2020-11-30

Casa dos AFRA VASCONCELOS VILAS-BOAS (séc. XIX), Vale de Prazeres, Fundão.

  

Vale Prazeres, Casa dos Afra Vasconcelos
Fundão, Vale de Prazeres,
Casa dos Afra Vasconcelos Vilas-Boas / Cartulho

Este proeminente edifício residencial de Vale de Prazeres – Rua Direita, n.º 21 –, armoriado ao centro da cimalha da fachada principal, terá sido edificado em meados do século XIX pela família AFRA VASCONCELOS VILAS-BOAS[1], aqui estabelecida por um casamento que ligou os VILAS-BOAS, uma família aristocrática vinda de fora, aos TABORDA,  uma antiga estirpe implantada nesta região há alguns séculos, a qual, segundo alguns genealogistas teria origem em Álvaro Gonçalves Taborda de Negreiros (n. 1470)[2], tronco da família Taborda de Vale de Prazeres, da qual saíram vários elementos que floresceram nas Letras e nas Armas e espalharam as suas vergônteas por toda esta região onde se cruzaram com a maioria das casas nobres que por aqui proliferaram[3].

Parte do património herdado por estes Taborda, pertenceria inicialmente à mesma família do grande solar quase contíguo dos Taborda / Pinto Castelo-Branco (Quinta da Porta), ricos e abastados latifundiários desta região, cujo património contribuiu para o engrandecimento da Casa dos Vilas-Boas.

Esta casa de planta rectangular simples com uma cobertura de quatro águas, pela sua volumetria contrasta com a maior parte do sóbrio e modesto casario predominante nesta aldeia à época da sua edificação.

Apresenta uma fachada fronteira de rigorosa simetria, flanqueada por cunhais e rematada em cornija; com três panos de parede simétricos e delimitados por pilastras de reforço parcialmente salientes. Tem dois pisos – o piso térreo e o andar nobre – separados por um friso de cantaria. 

No piso térreo, percorrido por um pequeno embasamento de cantaria, rasgam-se três portas. O portal principal, ao centro, está ladeado por duas janelas de seteira para entrada de luz; os outros dois, simétricos, dão acesso a arrumos térreos, ladeados por duas janelas de peitoril com molduras simples de verga curva em granito, com gradeamentos de ferro forjado. 
O andar nobre ostenta nove vãos de janelas de sacada – três por cada pano de parede. Ao longo dos três vãos centrais há uma varanda corrida em granito, à qual acrescem outras duas em ambos os extremos da fachada, com as respectivas guardas em ferro forjado. Todos estes vãos exibem molduras simples de cantaria, com as respectivas vergas em arco ogival.

Ao correr da rua, á direita da fachada principal, apresenta um edifício de dois pisos, o térreo com um amplo portal, provavelmente destinado a actividades relacionadas com a agricultura, e o primeiro andar certamente destinado à habitação de criados da casa; assim como à esquerda tem um grande portão entre duas altas colunas encimadas por pináculos, o qual dá acesso a um jardim e respectiva quinta murada de apreciável dimensão.



Pedra de Armas
de Francisco Afra de Sousa Vasconcelos (n. 1863).
Vale de Prazeres, Pedra de armas da Casa dos
Afra Vasconcelos Vilas-Boas. 

A pequena pedra de armas, com um escudo inglês[4], foi deixado na fachada da casa pela família fundadora quando esta a alienou, já na primeira metade do século XX.

A complexidade das partições deste escudo, sobrecarregadas de peças heráldicas por vezes mal representadas, leva-nos a presumir serem estas armas assumidas, ao gosto do seu destinatário – um VILAS-BOAS que neste caso terá sido o Dr. FRANCISCO AFRA DE SOUSA VASCONCELOS (n. 1863)[5].

Porém, é grande o seu poder evocativo e a exibição simbólica desta pedra em relação ao passado desta família que, deste modo, procura ser memorada pelos vindouros. 

Não fosse a sua existência, não teria sido possível reconstituir a história familiar destes Afra Vilas-Boas, há mais de um século desaparecidos desta aldeia e hoje quase totalmente esquecidos pela população local, com excepção de um ou outro descendente dos seus antigos servidores que nos testemunharam a erosão económica desta Casa às mãos dos seus últimos detentores – Francisco Afra de Sousa Vasconcelos e sua mulher D. Maria da Luz Pimentel Osório de Vilhena.

Através deste emblema heráldico, recuperamos parte do passado desta Casa e redescobrimos algumas gerações que se cruzaram com acontecimentos da história nacional, nomeadamente com a  gesta de Olivença e a sua perda para os espanhóis em 1801.

Neste escudo estão patentes os ancestrais desta Casa, a qual nos finais do século XIX representa um mundo de valores já condenado ao desaparecimento, mas que deste modo ainda teima em alardear a sua grandeza passada.

Era uma família terratenente cuja riqueza, à semelhança das grandes casas desta região, se alicerçava em latifúndios apostados na produção pecuária, no vinho e no azeite, produtos estes que aqui eram de muito boa qualidade.

Geograficamente eram gente com origem o Minho e no Alentejo, e muitos foram militares de carreira, alguns deles apoiantes da causa tradicionalista, bem relacionados e aparentados com a sociedade mais conservadora da Beiras.

Este escudo de armas foi aí colocado em data posterior à edificação da casa cujo projecto inicial não teria previsto a sua localização, pelo que acabou num local inusitado com má visibilidade ao nível da rua, até pela sua reduzida dimensão.

Na época em que aí foi encaixado, no final dno último quartel do século XX, já grande parte da nobreza tradicional mandava apear ou picar a escopro e martelo as pedras de armas que tinha nas fachadas dos seus prédios. Deste modo pretendiam eximir-se à tributação que lhes foi imposta, sujeitando a nobreza a uma humilhante «Collecta Sumptuária» de 12$000 réis por ano[6], sofregamente imposta pelo governo de Fontes Pereira de Melo (1819-1887) que se viu forçado a aumentar a carga fiscal para financiar o seu ambicioso programa de obras públicas.

Esta colecta, pelo seu alvo, era considerada uma espécie de velhacaria fiscal contra a nobreza, acabando por incidir sobre bens/objectos não rendíveis que ostentassem um brasão de família. Desta rapina tributária, que originou várias contestações em tribunal, não escapariam «nem quadros, talheres, porcelanas, reposteiros, cadeiras, xairéis»[7].

Deste modo, a Lei de 9-Maio-1872 foi a responsável pelo desaparecimento de grande parte destas pedras de armas, algumas delas conferindo grande valor estético aos pórticos das fachadas onde estavam encastradas.

Como consequência, muitos destes pequenos monumentos heráldicos foram destruídos ou resguardados dos olhares alheios nos fundos e nos logradouros das respectivas casas – dos quais ainda hoje sobram alguns exemplares preservados nas reservas de diversos museus[8].

No dizer mordaz de Ramalho Ortigão (1836-1915), o grande defensor dos monumentos nacionais, «Deitar agora abaixo esses padrões sagrados, pela razão de que eles se recusam a render para o Estado 12$000 réis por ano, não é de portugueses nem é de homens do povoado; é de bestas feras, sem toca e sem ninho, errantes, à ventura, na mudez do deserto[9]

Terá também sido este o entendimento dos Vilas-Boas, uma família conservadora que orgulhosamente contraria esta bárbara tendência, arcando com a despesa fiscal de continuar a ostentar na fachada da sua casa o seu emblema heráldico, para que os vindouros não perdessem a sua memória.

Quanto aos erros existentes neste emblema de família, nomeadamente pela falta de espaço no 2.º quartel, estes não desmerecem o hábil trabalho do mestre canteiro que o concretizou.

Caso pouco comum por estas paragens, os esmaltes e as cores dos campos e das peças que figuram neste brasão, obedecem às regras e convenções de representação gráfica pelo sistema de pontos e linhas[10]. 

Vale de Prazeres, Pedra de Armas da Casa
dos Afra Vasconcelos Vilas-Boas (partições)

Descrição heráldica:

Escudo inglês, partido, composto de 9 partes.

O I do partido. Esquartelado de: 1.º – FONSECA (mal representado) [1], 2.º – CARVALHO [2], 3.º – LENCASTRE (mal representado) [3], 4.º – SOUSA DO PRADO [4].

O II do partido. Cortado de: o 1.º do cortado, esquartelado de a) – dimidiado de VILAS-BOAS e MELO[11] (mal representadas) [5]; b) e d) – dimidiado de NORONHA [6] e [8]; c – dimidiado de VASCONCELOS, e PAIVA (?) (mal representadas) [7], o 2.º do cortado de TOVAR[12] [9].

Elmo de viseira perfilado, virol, e coronel de nobreza. Timbre de Vila Boa que é um dragão sainte com uma palma na boca.




             O I do partido apresenta no 1.º quartel as armas de FONSECA, com um erro no n.º de raios
             das estrelas. Os Fonseca usavam 5 estrelas de 7 raios de vermelho, e não as 5 estrelas de 5
             raios aqui exibidas que competiam à família Coutinho, um erro recorrente, talvez pela difi-
             culdade da representação de um maior número de raios. 
Nesta família houve um ramo dos COUTINHO, por via de D. MARIA SOARES COUTINHO que foi casada com seu primo Pedro Soares de Almeida Vilhegas de Noronha e Vila Boa (1680-1735), cuja descendência deixou de usar este apelido.

Quanto à possibilidade de ser FONSECA, que se afigura a mais consistente, temos vários nesta família sendo um deles, o mais próximo, RAIMUNDO JOSÉ PIMENTEL DE MESQUITA SOUSA CARVALHO FARIA DA FONSECA (c. 1812), o qual teve carta de brasão de armas a 11-V-1812, e foi casado com D. Florência Violante Cardoso Osório. Estes últimos foram os bisavós paternos de FRANCISCO AFRA DE SOUSA VASCONCELOS (n. 1863), o presumível autor/destinatário da pedra de armas em apreço, o qual foi casado com sua prima direita D. MARIA DA LUZ PIMENTEL OSÓRIO DE VILHENA (1855-1939), natural de Pêro Viseu, Fundão, herdeira de bens fundiários do extinto morgadio da Peroviseu, tanto em Peroviseu como em Vale de Prazeres, no conselho do Fundão.

Não se conhece nenhuma Cartas de Brasão referente a estas armas. Porém, tivemos acesso a três reproduções de selos de lacre, um de anel e dois sinetes, os quais estiveram em uso nesta casa e, apesar de quase ininteligíveis, podemos observar algumas variantes deste brasão: duas delas aparentemente com as armas dos ALMEIDA no 3.º quartel, as quais competiam a esta família. Estes carregavam ao centro um sobrescudo com umas armas plenas, as quais não conseguimos decifração, mas se afiguram vagamente com sendo dos ALMEIDA.

Estas são armas assumidas de FRANCISCO AFRA DE SOUSA VASCONCELOS (n. 1863), como veremos mais abaixo. 

VILAS-BOAS
Com este apelido houve várias famílias de origens distintas. Destes, os mais antigos e relevantes procedem de João Annes de Villasboas que foi senhor da Torre de Airó, na freguesia de São Jorge de Airó, concelho de Barcelos, o qual serviu o rei D. Diniz (1270-1325).

Porém, os Vilas-Boas de Vale de Prazeres descendem do Mestre em Artes MANUEL DE VILA-BOA (f. 1546)[13], cujos progenitores desconhecemos.

Este foi cavaleiro fidalgo por mercê do rei D. João III (1502-1557), morador em Beja onde terá falecido a 21-VI-1546, ao qual este rei, devido aos serviços prestados, lhe deu por solar a aldeia de Vila Boa no termo de Beja, concedendo-lhe o uso do apelido e de armas novas. Foi antepassado confirmado desta família de Vale de Prazeres[14], tendo casado com D. FRANCISCA SUAREZ DE TOLEDO VILLEGAS, com a sua provável origem na nobreza espanhola[15].

Um dos Vilas-Boas mais recentes, origem próximo dos de Vale de Prazeres, foi o major FRANCISCO AFRA DE VILAS-BOAS SOARES ANGEL DE ELVAS CORONEL DE ALMEIDA NORONHA (1788-1850)[16], nascido a 24-V-1788 e baptizado a 31-V do mesmo ano na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção em Olivença, cidade ainda sob o domínio português mas que veio a ser anexada por Espanha em 1801.

Olivença, Regimento de Cavalaria / Dragões de Olivença.
Este era o primogénito de uma prole de seis filhos que nasceram do matrimónio de JOÃO JOSÉ DE VASCONCELOS SOARES DE ALMEIDA NORONHA ANGEL DE ELVAS CORONEL (1740-1813) – ou João José de Vasconcelos Vila Boa, como abreviadamente assinou o seu testamento –, capitão de cavalos do Regimento de Cavalaria de Olivença[17], tendo passado posteriormente à patente de tenente-coronel com a qual foi comandante interino do Regimento de Cavalaria de Olivença (Dragões de Olivença), e ainda sargento-mor desta cidade (1797). Quando as tropas portuguesas foram forçadas a abandonar praça de Olivença (1801) às mãos dos ocupantes espanhóis, passou ao Regimento de Cavalaria de Moura (1802).  

Nasceu a 8-II-1740 e foi baptizado a 30-III do mesmo ano na freguesia da Senhora da Encarnação em Lisboa.
Fez testamento a 9-XII-1797, quando era morador na Rua do Espírito Santo – actual Calle Espíritu Santo em Olivença[18] –, acautelando as consequências funestas da guerra que se avizinhava, da qual como militar poderia ser vítima em virtude da concentração de tropas espanholas junto à fronteira dispostas a invadir Portugal[19]. Acabou por falecer anos depois a 8-X-1813 em Santa Maria de Alcáçova, Elvas, em cuja igreja recebeu sepultura.

Olivença
Quando ainda era capitão do Regimento de Cavalaria de Olivença, contraiu as suas primeiras núpcias a 2-VII-1787 na Igreja de São Brás – filial da igreja matriz de Nossa Senhora da Assunção de Olivença –, nas segundas núpcias de D. ANA FRANCISCA XAVIER DA GAMA LOBO (c. 1787), viúva, a qual para este enlace passou uma procuração a António Luís Marçal Cary[20], natural de Olivença, “recebendo depois ambos os contrahentes as bênçãos nupciaes, por não as ter recebido ella contrahente no primeiro matrimónio”, tendo por testemunhas os reverendos Vicente Inácio Lobo, mestre de capela que fora organista da Sé de Elvas em 1771, e José Joaquim Ferreira.

Teve vários irmãos falecidos prematuramente[21], incluindo o primogénito Tomás Mariano Gonçalo Xavier que morreu menino, herdeiro do vínculo de sua mãe, o qual englobava um padrão de juro real e foi instituído em 11-XII-1606 “por Lopo Duarte e sua mulher Joana Veiga[22].
Um dos seus irmãos, também falecido prematuramente, foi Cristóvão José de Noronha (f. 1772), cadete e porta-estandarte do Regimento de Cavalaria de Évora, tendo passado ao Regimento de Cavalaria de Moura, o qual veio a falecer a 12-II-1772 solteiro, sem filhos, no então Convento e Real Hospital Militar de São João de Deus em Estremoz.


As dramáticas primeiras núpcias de
D. Ana Francisca Xavier da Gama Lobo (c. 1787)
com o marechal-de-campo escocês baronet Sir William Sharp (1729-1780).

As primeiras núpcias de sua mulher D. ANA FRANCISCA XAVIER DA GAMA LOBO (c. 1787), uma senhora pertencente à antiga elite oliventina, foram envoltas em grande discrição para evitar um grande escândalo.

Armas da Família Sharp
(Escócia)
Certamente ainda muito nova foi coagida a casar-se à pressa a 11-II-1777 com o autor da sua indesejada gravidez, o escocês marechal-de-campo baronet Sir William Sharp (1729-1780) – nos registos militares portugueses dado como Guilherme – a mais alta autoridade militar de Olivença, então com 48 anos de idade e da religião protestante, o qual foi “dispensado para contrair o dito matrimónio pelo Ex.mo e Ill.mo Snr. Nuncio Apostólico”, numa cerimónia muito reservada que foi celebrada no oratório da casa dos pais da noiva, tendo por padrinhos D. Duarte da Silva Lobo[23], e o capitão Brás Freire de Brito, ambos tios da nubente, e ainda Joaquim José de Lavre[24].

Cerca de um mês depois deste matrimónio celebrado pelo reitor da igreja paroquial de Santa Maria Madalena, D. Ana Francisca trouxe ao mundo uma filha de nome DOMINGAS SHARP (1777-1780) nascida a 6-III-1777 na freguesia de Santa Maria Madalena em Olivença, tendo sido discretamente baptizada a 17-III do mesmo ano no oratório da casa de seu avô o então tenente-coronel do 2.º Regimento de Olivença D. Francisco Xavier da Silva Lobo, vindo a falecer poucos anos depois em 1780.

Este casal nunca terá coabitado, assim como William Sharp nunca terá mencionado a existência da sua companheira escocesa MARGARET BETHUME[25], da qual, numa situação semelhante à ocorrida em Olivença, também teve um filho que nunca conheceu: foi este SIR ALEXANDER BETHUNE (1771-1847), de jure 7.º baronet, nascido a 20-VIII-1771 em Saint Andrews, Fife, Scotland, que seguiu a carreira militar onde alcançou a patente de general.

Olivença
Como resultado desta última aventura sentimental inapropriada aos olhos da conservadora elite oliventina da época, apesar de sua elevada reputação militar e da protecção que sabemos lhe era conferida pelo marquês de Pombal, Sharp perdeu todos os cargos que ocupava nesta agradável vila alentejana, sendo então enviado para longe de Olivença, a vila onde tinha decorrido a maior parte da sua vida em Portugal.

Para o seu “desterro” dourado, foi-lhe destinado o longínquo Norte de Portugal numa irrecusável promoção ao cargo de Governador das Armas da Província do Minho (1777), cujo Estado-Maior estaria sediado no Forte de Santiago da Barra em Viana do Castelo.

Cerca de dois anos depois deste casamento e da sua ida para o Minho, mudança esta que não seria do seu agrado, alegando problemas de saúde obteve uma licença para retornar a Londres onde faleceu a 13-III-1780 numa pensão na zona de St. Marylebone, sozinho e abandonado, nada deixando, senão dividas[26].  

MARGARET, a sua anterior companheira da elite escocesa, e o seu filho Alexandre, ao saberem dos acontecimentos em Portugal, repudiaram o apelido SHARP, voltando a usar o aristocrático apelido escocês de BETHUNE.

D. ANA FRANCISCA XAVIER DA GAMA LOBO (c. 1787), descendente da antiga família Gama Lobo de Olivença[27], agora viúva do marechal-de-campo o baronet Sir William Sharp (1729-1780)[28], que fora governador militar de Olivença (1762) e Brigadeiro de Infantaria (1764) sob as ordens do marechal-general conde de Lippe, então comandante do Exército Português[29], voltaria a refazer a sua vida com um casamento em segundas núpcias feito cerca de dez anos depois, do qual nasceram cinco filhos.

Olivença, Igreja de Santa Maria Madalena.

Esta senhora, natural da freguesia de Santa Maria Madalena em Olivença, a 21-VIII-1816, juntamente com os filhos sobrevivos do seu segundo matrimónio[30], habilitou-se a um padrão de juro real que era pago pelo almoxarifado do Porto, o qual andava unido ao vínculo que administrava[31].

JOÃO JOSÉ, o seu segundo marido, era neto paterno do bacharel FRANCISCO CAETANO DE VASCONCELOS E LUGO (c. 1730)[32], escrivão da Câmara de Ponta do Sol na ilha Madeira[33], baptizado na Santa Sé do Funchal, e posteriormente morador na freguesia da Encarnação em Lisboa onde casou a 9-III-1733 na Igreja de Nossa Senhora do Socorro com D. INÊS MARIA DE NORONHA ANGEL DE ELVAS CORONEL (f. 1787), natural da freguesia de São Cristóvão em Lisboa, falecida a 14-V-1787 na cidade de Beja.

Olivença
Sua mulher era filha de Pedro Soares de Almeida Vilhegas de Noronha e Vila Boa (1680-1735)[34], e de sua mulher e prima D. Maria Soares Coutinho[35]; e neto materno de D. FRANCISCO XAVIER DA SILVA LOBO DE GONGORA (n. 1706)[36], descendente “dos verdadeiros Lobos de Olivença”[37], senhor do morgado de Malpique (São Bento do Ameixial, Estremoz?), baptizado a 23-VIII-1706 na freguesia de Santa Maria Madalena em Olivença, coronel de Infantaria de Olivença, o qual fez diligência de habilitação para a Ordem de Cristo (iniciada a 13-VIII-1744)[38], obtendo mil réis de tença.

Segundo Frei ANTÓNIO ROUSADO (n. 1691), grande genealogista do seu tempo[39], e uma das várias testemunhas no processo de D. FRANCISCO XAVIER para a Ordem de Cristo a 4-II-1746, certificou a ilustre ascendência da linha varonil do requerente, dos quais destacou dois antepassados: D. Pedro Pais Lobo (c. 1230), senhor das Terras de Basto em tempo do rei D. Sancho II (1209-1248), e o 1.º deste apelido; e o seu descendente por varonia Gonçalo Roiz Lobo, alcaide-mor de Olivença que serviu o rei D. João I (1357-1433) o Mestre de Avis.


D. FRANCISCO XAVIER casou com D. CLARA EUGÉNIA LUÍSA FREIRE DE BRITO, natural da freguesia de São João Baptista de Castelo de Vide em Portalegre; filha do brigadeiro de Infantaria e governador de Olivença Manuel Freire de Brito (c. 1695)[40], natural de Atouguia, o qual obteve várias tenças e o hábito da Ordem de Cristo (1718)[41], e foi casado a 12-IV-1719 na freguesia de São Lourenço em Portalegre com D. Teresa Maria da Fonseca Ferreira, natural de Castelo de Vide.

Olivença.
FRANCISCO AFRA (1788-1850), então capitão do Regimento de Cavalaria n.º 5 de Olivença onde era morador, casou a 21-VI-1820 no oratório da casa do barão Castelo Novo, na então vila do mesmo nome, no concelho do Fundão, com D. ANA EMÍLIA TABORDA RICACHO DE OLIVEIRA, (n. 1783)[42], que no baptismo e no casamento era “Ana da Circuncisão”, nome que não usava na vida social por não ser do seu agrado, nascida a 21-XII-1783 e baptizada a 11-I-1784 em Vale de Prazeres. Para este casamento passou procuração a Pedro de Ordaz Caldeira Valadares (filho do 2.º barão de Castelo Novo?), tendo por testemunhas o barão de Castelo Novo[43], e Fernando Afonso Giraldes Tudela de Castilho[44], e ainda o padre João Baptista Marques da Silva que era capelão do Regimento de Cavalaria n.º 5. Tudo isto, segundo consta por um assento de casamento existente no «Livro de Casamentos de Vale de Prazeres (1803-1858)» (p. 48v.), o qual foi aí lançado pelo padre Manuel Mendes de Andrade, 18 anos depois e por despacho do Ex.mo Governador do Bispado datado de 6-VII-1838.  

Vale de Prazeres, Solar Taborda /
Pinto Castelo Branco (Qta. da Porta)
D. ANA EMÍLIA, a nubente, descendia por seus pais da até então principal grande casa de Vale de Prazeres – o solar dos TABORDA / PINTO CASTELO BRANCO, Quinta da Porta –, pois era filha de José Joaquim Taborda de Negreiros [Geraldes] (1727-1789)[45], sargento-mor e durante muitos anos vereador municipal de Alpedrinha, tal como seu pai e seu sogro (ainda servia em 1787), nascido a 6-IV-1727 em Vale de Prazeres[46], Fundão, onde veio a casar a 20-VI-1774 com sua mulher e parente D. Joana Gertrudes Taborda Ricacho de Oliveira (n. 1747)[47], nascida a 6-IV-1747 e baptizada a 16-IV do mesmo ano em Vale de Prazeres, apadrinhada pelo Dr. João de Proença e por sua mulher D. Francisca Taborda da então vila de Penamacor, residente no Solar [Taborda] Pinto Castelo Branco / Quinta da Porta.

D. ANA EMÍLIA era neta paterna de um Tomé Rodrigues Taborda (n.1688), do qual houve vários homónimos, nascido a 18-X-1688 em Vale de Prazeres, Fundão, cavaleiro professo da Ordem de Cristo[48], casado a 15-II-1707 com D. Maria Luísa Ricacho Taborda de Oliveira (n. 1695)[49] nascida a 13-VII-1695 em Vale de Prazeres[50].

Fundão, Vale de Prazeres
D. Maria Luísa (n. 1695) era filha de LEÃO RODRIGUES CINZA (1636-1696)[51], natural de Alpedrinha, senhor da Quinta da Conceição e da respectiva Capela, no Monte da Touca junto a Alpedrinha[52], o qual casou a 21-IV-1695 na matriz de Idanha-a-Nova nas suas primeiras núpcias com D. Ana Pórcia de Oliveira Ricacho (1667-1727)[53], natural de Idanha-a-Nova, tendo por testemunhas o reverendo vigário de Alpedrinha e o seu capitão-mor Manuel Álvares Rico, assim como Domingos Giraldes Ricacho de Idanha-a-Nova.

Vale de Prazeres, Monte da Touca.
D. ANA EMÍLIA era neta materna do capitão Francisco Salvador Taborda Xavier (1700-1773)[54], nascido a 2-IX-1700 em de Penamacor, e falecido a 3-X-1773 com testamento em Vale de Prazeres[55], localidade onde casou a 7-VI-1739 nas suas primeiras núpcias com D. Teresa Luísa Ricacho Taborda Oliveira (1709-1775)[56], nascida a 2-III-1709 em Vale de Prazeres onde também faleceu a 2-IV-1775, já viúva, com testamento[57]. Ambos foram sepultados na antiga Igreja de São Bartolomeu de Vale de Prazeres, onde a família Taborda, juntamente com os seus parentes Sarfana, tinham sepultura própria na capela-mor (?) com privilégio de aí serem sepultados[58].

FRANCISCO SALVADOR era filho do sargento-mor Cristóvão Leitão Taborda (n. 1670) nascido em 1670 em Vale de Prazeres, “com dispensa em 4.º grau de consanguinidade” para casar a 20-VII-1695 em Penamacor com D. Isabel Taborda Botelho (n. 1776) nascida em 1676 em Penamacor.

D. TERESA LUÍSA era filha de João Rodrigues Taborda (1660?-1729), sargento-mor das ordenanças de Castelo Novo e Alpedrinha, do qual houve homónimos, nascido em 1660 (?) em Vale de Prazeres, terra onde faleceu a 2-VIII-1729, e de sua mulher D. Maria Ricacho de Oliveira.

FRANCISCO AFRA (1788-1850) e D. ANA EMÍLIA TABORDA (n. 1783) tiveram dois filhos:

1.º − JOÃO AGOSTINHO VASCONCELOS VILAS BOAS (1823-1862), nascido a 28-VIII-1823 e baptizado ao 6-X do mesmo ano em Vale de Prazeres, freguesia onde faleceu prematuramente a 6-I-1862 na casa n.º 5 da Rua Direita, solteiro, e “não recebeu os Sacramentos próprios, porque a moléstia o não permitiu” – febre tifóide (?)[59]. Proprietário, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1842-1848), na qual obteve o grau de Bacharel em 20-X-1847, e a Formatura de 26-V-1848.

2.º − D. JOANA ASSUNÇÃO VASCONCELOS NORONHA VILAS BOAS (1825-1900), nascida a 20-IV-1825, foi baptizada a 12-V do mesmo ano em Vale de Prazeres, onde faleceu já viúva a 3-VI-1900 quando contava 75 anos de idade.
Foi a provável herdeira dos bens do irmão que incluíam a casa grande da Rua Direita em Vale de Prazeres, localidade onde casou em 1862 com CARLOS DE SOUSA PINTO ABREU CASTELO BRANCO PIMENTEL (1824-1894), aluno voluntário do 1.º ano (1845-1846) da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, proprietário, nascido a 13-XII-1824 na freguesia de São Tomé em Lisboa onde foi baptizado a 25-I-1815, tendo falecido em 1894 na sua casa da Rua Direita de Vale de Prazeres onde sempre residiu.

Seu marido era um dos cinco filhos de TOMÁS TEOTÓNIO DE SOUSA PIMENTEL (1792-1872)[60], nascido em 1792 na freguesia de São João Baptista de Lobrigos, Santa Marta de Penaguião, e falecido já viúvo a 12-X-1872 na Rua de Santo Agostinho na freguesia de Santa Maria da cidade da Covilhã, tendo sido sepultado no cemitério público desta cidade na então cerca do antigo Convento de São Francisco (hoje Jardim Público da Covilhã), o qual foi Major com honras de Brigadeiro como oficial do Estado-Maior do Rei D. Miguel, e governador militar da Covilhã[61], cidade onde se radicou pelo casamento com D. ANA GUILHERMINA PINTO CALDEIRA CASTELO BRANCO, natural da freguesia de Santa Maria, Covilhã, filha de Manuel Caldeira Castelo Branco (n. 1765) nascido em 1765 na freguesia de Santa Maria, Covilhã, casado a 6-VIII-1791 em Peraboa, Covilhã, com D. Maria Angélica Pereira de Lima Abreu Castelo Branco Taborda (n. 1791), natural da Capinha, Covilhã; neta materna de António Pereira Pinto de Figueiredo Castelo Branco (dos Castelo Branco de Loriga) e D. Ana Angélica de Oliveira Taborda (de Vale de Prazeres). 

Carlos de Sousa era neto paterno de RAIMUNDO JOSÉ PIMENTEL DE MESQUITA SOUSA CARVALHO FARIA DA FONSECA (c. 1812), que teve carta de brasão de armas a 11-V-1812, cujo teor desconhecemos[62], mas cujos apelidos SOUSA, FONSECA e CARVALHO, figuram no brasão da casa de Vale de Prazeres, o qual foi casado com D. Florência Violante Cardoso Osório. 

Deste último casal, Carlos de Sousa Pinto e Joana Assunção Vasconcelos, foi seu filho FRANCISCO AFRA DE SOUSA VASCONCELOS (n. 1863), nascido a 24-I-1863 em Vale de Prazeres, onde foi baptizado “em perigo de vida”, tendo recebido os Santos Óleos a 23-III do mesmo ano, apadrinhado por seu avô Tomás Teotónio, e pelo e filho deste o capitão Frederico de Sousa Pimentel (f. 1872)[63], natural de Penamacor, administrador do concelho do Fundão. Faleceu novo, em data que desconhecemos.

Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1885-1890) na qual se matriculou a 12-X-1885, obtendo o grau de Bacharel em14-VI-1889, e a Formatura em 27-VI-1890. Ainda vivia em Vale de Prazeres a 19-IX-1899, data em que requereu ao Governo Civil de Castelo Branco um passaporte para viajar para Espanha.

Uma vida desregrada, com gastos caprichosos, levou-o a delapidar grande parte da fortuna herdada o que contribuiu para a alienação desta sua casa e dos bens fundiários que detinha, tanto em Vale de Prazeres como em Pêro Viseu. Segundo a tradição local possuiu um dos primeiros automóveis de marca Richard que entrou em Portugal por terra.


                                              Pedra de Armas

Armas assumidas de
Francisco Afra de Sousa
Vasconcelos (n. 1863)
Terá sido da responsabilidade de FRANCISCO AFRA DE SOUSA VASCONCELOS (n. 1863) a colocação da sua pedra de armas assumidas na grande casa de Vale de Prazeres[64], cuja partição combina os costados que lhe vieram: quer pelo seu avô paterno Tomás Teotónio de Sousa Pimentel (f. 1872) – FONSECA, CARVALHO e SOUSA –, também ele avô de sua mulher e prima; quer pela parte do seu avô materno Francisco Afra de Vilas-Boas Soares Angel de Elvas Coronel de Almeida Noronha (1788-1850) – LENCASTRE (?), SOUSA de ARRONCHES, VILAS-BOAS, NORONHA, ALMEIDA, VASCONCELOS, COUTINHO e ANDRADE.

FRANCISCO AFRA, quando contava 24 anos de idade, casou a 14-IV-1887 com sua prima direita D. MARIA DA LUZ PIMENTEL OSÓRIO DE VILHENA (1855-1939) de 32 anos, nascida a 15-I-1855 e baptizada em casa por necessidade.

Foi este casal de primos direitos que pôs fim a esta grande casa, a qual estava na posse da família que a fundou.

D. MARIA DA LUZ (f. 1939), posteriormente à morte do seu marido terá abandonado a casa de Vale de Prazeres que então foi vendida, assim como a Quinta da Nora no Fundão, indo residir na freguesia de São Pedro da cidade da Covilhã onde faleceu a 6-VI-1939. Recebeu sepultura no jazigo de família no cemitério da freguesia de Pêro Viseu, terra de onde era natural e onde ainda lhe restava algum património com origem no moragdio de Peroviseu[65]

Pedra tumular de
D. Maria da Luz (f. 1939)

Pêro Viseu, Mausoléu da
Família Pimentel / Vilas Boas.
Este mausoléu, muito mais tarde foi doado pelos seus bisnetos para servir de capela deste campo-santo quando esta família se desfez de todos os bens que restavam nesta região, trasladando os restos mortais que ainda estavam no jazigo para a freguesia de Nelas onde parte dos seus descendentes estavam radicados. Talvez por esta altura D. Maria da Luz foi trasladada para o exterior do jazigo, sepultada sob uma pedra tumular com a inscrição «Maria da Luz Pimentel Osório de Vilhena, Faleceu 1-12-1939», a qual está situada no corredor central do cemitério, defronte deste jazigo[66].

D. MARIA DA LUZ, prima direita de seu marido, era filha do capitão Frederico de Sousa Pimentel (f. 1872), e de sua mulher D. Ana Augusta Pinto Tavares Osório, falecida em Pero Viseu (1908?), da família do mesmo nome que se estabeleceu na Capinha (Casa do Adro), em Vale de Prazeres (Solar Pinto Castelo Branco / Quinta da Porta), e em Pêro Viseu (Quinta do Crasto, e outras), nesta última freguesia com ligações aos morgados de Peroviseu[67].

Armas dos Morgados
da Peroviseu. Mesa
pintada da Casa de Vale
de Prazeres.

Os avós de ambos eram o major Tomás Teotónio de Sousa Pimentel (1792-1872), e sua mulher D. Ana Guilhermina Pinto Caldeira, residentes na Covilhã.

FRANCISCO AFRA (n. 1863) e D. MARIA DA LUZ (1855-1939) tiveram um filho:

ÁLVARO VASCONCELOS DE SOUSA PIMENTEL (1891-1937), nascido a 31-III-1891, falecido a 31-V-1937, casado com D. MARIA LUCRÉCIA FERREIRA ROSADO. Este casal já não chegou a habitar a casa grande de Vale de Prazeres, a qual, ao que sabemos, foi vendida, já Álvaro era adulto.

Tiveram geração (3):

1. – FREDERICO ROSADO DE SOUSA PIMENTEL (1923-1988), nascido a 24-V-1923 em Nelas, Viseu, casado a 19-IV-1952 em Alter-do-Chão com D. MARIA SOFIA CALDEIRA DE CASTEL-BRANCO DE TOVAR FARO (n. 1929) em São Sebastião da Pedreira, Lisboa. Tiveram geração que seguiu os apelidos PEIXOTO RODRIGUES, SOUSA PIMENTEL, e TRIGUEIROS ALVIM.

2. – D. MARIA CRISTINA ROSADO DE SOUSA PIMENTEL (n. 1930), casada com ÁLVARO CALHEIROS PONCES DE OLIVEIRA PIRES (1928-2000), nascido a 4-VI-1928 em Viseu, e falecido a 31-VII-2000 em Lisboa. Tiveram geração que seguiu os apelidos ARRIAGA, CALHEIROS PONCES, PINTO BASTO, e MAGALHÃES.

3. – MARIA LUCRÉCIA ROSADO DE SOUSA PIMENTEL (n. 1931), nascida a 10-VIII-1931 em Nelas, Viseu, casada com CARLOS JOSÉ DE MENDONÇA CABRAL PARREIRA DO AMARAL (n.1924). Tiveram geração que seguiu os apelidos PARREIRA DO AMARAL, e REBELO DE ANDRADE.

Família CARTULHO

A família fundadora desta casa, por dificuldades financeiras colocou-a à venda pelo que esta foi adquirida pela família CARTULHO já em plena República, no primeiro quartel de Novecentos. Os novos senhores da casa presumivelmente eram médios proprietários rurais estabelecidos há algumas gerações neta localidade.

Não conseguimos apurar a data exacta e os intervenientes desta transacção, a qual se terá efectuado quando esta família cruzou o seu destino com um filho de Bernardo Carneiro de Sousa e Faro (1876-1952), 2º conde de Sousa e Faro, o qual foi Claudino Luís Bernardo Nobre de Carvalho Carneiro de Sousa e Faro (1906-1985).

Vejamos.

CLAUDINO LUÍS BERNARDO NOBRE DE CARVALHO CARNEIRO DE SOUSA E FARO (1906-1985) – filho primogénito de Bernardo de Sousa e Faro (1872-1952), 2.º conde de Sousa e Faro –, veio a casar-se a 10-V-1945 em Santa Maria Maior, Viana do Castelo, com D. MARGARIDA BRANCO DA SILVA NOGUEIRA (1916-2005), descendente da família Cartulho de Vale de Prazeres, nascida a 22-V-1916 em Nazaré, distrito de Leiria.

Foi este casamento celebrado em 1945 que uniu os aristocráticos SOUSA e FARO (de Viana do Castelo), com os descendentes dos CARTULHO (de Vale de Prazeres), cujos sucessores ficaram na posse da casa outrora edificada pelos Afra Vasconcelos Vilas Boas.

A atrás citada D. MARGARIDA BRANCO, era filha de JOÃO CARLOS DA SILVA NOGUEIRA (1872-1954), nascido a 26-III-1872 em Vale de Prazeres, Fundão, falecido a 20-V-1954 em Viana do Castelo, cidade onde casou a 18-VII-1915 com D. MARIA MARTINS BRANCO (n. 1889), nascida a 18-5-1889 em Viana do Castelo.

JOÃO CARLOS (1872-1954), oficial da Marinha, era especialista em Hidrografia e nessa qualidade foi autor de vários levantamentos costeiros nas possessões ultramarinas portuguesas, com destaque para a produção das cartas dos portos, barras e enseadas de Moçambique.

João Carlos da Silva Nogueira (1872-1954)
Logo no início da sua carreira em 1904, ao comando da pequena canhoneira Limpopo, ficou célebre numa acção contra a tentativa de penetração ilegítima da esquadra russa do Báltico no porto da “Baía dos Tigres” (16-XII-1904), no sul de Angola, à qual tenazmente se opôs apesar da desproporcionalidade de meios, contribuindo deste modo para o reconhecimento da soberania portuguesa naquela região (durante a guerra entre a Rússia e o Japão). Atingiu o posto de vice-almirante, e exerceu as funções de governador civil do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo (1908-1910) pelo partido Regenerador, por altura do regicídio[68].

João Carlos Nogueira, 1904?,
na Canhonheira Limpopo.
Este prestigiado oficial da Marinha, natural de Vale de Prazeres, era filho primogénito de FAUSTINO CARTULHO (1842-1903), proprietário, natural de Vale de Prazeres onde nasceu a 22-IX-1842 e foi baptizado a 6-X do mesmo ano, tendo a falecido a 18-X.-1903 na Rua da Igreja, n.º 415; o qual era casado com D. EMÍLIA MARIA DA SILVA NOGUEIRA (n. 1840), proprietária nascida em Vale de Prazeres a 22-IX-1840 e baptizada a 22-X do mesmo ano.

Era neto paterno de José Esteves Cartulho (1812-1897)[69], homónimo do seu avô materno, nascido a 22-VII-1812 na freguesia da Orca, Fundão, que faleceu já viúvo a 24-II-1897 na Rua da Bica, n.º 13, em Vale de Prazeres, quando contava 86 anos (filho de Manuel Rodrigues Chasqueiro e de sua mulher D. Ana Gil Cartulho)[70], o qual foi casado com D. Felicidade Valente (filha de João António Valente e de D. Joana Inácia), moradores em Vale de Prazeres.

Era neto materno de Anacleto da Silva, natural e baptizado no Fundão (filho de Anacleto da Silva Caharéis)[71], e de sua mulher D. Piedade (?) Nogueira, natural do Lugar do Estreito, freguesia de Vilar Barroco, concelho de Oleiros.

Dos herdeiros dos Cartulho, seus proprietários durante parte do século XX, esta casa já passou a posse de outras famílias.

 

João Trigueiros

 24-Dez.-2020


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Notas:

[1] O nome da família fundadora foi-nos sugerido pelo Professor Doutor Joaquim Candeias da Silva, grande estudioso de temas do concelho do Fundão, o qual nos desafiou para “recolher elementos sobre esta casa e respectivo brasão”, repto este que foi aceite, do qual resultou a pequena investigação que aqui damos conta.

[2] ÁLVARO GONÇALVES TABORDA DE NEGREIROS (n. 1470), supostamente de Vale de Prazeres, segundo alguns genealogistas era filho de um tal João Rodrigues Taborda e de Inês Vaz, ao qual é atribuído a instituição do morgadio e o título de 1.º senhor do Monte Taborda na contígua freguesia de Mata da Rainha, assim como foi Senhor da Quinta e Casa que viria a ser chamada de Vale de Prazeres – primitivo Solar [Taborda] Pinto Castelo Branco / Quinta da Porta (?). Casou com JOANA TABORDA, da qual teve TOMÉ RODRIGUES TABORDA, o qual viria a desposar uma MARIANA (OU MARIA) VAZ SARAFANA, de Alpedrinha, herdeiros da Casa dos pais, ficando também 2.ºs Senhores do morgadio do Monte Taborda. (in SILVA, Joaquim Candeias da, União de Freguesias de Vale de Prazeres e Mata da Rainha (Monografia histórica).

[3] Nesta família TABORDA a homonímia e os casamentos cruzados dificultam muito a diferenciação dos seus elementos dentro deste clã.

[4] O ESCUDO INGLÊS caracteriza-se por apresentar uma "orelha" triangular em cada um dos bordos superiores. Este formato começou por ser usado no século XVIII pelos nobres da Inglaterra para se distinguir dos escudos plebeus.

[5] Um dos defensores da legitimidade das armas assumidas, com a sua autoridade jurídica e ao arrepio das convenções vigentes, foi o familiar do Santo Ofício e desembargador ANTÓNIO DE VILAS-BOAS E SAMPAIO (1629-1701) que em 1676 publicou com grande sucesso e sucessivas reedições (1708, 1727 e 1754) a Nobiliarchia Portugueza:Tractado da Nobreza hereditária e politica Offerecido ao ex.mo sr. D. João da Silva, Marquez de Gouvêa (Lisboa: Officina de Francisco Vilela, 1676).

No dizer de Miguel Metelo de Seixas (n. 1967), «… o que transparecia da leitura integral da obra de Vilas-Boas e Sampaio era a noção de que, mediante a aquisição de conhecimentos em armaria, qualquer um podia gizar as suas armas, desde que tivesse direito a elas. E o autor estava atento, ainda, aos efeitos legais que o uso de armas comportava: “Pelas Armas se prova o dominio da Capella, sepultura, ou edificio, em que estaõ fixas […] E naõ lhas poderaõ tirar, nem enterrarse ahi outra pessoa. Dava-se, deste modo, uma certa inversão na relação entre os armígeros e as suas insígnias: ao passo que, para os oficiais de armas e para a Coroa, os indivíduos deviam fazer prova do seu direito às armas e obter da autoridade idónea o respectivo reconhecimento, para poderem fazer público uso delas, já para Vilas-Boas e Sampaio, cuja obra peca por omissão em relação a esta matéria, o uso das armas próprias de um indivíduo manifestavam e marcavam publicamente o seu domínio sobre determinados bens patrimoniais, servindo mesmo de prova».

[6] Sobre este tema, veja: FIGUEIROA-RÊGO, João, A «Collecta Sumptuária» oitocentista: alguns aspectos da sua controversa aplicação, Arquipélago – História, 2ª série, VII (2003).

[7] Ibid. p. 292.

[8] Tanto na reserva do Museu Arqueológico do Fundão, como na Biblioteca Municipal da Covilhã, ou no Museu da Guarda, há algumas destas pedras, as quais deveriam regressar ao espaço público, recolocando-as nos locais de origem ou na sua proximidade.

[9] ORTIGÃO, Ramalho, Obras Completas de Ramalho Ortigão, Folhas Soltas: 1865-1915, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1956, pp. 286-289.

[10] No sistema de representação gráfica das cores e esmaltes da armaria: o VERMELHO é representado graficamente por linhas verticais; o AZUL por linhas horizontais; o VERDE por linhas oblíquas descendentes, de cima para a direita; a PÚRPURA por linhas oblíquas ascendentes, de cima para a esquerda; o PRETO por reticulado com linhas verticais e horizontais sobrepostas; o OURO por pontilhado e a PRATA por uma superfície lisa.

[11] DIMIDIADO, em heráldica, é o método resultante da combinação dois brasões de armas, devido à falta de espaço. A dimidiação envolve colocar a metade direita de um brasão de armas ao lado da metade esquerda do outro (partido), ou a metade superior de um combinado com outro (cortado). Esta prática caiu em desuso porque o seu resultado nem sempre é esteticamente agradável e, por vezes, o resultado é confuso como é este o caso. As dimidiações são raras na heráldica portuguesa, e este é um caso único que conhecemos nesta região.

[12] Estes TOVAR provêm de um antepassado desta casa que foi D. FRANCISCO XAVIER DA SILVA LOBO DE GONGORA [TOVAR] (n. 1706) que fez uma habilitação para a Ordem de Cristo na qual vem mencionado o seu antepassado D. Diogo da Silva Gongora (c. 1654), do hábito da Ordem de Santiago que pertencia à família do sargento-mor de Elvas DIOGO DE GONGORA E TOVAR (1666-1725) que foi casado com D. Maria da Gama Abreu (f. 1663), falecida em Elvas com testamento, com ramificações em Elvas, Évora e Olivença.

[13] Artes – gramática, retórica e dialéctica.

[14] Não serve os propósitos deste trabalho, e seria demasiado fastidioso, aqui dar conta das muitas gerações que ligam os VILAS-BOAS de Vale de Prazeres ao primeiro VILA BOA da cidade de Beja – Mestre MANUEL DE VILA BOA (f. 1546).

[15] D. FRANCISCA SUAREZ DE TOLEDO VILLEGAS poderá pertencer à prestigiada e proeminente família SUAREZ DE TOLEDO, de origem medieval.

[16] Esta família CORONEL descende de TRISTÃO REIMÃO CORONEL que viveu em Elvas, neto de FERNÃO PERES CORONEL, regedor de Segóvia (1492).

[17] ANTT, Conselho da Fazenda, Justificações do Reino, Letra J, mç. 11, n.º 31.

[18] ARQUIVO DISTRITAL DE PORTALEGRE, testamentos, Cx 10. – Neste testamento, nomeia por testamenteira a sua mulher, deixando 10.000 réis de esmolas e 100 missas de 200 réis pela sua alma, assim como deixa a seu filho mais velho os vínculos que administra, e a sua mulher a sua Herdade dos Passarinhos (Benavila, Concelho de Avis?) que fazia parte da sua terça (quota disponível da herança).

[19] Em 1797, os espanhóis concentraram um grande número de tropas junto à fronteira, dispostas a invadir Portugal caso o nosso país não cedesse às exigências da França que era aliada dos espanhóis. Pretendiam estes que Portugal abandonasse a sua aliança com Inglaterra e lhes fechasse os portos, o que não sucedeu. 

[20] ANTÓNIO LUÍS MARÇAL CARY (1747-1819) veio a ser brigadeiro dos Reais Exércitos (26-III-1810).

[21] A estas mortes prematuras, não serão alheios os inúmeros casamentos consanguíneos havidos nas gerações anteriores, os quais se repetiram nalgumas das gerações seguintes. A transmissão de doenças recessivas era potenciada por esta endogamia que limitava a diversidade genética.

[22] Cremos que este vínculo é o mesmo que teve a sua capela no Convento da Graça em Lisboa, junto à sacristia da capela-mor, oposta às dependências da Irmandade do Senhor dos Passos onde são visíveis vestígios de uma arcada e escadas que ligam ao piso superior. Possui uma lápide sepulcral com a inscrição: «CAPELA DE LOPO DUARTE XIMENES E JOANA DA VEIGA SUA MULHER E HERDEIROS MANDOU-A FAZER O PADRE NICOLAU DA VEIGA XIMENES SEU FILHO EM CUMPRIMENTO DOS TESTAMENTOS DOS DITOS SEUS PAIS CUJOS OSSOS PARA AQUI FEZ TRESLADAR COM OS DE MANUEL FERNANDES E JOANA NUNES XIMENES SEUS AVÓS EM ESTE CONVENTO OBRIGAÇÃO DE MANDAR DIZER NELA MISSA QUOTIDIANA POR SUAS ALMAS E OFÍCIO DE NOVE LIÇÕES NO OITAVÁRIO DOS SANTOS PORQUE DEU D' ESMOLA 3O MIL REIS DE JURO A QUE ESTÁ OBRIGADO ESTE CONVENTO E ASSIM 1O MIL REIS MAIS DE JURO PARA A FÁBRICA E AZEITE DA LÂMPADA QUE SEMPRE NELA HÁ-DE ARDER FEZ-SE ESCRITURA NAS NOTAS DE VASCO DE SAMPAIO A 15 DE JANEIRO DE 1627 ANOS».

[23] D. DUARTE DA SILVA LOBO fez diligências para Familiar do Santo Ofício a 11-I-1774.

[24] Os LAVRE eram uma família tradicional de militares de Olivença que nesta data aí detinham o ofício de Escrivão de Órfãos.

[25] Nunca foi encontrado nenhum assento de casamente de Sir William Sharp (1729-1780) com Margaret Bethume.

[26] Por morte de Sir WILLIAM SHARP (1729-1780), D. ANA FRANCISCA voltou a casar em 1787.

[27] MORENO, Humberto Baquero, «Bandos Nobiliárquico em Olivença nos fins do século XV» in Exilados, marginais e contestatários na sociedade portuguesa medieval. Estudos de História, Lisboa, Editorial Presença, 1990, p. 156-178. – As famílias dos GAMA e dos LOBO, origem dos GAMA LOBO nos finais do século XV, pertenciam à pequena nobreza oliventina de cavaleiros e escudeiros em ascensão social devido ao desempenho de cargos e aos meios de fortuna que através deles angariavam. Este clã era inimigo figadal da família MELO, os alcaides-mores de Olivença – um deles Manuel de Melo (c. 1440), e seu irmão D. Rodrigo Afonso de Melo (c. 1430), 1.º conde de Olivença –, com a qual disputava a hegemonia através de bandos organizados sob diversos pretextos, um dos quais o contrabando de gado e de armas para Espanha, e se digladiavam pondo e o sossego desta vila em questão. O bando dos GAMA LOBOS, entre 1489-1499, anos da maior violência, foi chefiado pelo jovem VASCO DA GAMA (1469-1524), então com escassos vinte anos de idade, cavaleiro e alcaide das sacas (alfândega) de Olivença e Terena e grande inimigo do alcaide Manuel de Melo. Este famoso almirante, que descobriu o caminho marítimo para a Índia, cujos biógrafos têm ignorado esta fase da sua juventude onde já manifestava o seu temperamento irascível que conservou ao longo da vida e que, que além de lhe causar alguns dissabores, o levaram a algumas atitudes bárbaras e desnecessárias contra os povos da Índia.

[28] Sir WILLIAM SHARP (1729-1780) nasceu a 28-I-1729 em St. Andrews, Fife, Escócia, e faleceu 13-II-1780 aos 51 anos em St. Marylebone, Londres, Inglaterra. O seu nome original era WILLIAM SHARP, mas aparece em diversa documentação militar portuguesa com o nome de GUILHERME XARPE. Pertencia à baixa nobreza inglesa (Baronet) e foi educado na St. Andrews University, St. Andrews, Fife, Escócia, tendo lutado na Revolta Jacobita (1745-1746) quando contava 16 anos de idade – na tentativa falhada para reconduzir Jaime II de Inglaterra ao trono, após este ter sido deposto pelo Parlamento –, tendo sido capturado pelos britânicos e condenado à morte (recebeu o perdão do governo britânico em 1769), mas fugiu para a França em 1747, onde serviu o Exército Francês (1747-1761) como Capitão (1761), então lutando contra a Grã-Bretanha na Guerra da Sucessão Austríaca, após o que passou a Portugal. Terá sido um dos muitos oficiais estrangeiros trazidos pelo conde de Lippe (1762), juntamente com dois batalhões suíços para servir Portugal na luta contra o exército franco-espanhol. Foi Major do Exército Português (1762), feito Coronel do 1.º Regimento de Infantaria (1763), e nomeado Brigadeiro para o cargo de Governador da vila fronteiriça de Olivença (1764).

Em gozo de licença em Inglaterra conhece MARGARET BETHUNE (1729?-1791), com cerca de 40 anos e solteira, a filha mais velha e eventual herdeira de John Bethune (1699-1779), 5º Laird de Blebo (St. Andrews, Escócia) – grande proprietário de terras na Escócia –, e de sua primeira esposa Janet Scrimgeour (1705?-1738), da qual Sir Sharp teve um filho já nascido após seu retorno a Portugal: foi este o general ALEXANDER SHARP BETHUNE (1771-1847), que nunca se habilitou ao título de 7.º Baronet de Sharp, e veio a renegar o apelido paterno.

[29] FRIEDRICH WILHELM ERNST ZU SCHAUMBURG-LIPPE (1724-1777), conhecido em Portugal por Conde de Lippe – conde reinante de Eschaumburgo-Lipa –, foi um destacado militar e político alemão que, a pedido do marquês de Pombal e por indicação do governo inglês, esteve ao serviço do Exército Português então em franco processo de decadência, para o reorganizar e preparar para a guerra quando os espanhóis invadiram a fronteira do nordeste português. Esteve em Portugal por duas vezes: a primeira vez entre 1762-64 e, posteriormente, entre 1767-68.

[30] JOÃO JOSÉ (f. 1813) e de D. ANA FRANCISCA tiveram: 1.º - MARIA DE LURDES; 2.º - ANA FRANCISCA, homónima de sua mãe; 3.º - INÊS JOSÉ; 4.º - FRANCISCO AFRA DE VILAS-BOAS SOARES ANGEL D' ELVAS CORONEL D' ALMEIDA NORONHA (1788-1850); 5.º - JOÃO ANTÓNIO DE VASCONCELOS VILAS-BOAS (n. 1790), marechal-de-campo, nascido a 21-IV-1790 e baptizado a 28-IV do mesmo ano na Igreja Matriz de Olivença, apadrinhado pelo Ilustríssimo Senhor Dom Frei Manuel do Cenáculo de Vilas-Boas (1724-1814), o notável bispo de Beja por procuração bastante ao Reverendo Reitor Domingos Gomes de Carvalho (futuro Provisor do Bispado de Elvas); e 6.º - JOÃO ANSELMO (n. 1789), nascido a 21-IV-1789.

[31] ANTT, Conselho da Fazenda, Justificações do Reino, Letra A, mç. 4, n.º 56

[32] ANTT, Desembargo do Paço, Leitura de bacharéis, letra F, mç. 3, n.º 34A

[33] ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 20, f.47

[34] PEDRO SOARES DE ALMEIDA VILHEGAS DE NORONHA E VILA BOA (1680-1735) era filho de Jerónimo Soares de Vilhegas de Vila Boa e Noronha e de sua mulher D. Brites Soares; neto paterno de Manuel Soares de Almeida de Vila Boa Vilhegas de Noronha (f. 1657) e de D. Auta de Brito Caldeira; e neto materno de Manuel Cid, natural de Sevilha, Espanha, e de D. Guiomar Soares – esta última era filha de Vicente Soares de Vila Boa e de D. Inês Machado de Sotomaior; e neta paterna de Manuel Suárez de Vila-Boa y Villegas, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. Guiomar Nunes Angel.

[35] D. MARIA SOARES COUTINHO era filha de Gonçalo Soares Monteiro, correio-mor de Guimarães, e de sua mulher D. Ignez Soares de Toledo.

[36] D. FRANCISCO XAVIER DA SILVA LOBO DE GONGORA (n. 1706) era filho do então capitão de Olivença D. Duarte da Silva e Abreu (c. 1680), natural da freguesia de Alcáçovas, Elvas, casado em 1708 na freguesia de Santa Maria Madalena de Olivença com D. Maria Lobo Frade (ou Fradessa), natural de Olivença; neto paterno de D. Francisco da Silva e Gongora e de D. Brites de Abreu; e neto materno do capitão Francisco Lobo Frade, falecido com testamento (16-XI-1701), e de sua mulher D. Catarina Mendes, ambos naturais de Olivença.

[37] Segundo certifica Fr. António Rousado, eremita de Santo Agostinho, na sua habilitação para a Ordem de Cristo.

[38] ANTT, Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem de Cristo, Letra F, mç. 20, n.º 16.

[39] Frei ANTÓNIO ROUSADO (n. 1691) nasceu em 1691 em Lisboa. Entre outras obras foi autor de um manuscrito intitulado «Pomar Histórico, Cronológico e Crítico», que em 1914 pertencia à biblioteca de Amadeu Teles da Silva de Afonseca Mesquita de Castro Pereira e Sola (1874-1948), 2º conde de Castro e Sola.

[40]  In ANTT, Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem de Cristo, Letra M, mç. 42, n.º 23;  Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 20, f.211v.  – MANUEL FREIRE DE BRITO (C. 1695) era filho do capitão de infantaria DOMINGOS FREIRE DE BRITO, natural de Lisboa, que serviu por 30 anos na Guerra da Restauração (de 1642 a 1675). Manuel Freire de Brito obteve uma tença de 12$000 rs e hábito da Ordem de Cristo (1718), após o que foi sargento-mor de infantaria no Regimento de Castelo de Vide (1720), onde foi administrador da Capela de Ana Vaz Roxo (1728).

[41] ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 10, f.25

[42] Os RICACHO eram aparentados com os GIRALDES, o que poderá justificar a inclusão das armas dos ANDRADE na pedra de armas da casa de Vale de Prazeres, caso estas armas não sejam dos TOVAR. Um destes Giraldes, muito provavelmente seu parente, foi testemunha de baptismo de D. ANA DA CONCEIÇÃO TABORDA RICACHO DE OLIVEIRA (n. 1783), a qual viria a ser mãe de D. JOANA ASSUNÇÃO VASCONCELOS NORONHA VILAS BOAS (1825-1900). Prova da ligação destas famílias, nos finais do século XVII, temos ainda um Domingos Geraldes Ricacho (c. 1674), tabelião e capitão-mor de Idanha-a-Nova, casado com uma D. Isabel de Azevedo Sarafana, os quais tiveram descendência a viver na Covilhã.

[43] JOSÉ CALDEIRA DE ORDAZ QUEIRÓS (1775-1852), 2º barão de Castelo Novo.

[44] FERNANDO AFONSO GIRALDES TUDELA DE CASTILHO seria um dos muitos descendentes da Casa do Marquês da Graciosa (de Idanha-a-Nova) e da Casa dos Tudela Castilho (de Castelo Branco e do Fundão).

[45] JOSÉ JOAQUIM TABORDA DE NEGREIROS [GERALDES] (n. 1727) fez um processo de justificação de nobreza em 1776, no qual acrescentou o apelido Geraldes, cujo desfecho desconhecemos. – ANTT, Casa Real, Cartório da Nobreza, mç. 12, n.º 5.

[46] O baptismo de JOSÉ JOAQUIM TABORDA DE NEGREIROS [GERALDES] (n. 1727) consta do Livro de Registos Mistos de Vale de Prazeres (1660-1751), pp. 113v, 114.

[47] D. JOANA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA, era irmã de D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA LEITÃO (n. 1744), nascida a 1-XI-1744 em Vale de Prazeres, onde casou com ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA PINTO DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (c. 1740), da família da Casa do Adro na Capinha, e do Solar Taborda / Pinto Castelo Branco / Quinta da Porta em Vale de Prazeres, Fundão, neto de ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (n. 1625), familiar do Santo Ofício (carta de 26-IX-1659), capitão de infantaria auxiliar e monteiro-mor da Covilhã, ouvidor das vilas de Loriga, Alvoco da Serra, Sandomil e Vila Pouca, morador na Capinha, Fundão, ao qual foi passada carta de brasão de armas a 15-X-1781 (lisonja partida: na 1ª – partida de CASTELO BRANCO e PINTO, e na 2ª – cortada de TABORDA e LEITÃO). D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA LEITÃO (n. 1744) teve Carta de Brasão de Armas passada a 15-X-1781 (lisonja partida: na 1.ª – partida de CASTELO BRANCO e PINTO, e na 2.ª – cortada de TABORDA e LEITÃO).

[48] MACHADO, Diogo Barbosa, Biblioteca Lusitana (LISBOA: por Francisco Luís Ameno, 1759), p.171.

[49] Os RICACHO, e os TABORDA, eram duas antigas famílias terratenentes desta região.

Os RICACHO já estavam no concelho de Idanha-a-Nova no século XVII, onde tiveram algum destaque social, tendo-se ligado aos TABORDA DE OLIVEIRA LEITÃO que também foram antepassados da ilustre e aristocrática família dos PINTO CASTELO BRANCO, com ramificações em Vale de Prazeres (Solar Pinto Castelo Branco / Quinta da Porta) e na Capinha (Casa do Adro).

Dos TABORDA, conhecemos TOMÉ RODRIGUES TABORDA (n. 1650), capitão de Vale de Prazeres, senhor do morgado da Gatuna (Monte da Gatuna, entre Atalaia do Campo, Castelo Novo e Soalheira), casado com sua prima MARIA ESTEVES SARAFANA, os quais foram antepassado do seu homónimo aqui citado, e de muitas outras famílias aristocráticas e titulares com relevância social nesta região.

[50] Há assentos paroquiais que dão esta D. MARIA LUÍSA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA (n. 1695) nascida na Quinta da Conceição no Monte da Touca, que era de seu pai.

[51] LEÃO RODRIGUES CINZA (1636-1696), já viúvo de D. Margarida Ferreira (?), casou a 21-IV-1695 nas primeiras núpcias D. ANA PÓRCIA DE OLIVEIRA RICACHO (1667-1727), trinta anos mais nova, natural de Idanha-a-Nova. Esta senhora, que logo ficou viúva, sem filhos deste casamento, passou a segundas núpcias com JOÃO RODRIGUES TABORDA (1660?-1729), nas terceiras núpcias deste, tendo por testemunhas o capitão-mor de Idanha-a-Nova Manuel Álvares Rico (marido de D. Maria Vaz Nunes Sarafana), Domingos Geraldes Ricacho.

   Teve filhos deste casamento, os quais terão herdado o Monte da Touca / Quinta da Conceição que por casamento passou à família Taborda.    

[52] MONTE DA TOUCA, ou MONTE DA FONTE DA TOUCA, posteriormente designado por QUINTA DA CONCEIÇÃO, foi de LEÃO RODRIGUES CINZA (1636-1696) que aí viveu e nela instituiu um vínculo, certamente encabeçado pela respectiva Capela da Conceição hoje desaparecida. Das edificações originais da Touca/Conceição, segundo deu a conhecer o historiador Dr. Joaquim Candeias da Silva, há uma delas que apresente uma verga de um portão com a seguinte inscrição já muito apagada: «Leão Roiz Cinza mandou fazer esta obra – 1676».

[53] PÓRCIA ou ANA PÓRCIA, conforme os diversos assentos paroquiais que a mencionam. Substituímos o apelido RICACHA, que nalgumas mulheres aparece nos assentos paroquiais, pelo apelido RICAHO que é o apelido desta família.

[54] FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (1700-1773), nos livros de assentos de casamentos de Vale de Prazeres, ainda solteiro, aparece como padrinho e testemunha de um grande número de casamentos.

[55] O capitão FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (1700-1773) deixou expresso em testamento que por sua morte se digam 336 missas por sua alma e pela dos seus diversos familiares, e ainda “que no dia do seu enterro se dêem aos pobres cinco moios de pão cozido [300 alqueires?], e outro tanto no dia do seu ofício”, não deixando de fora de seus legados os inúmeros serviçais que tinha, e pedindo que seu corpo “seja sepultado na Igreja deste lugar em sepultura própria”.

[56] Arquivos Paroquiais, Fundão, Vale de Prazeres, Livro de Registos Paroquiais (1639-1772), pp. 44v-45.

[57] D. TERESA LUÍSA RICACHO TABORDA OLIVEIRA (1709-1775) deixou no seu testamento que por sua morte se dissessem 147 missas, e se “dessem aos pobres dois alqueires de pão cozido(…) e mais dois no dia do sepultamento do meu corpo”, assim como contemplou os seus serviçais com vários legados.

[58] A antiga igreja matriz de São Bartolomeu de Vale de Prazeres encontrava-se já muito arruinada por volta de 1790, pelo que foi demolida e substituída pela actual, desaparecendo as sepulturas que nela estavam. Ao que se presume, do anterior templo só se reaproveitou o pequeno campanário anexo junto à cabeceira do anterior templo, pois o seu embasamento afigura-se mais antigo.

[59] Em 1862 grassou uma pandemia de febre tifóide em Portugal, a qual atingiu o distrito de Castelo Branco.

[60] TOMÁS TEOTÓNIO DE SOUSA PIMENTEL (1789?-1872), como militar no Batalhão de Caçadores n.º 10 fez as campanhas de 1809-14 nas quais assistiu as batalhas do Buçaco (1810), Salamanca (1812), Vitória (1813), e no assalto de San Sebastian (1813), tendo sido gravemente ferido na passagem do Bidassoa (7-X-1813). Mais tarde foi Major, com honras de Brigadeiro como oficial do Estado-Maior do Rei D. Miguel, e governador militar da Covilhã.

Foi irmão de outro militar, o primogénito JOSÉ DE SOUSA PIMENTEL DE FARIA (1783-1847), 1º barão de Sanhoane (16-VII-1845), marechal-de-campo, general comandante da 4.ª Divisão Militar, comendador das Ordens da Torre e Espada e Conceição, cavaleiro da Ordem de São Fernando de Espanha, deputado (1840), casado com sua parente D. Joana Perpétua de Sousa Pimentel (1775-1853), da qual teve geração.

[61] Carta de nomeação para Governador Militar da Covilhã: «Sua Exia. o Snr. General Póvoas Commandante em Chefe Militar das duas Beiras, encarrega-me de fazer saber a V.Exas que em nome da Nação e da Rainha, e na conformidade da authorisação da Suprema Junta do Governo do Reino, nomeou interinamente a Thomáz Theotonio de Sousa Pimentel para Governador Militar da Villa d Covilhã, e que por esta ocasião se ordenou a este Official, que se entende-se com V.Exia. como lhe cumpre, e que organiza-se um corpo para a guarnição da mesma villa, e operar segundo as circunstâncias o permittirem: o que tudo tenho a honra communicar a V.Exia. da ordem do mesmo Snr. DEOS Guarde a V.Exia. muitos annos. Quartel general no ? 19 de Janeiro de 1847. / O Chefe do Estado Maior / João António Rebocho

[62] ANTT, Casa Real, Cartório da Nobreza, Justificação de nobreza, mç 45, 1812.

[63] FREDERICO DE SOUSA PIMENTEL (f. 1872), filho do major Tomás Teotónio de Sousa Pimentel (1792-1872), foi casado com D. Ana Augusta Pinto Tavares Osório.

[64] Estes AFRA DE SOUSA descendiam dos: ABREU, AFRA, ALMEIDA, ANGEL, ARAÚJO, BORJA, BRITO, CALDEIRA, CARVALHO, CASTELO BRANCO, CORONEL, CORREIA, COUTINHO, D’ELVAS, FARIA, FONSECA, FREIRE (D’ANDRADE?), GAMA LOBO, LANCASTRE, LUGO, MACEDO, MENDONÇA, MENESES, MESQUITA, NORONHA, OLIVEIRA, PIMENTEL, PINTO, TABORDA, SAMPAIO, SOUSA, VASCONCELOS, VILAS BOAS, etc.

[65] Os apelidos de D. MARIA DA LUZ PIMENTEL OSÓRIO DE VILHENA (1855-1939) sugerem ligações de parentesco com os últimos morgados de Peroviseu, dos quais herdou bens fundiários na citada freguesia e em Vale de Prazeres.

[66] Segundo apuramos junto de um seu bisneto, esta sua bisavó estava sepultada no jazigo mas o chumbo da sua urna terá rebentado por três vezes. Por este motivo foi trasladada para a terra, ao lado do citado mausoléu familiar, tendo novamente mudado para defronte deste, aquando da doação do mesmo à freguesia de Pero Viseu que nele instalou a capela funerária do respectivo cemitério.

[67] PÊRO VISEU, antigamente grafava a sua designação por PEROVISEU, nome este que ainda hoje designa um importante morgadio que teve a sua cabeça nesta localidade.

[68] JOÃO CARLOS DA SILVA NOGUEIRA (1872-1954) assentou praça na Marinha em 1888, na qual alcançou o posto de primeiro-tenente (1904), capitão-tenente (1915), capitão-de-fragata (1917), capitão-de-mar-e-guerra (1930), e contra-almirante (1934), passando à reforma com a patente de Almirante (1942).

[69] JOSÉ ESTEVES CARTULHO (1812- 1897) teria alguma relevância social em Vale de Prazeres, pois aí aparece como testemunha de baptismo de várias crianças.

[70] MANUEL RODRIGUES CASQUEIRO, natural da Orca, era filho de João Antunes Casqueiro e de sua mulher D. Maria Madalena. Sua mulher D. ANA GIL CARTULHO era filha de José Esteves Cartulho, homónimo de um neto, e de sua mulher D. Maria Gil, todos naturais de Vale de Prazeres.

[71] ANACLETO DA SILVA CAHARÉIS, natural do Fundão, bisavô materno do vice-almirante João Carlos, um dos últimos desta família que residiu nesta casa na qual faleceu a 3-VIII-1983.