos.
[27]   Em relação a estas datas, não nos foi possível encontrar fontes primárias de informação.
[28]   D. Adeline Louíse Maria (1825-1915), foi casada em primeiras núpcias com James Thomas Brudenell (1797-1868), 7.º conde de Cardigan, comandante da famosa Brigada Ligeira na Guerra da Crimeia, e publicou um livro de memórias sobre a Inglaterra Vitoriana. Ver: CARDIGAN AND LANCASTRE, Adeline Louise Maria de Horsey, My recollections, by the Countess of Cardigan and Lancastre , London, E. Nash, 1909.
[29]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.19, f. 305.
[30]   O Regimento de Mecklemburgo foi criado em homenagem a este príncipe e general alemão que auxiliou a organização da cavalaria portuguesa no séc. XVIII. Em 1806 passa a ter a denominação de Regimento de Cavalaria Nº 4, tendo participado na Guerra Peninsular onde se destacou nas batalhas do Buçaco e de Viella (perto da fronteira franco-espanhola), pelo que os estandartes deste regimento receberam «Perguntai ao inimigo quem somos».
[31]   Esta esquadra contava com 8 naus, 4 fragatas, 12 brigues e uma galeota, acompanhada de 31 navios mercantes com mais de 15.000 pessoas.
[32]   A «Martim de Freitas» (1763-1822), era uma das melhores naus construídas na Bahia, Brasil, em 1762. Tinha um grande potencial de fogo dado por 64 peças de artilharia, e foi lançada ao mar com o nome inicial de «Santo António e São José» embora fosse também conhecida pelo nome de «Santo António a Pérola da América». Em 1794, depois de modernizada, passou a chamar-se «Infante D. Pedro Carlos», nome que alteraria em 1806 para «Martim de Freitas». Aquando da independência do Brasil foi integrada na Armada do novo país com o nome de «D. Pedro I», tendo servido de quartel e prisão.
[33]   D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses (f. 1823), 6.º marquês de Marialva, foi em 1816 encarregado de negociar e pedir a mão da arquiduquesa de Áustria D. Maria Leopoldina, em nome do príncipe D. Pedro de Alcântara, tendo-a desposada por procuração a 13-V-1817 na Igreja de Santo Agostinho em Viena, após o que a acompanhou ao Rio de Janeiro. Posteriormente foi embaixador em Paris, onde faleceu sem sucessor.
[34]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.21, fl.350.
[35]   D. Desidério de Lencastre (1763-1841), era filho de D. João de Lencastre (1713-1765), 1.º conde da Lousã (Carta de 28-III-1765), que faleceu a caminho da Índia (27-III-1765), e de sua mulher D. Mariana Joaquina de Basto e Baharem (n. 1731).
[36]   Dado em aforamento perpétuo; enfitêutico.
[37]   D. Teresa Teodora de Lencastre (n. 1761), foi casada com José de Xavier de Castilho e Alcáçova, herdeiro do palacete que, por morte destes, foi parar à posse do principal primário da Patriarcal D. Desidério de Lencastre (1763-1841), o qual, por sua vez, o deixou a sua sobrinha D. Mariana de Lencastre (1784-1848), 3.ª Condessa da Lousã.
[38]   Enfiteuse é um arrendamento por prazo longo ou perpétuo mediante a obrigação, por parte do adquirente (enfiteuta), de manter em bom estado o imóvel e efectuar o pagamento de uma pensão ou foro anual ao senhorio directo (proprietário). A enfiteuse distingue-se do aforamento. O aforamento recaía sobre toda sorte de bens, prédios incultos ou cultivados, chãos vazios ou edificados. A enfiteuse só incidia sobre terrenos incultos ou chãos vazios.
[39]   Algumas informações deste trabalho só foram possíveis com o recurso à documentação de um arquivo particular que não está acessível ao público.
[40]   VELHO ARRUDA, Manuel Monteiro, A Comenda de Santa Maria da Assunção da ilha de Santa Maria - Os comendadores (subsídios para a sua história). in Insulana, Ponta Delgada, I, 2: 1-177. 1944.
[41]   D. Rodrigo José de Meneses de Eça (1815-1881), 3.º conde de Cavaleiros.
[42]   D. Maria das Dores de Portugal e Castro (1819-1888), era filha de D. José Bernardino de Portugal e Castro (1780-1840), 5.º Marquês de Valença, e de sua mulher D. Maria José de Almeida Noronha (1795-1851), casada com D. Rodrigo José de Meneses de Eça (1813-1881), 3.º Conde de Cavaleiros.
[43]   Administração do Bairro Alto de Lisboa, Livro de Registo de Testamentos, n.º 29, fl. 66.
[44]   Lázaro Leitão Aranha (1678-1767), principal da Igreja Patriarcal e lente da Universidade de Coimbra, foi embaixador de D. João V em Roma. Em 1902, o visconde do Marco comprou a casa e modernizou-a com intervenções dos arquitectos Ernesto Korrodi, Nicola Bigaglia, Francisco Vilaça e Raul Lino, tendo recuperou a capela até então usada como cocheira. Actualmente nela está sediada a Reitoria da Universidade Lusíada.
[45]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.28, f. 377v
[46]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D.João VI, liv.15, fl.182v
[47]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.11, f. 62
[48]  D. Luísa Perpétua (c. 1785), era filha de Aires Carneiro Homem Soutomaior, um dos maiores proprietários de terras do Maranhão, no Brasil. O seu primeiro casamento foi com Luís Carlos de Almeida Bacelar, do qual teve filhos.
[49]   D. Maria das Dores de Portugal e Castro (1819-1888), era filha de D. José Bernardino de Portugal e Castro (1780-1840), 5.º Marquês de Valença, e de sua mulher D. Maria José de Almeida Noronha (1795-1851).
[50]   O título de Conde de Cavaleiros, por falta de geração veio a recair actualmente na pessoa de D. Afonso Caetano de Barros e Carvalhosa de Bragança (n. 1956), 7.º Duque de Lafões (descendente do 5.º Marquês de Marialva, o qual era irmão do 1º conde de Cavaleiros).
[51]   Ao longo das várias gerações esta família grafou o seu apelido de várias maneiras, entre as quais Lancastre ou Lencastre com um «e». Por uma questão de uniformidade, foi esta última grafia que adoptamos.
[52]   Um dos filhos foi João Gualberto de Oliveira (1788-1852), 1.º barão do Tojal (1838), e 1.º conde do Tojal (1844), que por duas vezes foi nomeado Ministro da Fazenda e dos Negócios Estrangeiros.      
[53]   Alvará de 2-VI-1803, assinado pelo Príncipe Regente.
[54]   William Smith (n. 1788), já tinha dois filhos de um casamento anterior feito em 1820 com Sara Connop.
[55]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 19, f. 322v
[56]   Todos os nobiliários o dão como falecido em 1765, o que poderá ser erro, pois em 1770, inexplicavelmente, ainda aparece como tendo obtido este benefício. – IAN/TT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 23, f. 493
[57]   Do conde da Lousã passou por herança a seu cunhado D. Luís Vitorino de Lencastre (1809-1893), e deste passou a sua filha D. Constança, falecida sem geração, a qual o legou a uma herdeira que criou como filha.
[58]   Símbolo de moda e masculinidade, em voga nas classes médias e altas do séculos XVIII e XIX.
[59]   Cf. Livraria Chardron e Lello & Irmão Lda, Encyclopedia pela Imagem: História do Trajo em Portugal, Porto, s.d, pp. 49-50.
[60]   William Thomas Beckford (1760-1844), rico aristocrata Inglês, romancista, crítico de arte, escritor de viagens e político. De Março a Novembro de 1787 residiu em Lisboa e Sintra, tornando-se extremamente popular entre a nobreza Portuguesa. Como escritor, no tocante a Portugal, destaca-se «Letters from Italy with Sketches of Spain and Portugal» (Diário de William Beckford em Portugal e Espanha), publicado em 1835, e «Recollections of an Excursion to the Monasteries of Alcobaça and Batalha (Alcobaça e Batalha - Recordações de Viagem), com brilhantes descrições de cenas e costumes.
[61]   José Pedro da Silva (1772-1862), que ficou conhecido pelo Pedro das Luminárias, começou por ser administrador do botequim do Nicola, após o que abriu, ao lado deste e por conta própria o famoso botequim das Parras que granjeou muito sucesso e servia de ponto de encontro a grande parte dos políticos da época, assim como aos literatos e poetas Arcadianos, do primeiro quartel do século XIX, que aí tinham um gabinete reservado que servia de laboratório literário, ao qual chamavam «Agulheiro dos Sábios», cujo frequentador mais célebre foi o poeta Bocage (1765-1805) que ele ajudava financeiramente. A sua alcunha ficou-se a dever ao facto de por luminárias nas janelas do terceiro andar onde habitava, por cima do botequim, por altura das diversas festas patrióticas, das quais ficou célebre a que comemorou a retirada dos franceses em 1808, na qual colaborou com quadros alegóricos o pintor Henrique José da Silva (1772-1843).
[62]   Henrique José da Silva (1772-1843), segundo contemporâneos seus, era retratista de qualidade quando residia em Lisboa. Retratou o poeta Bocage (1805) que Francesco Bertolozzi passaria à gravura, o Duque de Wellington, o general Beresford, etc.
[63]   Em 2003, no que resta desta quinta, foi instalado o ISLA - Instituto Superior de Línguas e Administração.
[64]   Cf. MORAIS, Maria Adelaide Pereira de Morais, «Velhas Casas XI: A do Arco na Rua de Santa Maria em Guimarães», in Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Boletim de Trabalhos Históricos, vol. XLI, Guimarães, 1990, p. 123-299.
[65]   Aquando da passagem do primeiro comboio em 1656, foi deste mirante que D. Pedro V assistiu à sua passagem por este troço da linha.
[66]   In «Memórias Históricas de Óbidos», da autoria de um frade anónimo do Convento do Vale Benfeito, vem referido que a citada quinta «... pertenceu a «El Rei D. Pedro I e que este a doara a D. João d'Eça seu filho e de D. Inês de Castro, que possuía o título de Morgado de Cavaleiros [...]».

Carruagem de gala do 3.º Conde da Galveias.