Pedra de armas dos MOREIRA
Forma: Escudo sobre uma cruz de Cristo, ao arrepio das
convenções heráldicas:
pleno de MOREIRA (com imprecisões) – que é de vermelho com nove
escudetes de prata, postos 3, 3 e 3, cada escudete carregado de uma cruz
florenciada de verde (aqui carregado de uma cruz da Ordem de Cristo,
por erro)[1].
por erro)[1].
Contrachefe de CAMELO (suposição nossa) – de prata,
com três vieiras
de azul, realçadas de ouro.
Elmo: De grades, voltado de perfil, olhando à
direita do escudo.
Timbre: Um lobo de vermelho, passante (na acção de andar), mas que devia ser
ser sainte (vendo-se apenas a
parte anterior), e carregando no peito de
um escudete das armas, como compete
aos Moreiras.
Local: Interior
de uma casa de Aldeia Nova do Cabo.
Data: ?
Aldeia Nova do Cabo, Casa do Passadiço. |
Através do Dr. Luís Henriques, um apaixonado pela terra dos seus avoengos, tivemos conhecimento da existência desta pedra de armas que, segundo ele, se encontra no interior de uma casa de Aldeia Nova, cujo local exacto não nos foi mencionado.
Referiu-nos ser uma réplica de outra muito
antiga, a qual durante umas obras de remodelação foi encontrada soterrada no
piso térreo que servia de adega a uma casa secular desta simpática aldeia que,
desde a sua origem, terá estado na posse de várias famílias: falamos da chamada
Casa do Passadiço.
A pedra original, bastante danificada e fragmentada[2], serviu de
cópia a esta que aqui damos conta e será uma interpretação não muito fiel do
original, pois apresenta alguns desvios à forma habitual de blasonar. Porém,
apesar das incorrecções detectadas, conseguimos identificar a estirpe destinatária:
inequivocamente a família MOREIRA,
cuja existência é quase residual nesta zona do concelho do Fundão.
Apesar de não estarmos na presença da pedra original,
assim como das incertezas em relação à sua interpretação, atribuição, e
possibilidade de datação; optamos por dar conhecimento deste achado na expectativa de incentivar a colaboração
de alguns investigadores da história local, aos quais deixamos um apelo ao seu
contributo para a decifração deste enigma heráldico.
MOREIRA e
CAMELO
Armas dos MOREIRA, Livro da Nobreza (1521-1541) |
Será legítimo presumir-se que a pedra de armas
original, a ter existido, terá vindo de uma localidade exterior ao concelho do Fundão, trazida
por descendentes já distantes dos Moreiras que lhe deram origem, os quais, por
casamentos posteriores já adoptariam outros apelidos.
É sabido que os Moreira provêm da freguesia do mesmo
nome, no concelho de Celorico de Basto, onde tinham o seu solar de origem.
Um descendente destes foi DIOGO FERNANDES MOREIRA (c.
1450), cavaleiro ao serviço do rei D. Afonso V (1438-1481), o qual se distinguiu
nas guerras contra Castela (1476) pelo que obteve deste monarca o cargo de alcaide-mor
de Castelo Branco, assim como o respectivo brasão com as armas dos Moreiras[3]. Foi
casado com D. MARIA ANES DE ABREU (c. 1450), de quem sabemos ter tido dois filhos[4]:
1.º - GONÇALO ANES MOREIRA, que sucedeu na
alcaidaria-mor de Castelo Branco e foi casado com D. BRITES PEREIRA DE ALTERO.
2.º - NUNO FERNANDES MOREIRA (c. 1475), casado com
D. VIOLANTE DE MAGALHÃES. Foi criado do rei D. Afonso V e muito bom cavaleiro,
tendo estado com seu pai na tomada de Arzila (1471) e na Batalha de Toro
(1476)[5].
Por alianças matrimoniais, a descendência destes dois
filhos foi ao longo dos tempos perdendo o apelido original de MOREIRA, o que
explica a possível existência do seu sangue no concelho do Fundão sem o respectivo
nome original.
Não cabe aqui explanar as extensas relações
genealógicas a investigar: apenas registamos que a descendência destes foi
adoptando outros apelidos, dos quais destacamos[6]:
os PAIVA, os MACHADO, os CUNHA, os PORTOGARREIRO, os MAGALHÃES (de Pedro Jaques de
Magalhães, 1.º visconde de Fonte Arcada)[7],
os COUTINHO, os MALDONADO, os BOURBOM e GERALDES DE ANDRADE (senhores da Casa
da Graciosa em Idanha-a-Nova), os NORONHA (condes de Linhares), e
principalmente os PINTO – estes últimos vieram a dar origem aos MIRANDA CAMELOS
(de Vilar do Paraíso); todos eles com descendência que se espalhou pelo concelho do Fundão, incluindo esta aldeia.
♦
Armas dos CAMELO, Livro do Armeiro-Mor, (1509). |
Um destes, D. MARTIM LOURENÇO DA CUNHA (c. 1210) teve
do seu casamento D. GONÇALO MARTINS «o CAMELO» (c. 1240)[8],
cuja alcunha transmitiu à sua descendência, tida de sua mulher D. TERESA ANES
PORTOCARRERO (c, 1240)[9].
Os descendentes deste último casal vieram muito mais
tarde a ter ligações a Castelo Branco.
Um destes, ÁLVARO PEREIRA CAMELO (c. 1390)[10], veio a
casar por volta de 1430 com uma sua prima D. ISABEL CAMELO CASTELO BRANCO (c.
1410), natural da cidade de Castelo Branco, da qual aí teve geração.
A CASA DO
PASSADIÇO
Esta casa, cuja família fundadora desconhecemos ao
certo, veio a pertencer à família do Dr. Teodoro da Fonseca Mesquita (n. 1869)[11], advogado
e notário no Fundão, assim como destacado activista republicano do concelho,
antepassado do já citado Dr. Luís Henriques, seu actual proprietário. Talvez, as leis sumptuárias que sobrecarregavam de impostos este tipo de ostentação, ou até o republicanismo exarcerbado dos seus mais recentes proprietários, tenha levado a que a pedra de armas original tenha sido apeada da fachada.
Presumimos que esta casa foi dividida em duas (casa amarela e casa cor-de-rosa)[12], pois na sua origem tinha quase o dobro do tamanho de hoje e, em tempos imemoriais, estava inserida numa propriedade agrícola.
A sua fachada modernizada esconde no seu interior uma casa de muitos séculos, e a sua frontaria ostenta um escudo de pedra lisa, em memória de uma pedra de armas outrora aí
existente: talvez o local do escudo original a partir do qual foi feita esta cópia.
_________
Notas:
[1] A Cruz Florenciada (da Ordem
de Avis) tem os braços terminados em flor-de-lis; e a Cruz de Cristo
(da Ordem de Cristo) tem os braços terminados em
triângulos isósceles com a base para fora.
[2]
Alguns dos fragmentos estavam a servir de suporte às dornas da citada
adega
[3] SANCHES BAENA, Visconde, Archivo Heráldico-Genealógico, Vol. II, Lisboa, 1872, p. CXVII.
[4] GAIO,
Felgueiras, Nobiliário, Tít.
«Moreiras», § 2, N 8, Vol. VII, p. 506.
[5]
GAIO, op. cit, Tít.
«Magalhães», § 132, N 10, Vol. VII, p. 228, 229.
[6]
Cf. GAIO, passim.
[7] PEDRO
JAQUES DE MAGALHÃES (1620-1688),
1.º visconde de Fonte Arcada, era sétimo neto de
DIOGO FERNANDES MOREIRA (c. 1450). Foi um grande combatente da Guerra da Restauração e
governador
das armas da província da Beira, ao qual foi concedida a comenda de São Pedro de
Joanes (Aldeia de Joanes,
junto a Aldeia Nova do Cabo), com mercê
do hábito de Cristo e título
dados em 1643 e alvará da administração em 23-V-1644
(ANTT, RGM, Ordens, liv. 2, fl. 54),
renovado sucessivamente em 1645, 1651 e 1687.
[8] Nome tirado da alcunha “o Camelo”, que
transmitiu à sua descendência.
[9]
Esta famíla, muito mais, tarde também existiu em Aldeia Nova.
[10] ÁLVARO PEREIRA CAMELO (c. 1390) era filho de
Álvaro Gonçalves Pereira (c. 1370), 3.º Senhor do
Baião, e de sua mulher D. Inês
de Sousa.
[11] O Dr. Teodoro da Fonseca Mesquita (n. 1869), após a Revolução
Republicana de 1910, fez parte da
comissão administrativa que tomou posse na
Câmara Municipal do Fundão a 17-X-1910. O Fundão,
deu o seu nome a uma rua.
[12] A casa
cor-de-rosa (ou do Passadiço) e a casa
amarela, que lhe fica contígua.
[13] Francisco Camilo casou em segundas núpcias com
D. Maria Libânia Freire Correia Falcão.
[14] D. Maria Margarida Geraldes de Melo Coutinho
(n. 1755) era irmã de outro Francisco Camilo
Geraldes Leitão de Melo Cajado (n. 1777), nascido a 15-VII-1777 em Idanha-a-Nova, cidade onde
faleceu sem geração, e foi sepultado no adro da igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo, frente
à porta nascente, em sepultura armoriada já muito danificada. Este fez
justificação da sua nobreza e obteve brasão de armas, esquartelado de GERALDES, LEITÃO, MELO
e COUTINHO; Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro; Timbre de Geraldes; por Diferença uma
brica de azul com uma lua de prata. Estas Armas foram concedidas no reinado de D. Maria, por
Carta datada de 23-IX-1786, e registadas no «Livro de Registo de Brasões de Armas», N.º 3, Fls. 239.
Geraldes Leitão de Melo Cajado (n. 1777), nascido a 15-VII-1777 em Idanha-a-Nova, cidade onde
faleceu sem geração, e foi sepultado no adro da igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo, frente
à porta nascente, em sepultura armoriada já muito danificada. Este fez
justificação da sua nobreza e obteve brasão de armas, esquartelado de GERALDES, LEITÃO, MELO
e COUTINHO; Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro; Timbre de Geraldes; por Diferença uma
brica de azul com uma lua de prata. Estas Armas foram concedidas no reinado de D. Maria, por
Carta datada de 23-IX-1786, e registadas no «Livro de Registo de Brasões de Armas», N.º 3, Fls. 239.
Sobre Francisco Camilo Geraldes Leitão de Melo
Cajado (n. 1777), ver:
[15] Manuel António Geraldes Leitão Coutinho de
Melo (n. 1766) era filho de Rodrigo Xavier Soares Correia de Melo c. c. D.
Joana de Oliveira Monteiro; neto paterno do bacharel Manuel Soares Correia,
que foi três vezes casado, nascido em Aldeia do Mato, no concelho da Covilhã,
juiz de fora de Penamacor por Carta de 12-IX-1725, e capitão-mor do Fundão,
casado a 1-IX-1734 em Idanha-a-Nova com D. Isabel Joaquina de Melo Geraldes Leitão
(n. 1709), nascida a 2-XII-1709 na citada vila de Idanha-a-Nova.
Seu avô paterno Manuel Soares Correia,
bacharel, era filho de Brás Soares Correia, natural da freguesia da Vela, no
concelho da Guarda, c. c. D. Brígida de São José, natural da freguesia de
Famalicão, concelho da Guarda, que eram residentes em Aldeia Nova do Cabo, Fundão.
Sua avó paterna
D. Isabel Joaquina de Melo Geraldes Leitão (n. 1709) era filha de Manuel
Geraldes Leitão, sargento-mor de Idanha-a-Nova (filho de D. Maria Nunes Leitão,
casada a 26-X-1676 em Idanha-a-Nova com Francisco Nunes Piteiros ou Calvo),
onde casou a 25-IX-1702 com sua parente D. Maria Marques da Cruz e Melo (n.
1680), baptizada a 11-IV-1640 em Idanha-a-Nova (filha de Bartolomeu Afonso da
Cruz, Juiz da Alfândega de Idanha-a-Nova por alvará de 20-IX-1668, onde casou a
7-VI-1769 com D. Isabel de Melo Coutinho de Eça (n. 1656), baptizada a
4-VIII-1657 – herdeira de seu primo João Marques Giraldes que testou a
5-V-1686); neta paterna de Manuel Vaz Ripado, escrivão público de notas em
Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Maria Nunes da Cruz; e neta materna de Baltazar de Melo de Eça Coutinho, capitão de Infantaria, moço-fidalgo
da Casa Real por alvará de 16-II-1639, com solar na Quinta de Darei – entre
Mangualde e Penalva do Castelo –, casado nas segundas núpcias de D. Catarina
Marques Geraldes.
[16] D. Angélica Leocádia de Oliveira Fonseca
Coutinho Botelho, era filha de
João de Oliveira da Fonseca, alferes de Granadeiros, e de sua mulher D. Cecília
Liberata Botelho Coutinho, natural da freguesia da Misarela, Guarda.
[17] Sobre os Oliveiras, ver:
[18] Bartolomeu José da Cruz Cajado (c.1775) era
filho de Manuel Gonçalves da Cruz, natural de S. Miguel de Acha, concelho de
Idanha-a-Nova, e de sua mulher Catarina Gonçalves, natural de Idanha-a-Nova, da
qual teve: Maria Margarida Geraldes de Melo Cajado (n. 1775), e Francisco
Camilo Geraldes Leitão de Melo Cajado (n. 1777).
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