2011-02-13

José de Aragão da Costa Lacerda Victoria (1844-1908), 1.º Conde de Tondela

Aldeia Nova do Cabo, Fundão
Faia, Guarda
Sarnadas, Vila Velha de Ródão


José de Aragão da Costa Lacerda Vitória
(1844-1908), 1.ª Conde de Tondela
         
             JOSÉ DE ARAGÃO DA COSTA LACERDA VICTORIA (1844-1908), 1.º Conde de Tondela (Decreto de 23-II-1899), nasceu em 1844 na Quinta da Ponte, freguesia da Faia, concelho da Guarda, e faleceu a 8-VIII-1908 no átrio do seu solar em Aldeia Nova do Cabo  (Casa dos Aragões - Conde de Tondela), concelho do Fundão, assassinado a tiro de pistola pelo seu sobrinho Dr. Pedro Cabral de Aragão após uma violenta discussão na qual, segundo relatos da época, este lhe tentou extorquir uma grande soma de dinheiro a pretexto de pagar a honra de sua irmã, com a qual acusava o tio de manter uma relação amorosa[1].
Foi presidente da Câmara Municipal do Fundão e membro do Partido Regenerador, senhor da Quinta da Ponte junto à freguesia da Faia, concelho da Guarda, onde chegou a receber com uma grandiosa festa o Rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, assim como da Casa Grande de Sarnadas, e do seu solar em Aldeia Nova do Cabo – ocupado na sequência da Revolução do 25 de Abril e sede da actual Junta de Freguesia – cuja Pedra de Armas, segundo informação que obtivemos, foi desmontada da fachada por um dos últimos herdeiros desta Casa e levada para outra casa dos herdeiros desta família[2].

        Era filho de PEDRO DE ARAGÃO DA COSTA SÁ VICTORIA (n. 1819), nascido  18-X-1819 na Quinta da Ponte, freguesia da Faia, que veio residir em Aldeia Nova do Cabo, Fundão, onde mandou edificar o seu solar em 1861 (Casa dos Aragões - Conde de Tondela), o qual é actualmente sede da respectiva Junta de Freguesia. 
Aldeia Nova do Cabo,
Casa dos Condes de Tondeda
(actual Junta de Freguesia)
Em Maio de 1810, pouco antes da 3.ª Invasão Francesa, com a patente de Coronel comandava o Regimento de Almeida. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real com 1600$000 réis de moradia (5-VI-1845)[3], e casou com D. MARIA MÁXIMA CORREIA DE MOURA TELES LACERDA LEBRIM E VASCONCELOS, senhora da Quinta de Freixo, em Serrazes, concelho de São Pedro do Sul, filha primogénita de António Correia Lebrim e Vasconcelos, senhor da Quinta de Beirós, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. Maria Benedita de Moura Coutinho Teles de Sampaio.

       Era neto paterno de BARTOLOMEU DE ARAGÃO DA COSTA TAVARES E SÁ VASCONCELOS (1784-1848), 2.º Barão de Tondela (1824) pelo seu casamento e por Carta de 12-X-1824[4], comendador da Ordem de Cristo e coronel das Milícias da Guarda, nascido a 19-V-1784 em Trancoso, falecido a 12-VIII-1847 e sepultado no cemitério público da Faia. Este foi casado a 17-X-1817 com D. MARIA JOANA ROEDE DA VICTORIA (1882-1847), 2.ª Baronesa de Tondela (Dec. de 12-VIII-1825), nascida a 24-VII-1782, filha herdeira de António Marcelino da Victória (1750-1825), 1.º Barão de Tondela (Dec. de 3-VII-1823), fidalgo da Casa Real (1816), do Conselho de D. João VI, e do Conselho da Guerra, tenente-general, governador das Armas da Beira Alta e Baixa, assim como do Alentejo[5], e de sua mulher D. Catarina Vicência do Couto (1757-1819), que jaz na Sé de Viseu, filha do capitão de artilharia de Estremoz Manuel Rodrigues do Coito.

      Era neto materno ANTÓNIO CORREIA LEBRIM E VASCONCELOS, senhor da Quinta de Beirós, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. MARIA BENEDITA DE MOURA COUTINHO TELES DE SAMPAIO.

 D. Maria Isabel Pereira
Rebelo da Fonseca
(f. 1906)
   Casou com D. MARIA ISABEL PEREIRA REBELO DA FONSECA (f. 1906), 1.ª Condessa de Tondela, herdeira de um imenso património em Sarnadas de Ródão, falecida a 15-IX-1906, filha do Dr. Manuel Luís Pereira Rebelo da Fonseca, senhor da Casa Grande de Sarnadas, na Rua da Torre da citada freguesia onde residiu, governador civil de Portalegre (1851) e de Castelo Branco (1851-52). 

Os condes de Tondela, não tiveram geração pelo que o seu património passou à posse do seu irmão mais novo que foi ANTÓNIO DE ARAGÃO DA COSTA LACERDA DA VITÓRIA, que residiu inicialmente na Guarda e posteriormente em Vila Velha de Ródão onde veio a falecer. Este foi casado em Castelo Branco com D. CARLOTA ODILA RIBEIRO, filha de um oficial do Exército cujo nome desconhecemos.
Deste casamento nasceram duas filhas: a 1.ª foi MARIA EMÍLIA FONSECA DE ARAGÃO E COSTA, casada com o Dr. LUÍS LAIA NOGUEIRA, do qual não teve geração, pelo que o seu património passou para a posse dos sobrinhos deste; a 2.ª foi CARLOTA FONSECA DE ARAGÃO E COSTA, falecida solteira.


     
     O Dr. MANUEL LUÍS PEREIRA REBELO DA FONSECA, senhor da Casa Grande de Sarnadas, era filho de Francisco Pereira Rebelo da Fonseca (n. 1745), bacharel formado em Direito, que sabemos ter sido juiz de fora de Santa Marta (1-XI-1789), juiz de fora dos Órfãos do Porto (28-V-1800), desembargador da Relação do Porto, sócio da Academia Real das Ciências, deputado em várias legislaturas, governador civil de Castelo Branco, e de sua mulher D. Francisca Tomásia da Fonseca de Novais (n. 1757).


 «D. Maria por Graça de Deus Rainha de Portugal e dos Algarves, etc. Faço saber aos que esta Minha Carta de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia virem que o Dr. Francisco Pereira Rebelo da Fonseca Novais (n. 17..), actual Juiz de Fora da Vila de Santa Marta lhe fez petição dizendo, que pela sentença de justificação de sua Nobreza a ela junta (…) se mostra que ele é Filho legitimo do Doutor António Pereira Rebelo (n. 1681), natural de Vila Real, e de sua mulher D. Micaela Maria Caetana de Novais, natural de Canelas, Neto pela parte paterna de Domingos Pereira Bicudo e de sua mulher D. Bernarda Rodrigues Rebelo e pela paterna de José Alves de Novais e de sua mulher D. Joana Maria da Fonseca. Os quais seus Pais e Avós que foram pessoas muito nobres, legítimos descendentes das esclarecidas famílias dos BICUDOS, PEREIRAS, REBELOS e NOVAIS destes Reinos, e como tais se tratavam com cavalos, criados e todo o mais Estado próprio da Nobreza, servindo nas sobreditas vilas os primeiros e mais nobres lugares, (…), 1784»[6].

Brasão:
«Um escudo esquartelado: no primeiro quartel as armas dos Bicudos que são em campo verde hum ribeiro de água de prata e a azul em faixa no campo alto três pássaros bicudos de prata e no de baixo um carneiro do mesmo metal armado a vermelho. No segundo quartel as dos Pereiras são em campo vermelho e uma cruz de prata florida e vazio do campo. No terceiro: a dos Rebelos que são em campo azul três faixas de ouro cada uma com a sua flor de vermelho postas em banda. No quarto a dos Novais que estão em campo azul cinco novelos de fio de prata postos em santar, Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, Paquife dos metais e cores das armas timbre dos Bicudos e um pássaro bicudo como os do escudo e por diferença uma bica de prata com «F» de preto, o qual escudo e armas poderá trazer e usar o dito Doutor FRANCISCO PEREIRA REBELLO DA FONSECA NOVAES ...»

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Pedra de Armas da Casa do Conde de Tondela.
(actualmente em Cascais)













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Notas:

[1]   O autor deste nefando crime, na sequência do seu acto tresloucado tentou suicidar-se desferido um tiro na própria cabeça, ao qual sobreviveu. 
[2]   Após ter sido desmontada, esta pedra de armas dos Condes de Tondela, passou por várias localizações encontrando-se hoje numa moradia desta família situada na Rua Sacadura Cabral, n.º 55,  em Cascais.
[3]   ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv.24, fl.231-231v
[4]   ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, L. 19, fl. 107v.
[5]   ANTÓNIO MARCELINO DA VICTÓRIA (1750-1825), 1.º Barão de Tondela, descendia de uma família de militares: era neto paterno de Manuel da Victoria, capitão de Mazagão e Governador das Ilhas de Cabo Verde; bisneto paterno de D. Gabriel da Victoria, originário de Madrid e Governador das Torre do Outão no tempo de Filipe III. Do seu casamento em 1777 com D. CATARINA VICÊNCIA DO COUTO (1757-1719), teve: 1.º - CÂNDIDO BASILIO, tenente-coronel de Infantaria 10, falecido gloriosamente na batalha dos Pirinéus a 30-VII-1813; 2.º - MARIA JOANA ROEDE DA VICTORIA (n. 1782), 2.ª Baronesa de Tondela; 3.º - D. FRANCISCA JOAQUINA, casada em 1828 com Estevão César Portugal da Silveira Correia de Lacerda, Moço-Fidalgo e oficial do exército; 4.º - D. INOCÊNCIA ANGÉLICA, casada em 1830 com João Mário Portugal da Silveira Correia de Lacerda (f. 1831), irmão do anterior, que morreu fuzilado a 10-IX-1831 em Campo de Ourique, Lisboa, por ter tomado parte na revolta do seu regimento contra o Sr. D. Miguel; 5.º - D. MARIANA ISABEL (f. 1823); 6.º - D. EUSTÁQUIA MARIA (f. 1823).
[6]   GOODOLPHIM, Costa, Três Aldeias – Sarnadas, Aldeia Nova do Cabo, Aldeia de Joanes, Lisboa, Typographia Universal, 1904, pp. 18-21.

2010-12-18

Afonso de Proença (c.1536) - Guarda



 Afonso Proença (n. 1469?), Guarda
     
Brasão de:     AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?).
Forma:           Escudo partido em pala com as armas dos PROENÇAS: o 1.º de verde, com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro, postas em sautor.
Diferença:     Uma brica de prata.
Elmo:             De prata aberto, guarnecido de ouro.
Timbre:          Meia águia de uma cabeça preta dos peitos para cima.
Paquife:         De ouro, verde e azul.
Local:            Conhecido documentalmente. Por Carta dada em Évora a 20-IX-1536. Reg. na Chancelaria de D. João III, L. 22, f. 120v.
Data:              Évora, 20-IX-1536.

 

BRASÃO

Brasão de AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), cavaleiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (15-12-1580).

Estas armas ostentam um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde, com uma águia preta bicéfala, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro em aspa, e por diferença uma brica de prata. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, paquife de ouro verde e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proença. Estas armas foram dadas em Évora a 20-IX-1536, registadas na Chancelaria de D. João III, liv. 22, fl. 120 v.

Genealogia de
Afonso de Proença (1469?)

AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), presume-se ter nascido por volta de 1469, ficando a dever a sua protecção ao cardeal-infante e depois rei D. Henrique (1512-1580) de cuja casa foi cavaleiro fidalgo, no desempenho de diversos cargos de mordomo, aposentador, assim como meirinho das rendas dos coutos de Alcobaça em 1538, como consta por vários documentos arquivados na Torre do Tombo[1].

A sua Carta de Brasão de Armas, muitíssimo parca em informações genealógicas, apenas refere que é filho de D. CATARINA PROENÇA. Ao que parece esta foi casada com ANTÃO LUÍS, como se infere da C.B.A. que foram atribuídas ao seu sobrinho Belchior, tendo havido quebra de varonia na linhagem dos Proença, como se verá a seguir.

Foi provavelmente tio de BELCHIOR DE PROENÇA (c. 1542)[2], escudeiro fidalgo do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), e guarda-roupa do príncipe do Piemonte[3], o qual também obteve uma Carta de Brasão de Armas de sucessão composto de um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde com uma águia de preto bicéfala arrmada de oiro; o 2.º de azul com cinco flores-de-lis de oiro em aspa, e por diferença um trifólio de oiro picado de vermelho. Elmo de prata aberto guarnecido de oiro, paquife de oiro e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima, de uma cabeça; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proença[4]. Armas dadas em Lisboa a 19-VII-1542, registadas na Chancelaria de D. João III, liv. 32, fl. 64.

Guarda, Sé.

O seu presumível sobrinho Belchior de Proença (c. 1542) era filho de LUÍS DE PROENÇA, natural da Guarda, segundo refere a sua carta de brasão de armas de seu filho (1542), que o genealogista Manuel Abranches Sobral diz no seu “Ensaio sobre a origem dos Proença” (Porto, 2010) ser LUÍS ÁLVARES DE PROENÇA (1470?-1541?)[5], fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) e seu guarda-roupa, nascido por volta de 1470 na citada cidade da Guarda e falecido posteriormente a 1571, do qual há vários homónimos nesta família o que dificulta a sua identificação. Era neto paterno de ANTÃO LUÍS DE PROENÇA, segundo diz a respectiva carta de brasão de armas, a qual nesta geração parece ter omitido uma quebra de varonia, segundo justifica o já citado genealogista Manuel A. Sobral, que diz este chamar-se apenas ANTÃO LUÍS, escrivão da corte dos reis D. João II (1481-1495) e D. Manuel I (1495-1521), casado com D. CATARINA DE PROENÇA (n. 1448?)[6]. Bisneto pelo lado materno, segundo Manuel A. Sobral, de ÁLVARO DE PROENÇA (1410?-1468?), vassalo da Casa Real, que foi criado de Diogo Lopes de Sousa (c. 1440)[7], e do infante D. Pedro (1392-1448) que acompanhou na batalha de Alfarrobeira onde este foi morto a 20-V-1449, passando posteriormente ao serviço do rei D. Afonso V (1448-1481) que a 28-V-1451 lhe perdoou a pena corporal e a infâmia por ter participado na batalha de Alfarrobeira ao lado do seu adversário D. Pedro, restituindo-lhe toda a honra e fama. 

O apelido PROENÇA, de origem toponímica, foi provavelmente tomado de Proença-a-Velha no distrito de Castelo Branco, localidade esta que poderá ter tirado este nome da Provença – província romana da Occitania, no sul de França –, provável origem de alguns dos seus povoadores que lhe teriam dado este nome em lembrança da sua origem geográfica, ao tempo da Reconquista cristã.

Esta família da Beira passou à cidade de São Paulo, no Brasil, onde ocupou diversos cargos na governação. Destes destacaram-se Paulo Proença (c. 1530) cidadão da Guarda, e de António Proença (c. 1540) cidadão de Belmonte e moço de câmara do Infante D. Luís que foi senhor de Belmonte, os quais ocuparam diversos cargos na governação do Brasil, espalharam com sucesso a sua descendência por toda esta colónia. 




Notas:

[1]     ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 61, n.º 20, mç. 63, n.º 72,

[2]     BELCHIOR, em alguns documentos consultados, por erro, aparece grafado MELCHIOR. Sobre o enigma deste parentesco veja:  SOVERAL, Manuel Abranches Sobral, Ensaio sobre a origem dos Proença, Porto, 2010, p. 12. Disponível em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf  Acesso: 2018-11-14 

[3]   Em Portugal o guarda-roupa era um cargo honorífico subordinado ao mordomo-mor, geralmente atribuído à nobreza, com funções de responsabilidade pela conservação das roupas d’el-Rei, e de apoio e cooperação directa com pleno acesso aos seus aposentos privados.

[4]  BAENA, Visconde Sanches de, Archivo Heraldico-genealogico, Lisboa, Typografia Universal, 1872, p.102.              

[6]     SOVERAL, ibid.

[7]     DIOGO LOPES DE SOUSA (c. 1440), foi 1.º senhor de Miranda do Corvo, Mordomo-mor da Casa Real (18-11-1471), Senhor da Casa de Sousa, do Conselho dos reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, Alcaide-mor de Arronches, e Senhor do Julgado do Eixo.

Belchior Proença (c. 1542) - Guarda


Belchior de Proença (c. 1542), Guarda.

                      Brasão de:     BELCHIOR DE PROENÇA (1500?-1546?).
                      Forma:           Escudo partido em pala com as armas dos PROENÇAS: o 1.º de verde
                                             com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro;
                                             o 2.º de azul com cinco flores-de-lis de ouro, postas em aspa.
                     Diferença:      Uma brica de vermelho com um trifólio de ouro.
                     Local:             Conhecido documentalmente. Por Carta dada em Lisboa a 19-VII-1542. Reg. na
                                             Chancelaria de D. João III, L. 32, f. 64.
                     Data:               Lisboa, 19-VII-1542.




BRASÃO
Brasão de BELCHIOR DE PROENÇA (c. 1542)[1], escudeiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), o qual a 10-III-1540 lhe fez a mercê de 20 cruzados[2], assim como guarda-roupa do príncipe do Piemonte[3].
Estas armas ostentam um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde, com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro, postas em aspa, e por diferença um trifólio de ouro picado de vermelho. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, paquife de ouro e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima, de uma cabeça; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proenças – Dadas em Lisboa a 19-VII-1542, registada na Chancelaria de D. João III, liv. 32, fl. 64.

Guarda-roupa do príncipe do Piemonte
D. Beatriz (1504-1538),
duquesa da Saboia.
Foi guarda-roupa do príncipe do Piemonte título privativo do filho herdeiro da Casa da Saboia –, como refere a já citada mercê de 1540, assim como a carta de brasão de armas que lhe foi passada em 1542.
Serviu, com sua mulher – cujo nome desconhecemos –, como guarda-roupa e camareiro da infanta D. BEATRIZ (1504-1538), duquesa consorte da Saboia, e após a sua morte em 1538 passou a servir o seu filho EMANUEL FILIBERTO (1528-1580), príncipe do Piemonte, que veio a suceder no ducado da Saboia por morte de seu pai CARLOS III (1486-1553)[4].
Em Novembro de 1537, foi contemplado no testamento da infanta portuguesa D. Beatriz (1504-1538), filha do rei D. Manuel I. Neste testamento é mencionado sob o nome italianizado de Melchiorre Provonez[5].

Casou e teve geração, segundo sabemos por uma carta existente na Torre do Tombo em Lisboa, datada de 28-VII-1547, da autoria de EMANUEL FILIBERTO (1528-1580) então com 19 anos e ainda príncipe do Piemonte, o qual príncipe já era órfão de mãe, estando o duque seu pai ainda vivo.
Nesta carta, dirigida ao seu tio o rei D. João III de Portugal, o citado príncipe expressa o grande apreço que tinha pela família Proença, servidores na corte de seus pais, e depois na sua. Nela refere a existência de um filho órfão de pai – sem mencionar o nome –, então com 15 anos de idade e a carecer de auxílio.
Começa por referir que «Belchior de Proença my camareiro veio pequeno de Portugal com La Infanta my senhora e madre», acompanhado de sua mulher, a qual diz ter sido moça de câmara, recentemente falecida, tendo deixando um filho de 15 anos para o qual ele pede a mercê de 50 cruzados por ano “que mandava pagar ao dito seu pai”… 

Nesta missiva, o príncipe Emanuel Filiberto, faz referências elogiosas ao falecido Belchior de Proença que, após a morte da duquesa sua mãe (1538), tomou para seu «camareiro, lo qual me há servido com muy  affection y trabajo, de manera que por sus merecimentos les causa di fazerle algum bien y recompensarlo de los serviçeos suyos, e de su muger, mas porque Dios há querido estos dias passados levarlo deste mondo / antes que do tempo el modo de satysfazer a el y a sua mulher como deseava, por las qualitades (…) Havendo my Senhora y madre encomendado mucho al Senhor Duque my padre, lo qual por ser (…) non sa podido saber todo lo que era su volontad / Sendo ele quedado um hilo de XV anos alqual no menos quiero que al próprio su padre. / tenendo compassion ala madre que queda muy desolada»(sic).
Este príncipe, acaba solicitando ao rei D. João III que, ao dito filho do falecido Belchior de Proença seja paga a «mercê de cinquenta cruzados por cada ano [que] mandava pagar ao dito seu pai, e toma-lo por seu moço de Câmara por respeito aos muitos serviços que o dito pai e mãe fez asua irmã infanta minha mãe e ao dito senhor duque meu pai e a mim», acrescentando ainda «os quais não tenho meios de satisfazer (…) pelas minhas poucas faculdades»[6]
Não conseguimos apurar qual foi o desfecho desta pretensão, nem o destino deste herdeiro da família Proença que, originária da Beira Interior em Portugal, foi servir a rica corte dos duques da Sabóia.

Genealogia de
Belchior de Proença (1500?-1546?)

A família Proença deve em grande parte da sua ascensão social à protecção do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580).  

Era filho de LUÍS DE PROENÇA, natural da Guarda, segundo refere a sua carta de brasão de armas (1542), que o genealogista Manuel Abranches Soveral diz ser LUÍS ÁLVARES DE PROENÇA (1470?-1541?)[7], fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) e seu guarda-roupa, nascido na citada cidade da Guarda por volta de 1470 e falecido posteriormente a 1471.

Era irmão de AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), cavaleiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), e seu mordomo, o qual também obteve uma Carta de Brasão de Armas de sucessão dada em Évora a 20-IX-1536, registado na Chancelaria de D. João III, liv. 22, fl. 120 v.

Era neto paterno de ANTÃO LUÍS DE PROENÇA, segundo diz a respectiva carta de brasão de armas, a qual nesta geração parece ter omitido uma quebra de varonia, segundo o já citado genealogista Manuel A. Soveral, que diz este se chamar apenas ANTÃO LUÍS, escrivão da corte dos reis D. João II (1481-1495) e D. Manuel I (1495-1521), casado com D. CATARINA PROENÇA (n. 1448?)[8], esta sim uma Proença.

Bisneto (pelo lado materno, segundo Manuel A. Soveral) de ÁLVARO DE PROENÇA (1410?-1468?), vassalo da Casa Real, que foi criado de Diogo Lopes de Sousa (c. 1440)[9], e do infante D. Pedro (1392-1448) que acompanhou na batalha de Alfarrobeira onde este foi morto a 20-V-1449, passando posteriormente ao serviço do rei D. Afonso V (1448-1481)
Este Álvaro de Proença (1410?-1468?), era filho de AFONSO GONÇALVES (n. 1387?), escudeiro de Diogo Gomes da Silva (c. 1350), presumivelmente o 1º senhor da Chamusca, que terá sido o responsável por ter influenciado o estabelecimento da família Proença em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão.

Este escudeiro DIOGO GOMES DA SILVA (C. 1350), caso seja o que veio a ser 1º senhor da Chamusca, será o pai de RUI GOMES DA SILVA (C. 1400), 2º senhor da Chamusca, e de seu irmão JOÃO GOMES DA SILVA (o qual de Beatriz Barreiros de Oliveira, da Quinta do Outeiro em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão, teve o filho natural D. Frei Diogo da Silva, 1.º Inquisidor-mor).
Esta ilustre família da linhagem dos Silvas, uma das mais influentes na hierarquia nobiliária do reino e nas ordens militares (Cristo e Santiago), tinha na Beira Interior um apreciável património, nomeadamente em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão, onde estes Proenças se vieram estabelecer como grandes terratenentes, daqui espalhando a sua descendência por todo o concelho do Fundão

Príncipe do Piemonte / Casa da Saboia
O ducado de Sabóia-Piemonte englobava um importante conjunto de territórios dispersos junto às actuais fronteiras de França, Suíça e Itália, com uma população que então andaria à volta de um milhão de habitantes.
Na realidade o seu território compreendia os actuais departamentos franceses de Saboia e Alta Saboia e, ainda, a parte da região italiana do Piemonte, com um património imenso de palácios e fortalezas.
Era um território com uma situação simultaneamente privilegiada, mas politicamente muito instável, devido os interesses conflituantes de várias nações em guerra que rodeavam este ducado. Estava na posse de uma das mais antigas e prestigiadas famílias da antiga nobreza europeia que, por várias vezes, cruzou o seu destino com a família real portuguesa, através de matrimónios.
No ano de 1536, a Saboia foi invadida pelas tropas francesas de Francisco I, sob as quais colapsou totalmente, perdendo a maior parte dos seus estados e ficando apenas reduzida ao condado de Nice e ao Vale de Aosta. D. Beatriz veio a morrer prematuramente em Nice a 8-I-1538, dois anos depois desta derrota, quando contava 33 anos de idade.
Emanuel Filiberto (1528-1580)
O título de príncipe do Piemonte, era atributo do filho herdeiro do Duque da Saboia.
A cronologia diz-nos que, por esta altura, este título de príncipe pertencia a EMANUEL FILIBERTO (1528-1580), o “Testa de Ferro, devido à morte do então herdeiro do ducado que era D. Luís (1523-1536), seu irmão mais velho, o qual contava 13 anos de idade quando se finou prematuramente, passando o título a este irmão, seu sucessor.
Mais tarde, quando o príncipe Emanuel Filiberto contava 25 anos de idade, veio a suceder no ducado de Saboia (1553), por morte de seu pai o duque Carlos III (1486-1553), dito “o Bom”, assumindo então o poder num ducado ocupado militarmente e completamente devastado pela guerra, o qual, por via de uma aliança estratégica com Espanha, conseguiu recuperar em grande parte.

Curiosamente, Emanuel Filiberto (1528-1580), muito pouco tempo antes de morrer, foi um dos malogrados pretendentes ao trono de Portugal por oposição ao seu primo o rei Filipe II de Espanha (1517-1598), aquando da morte de seu tio o cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) que reinou em Portugal a partir de 1578.
Carlos III (1486-1553),
Adicionar legenda
Era neto por via materna do rei D. Mamuel I de Portugal, e teve, como todos os outros candidatos ao trono português, um representante da sua efémera causa em Lisboa, antes da morte do Cardeal-Rei D. Henrique em 1580.
Foi o 3.º filho de CARLOS III (1486-1553), 9.º duque da Saboia (1504-1553), o qual casou em 1521 em Villefranche-sur-Mer (Sul de França, junto a Nice) com a infanta D. BEATRIZ (1504-1538), um dos nove filhos do casamento de D. Manuel I (1469-1521), rei de Portugal, com sua mulher D. Maria de Aragão (1482-1517). Por este casamento foi cunhado do imperador Carlos V (1500-1558)[10], casado com a infanta D. Isabel (1503-1539), também ela filha de D. Manuel I.
D. Beatriz (1504-1538), ao casar com o príncipe do Piemonte em 1521, levou consigo para a Sabóia um numeroso séquito de dezenas de oficiais e serviçais, dos quais faziam parte alguma nobreza do reino, da qual faziam parte várias senhoras e o ainda jovem Belchior de Proença que, após a morte de D. Beatriz, passou a fazer parte do séquito do seu filho Emanuel Filiberto (1528-1580)[11].




Notas:

[1]    BELCHIOR, em alguns documentos consultados, por erro, aparece grafado MELCHIOR.
[2]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 67, n.º 38
[3]    Em Portugal o guarda-roupa era um cargo honorífico subordinado ao mordomo-mor, geralmente atribuído à nobreza, com funções de responsabilidade pela conservação das roupas d’el-Rei, e de apoio e cooperação directa com pleno acesso aos seus aposentos privados.
[4]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54 – Carta de Emanuel Filiberto, solicitando uma mercê a D. João III para o filho de Belchior de Proença. No ANTT o príncipe Emanuel Filiberto está mencionado erradamente com o nome de “Lambert de Saugre”, em vez de Filiberto da Saboia.
[5]    CLARETTA, Gaudenzio, Notizie storiche intorno alla vita ed al tempi di Beatrice di Portogallo, Turino, 1863, p. 103. Disponível em:  https://archive.org/details/bub_gb_j4T34mtOup0C/page/n113 Acesso: 2018-11-14
[6]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54.
[7]     SOVERAL, Manuel Abranches, Ensaio sobre a origem dos Proença, Porto, 2010, p. 12. Disponível em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf  Acesso: 2018-11-14
[8]    SOVERAL, op.cit, p. 12.
[9]     DIOGO LOPES DE SOUSA (c. 1440), foi 1.º senhor de Miranda do Corvo, Mordomo-mor da Casa Real (18-11-1471), Senhor da Casa de Sousa, do Conselho dos reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, Alcaide-mor de Arronches, e Senhor do Julgado do Eixo.
[10] CARLOS V (1500-1558) foi Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Herdeiro dos reinos de Castela, Aragão e Navarra, assim como da Casa da Áustria, dos Países Baixos, dos reinos de Nápoles e da Sicília, da Lombardia, do Franco Condado, do Ducado de Milão, de Artois e de terras do Novo Mundo conquistadas pela Espanha.
[11] ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54                          

2010-10-23

João Tavares da Costa Cunha (c. 1656) - Oeiras, Covilhã, Alcongosta.


 João Tavares da Costa Cunha (c. 1651).


Forma:        Escudo esquartelado: o 1.º de TAVARES – de ouro, com cinco estrelas de seis raios de vermelho; o 2.º de COSTAde vermelho com seis costas de prata seis costas, postas 2, 2 e 2; o 3.º de PROENÇA – partido em pala, o primeiro de verde com uma águia bicéfala de negro, e o segundo de azul com cinco flores-de-lis de ouro postas em sautor; e o 4.º de CUNHAde ouro, com nove cunhas de azul em três palas.
Diferença:   Uma brica verde carregada de um trifólio de prata.
Local:          Conhecido documentalmente: in MACHADO, José de Sousa, Brasões 
                     inéditos, Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 70.
Data:            9-V-1651.



JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651) foi capitão de Infantaria e morou na Quinta de Oeiras, termo de Lisboa.
Era filho de DIOGO DE PROENÇA TAVARES, natural da Covilhã, e de D. CATARINA ESTEVES DA CUNHA, moradores que foram no Sabugal de Alcongosta.
Neto paterno de ANTÓNIO TAVARES (n. 1482), legitimado por carta régia de 13-IV-1492, o qual terá sido escrivão de cativos e inquiridor de Viseu[1], tendo vivido na Covilhã no fim da vida, e de D. ANA PROENÇA DE SOUSA[2]; bisneto paterno de JOÃO TAVARES (n. 1432?), cavaleiro da Casa Real , comendador de São Vicente da Beira no reinado de D. Afonso V (1432-1481)[3], e descendente de JOÃO ESTEVES TAVARES, que terá sido alcaide-mor da Covilhã.
Obteve Brasão esquartelado de: 1.º - TAVARES, 2.º - COSTA, 3.º - PROENÇA, e 4.º - CUNHA; tendo por diferença uma brica verde carregada de um trifólio de prata.
Br. Passado a 9-V-1651, publicado nos Brasões Inéditos[4].


Os apelidos dos antepassados do armigerado indiciam o seu parentesco com os SOUSA TAVARES, os quais a partir do século XVI tiveram o senhorio de Mira de juro e herdade, e eram terratenentes com a sua esfera de influência nas Beiras e Alentejo onde também exerceram destacados cargos na governação, nomeadamente em Portalegre, Alegrete, Assumar e Olivença. Os mesmos estiveram ligados à expansão portuguesa (Séc. XV-XVIII),
Pelo lado dos CUNHAS, apesar da falta de documentação que o confirme, tudo leva a crer ser descendente do ramo que teve origem em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão, o qual andava ligado aos PROENÇAS, apelido de uma das sua avós, que mais tarde veio dar o conhecido ramo dos TAVARES PROENÇAS ramo este com grande destaque social no distrito de Castelo Branco.
Desconhecemos qualquer enlace matrimonial ou descendência do capitão de infantaria JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651), o qual, a ter residido em Oeiras, provavelmente prestou serviço militar durante a Guerra da Restauração da independência num dos inúmeros fortes então reconstruídos ou edificados no mesmo concelho que naquela época abrangia uma maior extensão territorial.
Não se conhece uma qualquer representação em pedra do citado brasão.

 

Oeiras, Forte de S. Julião da Barra.
A principal fortaleza de defesa da entrada no porto de Lisboa era o Forte de São Julião da Barra, a maior fortaleza marítima do país, edificada em 1568 e ampliado de 1650 a 1655. Era apoiada do lado da costa por diversas pequenas baterias como a do Forte de Nossa Senhora do Porto Salvo (1449), e a do Forte de São Bruno (1647), entre outras, as quais estavam guarnecidas com peças de artilharia e tinha soldados de infantaria ao seu serviço. 


Caxias, Forte de São Bruno.





Porto Salvo, Forte de Nsa. Senhora
do Porto Salvo.
















Notas:

[1]   SOVERAL, Manuel Abranches, Ensaio sobre a Origem dos Proença (Porto, 2010), pp. 5-6. Acedido a 7-11-2018, em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf
[2]   JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651), na sua CBA, é dado como tendo por sua mulher D. ANA PROENÇA DE SOUSA. Porém, noutros documentos, esta aparece como sendo JOANA DE PROENÇA (Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, 1674), ou ainda FILIPA DE PROENÇA (Manuel Abranches de Sobral, Ensaio sobre a Origem dos Proença, p. 5).
[3]   ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34, fl. 132.                   
[4]   MACHADO, José de Sousa, Brasões inéditos (Braga, A Folha do Minho, 1906), p. 70.