(Trigueiros Martel)
História
Esta singular casa acastelada, outrora na periferia do Fundão e actualmente integrada na sua malha urbana, é fruto do espírito do seu fundador: JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963), monárquico convicto e o “Último Romântico” do Fundão que iniciou a sua edificação em 1908.
O seu programa estético é aparentemente o resultado da evolução da arquitectura do neoclassicismo para as diversas formas do romantismo: neste caso influenciado no nacionalismo romântico que vinha do século anterior e era marcado por uma concepção saudosista da história.

Situado então numa pequena quinta, outrora fora de portas e hoje muito diminuída pela expansão da malha urbana à sua volta, tem quatro pisos articulados entre três jogos de massas arquitectónicas, cercado de um logradouro ajardinado com uma capela anexa e um pequeno lago de inspiração romântica; tudo cercado de um pequeno muro de forma amuralhada ao qual encostam vários anexos para arrecadação e para morada dos criados da casa.
Esta sua residência foi projectada e edificada pelo construtor diplomado Januário
Martins de Almeida, autor de várias obras no distrito de Castelo Branco,
especialmente nos concelhos do Fundão (foi ele que em 1923 propôs a edificação
da actual Avenida da Liberdade que viria a ser construída três décadas depois)
e da Covilhã, assim como se destacou por trabalhos feitos para a Câmara
Municipal de Évora na segunda década do século XX.
![]() |
Belmonte, Castelo da família Cabral. |
A sua rica decoração foi feita à base de azulejos e de pinturas murais interiores com os grandes temas da história nacional, tão ao gosto do romantismo.
A tipologia da sua planta e a fachada principal tem algumas analogias com o Castelo dos Cabrais em Belmonte, dos quais José Trigueiros Martel descendia pelo lado materno, e ao qual foi certamente buscar a inspiração.
Sabemos que a sua construção foi, à época, alvo de algumas críticas por parte de adversários ideológicos do seu fundador, o qual era um homem cordial e muito afável, alvo da consideração e da simpatia da generalidade da população local.
![]() |
Fundão, Castelo dos Trigueiros (traseiras), 1916. (foto: ?) |
O período da sua edificação, nos finais da monarquia, é visto como uma época de decadência na arquitectura. Desta visão inevitavelmente republicana, discordamos, pois consideramos ser um período de riqueza cultural devido ao confronto de ideias e de novas correntes estéticas[1]. Datam da mesma época algumas construções acasteladas em vários pontos da província e nomeadamente no Estoril e em Cascais, estas últimas classificados de “caricaturas de quanto de mau [se] fizera”, as quais nos remetem para uma cenografia do Renascimento italiano[2]: o que não foi o caso desta edificação no Fundão, que procura apenas valorizar com sobriedade as raízes nacionais.
O seu edificador
José Trigueiros de Aragão Osório Martel
(1879-1963)
![]() |
José Trigueiros de Aragão Osório Martel (1879-1963), 1893? |
JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) era um dos 10 filhos de Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa (1825-1900), 1.º Visconde do Outeiro e 1.º Conde de Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (1834-1878) que foi a última morgada de Peroviseu.
Nasceu a 7-VI-1879 no Fundão, onde residiu e faleceu a 23-VII-1963.
Foi presidente da Câmara Municipal durante o consulado de Sidónio Pais (1918), assim com de 1932 a 1934, e provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Sempre pautou a sua vida por sólidos princípios morais e cívicos, assim como uma grande delicadeza de maneiras perante toda a gente, com especial referência pelos mais humildes e desfavorecidos aos quais nunca recusava auxílio, segundo testemunho dos seus contemporâneos.
Teve um papel de relevo no dinamismo cultural e social do Fundão, mas o seu temperamento idealista e romântico, valorizando pouco os valores materiais, levaram-no a descurar a sua vida financeira o que lhe acarretou algumas dificuldades.
Casou 2 vezes.
![]() |
José Trigueiros Aragão Osório Martel (1879-1963), Chofer, e D. Estela Meireles Pinto Barriga (1876-1918). |
Falecida sua 1.ª mulher, passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897), nascida na citada cidade a 23-IV-1897, filha do Dr. Luís António Gil da Silveira, e de sua mulher D. Filomena Cândida Matos da Silveira.
Teve 6 filhos do 2.º casamento.
Sucessão genealógica do fundador do Castelo dos Trigueiros
![]() |
José Trigueiros de Aragão Osório Martel (1879-1963). |
1. JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) tomou a iniciati-
va da edificação deste Castelo a partir de 1908, com o apoio do seu sogro que
foi Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916),
2.º Visconde de Tinalhas.
Casou duas vezes.
O seu primeiro casamento foi com D. ESTELA MEIRELES PINTO BARRIGA (1876-1918), a qual faleceu prematuramente, sem geração.
Passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897).
Teve 6 filhos do 2.º casamento:
2. D. MARIA DO PILAR TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1821-
-1996) que nasceu a 28-V-1921 no Fundão, e faleceu em 1966. Solteira.
-1996) que nasceu a 28-V-1921 no Fundão, e faleceu em 1966. Solteira.
2. CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012),
que segue abaixo.
que segue abaixo.
2. D. MARIA HELENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1926-1995), nasceu a 21-I-1926 no Fundão, e faleceu a 2-I-1995 em Cascais. Solteira.
2. D. MARIA DE LURDES TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1927), nasceu a 31-I-1927 no Fundão. Solteira.
2. D. MARIA FILOMENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1932), que nasceu a 19-V-1932 no Fundão.
Casou a 11-IX-1960 com ANTÓNIO ADÃO LEITE DE LIMA (n. 1926), nascido a 13-VII-1961 na freguesia do Rosário, concelho de Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores, filho de Manuel da Costa Lima e de sua mulher D. Maria dos Anjos Leite. Formado pelo Instituto Comercial de Lisboa, foi técnico de contas.
Tiveram:
3. MIGUEL TRIGUEIROS MARTEL LIMA (n. 1961), nasceu a 13-VII-1961 em Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores. Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Casou a 21-VIII-1992 na capela particular do Castelo dos Trigueiros, no Fundão, com D. MARIA MARGARIDA DE LEMOS CANEDO GIESTAS (n. 1960), nascida a 30-I-1960 na freguesia das Mercês, em Lisboa, licenciada pela Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorada pelo Instituto Superior Técnico, assistente de investigação no I.N.E.T.I.; filha de Manuel Joaquim Ferreira Giestas (n. 1925), natural de Vouzela, e de sua mulher D. Maria Luísa José de Queirós de Melo Sousa Canedo (n. 1926), natural da freguesia da Frazoeira, concelho de Ferreira do Zêzere.
Tiveram:
4. D. CATARINA MARIA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n. 1993), nasceu a 18-VIII-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios, em Lisboa.
4. D. MARIA RITA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n. 1995), nasceu a 23-VI-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios, em Lisboa.
4. FRANCISCO JOSÉ CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n. 1997), nasceu a 23-VI-1997 na freguesia de São Jorge de Arroios, em Lisboa.
3. MARIA HELENA TRIGUEIROS MARTEL LIMA, (n. 1962), nasceu a 30-XII-1962 no Fundão.
Cursou Comunicação Social no IATA., e foi técnica de tráfego na TAP - Transportes Aéreos
Portugueses.
Cursou Comunicação Social no IATA., e foi técnica de tráfego na TAP - Transportes Aéreos
Portugueses.
Casou duas vezes.
As primeiras núpcias foram celebradas civilmente a 6-IX-1990 na 10ª Conservatória de Lisboa, com GILBERTO TRINDADE MACEDO GOMES, do qual se divorciou por sentença de 25-II-1994.
As segundas núpcias foram celebradas a 28-I-1995 na freguesia de São João de Brito, em Lisboa, com MÁRIO JOAQUIM RAMOS GARCIA (n. 1946), nascido a 12-I-1946 na freguesia de Lavacolhos, concelho do Fundão, técnico de tráfego da TAP, filho de Joaquim Clemente Garcia, natural de Lavacolhos, e de sua mulher D Maria Arcelina Ramos, natural da freguesia de São Mamede de Recezinhos, concelho de Penafiel; neto paterno de Manuel Clemente Garcia e de sua mulher D. Mariana Rita; neto materno de Francisco Ramos e de Maria da Piedade.
Tiveram:
4. D. MARIA BEATRIZ TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA GARCIA (n. 1996), nascida a 25-IV-1996 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
3. D. MARIA ISABEL TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA (n. 1965), nascida a 25-VI-1965 em Castelo Branco. Solteira, residente no Fundão.
2. CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012) nasceu a 31-VII-1924 no Fundão, e veio a falecer a 28-X-2012 em Queluz. Senhor de uma notável erudição, cultura e delicadeza de maneiras herdadas de seu pai, é licenciado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, professor do ensino oficial, e proprietário. Residente em Queluz.
Casou a 29-III-1958 na Capela do Palácio de Queluz com D. MARIA ESTER GUERNE GARCIA DE LEMOS (n. 1929), nascida a 2-XI-1929 na Quinta da Granja, freguesia do Carvalhal, concelho do Bombarral, filha de Jaime Garcia de Lemos, oficial da Arma de Artilharia, natural da freguesia de Salvador, em Santarém, e de sua mulher D. Ester Guerne, natural da freguesia de São Pedro de Alcântara, em Lisboa; neta paterna de António Garcia, e de D. Amélia Augusta de Lemos; e neta materna António Joaquim Guerne, e de D. Amélia Barbosa.
Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, na qual foi assistente (1957-1974), e deputada à Assembleia Nacional (1965-1969). Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, assim como escritora e ensaísta atenta aos problemas da juventude, tendo-se afirmado com duas obras: Rapariga (1949) e Companheiro (1960), esta última galardoada com o Prémio Eça de Queirós[4].
Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, na qual foi assistente (1957-1974), e deputada à Assembleia Nacional (1965-1969). Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, assim como escritora e ensaísta atenta aos problemas da juventude, tendo-se afirmado com duas obras: Rapariga (1949) e Companheiro (1960), esta última galardoada com o Prémio Eça de Queirós[4].
Tiveram:
3. DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), que segue abaixo.
3. PAULO JOSÉ GARCIA DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1964), nasceu a 25-I-1964 em Queluz. Licenciado em …., doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa, investigador científico e professor da Unidade de Ciências Exactas e Humanas da Universidade do Algarve.
3. D. MARIA DA PIEDADE DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1969), nasceu a 1-II-1969 em Queluz. Casou a 8-X-1994 com LUÍS MANUEL PERIQUITO FADISTA (n. .?).
Tiveram:
4. GUILHERME TRIGUEIROS DE MARTEL FADISTA (n. 1996), nascido a 19-IV-1996 em Almada.
4. ?
4. ?
3. FILIPE CARLOS DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (1971-?), nasceu a 7-IV-1971 em Queluz.
Faleceu num acidente de viação.
Faleceu num acidente de viação.
3. DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), nasceu a 15-I-1959 em Queluz. Licenciado em Engenharia Electrotécnica, é coronel da Força Aérea.
Casou a 30-III-1985 em Queluz com D. AURORA MARIA SILVEIRA TOMAZ (n. 1957), filha de Manuel Fernandes Tomaz (n. 1932), nascido a 3-VII-1932 em Pombal, tenente-coronel de Cavalaria, e de sua mulher D. Lília Ermelinda Flaviana América Picardo (1935-2009) nascida a 17-IV-1935 na freguesia de São Matias, Ilha da Piedade, em Goa, na Índia Portuguesa.
Tiveram:
4. D. ANA FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1988) que nasceu a 6-III-1988 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Licenciada em Direito.
4. JOÃO FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1990) que nasceu a 2-II-1990 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Médico.
4. D. INÊS FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1995) que nasceu a 19-VI-1995 em Castelo Branco. Licenciada em Educação de Infância.
Notas:
[1] A decadência veio a seguir com a bancarrota, com a perseguição da igreja que foi proibida de “exercer o ensino ou intervir na educação” e teve como consequência imediata o encerramento de muitas escolas, assim como a trágica entrada na 1.ª Guerra Mundial …
[2] FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, vol. II (Lisboa, Bertrand, 1988), p. 168.
[3] Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916), era filho de José Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (n. 1802), natural da Soalheira, Fundão, 1.º Visconde de Tinalhas por decreto de 10-X-1870, fidalgo cavaleiro da Casa Real, senhor dos morgados de Olhos de Água e de Alviela, casado em 1843 com D. Maria Guilhermina Ribeiro Leitão.
[4] Além destas obras, publicou vários trabalhos de ficção e de ensaio: «Mestre Chico Trapalhão», 1947; «D. Maria II, a Rainha e a Mulher», 1954; «A Clepsidra de Camilo Passanha», 1956; «Na Aurora da Nossa Poesia», 1956; «A Menina de Porcelana e o General de Ferro, 1957; «A Borboleta sem Asas», 1958; «Dezoito Anos», 1964; «A Rainha da Babilónia», 1964; «Gil Vicente Lírico», 1965; «Páginas de Eça de Queiroz», 1966; «Dezoito Anos», 1966; «No Centenário de Camilo Pessanha», 1967; «Luís de Camões», 1972; «Antologia Poética de Bocage» (introdução e selecção), 1972; «Elmanismo e Filintismo», 1972; «A Literatura Infantil em Portugal»; e «O Balão Cor de Laranja», 1982.