2014-04-06

Casa do Passadiço (II) - Aldeia Nova do Cabo, Fundão / Idanha-a-Nova


Família MELO de EÇA COUTINHO
(de Idanha-a-Nova) 


Casa do Passadiço
(entre as janelas com um 
escudo de granito liso).
 Casa do Passadiço
(casa amarela e casa cor-de-rosa).

Casa do Passadiço (pormenor).






















            A Casa do Passadiço em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão, na sua configuração original terá sido uma das maiores casas desta localidade.
         Um escudo liso a meio da fachada, indicia a existência de uma anterior pedra de armas no mesmo local e desafia a nossa curiosidade por mais um enigma do património edificado nesta ubérrima terra da Cova da Beira.

Porta interior.
(que já terá sido exterior)
       Tem esta casa uma origem recuada no tempo, a qual não conseguimos precisar, mas sabemos que as obras mais recentes (meados do século XX?) adulteraram a sua traça primitiva e camuflaram o seu passado remoto
       Aparentemente parecia ter-se perdido a memória dos seus fundadores, e das famílias que lhes sucederam ao longo dos últimos séculos. Só o citado escudo de granito liso, colocado na fachada, faz suspeitar da existência de uma casa solarenga armoriada à qual foi retirada a pedra de armas original; como aconteceu a tantas outras casas que foram vendidas pelas famílias que as detinham há várias gerações.
       Provavelmente, com muitas imprecisões, pensamos ter levantado a ponta do véu que cobria a história desta casa que outros investigadores mais habilitados poderão levar a bom porto.
       Aparentemente a sua longa frontaria resultou do avanço para a rua de uma nova fachada que uniformizou duas ou três casas distintas que por ela foram englobadas, das quais viriam a resultar a actual casa cor-de-rosa (ou do Passadiço), e a casa amarela que lhe fica contígua.
Porta interior.
       Esta conclusão foi tirada pela observação do seu interior, a nível do piso térreo, onde existe uma ou outra porta interior com as ombreiras e o respectivo lintel com uma robustez e dimensões que nos levam a concluir terem estado na fachada original virada para rua. Estas portas estão actualmente num plano mais recuado no interior da casa, à semelhança do que há alguns anos se constatou ter acontecido numa casa solarenga do Fundão que também resultou da união de duas casas com uma viela de permeio, quando esta foi totalmente remodelada para instalar o Museu Arqueológico José Monteiro.
       Mais tarde, em época não determinada, a casa de Aldeia Nova foi novamente dividida, por partilha entre herdeiros (?), daí resultando duas casas distintas às quais foram feitas alterações, mantendo porém a cércea à mesma altura.




Igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo, sepulturas.
     Nunca conseguimos solucionar cabalmente o enigma do paradeiro em Aldeia Nova de várias pedras de armas  que as terá havido – dos PROENÇAS e OLIVEIRAS, famílias nobilitadas desta terra durante o século XVII.
      
        Por mero acaso conseguimos localizar e identificar um dos seus vários brasões, já muito desgastado e quase irreconhecível, numa lápide sepulcral que está no adro da igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo, frente à porta do lado Nascente, que muito provavelmente será de MANUEL NUNES DE OLIVEIRA (c. 1644), cujas armas lhe foram dadas a 29-II-1644.
       Este era descendente por linha legítima da geração dos Oliveiras e Proenças, pois era filho legítimo de Miguel Nunes e de sua mulher Ana Rodrigues de Oliveira. Sua mãe era irmã de António Rodrigues de Oliveira (f. 1655)que tinha tirado Brasão de suas Armas”, e tia de Miguel Rodrigues de Oliveira, “que também tirou Brasão de suas Armas” em 27-II-1640; bisneto de Gaspar Proença, e terceiro neto de Pedro de Oliveira.

Igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo. Sepulturas de
MANUEL NUNES DE OLIVEIRA (1644)?, e de
FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO
(n. 1777).
       Curiosamente, esta lápide está situada a par de uma outra, também armoriada, com as armas de FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1777), cuja família foi senhora da Casa do Passadiço.
     Seria esta última família descendente dos OLIVEIRAS, dos quais alguns deles teriam fundado as casas mais antigas que originaram este casarão? 
      Até agora, por falta de provas documentais credíveis, não conseguimos obter resposta a estas questões …

       A Casa do Passadiço primitiva, segundo presunção nossa, teria pertencido a BALTAZAR DE MELO DE EÇA COUTINHO, capitão de Infantaria, que terá vindo servir junto à fronteira na guerra da Restauração, e tinha a sua origem na aristocrática Casa de Darei, junto a Mangualde, no distrito de Viseu[1]. A posse da casa em Aldeia Nova do Cabo, certamente ficou a dever-se ao seu casamento nas segundas núpcias (?) de D. CATARINA MARQUES GERALDES[2], originária de Idanha-a-Nova, viúva que fora casada em primeiras núpcias com João Marques Anes Leitão[3], o qual era um irmão de seu cunhado e faleceu em combate contra os castelhanos na guerra da Restauração ao serviço de D. João IV. D. Catarina, pelos serviços prestados por seu primeiro marido, foi compensada com dois alvarás: um referente a uma comenda da Ordem de Cristo, outro para um ofício de Justiça ou Fazenda no qual se nomearia em suas filhas[4].
      Deste casamento sabemos ter nascido a filha D. ISABEL DE MELO COUTINHO DE EÇA (n. 1656) que foi casada com BARTOLOMEU AFONSO DA CRUZ
Localização da Casa do Passadiço.
        Desconhecemos se esta filha teve a posse desta casa, mas não restam dúvidas que a família dos MELO DE EÇA COUTINHO aí viveram e um deles foi inumado junto à porta lateral do lado Nascente da Matriz de Aldeia Nova, numa sepultura com uma laje armoriada, e por nós identificada com as armas dos GERALDES, LEITÃO, MELO e COUTINHO. Este foi FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1777)[5], o qual faleceu sem geração, mas teve uma irmã que terá sido a sua herdeira e lhe deu sepultura em Aldeia Nova, pois aí tinha casa.
        Esta irmã foi D. MARIA MARGARIDA GERALDES DE MELO COUTINHO (n. 1775), casada a 1-XII-1805 em Idanha-a-Nova com seu sobrinho FRANCISCO ANTÓNIO DE PAULA GERALDES MELO COUTINHO (c. 1805), nascido em Aldeia Nova do Cabo, ao que supomos na Casa do Passadiço.
        O filho deste casal, FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1807)[6], era natural de Idanha-a-Nova, e foi casado nas suas primeiras núpcias com D. MARIA DA GLÓRIA TAVARES TRIGUEIROS DE CARVALHO (f. 1865), natural de Meruge, os quais foram legítimos senhores da Casa do Passadiço, a qual só esporadicamente terão habitado.
     Estes tiveram uma filha que foi D. MARIA DA GLÓRIA TRIGUEIROS FALCÃO, nascida, falecida e sepultada em Idanha-a-Nova, casada com JOÃO BAPTISTA FREIRE DE MEIRELES LEÃO (1861-1953), nascido em Paços de Ferreira em 1861 e falecido em Idanha-a-Nova em 1953.
       Foi o filho destes últimos, radicado no norte do País, o Dr. APRÍGIO DE MELO LEÃO DE MEIRELES (1899-1995), médico portuense, nascido em 1899 em Idanha-a-Nova e falecido em 1995, que foi casado com D. MARGARIDA DA COSTA TEIXEIRA (1908-1997), nascida em 1908 na freguesia da Vitória, na cidade do Porto, e falecida em 1997 em Idanha-a-Nova, que viria a vender uma das partes a Casa do Passadiço, segundo informação obtida junto dos seus familiares.


        As campanhas militares da Restauração após 1640, e a Guerra da Sucessão em Espanha para a qual Portugal é arrastado a partir de 1704, deslocam para as Beiras tropas regulares, das quais algumas ficaram estabelecidas em Penamacor e Idanha-a-Nova, praças de guerra que serviam de tampão às invasões vindas de Espanha.
       Juntamente com estas tropas, juntaram-se vários altos funcionários públicos e magistrados judiciais, muitos deles vindos de outras regiões, os quais nesta época contribuíram para o aumento demográfico desta zona estabelecendo laços de parentesco por via matrimonial com a população local.
       Por esta altura já Aldeia Nova do Cabo tinha várias famílias com razoável património granjeado numa agricultura próspera. À semelhança do que acontecia por toda esta zona do interior, os seus filhos abraçariam a carreira das armas ou eram mandados estudar para fora; regra geral para Coimbra e Salamanca (de 1580-1640), onde se formavam em Artes, Leis e Cânones.
       Estes, após a obtenção da almejada formação superior, regra geral abraçavam o serviço público e a magistratura, carreiras onde ganham grande destaque social e prestam relevantes serviços que os elevam ao primeiro grau da nobreza: a fidalguia de cota de armas que começa a ostentar os seus brasões nas fachadas das respectivas casas, os quais nem todos chegaram aos nossos dias.
         Algumas destas famílias cruzavam-se nas praças militares que havia junto à fronteira, onde ganham grande relevância social por esta altura, devido às constantes operações militares. Daí as ligações de várias famílias de Aldeia Nova do Cabo com a então vila de Idanha-a-Nova, nascendo os seus filhos em ambas as terras, nas quais tinham o seu património disperso.

Vejamos a presumível sucessão da casa:
 1.        MANUEL GERALDES LEITÃO (c. 1702), sargento-mor de Ordenanças e tabelião de Idanha-a-Nova
          (alvará de 10-II-1715), era filho sucessor de D. MARIA NUNES LEITÃO, casada a 26-X-1676 em Idanha-
          -a-Nova com FRANCISCO NUNES PITEIROS ou CALVO[7].
Mangualde, Darei, Casa de Darei.
          Casou a 25-IX-1702 em Idanha-a-Nova com a sua parente D. MARIA
          MARQUES DA CRUZ E MELO (n. 1680)baptizada a 11-IV-1680 em
          Idanha-a-Nova[8].    
       Sua mulher era filha de BARTOLOMEU AFONSO DA CRUZ (c. 1668), juiz da alfândega de Idanha-a-Nova (alvará de 20-IX-1668)[9], aí casou a 7-VI-1769 com D. ISABEL DE MELO COUTINHO E EÇA (n. 1656)[10], baptizada a 4-VIII-1657, a qual foi herdeira de seu primo João Marques Geraldes que testou a 5-V-1686; neta paterna de MANUEL VAZ RIPADO (c. 1671) que foi escrivão e tabelião em Idanha-a-Nova (31-VIII-1671)[11], e de sua mulher D. MARIA NUNES DA CRUZ; neta materna de BALTAZAR DE MELO DE EÇA COUTINHO (c. 1639)[12], capitão de Infantaria e moço-fidalgo da Casa Real (alvará de 16-II-1639), com solar na Quinta de Darei – entre Mangualde e Penalva do Castelo –, casado nas segundas núpcias (?) de D. CATARINA MARQUES GERALDES[13], originária de Idanha-a-Nova, a quem a citada casa terá pertencido ainda na sua configuração original.
          Tiveram:
2.       D. MARIA DE MELO MARQUES DA CRUZ. Casou a 28-IX-1727 com Francisco Marques Geraldes, sucessor nos morgados e casa de seus pais e, por sua mulher herdeiro do ofício de juiz da Alfândega de Idanha-a-Nova. Era filho de Marçal Nunes Leitão e de D. Maria Nunes Sarafana, dos Sarafanas de Alpedrinha, a qual instituiu a 22-IV-1710 um vínculo a favor de seu filho Francisco Marques Geraldes, cuja geração se extinguiu, sendo os seus bens litigados pelos parentes mais próximos.
2.        D. ISABEL JOAQUINA GERALDES DE MELO LEITÃO (n. 1709), que segue abaixo.
2.       D. CATARINA MARQUES DA CRUZ E MELO, casada a 21-VII-1727 com Manuel Álvares Piteiros, que seria seu primo (?), e do qual teve filhos que faleceram de pouca idade.
2.        D. TEREZA, que foi freira em Portalegre.

2.     D. ISABEL JOAQUINA GERALDES DE MELO LEITÃO (n. 1709) nasceu a 2-XII-1709 em Idanha-a-Nova[14].
Casou a 1-IX-1734 em Idanha-a-Nova nas primeiras núpcias de MANUEL SOARES CORREIA (c. 1725)[15], juiz de fora de Penamacor (por Carta de 12-IX-1725)[16], capitão-mor do Fundão, nascido em Aldeia do Mato, no concelho da Covilhã; filho de BRÁS SOARES CORREIA, natural da freguesia da Vela, e de sua mulher D. BRÍGIDA DE SÃO JOSÉ, natural da freguesia de Famalicão, ambas no concelho da Guarda, os quais também residiram em Aldeia Nova do Cabo.
Seu marido foi casado por três vezes[17], e as segundas núpcias, após o falecimento de D. Isabel Joaquina que terá sucedido pouco tempo depois do nascimento de sua filha (?), foram com D. BRITES, também falecida prematuramente em consequência do parto de uma filha de nome Maria Soares Correia (n. 1748?)[18].
             Tiveram:
3.       D. ISABEL GERALDES DE MELO LEITÃO (n. 1746), que segue.
3.       RODRIGO XAVIER SOARES CORREIA DE MELO, casado com JOANA FELÍCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO.
          Filho:
4.       MANUEL ANTÓNIO DE MELO GERALDES LEITÃO COUTINHO (n. 1766), nascido a 28-IV-1766 em Aldeia Nova do Cabo[19], proprietário nessa freguesia e em Idanha-a-Nova. Casou com D. ANGÉLICA LOCÁDIA DE OLIVEIRA FONSECA COUTINHO BOTELHO, natural de Penamacor, filha de João de Oliveira Fonseca[20], alferes de Granadeiros, e de sua mulher D. Cecília Liberata Botelho Coutinho, nascida na freguesia da Misarela, no concelho da Guarda.
Entre outros teve:
5.      FRANCISCO ANTÓNIO DE PAULA GERALDES DE MELO (c. 1805), natural de Aldeia Nova do Cabo, concelho do Fundão, cavaleiro da Ordem de Cristo (portaria de 3-IX-1840)[21]. Casou com sua tia D. MARIA MARGARIDA GERALDES DE MELO COUTINHO (n. 1775), que vai mais abaixo.
5.       JOSÉ ANTÓNIO GERALDES DE MELO COUTINHO (f. 1841), natural de Aldeia Nova do Cabo, que teve uma filha natural, a qual veio a ser senhora da Casa do Calvário, junto à Capela do Calvário em Aldeia Nova, e vai mencionada mais abaixo.

3.        D. ISABEL GERALDES ANGÉLICA LEITÃO DE MELO (n. 1746), nascida a 19-II-1746 em Idanha-a-Nova. Casou a 26-I-1775 na Capela de Nossa Senhora do Rosário com BARTOLOMEU JOSÉ DA CRUZ CAJADO (c. 1775), sargento-mor e capitão-mor de Ordenanças da Idanha-a-Nova; filho de Manuel Gonçalves da Cruz, natural de S. Miguel de Acha, concelho de Idanha-a-Nova, e de sua mulher Catarina Gonçalves, natural de Idanha-a-Nova.
 Tiveram:
 4.       D. MARIA MARGARIDA GERALDES DE MELO COUTINHO (n. 1775), que segue abaixo.
 4.       FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1777)[22], o qual foi sargento-
          -mor das Ordenanças de Idanha-a-Nova a 31-X-1829. Nasceu 15-VII-1777 em Idanha-a-Nova, onde
          veio a falecer sem geração e foi sepultado no adro da igreja Matriz de Aldeia Nova do Cabo, frente
          à porta do lado Nascente, em sepultura armoriada com o seu brasão, já muito danificado e quase
          irreconhecível, a par de outra sepultura armoriada da família OLIVEIRA.

Sepultura de Francisco
Camilo Geraldes Leitão de
Melo Cajado (n. 1777).
Sepultura de Francisco
Camilo Geraldes Leitão
de Melo Cajado (n. 1777),
(pormenor das armas)
                    Fez justificação da sua nobreza e obteve um
                    brasão esquartelado com as armas dos
                    GERALDES, LEITÃO, MELO e COUTINHO;
                    Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro;
                    Timbre de Geraldes; tendo por Diferença
                    uma brica de azul com uma lua de prata[23].
                    Estas armas foram concedidas no reinado

                    de D. Maria I, por Carta datada de 23-IX-1786
                    (Livro de Registo de Brasões de Armas,
                    n.º 3, Fls. 239).


4.        D. MARIA MARGARIDA GERALDES DE MELO

          COUTINHO (n. 1775), nasceu a 27-XI-1775 na
          então vila de Idanha-a-Nova.
          Casou a 1-XII-1805 com seu sobrinho FRANCISCO
          ANTÓNIO DE PAULA GERALDES DE MELO 
Carta de Brasão de Armas de
Francisco Camilo Geraldes Leitão de Melo Cajado  (n. 1777). 
Datada de 23-IX-1786.
          (c. 1805)natural de Aldeia Nova do Cabo, Fundão,
          o qual foi cavaleiro da Ordem de Cristo (portaria
          de 3-IX-1840)[24]o qual teve vários irmãos, um dos
          quais foi José António Geraldes de Melo Coutinho
          (f. 1841)tenente do Regimento de Infantaria n.º 21
          (1833) que à data do nascimento de sua filha única
          prestava serviço na Divisão Auxiliar a Espanha,
          natural de Aldeia Nova do Cabo, Fundão, falecido
          solteiro a 12-VII-1841 em Castelo Branco, o qual,
          de Maria da Encarnação dos Anjosnatural do Porto,
          teve uma filha natural que foi D. CAROLINA CÂNDIDA
          GERALDES DE MELO (1837-1915), nascida a 18-I-1836
          em Almeida, que por herança de seus pais foi senho-
          ra da Casa do Calvário, junto à Capela do Calvário em
          Aldeia Nova, e casou com JOÃTELES TRIGUEIROS
          (1822-1886)juiz desembargador, nascido a 20-3-1822
          em Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco, do
          qual teve geração.
          Seu marido era filho MANUEL ANTÓNIO GERALDES
          LEITÃO COUTINHO DE MELO (n. 1766) que nasceu a
          28-IV-1766 em Aldeia Nova do Cabo, e de sua mulher
          D. ANGÉLICA LOCÁDIA DE OLIVEIRA FONSECA
          COUTINHO BOTELHO, natural de Penamacor, que vão acima.

         Tiveram, entre outros:
         5.       FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1807), que segue.

5.       FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1807), natural de Idanha-a-Nova, o qual não deve ser confundido com o seu tio homónimo – irmão de sua mãe – Francisco Camilo Geraldes Melo Cajado (n. 1777), sargento-mor das Ordenanças de Idanha-a-Nova. 
Parece ter sido senhor da Casa do Passadiço, ou de uma parte dela, pois foram os seus herdeiros que tiveram a sua posse.
          Casou duas vezes.
As primeiras núpcias foram celebradas em Idanha-a-Nova com D. MARIA DA GLÓRIA TAVARES TRIGUEIROS DE CARVALHO (f. 1865), natural de Meruge, falecida a 3-IV-1865 em Idanha-a-Nova, filha de D. ANA EMÍLIA TRIGUEIROS MARTEL GOULÃO (1792-1874), e do desembargador LUÍS TAVARES DE CARVALHO E COSTA (f. 1849).
          Após a morte da sua 1.ª mulher D. Maria da Glória, casou em segundas núpcias com D. MARIA LIBÂNIA FREIRE CORREIA FALCÃO, da qual não se conhece geração.
Filhos do 1.º casamento:
6.        D. MARIA JOSÉ GERALDES DE MELO TAVARES TRIGUEIROS (f. 1895), que segue abaixo.
6.        JOAQUIM CAJADO GERALDES DE MELO (1813-1892) nasceu no ano de 1813 em Idanha-a-Nova,
          onde faleceu a 15-II-1887.
          Casou a 28-IX-1843 em Idanha-a-Nova com D. ANTÓNIA LUDOVINA LEITÃO (1816-1892)nascida
          em 1816 em Pedrógão Pequeno, concelho da Sertã, e falecida a 16-VI-1892 em Idanha-a-Nova.
          Sua mulher era filha de António José Leitão, proprietário, natural de Pedrógão, casado com
          D. Maria Lopes Xisto, de Idanha-a-Nova.
          Tiveram:
          7.         FRANCISCO DE MELO GERALDES CAJADO (1844-1851), nascido em 1844 em Idanha-a-
Cemitério de Idanha-a-Nova,
Jazigo de José de Melo
Cajado (f. 1904).
Escudo de armas:
GERALDES e MELO.
                               Nova, cidade onde veio a falecer a 25-VIII-1851.
                    7.          D. MARIA MARGARIDA DE MELO GERALDES CAJADO (1855-
                               -1888)casada nas primeiras núpcias de seu primo JOSÉ MARIA
                               TELES TRIGUEIROS DE MELO (n. 1855), delegado do Procurador
                               Régio e juiz em várias comarcas, do qual teve geração.
                               Edificaram a casa contígua à Casa do Calvário em Aldeia Nova do
                               Cabo[25]. Tiveram geração.
7.     JOSÉ DE MELO GERALDES CAJADO (f. 1904), proprietário em Idanha-a-Nova onde faleceu a 9-I-1904 e foi sepultado no cemitério público, num jazigo armoriado de GERALDES e MELO[26]. Casou na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, com sua prima D. MARIA DO CARMO TELES TRIGUEIROS (f. 1936), nascida em Aldeia Nova do Cabo, Fundão, falecida no ano de 1936 em Idanha-a-Nova, filha de João Teles Trigueiros (1822-1886), juiz desembargador, e de sua mulher D. Carolina Cândida Geraldes de Melo (1837-1915). Tiveram geração.

6.        D. MARIA JOSÉ GERALDES DE MELO TAVARES TRIGUEIROS (f. 1895) que nasceu em Idanha-a-Nova e faleceu a 5-X-1895 em Arenhas, concelho de Penamacor, tendo sido sepultada em Idanha-a-Nova. Casou com ALEXANDRE FREIRE CORREIA FALCÃO, nascido em Sortelha e falecido em Idanha-a-Nova em cujo cemitério jaz.
Cemitério de Idanha-a-Nova,
Jazigo Trigueiros Falcão.
Tiveram:
7.       D. MARIA DA GLÓRIA GERALDES DE MELO TRIGUEIROS FALCÃO,
         que segue abaixo.
7.       FRANCISCO DE MELO TRIGUEIROS FALCÃO falecido e sepultado em
         Idanha-a-Nova.
         Teve um filho, cuja mãe desconhecemos:
         8.     ANÍBAL TRIGUEIROS FALCÃOoficial do Exército que fez parte do
                Corpo Expedicionário Português (1917-1918) enviado por Portugal
                a França durante a 1.ª Guerra Mundial. Foi dado como desapareci-
                do após a Batalha de La Lys (9-IV-1918), reaparecendo mais tarde.
                Opositor ao regime do Estado Novo, foi sucessivamente deportado
                por motivos políticos para Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira,
                Açores, e depois para a Ilha de São Nicolau a 18-IV-1936 (o Tarrafal 
                da Ilha de São Nicolau foi a antecâmara do campo de concentração
                do Tarrafal da Ilha de Santiago), no arquipélago de Cabo Verde.
                Casou com D. ALICE CLARISSE MELO MARQUES.
                Tiveram:
                 9.       D. MARIA JOSÉ MARQUES TRIGUEIROS FALCÃO.
                 9.       ALEXANDRE SÉRGIO FREIRE FALCÃO.
                 9.       ANÍBAL MARQUES TRIGUEIROS FALCÃO.
                 9.       D. CLARISSE MELO MARQUES TRIGUEIROS FALCÃO (1919-1987)nascida a 2-X-1919
                          em Castelo Branco e falecida a 2-VIII-1987 em Lisboa.
                          Casou nas primeiras núpcias de RUI BARROS COSTA (1923-2002), economista, nascido
                          a 22-VII-1923 em Boliqueime, Loulé, e falecido a 19-IV-2002 em Lausanne, na Suíça. Tive-
                          ram geração. 

7.        D. MARIA DA GLÓRIA TRIGUEIROS FALCÃO (1869-1907?), nascida a ?-I-1829 em Idanha-a-Nova, onde faleceu em 19(.)7 e foi sepultada no cemitério público. Casou a 19-VI-1897 na freguesia da Victória, cidade do Porto, com JOÃO BAPTISTA FREIRE DE MEIRELES LEÃO (1861-1953)médico, nascido a 26-I-1861 em Penamaior, concelho de Paços de Ferreira, o qual veio residir na Rua Vaz Preto em Idanha-a-Nova, onde faleceu a 24-XII-1953. 
         Seu marido era filho de Aprígio Augusto Leão, proprietário, escrivão e tabelião do Juízo Ordinário do julgado de Paços de Ferreina na comarca de Santo Tirso (1852), casado a 2-IV-1857 na freguesia de Sanfins, concelho de Paços de Ferreira, com D. Ana Emígdia de Meireles Freire, moradores no lugar e Casa de Fonte Fisca em Penamaior; neto paterno de José Patrício da Costa Nogueira e de D. Felizarda de Jesus Carneiro Leão, de Penamaior; e neto materno de José Patrício de Meireles Freire e de D. Matilde Coelho de Meireles da Casa da Pereira desta freguesia de São Pedro Fins
          Tiveram:
8.      ALEXANDRE FREIRE DE MEIRELES LEÃO (1898-1990)nascido a 7-V-1898 em Idanha-a-Nova, onde faleceu a 15-II-1990, e sepultado no cemitério público. Casou civilmente a 8-XII-1933 na 1.ª Conservatória do Registo Cívil do Porto, e só a 10-III-1962 celebrou o casamento católico na Igreja de São Miguel da Sé de Castelo Branco, com D. ADÉLIA VELOSO CANDIDA DE SOUSA VELOSO ARAÚJO. Sem geração.
8.        APRÍGIO DE MELO LEÃO DE MEIRELES (1899-1995),
         que segue.

8.     APRÍGIO DE MELO LEÃO DE MEIRELES (1899-1995), médico, nascido em Idanha-a-Nova em 1899. Residiu no Porto e faleceu em 1995. Casou com D. MARGARIDA DA COSTA TEIXEIRA (1908-1997), nascida em 1908 na freguesia da Vitória, cidade do Porto, e falecida em 1997 em Idanha-a-Nova. .
Tiveram:
9.       APRÍGIO TEIXEIRA LEÃO DE MEIRELES (n. 1932), casado com D. MARIA MANUELA ROSADO SOARES MENDES. Tiveram geração.
9.     JOÃO TEIXEIRA LEÃO DE MEIRELES (n. 1937), nascida em 1937 em Idanha-a-Nova. Casou com D. MARIA DE MATOS LOPES DIAS (n. 1938), nascida em 1938 em Idanha-a-Nova. Tiveram geração.          
         
Conclusão
Provavelmente no local em que está a Casa do Passadiço, em meados ou fins do século XV já haveria um pequeno núcleo de casas e anexos agrícolas, centro de uma propriedade rural que prosperou devido aos solos produtivos desta localidade.
Este pequeno aglomerado de casas foram alteradas ao longo do tempo e, devido aumento demográfico desta aldeia que se autonomizou de Aldeia de Joanes em 1661, algumas edificações ao seu redor terão evoluído e alinhado pelo arruamento actualmente existente.
Posteriormente, com sucessivas alterações, as casas originais foram alinhadas numa enorme frontaria que terá chegado a meados do século XVIII.
A necessidade de partilha desta casa entre herdeiros, levaria à sua divisão em duas casas distintas. Quanto aos seus proprietários, a partir dos meados do século XVI, cremos não restarem dúvidas que foram os herdeiros de BALTAZAR DE MELO DE EÇA COUTINHO e de sua mulher D. CATARINA MARQUES GERALDES.
Esta última, por sua vez, teria herdado esta casa dos seus antepassados, os quais poderiam entroncar numa das famílias nobilitadas e com grandes domínios nesta aldeia, de cujas casas e pedras de armas se perdeu o paradeiro. Falamos dos Cunhas (e Nunes da Cunha), dos Oliveiras (e Rodrigues de Oliveira), dos Proença, dos Leitão da Fonseca  todos eles aparentados.

O derradeiro proprietário de parte da Casa do Passadiço, na família que a deteve durante mais de três séculos, foi o Dr. APRÍGIO DE MELO LEÃO DE MEIRELES (1899-1995), médico no Porto, que acabou por vende-la devido ao facto de possuir outras casas, e de a sua vida profissional decorrer no norte do País.





Idanha-a-Nova, Solar dos antepassados
 do Dr. Aprígio.
       O citado Dr. APRÍGIO, também vendeu um solar que possuía em Idanha-a-Nova – segundo informação prestada por familiares seus –, o qual estava na sua posse há várias gerações. Não se sabe, por falta de documentação, quem foi o seu fundador. Supostamente poderá ter sido o supracitado BARTOLOMEU AFONSO DA CRUZ (c. 1668), juiz da alfândega de Idanha-a-Nova casado a 7-VI-1769 com D. ISABEL DE MELO COUTINHO E EÇA (n. 1656), baptizada a 4-VIII-1657 e herdeira de seu primo João Marques Geraldes que testou a 5-V-1686. 
        Regista a memória vinda de gerações passadas e transmitida pelos mais velhos, a existência na fachada do mesmo solar de um brasão que foi apeado pelos seus detentores, para deste modo se subtraíssem à alçada fiscal – taxa sumptuária sobre o uso de brazão de armas – que em determinada época incidiu sobre estas pedras de armas, a qual foi responsável pelo desaparecimento e delapidação de milhares destas representações da simbólica familiar que tanta falta nos faz para o estudo destas casas.

         Estes impostos sobre a heráldica exibida em fachadas de prédios, ou nas respectivas carruagens, para cobrirem a derrapagens nas contas públicas – um problema endémico neste país, desde longa data – começou a agudizar-se com uma lei de 9-V-1872 e alongou-se até 1910, ano da implantação de República. Os elevado montantes a cobrar pelo fisco, eram considerados um esbulho e uma arbitrariedade que conduziu a longas demandas judiciais no ministério público e nos tribunais administrativos, até às últimas instâncias e quase sempre ganhas a favor do fisco; o que leva às medidas drásticas tomadas pelos seus proprietários de os mandar apear, ou picar, das fachadas das suas casas, para escapar fúria tributadora. Assim se delapidou, para sempre, por incompreensão dos poderes públicos, este inestimável património, com a consequente despromoção social dos visados, a nível simbólico, numa época em que estes distintivos ainda constituíam uma mais-valia.
       O acutilante escritor Ramalho Ortigão, sobre este assunto, escreveu em 1900: «A lei de que trata não precisa de razões de fora que lhe patenteiam a imbecilidade. Ela é imbecil sem confronto, em si mesma, o que é a mais aguda maneira de o ser». Típica Imbecilidade fiscal portuguesa que chegou até aos nossos dias, acrescentamos nós …

Obs:

Este trabalho não estará isento de erros, como pretenderíamos.
Das muitas dificuldades que fomos encontrando, o grande número de homónimos e as sucessivas trocas de apelidos no mesmo individuo ao longo da sua vida, de documento para documento, criaram muitos obstáculos.
Os diversos e sucessivos casamentos, em consequência da morte de um dos cônjuges numa época em que as guerras e as epidemias grassavam, também levantaram muitos problemas de identificação. A alteração dos apelidos, de casamento para casamento e nos diversos actos públicos, também levaram a muitas confusões.
A necessidade de conservar e aumentar o património como estratégia de promoção social, levou a inúmeros casamentos entre parentes muito chegados, o que causa dificuldades na identificação.
Ficamos muito gratos a todos aqueles que quiserem corrigir os erros que consigam detectar.

Bem hajam
João Trigueiros
jotri@sapo.pt

__________________________

Notas:

[1]  BALTAZAR DE MELO DE EÇA COUTINHO (c. 1639) foi 11.º avô do autor destas notas, pela linha de
     sucessão de sua trisavó CAROLINA CÂNDIDA GERALDES DE MELO (1837-1915), senhora da Casa do
     Calvário em Aldeia Nova do Cabo, casada com JOÃO TELES TRIGUEIROS (1822-1886); daí o seu
     interesse por este ramo genealógico.

[2]  Os GIRALDES com um «i», comos os de Idanha-a-Nova grafaram inicialmente o nome, ou GERALDES com um «e», cuja grafia aqui seguimos, existem em Portugal desde a Idade Média. Eram uma família de juristas e militares com ramificações em Idanha-a-Nova, no Fundão, e noutras localidades das Beiras. Em Idanha já existiam no século XIV, e aí ligaram-se à ilustre família dos MELOS, no século XVIII, dando origem aos GERALDES DE MELO, de onde procede o 1.º Marquês da Graciosa (1840). Usaram o seguinte brasão de armas: de prata, com um leão de negro, coroado de ouro. São estas as armas ostentadas nos cunhais do solar dos Marqueses da Graciosa, em Idanha-a-Nova.

[3]  JOÃO MARQUES ANES LEITÃO era filho de Gonçalo Anes Leitão e de sua mulher D. Constança Marques Giraldes. Juntamente com sua mulher Catarina Marques Geraldes, instituiu uma capela cuja administração veio a recair nos Morgados de Geraldes, de Idanha-a-Nova, como mais próximos sucessores.

[4]  GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, pp. 224-225, § 18º, nº VII-8.

[5]  Este teve um sobrinho homónimo.

[6]  Francisco Camilo casou em segundas núpcias com D. Maria Libânia Freire Correia Falcão.

[7]  FRANCISCO NUNES PITEIROS (c. 1715) era filho de António Pires Calvo e de sua mulher Isabel Nunes Piteiros, neto paterno de Gonçalo Gonçalves Calvo e de sua mulher D. Catarina Giraldes. Foi testemunha de casamento de Jorge Trigueiros da Costa (1665?-1704), o qual que casou a 29-X-1685 em Idanha-a-Nova com D. Isabel Nunes Calvo (f. 1726), antepassados dos morgados da Casa Outeiro (Trigueiros Aragão), em Aldeia de Joanes/aldeia Nova do Cabo.

[8] Presumimos que era parente de JOÃO MARQUES DA CRUZ DE MELO COUTINHO EÇA (c. 1737), o qual obteve «Carta de Propriedade de Ofício», provavelmente de juiz de alfândega de Idanha-a-Nova, como seu pai, e ainda «Carta de Padrão. Tença de 12$000 rs e Hábito», ambas datadas de 13-VIII-1737.

[9]  ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. Afonso VI, liv.11, f.152v.

[10] Os diversos elementos desta família, conforme documentação consultada, aparecem muitas vezes com a ordem dos apelidos trocados.

[11]  ANTT, Registo Geral de Mercês, Ordens Militares, liv.8, f. 204v

[12] BALTAZAR DE MELO DE EÇA COUTINHO era filho bastardo de LUÍS DE MELO COUTINHO, moço-fidalgo da Casa Real, morador em Darei, e neto paterno de MANUEL DE MELO COUTINHO, moço-fidalgo da Casa Real e de sua mulher D. MARIA SEQUEIRA.
         
[13] CATARINA MARQUES GERALDES levanta-nos dúvidas quanto à sua identificação devido ao facto de, nesta época, ter havido várias homónimas nesta família. Houve uma Catarina Marques Geraldes, filha de Marçal Nunes Geraldes – filho segundo de Bartolomeu Nunes Geraldes, capitão-mor de Idanha a Nova, e de sua mulher D. Catarina Marques Giraldes –, e de D. Brites Geraldes, de cujo matrimónio nasceram cinco filhos. Um deste foi o Padre Manuel Marques Giraldes (c. 1631), prior da freguesia das Donas, comissário do Santo Ofício e «Autor das Memórias Manuscritas sobre a Família Geraldes», o qual instituiu um importante morgado a favor dos se sobrinho o licenciado Fernando Afonso Geraldes; assim como por escritura de 11-VII-1663 dotou a sua sobrinha CATARINA (?) para esta casar com PEDRO DA SOUSA REFÓIOS, o qual faleceu muito novo e sem geração. A família dos SOUSA REFÓIOS, possuíam bens em Castelo Branco, Idanha-a-Nova (morgadio de São Jacinto), Fundão, e em Aldeia Nova do Cabo – Mem Rodrigues Refóios aí viveu em 1480 – daí, no manuscrito «Livro das capelas e nomes dos administradores de São Martinho do Fundão», iniciado em 1557 (in Biblioteca do Seminário do Fundão), vir mencionada uma capela existente por volta de 1698, que era administrada pelo Mestre de Campo TEODÓSIO DA SOUSA REFOIOS (n. 1720), a qual tinha uma obrigação de 6 missas, e para seu rendimento possuía uma casa na rua da Corredoura (Fundão), mais um olival «às cortes dos Outeiros que partem com D.º (…) Barreiros» (Outeiros de Baixo e de Cima em Aldeia Nova?), segundo refere José Monteiro (in. Ao Redor do Fundão, CMF, 1990, pp. 214-215.
Teodósio Refóios (n. 1720) era filho de Gaspar Pinto de Sousa Refóios que foi casado em segundas núpcias com D. Brites da Cunha; neto paterno de Álvaro Pinto de Oliveira, desembargador do Porto, que foi casado com D. Guiomar de Sousa Refóios (c. 1530?), a qual era filha de António de Proença; dos Oliveiras e Proenças de Aldeia Nova do Cabo, como se presume.

[14]  D. ISABEL, na Carta de Brasão de Armas atribuídas a seu neto Francisco Camilo Geraldes Leitão de Melo Cajado (n. 1777), aparece mencionada com os apelidos que aqui vão, ao arrepio do que publicou o genealogista Luís Bivar Guerra (A Casa da Graciosa, p. 208), que a dá pelo nome de Isabel Joaquina de Melo e Sá Coutinho.
[15] GUERRA, Luís Bivar, op. cit., p. 208.

[16] ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 17, f.5.

[17] A família SOARES CORREIA teve descendência em Famalicão, concelho da Guarda, talvez de um destes casamentos. Deles descendem alguns dos LEITÃO MARROCOS que foram morgados de Belmonte e de Idanha-a-Velha, e os PIGNATELLI com ramificações por toda a Beira Baixa.

[18] Em consequência do infausto falecimento de sua 2.ª mulher D. BRITES (f. 1748?), com a qual terá estado casado muito pouco tempo, encomendou uma pintura narrativa desta sua desventura. A curiosa missiva desta incumbência chegou aos nossos dias. Foi uma carta escrita a 12-Março-1748 e endereçada ao pintor e amigo Francisco Alves, da Covilhã. Nela descreve detalhadamente a figuração pretendida sobre este seu fugaz casamento e a infeliz morte de sua mulher D. Brites em consequência do parto, assim como o baptizado de sua filha Maria Soares Correia. Vejamos o texto:
«A pena com que pego na pena é tão grande e tão publica, que escuso de lha contar, pois vocemecê saberá que quis Deus levar a D. Brites onde ela só sabe; mas é certo que foi para o céu, que é a morada dos anjos, que ela foi neste mundo; e como a tenho em presença de minha memoria, quero também retratá-la em casa; e assim remetto a vocemecê um pano de estopa para que n’ella pinte com as tintas mais finas que tiver, três representações em um só quadro, que se ha de pôr na sala para memória deste infausto caso, com as figuras seguintes: / Recebimento / Vocemecê bem viu D. Brites de marca ordinária; grossinha de corpo; o rosto não era muito comprido nem largo; entre clara e morena; os olhos entre azuis e pretos, com a côr de chumbo desmaiado; o nariz à flor do rosto; cova na barba; dentes brancos, beiços grossos e alguns sinais de bexigas; o cabelo entre louro e castanho, toucada como na corte, vestida de côr de goivo (veja que há de ser de seda e não de lã). / Ao pé d’ella ponha vocemecê duas moças vestidas de criadas; a mais velha escada acima, e a outra escada abaixo e a mim me há de pintar tal qual eu sou, com as feições que tenho, e vocemecê sabe; porem vestido honestamente, pela razão do meu cargo, com o meu vestido encarnado, véstia bordada, e calções com liga de prata; não se esqueça de pôr pluma no chapéu. / O acompanhamento é escusado dizer-lhe; vocemecê o sabe porque o viu. Ponha vocemecê uma igreja de pedra, que é a da freguesia, com três clérigos, um deles vestido ex sacramentis para nos receber; e veja que o dito padre não era alto mas sim clérigo de marca. Deixe vocemecê um campo em branco na pintura para se lhe pôr um dístico em verso, que ainda não passei. / Baptismo da minha filha / Pinte vocemecê D. Brites, doente em um pavilhão pardo, e ao pé d’ella uma mulher velha, vestida de moça; e a Oliveira, criada antiga da casa, e vestida de forma que vocemcê já tem visto por aqui; e mais algumas pessoas que assistiram ao parto, com os olhos chorosos e caras tristes por causa do aperto em que D. Brites se viu; o mais fica à sua disposição. Segue-se logo a um canto a parteira de manto com minha filha D. Maria Soares Corrêa recém nascida, involvida n’um corte de primavera tostada, e por diante guarnecida de prata. O acompanhamento que vocemecê viu seja o mais o luzido que puder debuxar; lembre-se também de pôr todos ao redor da parteira, e os dois padrinhos juntos d’ella, vestidos de encarnado um d’elles com uma vela na mão junto à pia que há de ser de pedra dentro da igreja; o que vocemecê pintará da mesma sorte que fez no recebimento. Aqui deixará também um logar em branco para se lhe pôr uma legenda que há de ser feita por mim. / Falecimento de minha mulher / Pintará vossemecê D. Brites deitada na mesma cama; o cirurgião sangrando-a assistindo-lhe as mesmas criadas, ponha uma delas mudada de cara com faltas de somno, de sorte que perceba que é por não dormir quase uma semana; pinte uma a pegar na bacia, e outra a deitar água nas mãos; junto a Oliveira, com uma almotolia na mão d’azeite virada com a boca para baixo, dando a entender que vae buscar mais à despensa; pinte D. Brites com cara macilenta, enchada, e com os olhos papudos, com um circulo negro por cima, e outro por baixo; enfim cor de defunta doente já morta, e as mesmas mulheres compondo-a com habito de freira vestida em um caixão rico, a cera acesa, quatro cavalheiros de preto para pegarem no caixão, e clérigos em quantidade.
Peço a vossemecê isto como obra sua, e sobretudo a brevidade para que este coração sinta algum descanso em magua tão grande, de que vossemecê me há de aliviar como amigo. Não se esquecendo de pintar na freguesia uma torre com os sinos a dobrarem, só dois dias e meio de manhã à noite. / Penamacôr, 12 de Março de 1748 / O dr. Manuel Soares Corrêa».
[19]  GUERRA, Luís Bivar, op. cit., Casa da Graciosa, pp. 208-209.

[20] João de Oliveira Fonseca, provavelmente descendia dos OLIVEIRAS que deram vários fidalgos de cota de armas e foram dos maiores terratenentes de Aldeia Nova do Cabo, senão os donos da Casa do Passadiço desde tempos recuados.
   
[21] ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv.14, fl.51-51v
.
[22]  Depois de ter feito a sua justificação de nobreza (1786), juntamente com outros familiares, passou a usar o apelido COUTINHO que lhe vinha dos seus quintos avós.
 
[23] ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 10, n.º 27.

[24] ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv.14, fl.51-51v.

[25] A Carta de Brasão de Armas original de FRANCISCO CAMILO GERALDES LEITÃO DE MELO CAJADO (n. 1777), referente às armas da sua sepultura, encontrava-se na posse deste casal, dos quais passou a outros familiares colaterais.

[26]  Este jazigo, edificado em granito claro, ostenta uma placa com a inscrição «José de Melo Geraldes», encimada pelo seguinte brasão de armas: Escudo partido de MELO e GERALDES; por Diferença uma brica com um crescente; Timbre de Geraldes. 

2014-02-05

Casa da Quinta da Almoinha – Pêro Viseu, Fundão


O Mil Diabos da Capinha
António José Pereira Pinto de Figueiredo Castelo Branco (c. 1740)



Brasão de António José Pereira Pinto
de Figueiredo Castelo Branco
(c. 1740) ?
Casa da Quinta da Almoinha
(cópia do original?).

Brasão primitivo (?), 
chaminé da lareira da Casa.



















                  Brasão de:   António José Pereira Pinto de Figueiredo Castelo Branco (c. 1740)
                  Forma:         Escudo em cartela, esquartelado: o 1.º de PINTO – de prata, com cinco                                                                   crescentes de vermelho, postos em sautor (2, 1 e 2); o 2.º de FIGUEIREDO
                                       – de vermelho, com cinco folhas de figueira de verde, nervadas e perfiladas 
                                       de ouro, e postas em sautor; o 3.º de PEREIRA – de vermelho, com uma cruz
                                       de prata florenciada e vazia; o 4.º de CASTELO BRANCO – de azul com um 
                                       leão rompente de ouro, armado e lampassado de vermelho.
                   Elmo:          De grades, aberto e de perfil, olhando à direita do escudo.
                   Timbre:       Um leopardo de prata, armado e lampassado de vermelho (de Pintos).
                   Local:          Fachada da Casa da Quinta da Almoinha, Pêro Viseu[1], Fundão.
                   Data:           15-IX-1769.
                   Obs:            Cópia feita na primeira metade século XX (?), a partir de uma pedra de armas
                                       anterior que está encastrada numa parede interior da casa. 
                                       A ordenação dos quartéis segue a ordem dos apelidos do armigerado, e não
                                       a ordem da carta de concessão, por motivo que desconhecemos.


A Casa da Quinta da Almoinha
A casa da Quinta da Almoinha resulta de várias intervenções arquitectónicas que alteraram a sua singela configuração original[2]. Desenvolve-se em duas volumetrias destintas, com fundos para arrumos devido à sua implantação num terreno desnivelado.
Ao seu núcleo original, mais antigo, tem-se acesso através de uma porta com um pequeno lanço de escada, virada para o interior da quinta e encimada pela pedra de armas em apreço.

A remodelação mais recente, aparentemente datada do segundo quartel do século XX, altura em que se colocou esta pedra de armas, acrescentou-lhe outra edificação de volumetria mais saliente, resultante da introdução de um balcão alpendrado, com colunas e uma escadaria de balaustrada em granito. 

Casa da Quinta da Almoinha (pormenor)
Este novo corpo da casa terá sido projectado pelo arquitecto António Lino (1914-1961)[3], a pedido do então proprietário da casa que foi D. Manuel de Vasconcelos e Sousa (1910-1978) quando este casou com D. Maria Belarmina Franco Pinto de Castelo Branco (1905-1980)[4], da família FRANCO, a presuntiva herdeira desta propriedade. Este casal habitou na Casa do Adro, na contígua freguesia da Capinha[5], onde os seus antepassados detinham um apreciável património agrário procedente de heranças, no qual se incluiria a Quinta da Almoinha.

Deste casal nasceu o actual proprietário da casa que é o senhor D. Luís Maria Pinto Castelo Branco de Vasconcelos e Sousa (n. 1946), casado com D. Elisa Maria Massano Reiche (n. 1944), com geração que continua o nome da sua ilustre família.

O detentor do brasão
ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA PINTO DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (c. 1740), natural e morador na Capinha, concelho do Fundão, foi monteiro-mor da Covilhã (o concelho do Fundão só foi criado em 1746), e teve carta de brasão de armas por Carta de 15-IX-1769 (registada no Cartório da Nobreza, liv. 1, fl. 111), com um escudo esquartelado de: 1.º – CASTELO BRANCO, 2.º– PINTO, 3.º – PEREIRA, e 4.º – FIGUEIREDO.
A pedra de armas da Casa da Quinta da Almoinha, em relação a esta carta de concessão, apresenta a seguinte troca na sequência dos quartéis: 1.º – PINTO, 2.º – FIGUEIREDO, 3.º – PEREIRA, e 4.º – CASTELO BRANCO.
Sua mulher e sogros
Casou a 29-IX-1764 com D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), nascida a 1-XI-1744 em Vale de Prazeres, Fundão, filha do capitão FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (f. 1773), de Penamacor, falecido a 3-X-1773 em Vale de Prazeres, casado em 1739 com D. TERESA LUÍSA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA (1709-1774), nascida a 2-III-1709 em Vale de Prazeres, onde veio a falecer a 2-IV-1774 com vários filhos[6]; neta paterna de Cristóvão Leitão Taborda (n. 1670), nascido em 1670 Vale de Prazeres, casado a 20-VII-1695 em Penamacor com D. Isabel Taborda Botelho (n. 1676), nascida em 1676 em Penamacor; e neta materna de João Rodrigues Taborda (1660-1729), nascido em 1660 em Vale Prazeres, terra onde faleceu a 2-VIII-1729, casado nas suas terceiras núpcias celebradas a 21-IV-1694 em Idanha-a-Nova com D. Pórcia de Oliveira Ricacho (1667-1727), que já fora casada, nascida a 15-X-1667 em Idanha-a-Nova e falecida no ano de 1727 em Vale de Prazeres, no concelho do Fundão.
Seus pais e avós
Era filho ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (c. 1694)[7], natural de Loriga, concelho de Seia, capitão da Infantaria Auxiliar da comarca da Guarda, familiar do Santo Ofício (carta de 20-X-1699)[8], e de sua mulher em segundas núpcias (?) D. CATARINA TERESA DE FIGUEIREDO, natural de Valezim, concelho de Seia, filha de Manuel João e de Maria Nunes[9]

Neto paterno de outro ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (b. 1627), baptizado a 7-XII-1627, natural de Loriga, concelho de Seia[10], o qual a 26-II-1653 obteve um brasão de armas plenas de CASTELO BRANCO, tendo por diferença uma flor-de-lis, registado no Cartório da Nobreza (liv. 2, fl. 252 v.º). Foi monteiro-mor da Covilhã, familiar do Santo Ofício (carta de 26-IX-1659), cavaleiro professo da ordem de Cristo com uma tença de 12$000 réis (carta de 21-I-1676)[11], capitão de Auxiliares de Infantaria (de 1657 a 1660) que juntamente com seu pai combateu na guerra da Restauração (de 1647 a 1654). Residiu na Covilhã, assim como na rua Direita na Capinha onde casou em segundas núpcias, e aí veio possuir – por casamento (?) – vários bens emprazados que pagavam foro à Abadia da Estrela[12]
Este matrimónio foi com D. MARIA MENDES PAIS (f. 1712) [13], ainda de pouca idade pois faleceu a 12-III-1712 e recebeu sepultura na igreja paroquial da Capinha junto ao altar de Nossa Senhora do Rosário (Ramos, 1999: 97). Foi a este casal, à época uma das famílias poderosas da Capinha, que se ficou a dever a edificação da anterior Casa do Adro em 1673, a qual resultou da reedificação de uma casa ainda mais antiga que a família PAIS (?) aí tinha desde tempos imemoriais[14]. Esta senhora era filha de FRANCISCO MENDES e MARIA PAIS; neta paterna de Francisco Mendes e de Maria Geraldes, e neta materna de Pedro Álvares e de Maria Pais, todos naturais da Capinha.

Bisneto paterno de DOMINGOS MENDES CASTELO BRANCO (n. 1590?), o Mil Diabos (de Loriga), cuja lendária bravura demonstrada na Guerra da Restauração (de 1647 a 1654) lhe valeu este epíteto que passaria a um trineto que foi outro bravo militar celebrizado nas guerras napoleónicas e nas lutas liberais que se lhes seguiram. Nasceu em Loriga, concelho de Seia, onde foi proprietário dos ofícios de tabelião do público, judicial e notas, assim como escrivão das execuções de Loriga e  de Alvoco da Serra (carta de 3-6-1623), assim como capitão de Auxiliares de Loriga e suas anexas. Combateu na Guerra da Restauração, na qual, juntamente com o seu filho, tomou parte nas batalhas de Elges, São Felices, Vila Vieja e Bugaio, e na tomada de Coria

Domingos Mendes C. B. era filho de mais outro ANTÓNIO MENDES CASTELO BRANCO (c. 1530?), natural da Covilhã – por sua vez filho de Sebastião Mendes de Castelo Branco, juiz de órfãos da Covilhã, e de sua mulher D. Isabel Rodrigues Teixeira –, o qual viveu em Castelo Branco e serviu no norte de África com armas e cavalos à sua custa, sendo armado cavaleiro em Ceuta a I-VIII-1559 pelo governador da cidade D. Fernando de Meneses, após o que foi viver para Loriga onde foi capitão; e sabemos ter casado várias vezes, a última das quais com D. MARIA PINTO PEREIRA, da qual teve António Mendes Castelo Branco (Silva, 1999: 147). 
Domingos Mendes C. B. foi casado com D. CATARINA DO POMAR E ABREU (1590?-1651)[15], natural de Loriga, onde veio a falecer a 15-VII-1651. 

Seus filhos
De ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA PINTO DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (c. 1740), da Capinha, senhor da pedra de armas em apreço, e de sua mulher D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), de Vale de Prazeres, conhecemos dois filhos:

1.º – JOÃO PINTO PEREIRA DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (1766-1828),
 casado com D. FRANCISCA DE PAULA TAVARES OSÓRIO VELOSO
 CABRAL.
Deste casal houve geração que chegou aos nossos dias, na qual se destacou, entre outros, o seu bisneto JOÃO FRANCO FERREIRA PINTO DE CASTELO BRANCO (1855-1929), nascido a 14-II-1855 no Alcaide, Fundão, o qual pela vivacidade do seu espírito e energia do seu carácter foi um dos políticos mais salientes da fase final da monarquia, na qual ocupou o cargo de presidente do Conselho de Ministros (1906) do malogrado rei D. Carlos I (1889-1908).
2.º – JOSÉ PEREIRA PINTO CASTELO BRANCO (c. 1808-1850?), o Mil Diabos da Capinha (2.º), que vai biografado.

O Mil Diabos da Capinha (2.º)
JOSÉ PEREIRA PINTO CASTELO BRANCO (c. 1808), o Mil Diabos da Capinha” (2.º), não desmerece o epíteto com que foi brindado pelos seus contemporâneos, em memória dos ecos da bravura do seu trisavô o Mil Diabos (de Loriga), a que fez jus nas suas próprias aventuras militares. Nasceu na Capinha em data que se desconhece, e aí terá falecido por volta de 1850.
Tanto pela bravura, como pelas atribulações que passou, merece aqui ser resgatado do esquecimento.  
Os seus merecimentos fizeram-no bisar a alcunha do seu trisavô por varonia – Domingos Mendes Castelo Branco (n. 1590?), o Mil Diabos (1.º) da Guerra da Restauração – outro bravo militar desta família, como o já tinham sido muitos outros Castelos Brancos que se vinham cobrindo de glória nas praças do Norte de África desde meados do século XV (Silva, 1999: 146-1669). De todos este, o nosso Mil Diabos da Capinha terá herdado os genes da propensão para a bravura militar e para o risco, num dos períodos mais conturbados da história de Portugal.
Dele pouco sabemos, a não ser o que ficou no imaginário popular e foi respigado por um ou outro autor que se debruçou sobre a história local.
Sabemos que ingressou no Regimento de Infantaria n.º 11 de Penamacor, em data que desconhecemos.
Este regimento fazia o seu recrutamento, preferencialmente, entre os beirões das vilas e concelhos das comarcas de Viseu e da Guarda. A sua permanência em Penamacor foi de curta duração, por esta altura, pois veio a ser licenciado a 22-XII-1807 na sequência da 1.ª Invasão Francesa (17-XI-1907), por ordem do general Junot que ordenou a integração dos seus efectivos no 3.º Regimento de Infantaria da recém-criada Legião Portuguesa (1808-1813). Esta seria enviada para França (Junho-1808) e depois para a frente de combate no Leste da Europa, nas campanhas da Alemanha (1809) e da Rússia (1812), ao serviço de Napoleão.
Não se consegue apurar com exactidão por onde andou o nosso Mil Diabos da Capinha (2.º), nestas aventuras da Legião Portuguesa, que entretanto viria a ser definitivamente extinta a 5-V-1814.
Sabemos que cerca de três dezenas destes oficiais da Legião foram incorporados no exército invasor do general Massena – 3.ª Invasão a Portugal (1810) – para apoiar o reconhecimento do nosso território, pelo que viriam a ser julgados à revelia e condenados à morte por traição à pátria por uma “Junta da Inconfidência”[16].
Um deste foi José Pereira Pinto “capitão de infantaria 11”, de cuja acusação viria a ser ilibado por se ter provado por testemunhas que à data (1810) se encontrava prisioneiro na Alemanha.
Devido a esta condenação só regressou a Portugal em 1820, não para se quedar na quietude do seu lar na Capinha, mas antes para dar largas à sua irrequietude belicosa e lutar contra o absolutismo, o que o leva novamente à prisão; desta vez às ordens do miguelismo e na Torre de São Julião da Barra (em 1828), de onde só é libertado a 24-VII-1833 quando da entrada dos liberais em Lisboa (Cunha, 1822: 226). Tinha nesta altura a patente de Major.
A sua trajectória de vida com duas prisões e muitos sacrifícios, influenciada pelo Século das Luzes que foi comum a muitos apoiantes dos franceses, e do serviço prestado ao ideário fraterno do Liberalismo, mostram-nos um beirão de excepção que a tradição popular não esqueceu totalmente.
Certamente nascido na Capinha, não sabemos se na antiquíssima Casa do Adro ou noutra qualquer casa da sua abastada família, morreu em data e local que também desconhecemos.
Quem sabe se não entregou a alma ao Criador na Casa da Quinta da Almoinha, em Pêro Viseu, onde uma chaminé de lareira em granito ostenta a pedra de armas de seu pai – com os quartéis trocados em relação à carta de concessão...
Terá este belicoso soldado assumido estas armas, trocando-lhes a ordem do esquartelado para as diferençar das armas do seu progenitor?
Aqui deixamos este desafio, a carecer de resolução …
Campanha da Alemanha (1809)
Os batalhões portugueses da Legião Portuguesa que entraram na Campanha da Alemanha (1809), a partir da cidade francesa de Grenoble onde estavam acantonados, eram «doze soberbas companhias, todos homens robustos, já bem exercitados e prontos para entrar em campanha». A sua partida deu-se a 26-IV-1809 – após a derrota dos franceses na batalha de Aspern (Maio-1809) pelas tropas do arquiduque Carlos –, para colaborarem na conquista de Viena (13-V-1809), cuja progressão no terreno lhe custou 140 baixas, nada comparado com o que sucederia depois.
Atravessam o Danúbio, conjuntamente com um exército de 200.000 homens, e atacam com galhardia Wagram (6-VII-1809) – actualmente na Áustria – contra o arquiduque austríaco que fazia parte da Quinta Coligação (com a Grã-Bretanha, Prússia e Suécia) aqui derrotada, mas infligindo grandes baixas a Napoleão, nas quais se contabilizam cerca de 300 praças portuguesas e três ou quatro oficiais. Nesta grande batalha, em ordem do dia, Napoleão, dirigindo-se à Legião Portuguesa agradece-lhe nos seguintes termos: «Estou contente convosco, uma parte da vitória de Wagram vos é devida
Na sequência desta grande vitória, recompensou a Legião Portuguesa com inúmeras promoções, assim como com a atribuição das insígnias da Legião de Honra que foram dadas a vários oficiais e soldados portugueses.
A 23-VIII-1810, dez oficiais da Legião Portuguesa, após uma revista passada na Place du Carrousel em Paris, também recebiam da mão de Napoleão a Legião de Honra. 
Ao todo, segundo parece, a Campanha da Alemanha, saldou-se por cerca de 500 vítimas, nada comparado com a posterior Campanha da Rússia (Artur, 2003: 23-30).
 
Campanha da Rússia (1812)
Napoleão reuniu um exército de aproximadamente meio milhão de homens e empreendeu a invasão da Rússia em Junho de 1812. As tropas do Czar adoptaram a táctica de "terra queimada", evitando o confronto directo com os invasores e destruindo povoados e colheitas ante o avanço francês.
Campanha da Rússia
Autor: Adolphe Yvon (1817-1893)
Os cerca de 5.000 portugueses que invadiram a Rússia, integrados em quatro regimentos da Legião Portuguesa, viriam a distinguir-se pela sua bravura em várias das sangrentas batalhas que travaram, a despeito das grandes privações aí passadas e do grande número de baixas, tanto a nível dos oficiais como de praças.
O primeiro e mais sangrento recontro da Legião Portuguesa com as tropas russas foi a Batalha de Lubino e a tomada de Smolensk (19-VIII-1812), na rota de Napoleão em direcção a Moscovo. Aqui o sucesso bafejou os Franceses, apesar de retardar a sua progressão, porém com grande morticínio para as fileiras portuguesas que sofreram pesadas perdas: dois mil homens, entre mortos e feridos, tendo 80 dos sobreviventes recebido a Legião de Honra das mão do próprio Imperador, logo a seguir à batalha. Esta e outras vitórias não impediram o fracasso de Napoleão, cujos soldados viriam a ser vencidos pela fome e pelo frio inclemente do Inverno russo.
Este fracasso levaria à extinção do pouco que restava da Legião Portuguesa.
Em 1813, após a dissolução deste corpo do exército português ao serviço de Napoleão, só cerca de um milhar dos seus efectivos regressou a Portugal. Muitos das baixas nos diversos cenários de guerra, ficaram a dever-se ao frio e à fome – chegaram a devorar os próprios cavalos para escapar à fome... Muitos dos sobreviventes acabaram por se fixar em terras estrangeiras, ou optaram por continuar a servir no exército francês.
«A Legião Portuguesa a não ser pelos oficiais já quase não existia; segundo Ferreira de Mesquita, os quatro regimentos tinham levado para a Rússia proximamente cinco mil homens, dos quais voltaram a França apenas uns cem. Uns duzentos espalhados pelos hospitais da Rússia e da Alemanha, uns quatrocentos e cinquenta que tinham ficado nos depósitos, por incapazes de serviço em campanha, era quanto restava da Legião Portuguesa que se compunha ao sair do reino de perto de nove mil homens, aos quais se tinham juntado depois catorze mil prisioneiros espanhóis
O quadro de miséria e o sofrimento inimaginável dos sobreviventes, perseguidos pelo exército russo, na sua retirada em direcção França, é pungente:
«Andrajosos, ébrios, imundos, sem obedecer a nenhuma ordem, a nenhuma disciplina, roubando, destruindo, esvaziando todas as bebidas alcoólicas que encontravam, soldados, e até oficiais, chegaram em deplorável estado às fronteiras da Polónia. Aqueles a quem a miséria não alterara ainda os nobres sentimentos humanos esforçavam-se por dar alguns remédios a estes males. Que triste e melancólico aspecto oferecia a multidão de homens, quase todos desarmados, cobertos de rotas e queimadas vestes, com os pés envolvidos em trapos e de tal modo feridos que só a custo e apoiados marchavam, com as barbas e bigodes carregados de neve, enegrecidos pelo fumo dos bivaques, pareciam mais espectros que homens (Artur, 2003: 58-102).  
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Bibliografia:

ARTUR, Ribeiro (1901), “Legião Portugueza ao serviço de Napoleão”. Lisboa: Livraria Ferin.
BAENA, Sanches de (1872), "Archivo Heráldico-Genealógico". Vol. I e II. Lisboa.
BORREGO, Nuno Gonçalo Pereira (2003), "Cartas de Brasão de Armas, Colectânea". Lisboa: Guarda-Mor.
 CUNHA, José Germano da (1892), “Apontamentos para a história do Concelho do Fundão”. Lisboa: Tipografia Minerva Central.
MACHADO, José de Sousa (1906), “Brasões Inéditos”. Braga, «A Folha do Minho».
RAMOS, Sebastião Caldeira (1999). ”Memórias da Capinha”.
SILVA, Joaquim Candeias da; CASTELO BRANCO, Manuel da Silva (1999), “A Beira Baixa na Expansão Ultramarina”. Belmonte: Câmara Municipal de Belmonte.
SORIANO, Luz (1866), “História da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal …” Lisboa: Imprensa Nacional.



Notas:


[1]  Ainda há bem pouco tempo, a designação desta aldeia era grafada com o nome de «Peroviseu».

[2]  O nome ALMOINHA derivou de «almuinha» que provem do árabe «al-munia» com o significado de herdade, casal, horta.

[3]  António Lino (1914-1961) começou por seguir o revivalismo-nacionalista de seu tio, o arquitecto Raul Lino (1879-1974), e mais tarde foi autor de dois projectos de tendência modernista: o gigantesco pórtico do Monumento ao Cristo-Rei em Almada (1948-1959), e a Igreja de São João de Deus na Praça de Londres (1951-53) em Lisboa.

[4]  D. MANUEL DE VASCONCELOS E SOUSA (1910-1978) descendia de uma antiga cepa genealógicas com origem na Torre de Vasconcelos e em D. Pedro Martins da Torre (n. 1160). Estes Vasconcelos deram destacados servidores públicos, diplomatas e militares, assim como foram alcaides e senhores de muitas terras nas Beiras. Só pela linha varonil, descendia dos condes e dos marqueses de Castelo Melhor, dos condes da Calheta, assim como dos marqueses de Niza.

[5] A CAPINHA é uma freguesia do concelho de Fundão, que pega com a freguesia de Pêro Viseu, e fica localizada no centro do triângulo geográfico definido pelas cidades do Fundão e Covilhã, e pela vila de Penamacor.

[6] FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (f. 1773) e D. TERESA LUÍSA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA (1709-1774), além da mencionada filha D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), tiveram ainda: 1. – António (n. 1740), nasc. a 16-VII-1740; 2. – Francisco Salvador Taborda de Negreiros (1741-1777), nasc. a 23.XI-1741, falec. a 12-VIII-1777, que casou a 18-V-1774 com D. Vitória Joaquina Taborda de Negreiros, filha de Diogo Ferreira Taborda, que viveu no Brasil, e de D. Luísa Taborda, de Abrantes, e que casou em segundas núpcias a 28-III-1778 com Manuel José Soares; 3. – José (n. 1743), nasc. a 6-IV-1743; 4. – D. Joana Gertrudes Taborda Ricacho de Oliveira (n. 1747), nasc. a 6-IV-1747, que casou com José Joaquim Taborda de Negreiros (n. 1727), nasc. a 7-IV-1727, filho de Tomé Rodrigues Taborda e de D. Maria Luísa Ricacho.

[7]  O facto de haver vários homónimos nesta família ao longo de várias gerações, os quais casaram repetidas vezes, presta-se a algumas incorrecções genealógica, as quais pretendemos eliminar, tanto quanto nos foi possível.

[8]  ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 38, doc. 917.

[9]  Loc. cit.

[10] Este António Mendes de Castelo Branco (b. 1627), era irmão de D. Águeda Mendes, casada com André Mendes, e tiveram mais um António Mendes Castelo Branco (c. 1696), que foi também familiar do Santo Ofício por carta de 18-V-1696 (ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 28, doc. 758).

[11]  ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv. 21, f. 94v.

[12] Tinha diversas propriedades e duas casas onde vivia na Rua Direita na Capinha, das quais pagava foro à Abadia em 1641: «# Paga mais o mesmo Antº Mendes de Castel Branco / das casas em q vive três quartas de trigo por / prazo f. a D.ºs Mendes no anno de 1641. # Paga mais o mesmo do cham de fronte da es / talage mº alq. de centeo. Pello mesmo pra / so atrás feito a D.ºs Mendes no anno de 1641 (…) paga da / tapada quatrocentos e vinte rs. Por pra / so feito a D.ºs Mendes na Estrella pello t.ªm / M.el Ribr.º no anno de 1641», como consta do «Foral do Real Colégio de S. Bernardo e da sua Abadia da Estrela. Feito em 1680 por Frei Benedito de S. Bernardo» (pp. 542v., 543v. e 547v.). – O pequeno e antiquíssimo Mosteiro de Santa Maria da Estrela da Ordem de Cister, ou da Nave da Estrela de Boidobra, desapareceu no fim do século XVI e as suas rendas foram dotar o Colégio de São Bernardo de Coimbra. Em sua memória apenas resta uma capela que substituiu a original: é Nossa Senhora da Estrela, junto à Quinta da Abadia, na freguesia da Boidobra, Covilhã.

[13] ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (b. 1627) foi casado em primeiras núpcias com D. MARIA GOUVEIA DE PINA, da Covilhã, a qual era filha de Sebastião de Gouveia Pina e de D. Brites Teixeira; neta paterna de António Gouveia e de D. Isabel Mendes; e neta materna de Francisco Caldeira e de D. Isabel Teixeira, todos naturais da Covilhã (ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 11, doc. 415).

[14]  A primeira Casa do Adro da Capinha, datada de tempos imemoriais, foi reedificada em 1673, e deu lugar à actual que está datada do segundo quartel do século XX. Por documentos, ficamos a saber que no reinado de D. Sancho II (1223-1248) o mosteiro de maceira tomou a João Pais do Sabugal a aldeia de Capinha, em cuja posse devia andar nos finais do século XII, princípios de século XIII (Inquirições de D. Dinis, Livro 9: 33-35).

[15] ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 38, doc. 917.

[16]  Nenhum dele cumpriu a pena por se encontrarem fora do país, e acabarem amnistiados com a justificação de terem sido «julgados à revelia, logo impossibilitados de se defenderem com prescreve o direito natural» (decreto de 9-II-1821), à excepção de João Mascarenhas Neto, que se encontrava em Portugal e foi garrotado na praça do Cais de Sodré.