2016-03-13

Manuel Roberto Leitão (c. 1640) - Castelo Novo, Fundão


                          Brasão de:   Manuel Roberto Leitão (c. 1640)
                          Forma:         Escudo terciado em pala: a 1.ª de LEITÃO – em campo de prata,
                                               com três faixas de vermelho; a 2.º de COSTA – em campo vermelho,
                                               com seis costas de prata, postas 2, 2 e 2; o 3.º de PINTO – em campo
                                               de prata, com cinco crescentes de vermelho, postos em sautor. 
                          Diferença:   Um trifólio de azul.
                          Local:          Castelo Novo, Fundão.
                          Data:           ?-IV-1640.


MANUEL ROBERTO LEITÃO (c.1640) obteve um brasão de armas com o escudo partido em três palas, de LEITÃO, COSTA e PINTO, tendo por Diferença um trifólio azul.
Foi-lhe concedido a 6-Abril-1640, ainda na vigência da ocupação filipina, do qual não se conhece a pedra de armas correspondente, e a sua divulgação ficou a dever-se a José de Sousa Machado na sua obra «Brasões inéditos» (Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 125), que dele nos dá o seguinte resumo:

«MANOEL ROBERTO LEITÃO, morador no lugar da Soalheira, termo da villa de Castello Novo, capitão de Val de Prazeres e Cortiçada e guarda-mór, filho de Francisco da Costa Pinto e de sua mulher [A]Polonia Leitão, da vila de Castello Novo; bisneto de António da Costa; terceiro neto de João Pinto e de Catharina da Costa, que era filha de Luiz da Costa.
Partido em três palas: LEITÃO, COSTAS e PINTO. D[iferença] um trifólio azul.  B. p. … de abril de 1640. L. 1.º fl. 460 v.»



O detentor do brasão
O licenciado MANUEL ROBERTO LEITÃO (f. 1658?), à data da concessão destas armas, em Abril de 1640, residia na freguesia da Soalheira, então pertencente ao concelho de Castelo Novo, e actualmente integrada no concelho do Fundão [1].
Soalheira (antiga)

Foi capitão da aldeia de Vale de Prazeres e da sua anexa Cortiçada, que após a restauração (1640) foi uma das maiores e mais populosas freguesias do concelho (então de Castelo Novo) e veio a ter na parte mais alta do burgo um pequeno castelo, hoje desaparecido, do qual ficou memória consagrada na toponímia pelos nomes de Rua do Reduto e Rua da Torre.
A 3-IV-1640 – tal como o seu homónimo avô materno – era “tabelião do público judicial e notas de Castelo Novo”, onde terá falecido a 7-II-1658[2]. Ao que parece, nesta família ainda houve outro homónimo que ocupou posteriormente este cargo em 1664[3].

Castelo Novo.
Castelo Novo


Era filho de FRANCISCO DA COSTA PINTO, (f. 1639), natural de Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, o qual durante muitos anos foi “tabelião do público judicial e notas de Castelo Novo”, terra onde veio a falecer a 28-VIII-1639, e onde casou com D. APOLÓNIA LEITÃO (f. 1668)[4], daí natural e já viúva em 1656[5], tendo falecido a 22-V-1668 em Castelo Novo.

Neto paterno de JERÓNIMO DA COSTA PINTO, guarda da mata de Roboredo junto a Moncorvo, rendeiro da almotaçaria de Torre de Moncorvo[6], com fama de cristão-novo, o qual foi casado com D. ANTÓNIA MANUEL; e neto materno do homónimo MANUEL ROBERTO LEITÃÕ (c. 1627), também ele tabelião do público judicial e notas de Castelo Novo, e de D. JULIANA RODRIGUES, natural da freguesia do Ourondo, concelho da Covilhã[7].


Casa do Serrão, Fundão.
Seu pai teve um neto homónimo que foi FRANCISCO DA COSTA PINTO (1641-1889), nascido a 12-V-1641 no Fundão, falecido a 15-VII-1689, casado em primeiras núpcias com D. Isabel Maria Pereira (filhos: Francisca e Teresa), e em segundas núpcias com Francisca Leonor de Bacelar Sotomayor (n. 1662), natural de Monção (filhos: Gonçalo, Duarte e Constança)[8], o qual foi fidalgo da Casa Real, capitão de cavalos arcabuzeiros, cavaleiro da Ordem de Cristo, e secretário do Desembargo do Paço, e proprietário do ofício de “escrivão das sisas gerais da vila do Fundão” (1669) no qual sucedeu a seu pai por trespasse de sua irmã Apolónia Leitão (freira). 
Este era um dos 10 filhos de Gonçalo Serrão de Azevedo (f. 1662), senhor da Casa do Serrão à Rua da Cale, no Fundão, a qual ostenta a sua pedra de armas, um dos mais belos escudos heráldicos desta região, casado com nas suas segundas núpcias com D. Juliana da Costa Pinto (f. 1679)[9].





Notas:

[1]   A SOALHEIRA pertenceu ao concelho de Castelo Novo até à sua extinção em 1835, passando então ao concelho de Alpedrinha que foi extinto em 1855, pelo que então passou para o concelho do Fundão, a que actualmente pertence.
[2]   Cfr. SILVA, Joaquim Candeias da, Concelho do Fundão – História e Arte»,  Vol. I,(Fundão, CMF, 2002), p. 187.
[3]   ANTT, Registo Geral de Mercês, Ordens Militares, liv. 5, f. 241.
[4]  APOLÓNIA LEITÃO (f. 1668), da qual há várias homónimas nesta família, aparece noutros documentos com o nome de APOLÓNIA LEITOA ROBERTA (f. 1668).
[5]   A descendência numerosa deste Francisco da Costa Pinto (f. 1639) e de sua mulher Apolónia Leitão (f. 1668), entre outros, usou os apelidos Costa Pinto, Costa Leitão, e Leitão Pimentel da Costa.
[6]   Almotacé / almotacel – antigo inspector dos pesos e medidas que fixava o preço dos géneros.
[7]  Cfr. SILVA, Joaquim Candeias da, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5 (Fundão, 2008), p. 56.
[8]   Inventário de bens de Francisco da Costa Pinto. Cfr. ANTT, Feitos Findos, Inventários post mortem, Letra F, mç. 102, n.º 3.   
[9]  GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (f. 1662), das suas primeiras núpcias com D. Antónia Rodrigues (f. 1635), teve pelo menos mais 4 filhos. Quanto à sua mulher D. JULIANA DA COSTA PINTO (f. 1679) conhecemos-lhe vários irmãos: 1.º – Manuel Roberto Leitão (c. 1627), natural de Castelo Novo, casado com Maria de Matos, 2.º- .António da Costa Leitão (c. 1639), capitão, casado a 15-XI-1639 com D. Ana Fernandes, então viúva de Gregório Leitão, da qual teve Francisco da Costa Pimentel que foi ordenado padre; 3.º – D. Ana Leitão da Costa (c. 1633), que foi madrinha em Castelo Novo em 1633; 4.º – D. Maria (n. 1621), nascida em 1621; 5.º – D. Mariana (n. 1622), nascida em 1622; 6.º – D. Apolónia Leitão Pimentel da Costa (n. 1624), nascida a 26-X-1624, casada em segundas núpcias a 30-XII-1652 em Castelo Novo com o capitão Luís Freire de Andrade, do qual teve pelo menos seis filhos; 7.º – D. Isabel (n. 1632), que nasceu em 1632; 8.º – D. Maria da Costa (c. 1629), casada a 3-IV-1629 com Manuel Antunes de Melo da Fonseca, do qual teve pelo menos nove filhos. – Obs: parte dos dados desta nota foram obtidos devido à generosa colaboração do investigador Coronel Manuel da Silva Rolão, ao qual muito agradecemos.

2016-02-11

Casa Taborda Falcão (Séc. XVIII), Fundão e Fatela

Rua do Serrão, Fundão

Lourenço José Taborda Tavares
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818), filho

Lourenço José Taborda Tavares
de  Negreiros Feio Falcão (1781-1818),
filho
                             
                      Brasão de:    Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão (1781-1818).
       Forma:          Escudo em cartela, esquartelado: 1.º - TABORDA, 2.º - FEIJÓ (por erro
   de concessão, em vez de FEIO), 3.º - FALCÃO, 4.º - TAVARES.
       Diferença:    Brica carregada de um trifólio (mal representado).
       Local:           Casa na Rua do Serrão, Fundão
       Data:            Carta de 21-I-1788, registada a 8-II-1788.


Casa Taborda Falcão (Séc. XVIII), actual Museu Arqueológico,
de Lourenço José Taborda de Negreiros Feio (1754-1829), pai.

HISTÓRIA DA CASA
Na Rua do Serrão, uma pequena transversal à Rua da Cale na cidade do Fundão, temos o antigo solar armoriado da família TABORDA FALCÃO. Este foi adquirido pela autarquia fundanense no ano de 2003, para aí instalar o Museu Arqueológico Municipal Dr. José Monteiro[1], após uma profunda remodelação.
O acervo museológico municipal aí instalado, andou desprezado ao longo das últimas décadas num pequeno espaço disfuncional, sem a menor critério de organização técnico-científica, sem condições, e sem dignidade.
Deste modo se pôs a salvo o espólio arqueológico do município do Fundão, em grande parte reunido pelo Dr. José Alves Monteiro, um dilecto filho desta terra, assim como a citada casa solarenga que, a não lhe ter sido conferida esta nova funcionalidade, acabaria por se degradar como tantas outras.
A casa Taborda Falcão foi recuperada e adaptada às suas novas funções museológicas, preservando-se a fachada e a adaptando-se o seu espaço interior às novas exigências para acolher um equipamento cultural de grande relevo para esta região, na área do património, da arqueologia, e da história.



Planta do Fundão
Por ocasião das obras de requalificação para instalação do museu, foram postas a descoberto várias paredes em granito que atestam ter a actual casa resultado da junção de duas habitações anteriores aí existentes; uma delas com escadaria frontal e respectivo balcão.
As casas originais, aparentemente datadas do século XVI, estavam separadas por um pequeno beco que desapareceu devido à união das mesmas e à regularização por uma frontaria contínua, rasgada por diversos vãos assimétricos. Esta parede, destinada a alinhar as duas anteriores, avançou alguns metros sobre a rua, distanciando-se das fachadas anteriores que estavam um pouco mais recuadas.
Na sua adaptação a museu arqueológico foi respeitada a volumetria primitiva e a fachada dos finais do século XVIII, assim como algumas estruturas emblemáticas, numa feliz conjugação entre a preservação deste solar e as exigências de funcionalidade do novo espaço museológico.
Uma das casas anteriores que esteve na origem do actual solar da família Taborda Falcão, supostamente pertenceu à família Serrão, a qual veio a dar o nome a esta rua. 


Como se processou a passagem desta casa, da posse da família Serrão à família Falcão Taborda, é a grande incógnita por esclarecer. Provavelmente houve um casamento que ligou estas duas famílias que passaram a andar aparentadas.
Encontramos um MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701)[2], casado nas segundas núpcias de D. ANA MENDES, filha de Ana Rodrigues[3], e viúva de FRANCISCO MENDES FALCÃO [TAVARES?] (f. 1671)[4], um dos possíveis elos de ligação entre estes dois clãs.
Terá sido a descendência do primeiro casamento de D. Ana Mendes com Francisco Mendes Falcão, a determinar a mudança da posse deste solar?...

BRASÃO DE ARMAS
CBA dede Lourenço José 
Taborda,  filho (1788).
Esquartelado: 1.º- Taborda,
2.º- Feijó, 3.º- Falcão,
e 4.º- Tavares.
A pedra de armas desta casa, atribuída ao filho varão primogénito do seu proprietário, apresenta algumas singularidades das quais destacamos o erro da concessão do 4.º quartel do esquartelado, o qual, na respectiva Carta de Brasão de Armas (CBA) concedida em 1788, é de FEIJÓ, em lugar de FEIO, apelido que lhe competia e o qual figura em muitos outros documentos que referem esta linhagem.

Ao longo do texto da citada CBA, tanto o seu destinatário, como os seus antepassados, vêm referidos com o nome de «Feijó», em vez de «Feio», erro este que tem causado alguma confusão entre os estudiosos desta família. Este lapso é atribuído ao facto de Feio já ter sido grafado como Fejo (com um «J») ou Feyo (com um «Y»).
Porém, este desacerto na troca dos apelidos, não passou aos posteriores brasões desta família, pois, na pedra de armas da capela de Nossa Senhora da Conceição (1858) que estes edificaram na Fatela – terra de origem desta família –, o citado erro foi rectificado: aqui, no 2.º quartel, já figuram as armas dos FEIO, ao arrepio do solar que lhe fica anexo e ostenta ainda as armas anteriores com o erro já mencionado.

CBA de Lourenço José
Taborda (1788), filho.
Estas armas foram concedidas a LOURENÇO JOSÉ TABORDA TAVARES DE NEGREIROS FEIO FALCÃO (1781-1818), ainda menor de 6 anos, e por iniciativa de seu pai que fez a justificação de nobreza em 1787[5], sendo-lhe passada a respectiva Carta de Brasão de Armas a 21-I-1788, registada a 8-XI-1788 no Liv.º 4.º de Brasões de Armas da Nobreza e Fidalguia[6].
Apresentam um escudo esquartelado: o 1.º de TABORDA, de vermelho com cinco quadernas de crescentes de ouro postas em sautor; o 2.º de FEIJÓ, de vermelho, com uma espada de prata com as guarnições de ouro, e a ponta para cima posta em pala, ladeada de seis besantes também de ouro e alinhados em duas palas[7]; o 3.º de FALCÃO, de azul, com três bordões de Santiago de prata, ferrados de ouro com os nós vermelhos postos em três palas; e o 4.º de TAVARES, de ouro com cinco estrelas vermelhas de seis raios postas em sautor. Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. Timbre dos Taborda que é uma asa vermelha, carregada de uma das quadernas do escudo. Por diferença, uma brica de prata com um trifólio verde.
Além da pedra de armas do solar do Fundão, um outro escudo semelhante figura na casa solarenga na Fatela (Casa Grande, Séc. XVIII-XIX), onde tinha a sua residência principal, com capela anexa de São Lourenço, e outra capela muito próxima de Nossa Senhora da Conceição (1858), a qual servia de panteão familiar e estava armoriada com um brasão já expurgadas do erro mencionado da troca dos apelidos. 
A família Taborda Falcão, ou Taborda d’Elvas Falcão como também aparece mencionada, era abastada proprietária de terras no concelho do Fundão, nomeadamente nas freguesias de Chãos (Donas), Alcongosta, Alcaide, Pêro Viseu, e Fatela.

Fatela, solar Tavares Falcão (Casa Grande).
Pedra de armas do solar da Fatela
(Casa Grande),
Esquartelada de: 1.º- Taborda,
2.º- Falcão, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares.













Lourenço José Taborda Tavares d'Elvas
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818)
O destinatário destas armas foi LOURENÇO JOSÉ TABORDA TAVARES DE NEGREIROS FEIO FALCÃO (1781-1818)[8], filho varão primogénito que nasceu a 10-VII-1781 na freguesia da Fatela, no concelho do Fundão. Faleceu prematuramente, ainda em vida de seu pai, vitimado por uma hidropisia a 15-I-1818 na Fatela, em cuja igreja matriz recebeu sepultura.
Assinatura do Capitão-mor.
Frequentou a Universidade de Coimbra onde se formou em Leis a 27-VI-1803, e em Cânones no ano de 1808; num dos momentos mais conturbados que o país atravessou com a 1.ª invasão francesa e a fuga da corte para o Brasil. Estes acontecimentos ter-lhe-ão provavelmente frustrado a carreira e as expectativas nele depositadas pela família. Não chegou a fazer a leitura de bacharéis para se habilitar a servir os lugares da magistratura, a qual lhe estaria destinada.
Fazia parte de uma numerosa prole de cerca de doze filhos que nasceram na Fatela[9], alguns dos quais não sobreviveram por muito tempo: Maria (1777), primeira deste nome que terá falecido de pouca idade; Antónia (1779); Lourenço José (1781), o varão primogénito que veio a fazer justificação de nobreza e teve brasão de armas; João (1783), primeiro deste nome, entretanto falecido; Maria (João (1788), segundo deste nome, que também não sobreviveu; Maria (1785), falecida de pouca idadeJoão (1789), terceiro deste nome, que foi capitão-mor do Fundão; José (1792), formado em Cânones; Ana (1794); Manuel (1797); Joaquim (1799), formado em Leis; Maria (1802), terceira deste nome.
 
Por morte de Lourenço José (f. 1818), e de seu pai homónimo (f. 1829), acabaria por suceder na chefia da Casa o segundo filho varão.
Foi este JOÃO ANTÓNIO TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1789), nascido a 20-XII-1789 na Fatela, que residiu na Fatela e no Fundão. Também estudou em Coimbra onde se formou em Cânones em 1813. Juntamente com seus irmãos, obteve o foro de fidalgo-cavaleiro a 2-VII-1825[10]. À semelhança de seu pai, foi vereador da Câmara (1828, 1832 e seguintes), assim como capitão-mor do Fundão.
Nesta geração, salientaram-se mais dois irmãos.
Um deles foi JOSÉ MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1792), que sabemos ter-se formado em Cânones em 1820. Obteve o foro de Fidalgo a 2-VII-1825.
O outro, JOAQUIM MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1799), nasceu a 15-IX-1799. Tal como seus irmãos, foi estudar para Coimbra e aí se formou em Leis no ano de 1820, fazendo o doutoramento a 16-VI-1822. Obteve o foro de Fidalgo a 2-VII-1825. 
A este último se ficou a dever o engrandecimento desta Casa e a reedificação, na proximidade do solar da Fatela, da Capela de Nossa Senhora da Conceição (1858)[11], um belíssimo exemplar de arquitectura barroca com ornamentos de grande pormenor. A edificação primitiva, com uma configuração mais simples, é atribuída a seu pai – o capitão-mor Lourenço José Taborda (pai) – em cumprimento de um voto relacionado com as Invasões Francesas, segundo a tradição oral. Classificada de «Imóvel de Interesse Público» em 1967, está armoriada com um pequeno escudo esquartelado: 1.º - TABORDA, 2.º - FEIO (em vez de «Feijó», corrigindo o erro já mencionado); 3.º - FALCÃO; 4.º - TAVARES.


Pedra de armas da capela de N.a S.ra da
Conceção. Escudo esquartelado:
1.º- Taborda, 2.º- Feio, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares.
Fatela, capela de Nossa S.ra da Conceição
(1858)






















Seus pais e avós
O armigerado era filho homónimo de LOURENÇO JOSÉ TABORDA D’ELVAS DE NEGREIROS FEIO (1754-1829), capitão-mor do Fundão, nascido a 3-V-1754 nos Chãos (Donas) e falecido a 16-IX-1829 na Fatela, com testamento, vitimado por uma «constipação e sezões» quando contava 75 anos de idade. Foi sepultado «na sua capela» da Fatela.
Residiu no seu solar da Fatela – a Casa Grande, no antigo Largo da Praça –, e na casa do Fundão, na qual comemorou com um grande jantar oferecido à população a derrota de Napoleão em fins de Setembro de 1814.
Foi fidalgo-cavaleiro da Casa Real (1824)[12], vereador camarário do Fundão (entre 1783-1829), sargento-mor de ordenanças (de 1790 a 1804) e capitão-mor (1804-1829), num período conturbado e de grande instabilidade política, em que a invasão dos franceses assolou sucessivamente o Fundão (em 1810, 1811, e 1812), causando mortes, saques e destruição, tendo provocando um período de fome e grande declínio na região. Distinguiu-se como grande servidor da causa pública no concelho do Fundão.
Neto paterno do Dr. Veríssimo Inácio Taborda d’Elvas de Negreiros (1712?-1798), bacharel em Cânones (1740) e vereador da Câmara Municipal do Fundão (1756), nascido a 21-I-1715 nos Chãos (Donas), falecido a 16-IX-1796 na Fatela, e de sua primeira mulher D. Antónia Maria Inácia Feio (f. 1754), natural do Teixoso.
Bisneto paterno de Isidoro Mendes d’Elvas Taborda de Negreiros, (n. 1668?), natural dos Chãos, com uma longa carreira de magistrado que culminou em desembargador da Relação do Porto (1715)[13], e de D. Bárbara Rodrigues Covete; e bisneto materno de João do Vale de Almeida e de sua mulher D. Maria Rodrigues Feio, a qual era descendente de Pedro Feio que foi alcaide-mor da vila de Sortelha[14].

Lourenço José (pai), que ficou órfão de mãe com poucos meses de idade, casou por procuração a 5-VIII-1774 na igreja da Fatela com D. MARIA BÁRBARA FALCÃO TAVARES DE AGUIAR LEITÃO (1758?-1833), a qual nasceu por volta de 1758, e faleceu a 11-X-1833, já viúva, com testamento, vitimada por «diabetes» quando contava 75 anos de idade, tendo sido sepultado na sua capela da Fatela. 
Fatela
Sua mulher era filha de António Félix Falcão Tavares, natural de Alcongosta e residente no Fundão, e de sua mulher D. Maria Rosa Ribeiro, do Castelejo; neta pelo lado paterno de Manuel Antunes Falcão Tavares, fidalgo de cota de armas (ver mais abaixo), «dos Falcões Tavares da vila do Fundão»[15], e de sua mulher D. Maria Leitoa de Aguiar Pissarro, e pelo lado materno de João Leitão de Aguiar e Cunha e de D. Maria Carvalho Leitão de São Vicente da Beira.
A estes Falcões Tavares, provavelmente terá pertencido D. Inês Falcão de Carvalho (c. 1650), natural do Fundão, mãe do desembargador José Vaz de Carvalho da Silveira Preto (c.1675-1752) que promoveu a elevação do Fundão a Vila e a criação do respectivo concelho em 1746, o qual aqui tinha uma grande casa solarenga sita à Rua da Cale (que veio a ser adquirido pela família Macedo), relativamente próxima das casas desta família.

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Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c.1633)[16]
Avô materno de Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio
 (1754-1829)


Brasão de:   Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c. 1633).
Forma:         Escudo partido em pala: 1.º - TAVARES, de ouro com cinco estrelas de
seis raios de vermelho; 2.º - FALCÃO, de azul com três bordões de prata, ferrados de vermelho, postos em pala e alinhados em faixa.
Diferença:   Brica carregada de um trifólio verde.
Local:          Conhecido documentalmente.
Data:            Carta de 25-I-1633.

Alacide, capela de São Francisco.
MANUEL TAVARES FALCÃO (c.1633) teve carta de brasão de armas com um escudo partido em pala, de TAVARES e FALCÃO, tendo por diferença um trifólio verde. Estas armas foram-lhe concedidas por Carta de 25-I-1633, registada no Cartório da Nobreza (L. I, fl. 407v)[17].
Tabelião do público, judicial e notas da Atalaia, morou na freguesia do Alcaide, concelho do Fundão. A 18-III-1662 obteve autorização para renunciar o ofício de Tabelião em seu genro Simão dos Reis Colaço (c. 1665)[18], o que parece ter vindo a suceder em 1665[19].
Era filho de Gaspar Tavares Falcão e de … Antunes, bisneto de Manuel Tavares, que foi capitão do Alcaide no tempo de El-rei D. Sebastião (1557-1578).
Casou com D. MARIA LEITOA DE AGUIAR PISSARRO.
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Anexos

Testamento de
Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio (1754-1829)
Por sua morte (1829) deixou um curioso testamento feito a 27-IV-1822[20], revelador das sua forte crenças religiosas, assim como das suas preocupações sociais com os servidores da sua casa e os pobres da sua freguesia da Fatela.
Nele manifesta as suas últimas vontades e pede que o seu corpo, amortalhado com o hábito de São Francisco, seja sepultado na «sua capela» da Fatela. Pede que sejam ditas por sua alma muitas missas, num total inicial de mais de 400, às quais acrescem mais 280 por «várias tenções». Deixa ainda vários encargos piedosos para com os pobres, aos quais, no dia do seu enterro, deviam ser distribuídos 12.000 réis em dinheiro, e ao sétimo dia 30 alqueires de pão ou milho, 20 deles em grão e 10 cozido. Deixa ainda e encargo de serem vestidos 12 pobres, 6 masculinos e 6 femininos, enumerando as respectivas peças do vestuário. Não esquece os diversos criados e criadas da sua casa, que enumera e aos quais legou apreciáveis quantias em dinheiro, com atenção especial em relação a Maria Salvada, mulher de António Moreira, à qual deixa uma pensão anual enquanto esta viver.
Quanto à terça de todos os seus bens que podia dispor livremente, esta foi deixada à sua mulher D. Maria Bárbara Falcão que a gozará enquanto for viva, e por sua morte passará «á minha filha D. Ana». Destes bens – da terça -- enumera as várias fazendas: (1) «o Prazo da Quinta de São Miguel sito no limite da Levada q. parte com a Ribeira de Alverca e com a estrada pública»; (2) a «quinta chamada do Calvário», constituída por duas quintas já unidas, que «se acha tapada e murada» com árvores e casas, situadas no limite do Fundão (junto à capela do Calvário); (3) um «chão com árvores e casa q. está situado no Sítio dos Prados», no limite do Fundão; (4) uma «quinta chamada a do Baldio», no limite da Levada, Fundão; (5) uma «tapada chamada do Castanho» no limite do Fundão; (6) um «souto no sítio da fonte dos Carneiros» no limite dos Chãos (Donas), ao qual se acham unidos mais três que se compraram; (7) mais um «prado no limite da Fatela», no sítio de São Sebastião, com sua casa, eira, e uma nascente, que parte com a estrada que vai para Pêro Viseu. Quanto aos restante bens de sua fortuna, os quais não nomeia, declara que os deixa aos seus «filhos e filha como herdeiro». Nomeia ainda para testamenteiros, a sua mulher D. Maria e sua filha D. Ana. 

Testamento de
D. Maria Bárbara Falcão de Aguiar Leitão (1758?-1833)
Fez testamento na Fatela a 5-V-1822, «com boa saúde e temendo a morte que a todos é natural», no mesmo ano em que seu marido também testou. Estes testamentos foram feitos, talvez pelos seus autores temerem a instabilidade política que então se vivida no concelho do Fundão, onde a constituição saída da Revolução Liberal do Porto sofre forte contestação/apoio, o que gera alguma perturbação local com vários focos de manifestações e represálias.
Este documento foi redigido a seu pedido ao padre Domingos José Taborda, em virtude de ser «pouco prática em escrever», como se declara. Nele começa por pedir que o seu corpo, à data da sua morte, seja amortalhado num hábito de São Francisco e, no dia do seu enterro, sejam distribuídos pelos pobres da freguesia da Fatela 9.660 rés, e ao terceiro ou ao sétimo dia se distribuam mais 30 alqueires de pão ou milho ou o valor dele em dinheiro, assim como dezassete alqueires de feijão e oito alqueires de azeite. Pela sua alma, pede que sejam ditas 400 missas, às quais acrescenta mais 250 «segundo a minha tensão», ao Altar de Nossa Senhora do Fastio …
Tal como seu marido, não esquece os inúmeros serviçais que não quer deixar desamparados pela sua morte, e pelos quais distribuí diversas quantias que vão de 2.000 a 3.000 réis. Muitos deles, seus filhos, e até os netos, além de receberem diversas quantias em dinheiro, também recebem casas para residirem após a sua morte, mobiliário, e roupas de cama.
Depois de todas as disposições beneméritas com seus criados cumpridas, declara que «deixo a terça de todos os meus bens móveis como de raiz a meu marido Lourenço José Taborda» (falecido antes da testadora), para este gozar em sua vida e, por sua morte, a citada terça «passará para meus filhos Dona Ana e Joaquim que ambos disfrutarão e partirão». Acrescenta ainda que se algum destes filhos que nomeia para herdeiros da terça morrerem sem filhos legítimos, ou tendo-os, estes não chegarem à idade de poderem testar passará a dita herança ao que sobreviver, e se este morrer sem filhos legítimos «passará a dita terça aos meus herdeiros mais próximos». Declara, ainda, deixar, por morte do seu marido, o encargo dos seus filhos (Ana e Joaquim), darem dos rendimentos de minha terça, anualmente, a quantia de 20.000 réis anuais ao meu filho José enquanto este for vivo, assim como 3.000 réis a Maria Salvada, mulher de António Moreira, e a Maria dos Prazeres, 3.000 réis, enquanto estas forem vivas.  
Para o filho João, deixa um chão no sítio do Vale com seu nascente de água.
Nomeia para a sua terça, as propriedades seguintes: (1) um «chão com seu souto chamado o Chão de …(?)» no limite de Alcongosta; (2) uma «quinta com sua casa chamada de São Marcos» no limite do Fundão; (3) um «Lagar de fazer azeite» no limite do Fundão; (4) um «prado do carvalhal com sua casa» no limite da Fatela e Alcaide; (5) um «chão que serve a lameiro no Sítio dos Araes(?) limite deste lugar»; (6) uma «Quinta chamada dos Joaes (?)», a qual se acha «tapada de paredes e valados», com sua casa, mais soutos, olivais, árvores e terras, no sítio dos Vales de Pêro Viseu.
Nomeia, ainda, por morte de seu marido, a sua filha D. Ana, para o «Prazo da Quinta de São Miguel», no limite da Levada, Fundão, que «parte com a ribeira de Alverca e com a estrada».
Ainda nomeia o seu filho João, para lhe suceder numa capela (vínculo) que possuía e fora instituída por Manuel Antunes Capinhão.
Retirados da herança os bens da terça e cumpridos todos os encargos deste testamento, para os «bens que restam deixo a meus filhos como herdeiros e filha».
Nomeia para testamenteiros, o seu marido Lourenço José, sua filha D. Ana, e seu filho Joaquim.
Mais tarde, antecipando a expectável abolição dos vínculos (capelas/morgados), devido ao falecimento do filho José (primogénito), toma a precaução de salvaguardar o seu sucessor filho João que, caso os vínculos venham a ser extintos antes da sua morte, herdará a sua parte dos bens da terça «por igual com o seu irmão Joaquim e a sua irmã Ana».



Notas:

[1]     Este museu apresenta diversos artefactos dos períodos Neolítico, Proto-Histórico, Romano e Medieval, com especial destaque para o seu espólio da Proto-História e da epigrafia romana.
[2]     Miguel Serrão era filho de GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (c. 1641), senhor da casa armoriada com as suas armas (Serrões e Azevedo) à Rua da Cale, o qual fez dois casamentos que lhe deram uma inúmera prole.
[3]     Ana Rodrigues, e sua filha Ana Mendes, a qual ficou viúva de Francisco Mendes Falcão e voltou a casar com Miguel Serrão de Azevedo, instituíram com os seus bens vários pequenos vínculos em capela com encargos de várias missas. Cf. Biblioteca do Seminário do Fundão, Livro das Capelas e nomes dos administradores de S. Martinho do Fundão, MS, fs. 12-13..
[4]     Cf. SILVA, Joaquim Candeias da, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp. 61-68; MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701) era filho do armigerado GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (c. 1641), morador na Rua da Cale, cuja casa ostenta a sua pedra de armas de SERRÃO e AZEVEDO, o qual teria inicialmente vivido na casa dos seus sogros na rua que posteriormente se chamou Rua do Serrão.
[5]     ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23, n.º 17. – Esta precoce Justificação de Nobreza foi efectuada à semelhança do que, poucos anos antes, tinha feito o morgado de Peroviseu para o seu filho Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral (n. 1776) que obteve CBA a 3-VIII-1791, por volta dos 15 anos de idade.
[6]     ANTT, Cartas de Armas, cx.2, n.º 7.
[7]     Este 2.º quartel, com as armas da família Feijó, deve-se a um erro de atribuição. Nele deviam figurar as armas da família Feio (de azul, com três bandas de vermelho, perfiladas de ouro). 
[8]   Para mais detalhes sobre a família deste armigerado, cf. Joaquim Candeias da SILVA, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp. 61-68.
[9]     SILVA, Joaquim Candeias da; Ibid. p. 62.
[10]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.20, fl.279
[11]    Data inscrita num lintel da porta principal.
[12]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.19, fl.153v.
[13]    ISIDORO MENDES D’ELVAS TABORDA DE NEGREIROS (n. 1668?), juiz de fora em Pedrógão e Figueiró, provedor de Tomar, corregedor no Algarve, provedor nas Ilhas, e desembargador no Porto, era filho de FRANCISCO MARTINS TABORDA D’ELVAS, casado na freguesia dos Chãos (Donas) com D. GENEDRA MENDES, filha de Lourenço Dias Mendes e de D. Maria Antunes Travaços.
[14]    Cf. CBA de Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão – ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23, n.º 17.
[15]    Segundo a já citada CBA, estes Falcões Tavares do Fundão eram descendentes de Francisco Mendes Falcão Tavares (f. 1671), padroeiro da Igreja de Santa Maria Madalena da Covilhã. Após a morte deste, a sua viúva veio a casar com Miguel Serrão de Azevedo (1633-1701), cuja família, provavelmente, terá dado nome á rua onde está o Museu Arqueológico e onde existiria uma anterior casa sua (Cf. Nota 6).
[16]    MANUEL TAVARES FALCÃO (c.1633), na sua CBA, não figura com o apelido ANTUNES, ao contrário do que sucede na CBA concedida a seu neto.
[17]    MACHADO, José de Sousa, Brasões inédito, Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 128.
[18]    IANTT, Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv. 2, fl. 230v.
[19]    SILVA, Joaquim Candeias da, O Concelho do Fundão através das Memórias Paroquiais de 1758. Fundão: Tip. do «Jornal do Fundão», 1993, p. 107.
[20]    O seu testamento, assim como o da sua mulher, encontra-se transcrito no respectivo assento de óbito.