2016-02-11

Casa Taborda Falcão (Séc. XVIII), Fundão e Fatela

Rua do Serrão, Fundão

Lourenço José Taborda Tavares
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818), filho

Lourenço José Taborda Tavares
de  Negreiros Feio Falcão (1781-1818),
filho
                             
                      Brasão de:    Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão (1781-1818).
       Forma:          Escudo em cartela, esquartelado: 1.º - TABORDA, 2.º - FEIJÓ (por erro
   de concessão, em vez de FEIO), 3.º - FALCÃO, 4.º - TAVARES.
       Diferença:    Brica carregada de um trifólio (mal representado).
       Local:           Casa na Rua do Serrão, Fundão
       Data:            Carta de 21-I-1788, registada a 8-II-1788.


Casa Taborda Falcão (Séc. XVIII), actual Museu Arqueológico,
de Lourenço José Taborda de Negreiros Feio (1754-1829), pai.

HISTÓRIA DA CASA
Na Rua do Serrão, uma pequena transversal à Rua da Cale na cidade do Fundão, temos o antigo solar armoriado da família TABORDA FALCÃO. Este foi adquirido pela autarquia fundanense no ano de 2003, para aí instalar o Museu Arqueológico Municipal Dr. José Monteiro[1], após uma profunda remodelação.
O acervo museológico municipal aí instalado, andou desprezado ao longo das últimas décadas num pequeno espaço disfuncional, sem a menor critério de organização técnico-científica, sem condições, e sem dignidade.
Deste modo se pôs a salvo o espólio arqueológico do município do Fundão, em grande parte reunido pelo Dr. José Alves Monteiro, um dilecto filho desta terra, assim como a citada casa solarenga que, a não lhe ter sido conferida esta nova funcionalidade, acabaria por se degradar como tantas outras.
A casa Taborda Falcão foi recuperada e adaptada às suas novas funções museológicas, preservando-se a fachada e a adaptando-se o seu espaço interior às novas exigências para acolher um equipamento cultural de grande relevo para esta região, na área do património, da arqueologia, e da história.



Planta do Fundão
Por ocasião das obras de requalificação para instalação do museu, foram postas a descoberto várias paredes em granito que atestam ter a actual casa resultado da junção de duas habitações anteriores aí existentes; uma delas com escadaria frontal e respectivo balcão.
As casas originais, aparentemente datadas do século XVI, estavam separadas por um pequeno beco que desapareceu devido à união das mesmas e à regularização por uma frontaria contínua, rasgada por diversos vãos assimétricos. Esta parede, destinada a alinhar as duas anteriores, avançou alguns metros sobre a rua, distanciando-se das fachadas anteriores que estavam um pouco mais recuadas.
Na sua adaptação a museu arqueológico foi respeitada a volumetria primitiva e a fachada dos finais do século XVIII, assim como algumas estruturas emblemáticas, numa feliz conjugação entre a preservação deste solar e as exigências de funcionalidade do novo espaço museológico.
Uma das casas anteriores que esteve na origem do actual solar da família Taborda Falcão, supostamente pertenceu à família Serrão, a qual veio a dar o nome a esta rua. 


Como se processou a passagem desta casa, da posse da família Serrão à família Falcão Taborda, é a grande incógnita por esclarecer. Provavelmente houve um casamento que ligou estas duas famílias que passaram a andar aparentadas.
Encontramos um MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701)[2], casado nas segundas núpcias de D. ANA MENDES, filha de Ana Rodrigues[3], e viúva de FRANCISCO MENDES FALCÃO [TAVARES?] (f. 1671)[4], um dos possíveis elos de ligação entre estes dois clãs.
Terá sido a descendência do primeiro casamento de D. Ana Mendes com Francisco Mendes Falcão, a determinar a mudança da posse deste solar?...

BRASÃO DE ARMAS
CBA dede Lourenço José 
Taborda,  filho (1788).
Esquartelado: 1.º- Taborda,
2.º- Feijó, 3.º- Falcão,
e 4.º- Tavares.
A pedra de armas desta casa, atribuída ao filho varão primogénito do seu proprietário, apresenta algumas singularidades das quais destacamos o erro da concessão do 4.º quartel do esquartelado, o qual, na respectiva Carta de Brasão de Armas (CBA) concedida em 1788, é de FEIJÓ, em lugar de FEIO, apelido que lhe competia e o qual figura em muitos outros documentos que referem esta linhagem.

Ao longo do texto da citada CBA, tanto o seu destinatário, como os seus antepassados, vêm referidos com o nome de «Feijó», em vez de «Feio», erro este que tem causado alguma confusão entre os estudiosos desta família. Este lapso é atribuído ao facto de Feio já ter sido grafado como Fejo (com um «J») ou Feyo (com um «Y»).
Porém, este desacerto na troca dos apelidos, não passou aos posteriores brasões desta família, pois, na pedra de armas da capela de Nossa Senhora da Conceição (1858) que estes edificaram na Fatela – terra de origem desta família –, o citado erro foi rectificado: aqui, no 2.º quartel, já figuram as armas dos FEIO, ao arrepio do solar que lhe fica anexo e ostenta ainda as armas anteriores com o erro já mencionado.

CBA de Lourenço José
Taborda (1788), filho.
Estas armas foram concedidas a LOURENÇO JOSÉ TABORDA TAVARES DE NEGREIROS FEIO FALCÃO (1781-1818), ainda menor de 6 anos, e por iniciativa de seu pai que fez a justificação de nobreza em 1787[5], sendo-lhe passada a respectiva Carta de Brasão de Armas a 21-I-1788, registada a 8-XI-1788 no Liv.º 4.º de Brasões de Armas da Nobreza e Fidalguia[6].
Apresentam um escudo esquartelado: o 1.º de TABORDA, de vermelho com cinco quadernas de crescentes de ouro postas em sautor; o 2.º de FEIJÓ, de vermelho, com uma espada de prata com as guarnições de ouro, e a ponta para cima posta em pala, ladeada de seis besantes também de ouro e alinhados em duas palas[7]; o 3.º de FALCÃO, de azul, com três bordões de Santiago de prata, ferrados de ouro com os nós vermelhos postos em três palas; e o 4.º de TAVARES, de ouro com cinco estrelas vermelhas de seis raios postas em sautor. Elmo de prata aberto e guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. Timbre dos Taborda que é uma asa vermelha, carregada de uma das quadernas do escudo. Por diferença, uma brica de prata com um trifólio verde.
Além da pedra de armas do solar do Fundão, um outro escudo semelhante figura na casa solarenga na Fatela (Casa Grande, Séc. XVIII-XIX), onde tinha a sua residência principal, com capela anexa de São Lourenço, e outra capela muito próxima de Nossa Senhora da Conceição (1858), a qual servia de panteão familiar e estava armoriada com um brasão já expurgadas do erro mencionado da troca dos apelidos. 
A família Taborda Falcão, ou Taborda d’Elvas Falcão como também aparece mencionada, era abastada proprietária de terras no concelho do Fundão, nomeadamente nas freguesias de Chãos (Donas), Alcongosta, Alcaide, Pêro Viseu, e Fatela.

Fatela, solar Tavares Falcão (Casa Grande).
Pedra de armas do solar da Fatela
(Casa Grande),
Esquartelada de: 1.º- Taborda,
2.º- Falcão, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares.













Lourenço José Taborda Tavares d'Elvas
de Negreiros Feio Falcão (1781-1818)
O destinatário destas armas foi LOURENÇO JOSÉ TABORDA TAVARES DE NEGREIROS FEIO FALCÃO (1781-1818)[8], filho varão primogénito que nasceu a 10-VII-1781 na freguesia da Fatela, no concelho do Fundão. Faleceu prematuramente, ainda em vida de seu pai, vitimado por uma hidropisia a 15-I-1818 na Fatela, em cuja igreja matriz recebeu sepultura.
Assinatura do Capitão-mor.
Frequentou a Universidade de Coimbra onde se formou em Leis a 27-VI-1803, e em Cânones no ano de 1808; num dos momentos mais conturbados que o país atravessou com a 1.ª invasão francesa e a fuga da corte para o Brasil. Estes acontecimentos ter-lhe-ão provavelmente frustrado a carreira e as expectativas nele depositadas pela família. Não chegou a fazer a leitura de bacharéis para se habilitar a servir os lugares da magistratura, a qual lhe estaria destinada.
Fazia parte de uma numerosa prole de cerca de doze filhos que nasceram na Fatela[9], alguns dos quais não sobreviveram por muito tempo: Maria (1777), primeira deste nome que terá falecido de pouca idade; Antónia (1779); Lourenço José (1781), o varão primogénito que veio a fazer justificação de nobreza e teve brasão de armas; João (1783), primeiro deste nome, entretanto falecido; Maria (João (1788), segundo deste nome, que também não sobreviveu; Maria (1785), falecida de pouca idadeJoão (1789), terceiro deste nome, que foi capitão-mor do Fundão; José (1792), formado em Cânones; Ana (1794); Manuel (1797); Joaquim (1799), formado em Leis; Maria (1802), terceira deste nome.
 
Por morte de Lourenço José (f. 1818), e de seu pai homónimo (f. 1829), acabaria por suceder na chefia da Casa o segundo filho varão.
Foi este JOÃO ANTÓNIO TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1789), nascido a 20-XII-1789 na Fatela, que residiu na Fatela e no Fundão. Também estudou em Coimbra onde se formou em Cânones em 1813. Juntamente com seus irmãos, obteve o foro de fidalgo-cavaleiro a 2-VII-1825[10]. À semelhança de seu pai, foi vereador da Câmara (1828, 1832 e seguintes), assim como capitão-mor do Fundão.
Nesta geração, salientaram-se mais dois irmãos.
Um deles foi JOSÉ MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1792), que sabemos ter-se formado em Cânones em 1820. Obteve o foro de Fidalgo a 2-VII-1825.
O outro, JOAQUIM MARIA TABORDA FALCÃO TAVARES (n. 1799), nasceu a 15-IX-1799. Tal como seus irmãos, foi estudar para Coimbra e aí se formou em Leis no ano de 1820, fazendo o doutoramento a 16-VI-1822. Obteve o foro de Fidalgo a 2-VII-1825. 
A este último se ficou a dever o engrandecimento desta Casa e a reedificação, na proximidade do solar da Fatela, da Capela de Nossa Senhora da Conceição (1858)[11], um belíssimo exemplar de arquitectura barroca com ornamentos de grande pormenor. A edificação primitiva, com uma configuração mais simples, é atribuída a seu pai – o capitão-mor Lourenço José Taborda (pai) – em cumprimento de um voto relacionado com as Invasões Francesas, segundo a tradição oral. Classificada de «Imóvel de Interesse Público» em 1967, está armoriada com um pequeno escudo esquartelado: 1.º - TABORDA, 2.º - FEIO (em vez de «Feijó», corrigindo o erro já mencionado); 3.º - FALCÃO; 4.º - TAVARES.


Pedra de armas da capela de N.a S.ra da
Conceção. Escudo esquartelado:
1.º- Taborda, 2.º- Feio, 3.º- Falcão, 4.º- Tavares.
Fatela, capela de Nossa S.ra da Conceição
(1858)






















Seus pais e avós
O armigerado era filho homónimo de LOURENÇO JOSÉ TABORDA D’ELVAS DE NEGREIROS FEIO (1754-1829), capitão-mor do Fundão, nascido a 3-V-1754 nos Chãos (Donas) e falecido a 16-IX-1829 na Fatela, com testamento, vitimado por uma «constipação e sezões» quando contava 75 anos de idade. Foi sepultado «na sua capela» da Fatela.
Residiu no seu solar da Fatela – a Casa Grande, no antigo Largo da Praça –, e na casa do Fundão, na qual comemorou com um grande jantar oferecido à população a derrota de Napoleão em fins de Setembro de 1814.
Foi fidalgo-cavaleiro da Casa Real (1824)[12], vereador camarário do Fundão (entre 1783-1829), sargento-mor de ordenanças (de 1790 a 1804) e capitão-mor (1804-1829), num período conturbado e de grande instabilidade política, em que a invasão dos franceses assolou sucessivamente o Fundão (em 1810, 1811, e 1812), causando mortes, saques e destruição, tendo provocando um período de fome e grande declínio na região. Distinguiu-se como grande servidor da causa pública no concelho do Fundão.
Neto paterno do Dr. Veríssimo Inácio Taborda d’Elvas de Negreiros (1712?-1798), bacharel em Cânones (1740) e vereador da Câmara Municipal do Fundão (1756), nascido a 21-I-1715 nos Chãos (Donas), falecido a 16-IX-1796 na Fatela, e de sua primeira mulher D. Antónia Maria Inácia Feio (f. 1754), natural do Teixoso.
Bisneto paterno de Isidoro Mendes d’Elvas Taborda de Negreiros, (n. 1668?), natural dos Chãos, com uma longa carreira de magistrado que culminou em desembargador da Relação do Porto (1715)[13], e de D. Bárbara Rodrigues Covete; e bisneto materno de João do Vale de Almeida e de sua mulher D. Maria Rodrigues Feio, a qual era descendente de Pedro Feio que foi alcaide-mor da vila de Sortelha[14].

Lourenço José (pai), que ficou órfão de mãe com poucos meses de idade, casou por procuração a 5-VIII-1774 na igreja da Fatela com D. MARIA BÁRBARA FALCÃO TAVARES DE AGUIAR LEITÃO (1758?-1833), a qual nasceu por volta de 1758, e faleceu a 11-X-1833, já viúva, com testamento, vitimada por «diabetes» quando contava 75 anos de idade, tendo sido sepultado na sua capela da Fatela. 
Fatela
Sua mulher era filha de António Félix Falcão Tavares, natural de Alcongosta e residente no Fundão, e de sua mulher D. Maria Rosa Ribeiro, do Castelejo; neta pelo lado paterno de Manuel Antunes Falcão Tavares, fidalgo de cota de armas (ver mais abaixo), «dos Falcões Tavares da vila do Fundão»[15], e de sua mulher D. Maria Leitoa de Aguiar Pissarro, e pelo lado materno de João Leitão de Aguiar e Cunha e de D. Maria Carvalho Leitão de São Vicente da Beira.
A estes Falcões Tavares, provavelmente terá pertencido D. Inês Falcão de Carvalho (c. 1650), natural do Fundão, mãe do desembargador José Vaz de Carvalho da Silveira Preto (c.1675-1752) que promoveu a elevação do Fundão a Vila e a criação do respectivo concelho em 1746, o qual aqui tinha uma grande casa solarenga sita à Rua da Cale (que veio a ser adquirido pela família Macedo), relativamente próxima das casas desta família.

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Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c.1633)[16]
Avô materno de Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio
 (1754-1829)


Brasão de:   Manuel [Antunes] Tavares Falcão (c. 1633).
Forma:         Escudo partido em pala: 1.º - TAVARES, de ouro com cinco estrelas de
seis raios de vermelho; 2.º - FALCÃO, de azul com três bordões de prata, ferrados de vermelho, postos em pala e alinhados em faixa.
Diferença:   Brica carregada de um trifólio verde.
Local:          Conhecido documentalmente.
Data:            Carta de 25-I-1633.

Alacide, capela de São Francisco.
MANUEL TAVARES FALCÃO (c.1633) teve carta de brasão de armas com um escudo partido em pala, de TAVARES e FALCÃO, tendo por diferença um trifólio verde. Estas armas foram-lhe concedidas por Carta de 25-I-1633, registada no Cartório da Nobreza (L. I, fl. 407v)[17].
Tabelião do público, judicial e notas da Atalaia, morou na freguesia do Alcaide, concelho do Fundão. A 18-III-1662 obteve autorização para renunciar o ofício de Tabelião em seu genro Simão dos Reis Colaço (c. 1665)[18], o que parece ter vindo a suceder em 1665[19].
Era filho de Gaspar Tavares Falcão e de … Antunes, bisneto de Manuel Tavares, que foi capitão do Alcaide no tempo de El-rei D. Sebastião (1557-1578).
Casou com D. MARIA LEITOA DE AGUIAR PISSARRO.
____

Anexos

Testamento de
Lourenço José Taborda d’Elvas de Negreiros Feio (1754-1829)
Por sua morte (1829) deixou um curioso testamento feito a 27-IV-1822[20], revelador das sua forte crenças religiosas, assim como das suas preocupações sociais com os servidores da sua casa e os pobres da sua freguesia da Fatela.
Nele manifesta as suas últimas vontades e pede que o seu corpo, amortalhado com o hábito de São Francisco, seja sepultado na «sua capela» da Fatela. Pede que sejam ditas por sua alma muitas missas, num total inicial de mais de 400, às quais acrescem mais 280 por «várias tenções». Deixa ainda vários encargos piedosos para com os pobres, aos quais, no dia do seu enterro, deviam ser distribuídos 12.000 réis em dinheiro, e ao sétimo dia 30 alqueires de pão ou milho, 20 deles em grão e 10 cozido. Deixa ainda e encargo de serem vestidos 12 pobres, 6 masculinos e 6 femininos, enumerando as respectivas peças do vestuário. Não esquece os diversos criados e criadas da sua casa, que enumera e aos quais legou apreciáveis quantias em dinheiro, com atenção especial em relação a Maria Salvada, mulher de António Moreira, à qual deixa uma pensão anual enquanto esta viver.
Quanto à terça de todos os seus bens que podia dispor livremente, esta foi deixada à sua mulher D. Maria Bárbara Falcão que a gozará enquanto for viva, e por sua morte passará «á minha filha D. Ana». Destes bens – da terça -- enumera as várias fazendas: (1) «o Prazo da Quinta de São Miguel sito no limite da Levada q. parte com a Ribeira de Alverca e com a estrada pública»; (2) a «quinta chamada do Calvário», constituída por duas quintas já unidas, que «se acha tapada e murada» com árvores e casas, situadas no limite do Fundão (junto à capela do Calvário); (3) um «chão com árvores e casa q. está situado no Sítio dos Prados», no limite do Fundão; (4) uma «quinta chamada a do Baldio», no limite da Levada, Fundão; (5) uma «tapada chamada do Castanho» no limite do Fundão; (6) um «souto no sítio da fonte dos Carneiros» no limite dos Chãos (Donas), ao qual se acham unidos mais três que se compraram; (7) mais um «prado no limite da Fatela», no sítio de São Sebastião, com sua casa, eira, e uma nascente, que parte com a estrada que vai para Pêro Viseu. Quanto aos restante bens de sua fortuna, os quais não nomeia, declara que os deixa aos seus «filhos e filha como herdeiro». Nomeia ainda para testamenteiros, a sua mulher D. Maria e sua filha D. Ana. 

Testamento de
D. Maria Bárbara Falcão de Aguiar Leitão (1758?-1833)
Fez testamento na Fatela a 5-V-1822, «com boa saúde e temendo a morte que a todos é natural», no mesmo ano em que seu marido também testou. Estes testamentos foram feitos, talvez pelos seus autores temerem a instabilidade política que então se vivida no concelho do Fundão, onde a constituição saída da Revolução Liberal do Porto sofre forte contestação/apoio, o que gera alguma perturbação local com vários focos de manifestações e represálias.
Este documento foi redigido a seu pedido ao padre Domingos José Taborda, em virtude de ser «pouco prática em escrever», como se declara. Nele começa por pedir que o seu corpo, à data da sua morte, seja amortalhado num hábito de São Francisco e, no dia do seu enterro, sejam distribuídos pelos pobres da freguesia da Fatela 9.660 rés, e ao terceiro ou ao sétimo dia se distribuam mais 30 alqueires de pão ou milho ou o valor dele em dinheiro, assim como dezassete alqueires de feijão e oito alqueires de azeite. Pela sua alma, pede que sejam ditas 400 missas, às quais acrescenta mais 250 «segundo a minha tensão», ao Altar de Nossa Senhora do Fastio …
Tal como seu marido, não esquece os inúmeros serviçais que não quer deixar desamparados pela sua morte, e pelos quais distribuí diversas quantias que vão de 2.000 a 3.000 réis. Muitos deles, seus filhos, e até os netos, além de receberem diversas quantias em dinheiro, também recebem casas para residirem após a sua morte, mobiliário, e roupas de cama.
Depois de todas as disposições beneméritas com seus criados cumpridas, declara que «deixo a terça de todos os meus bens móveis como de raiz a meu marido Lourenço José Taborda» (falecido antes da testadora), para este gozar em sua vida e, por sua morte, a citada terça «passará para meus filhos Dona Ana e Joaquim que ambos disfrutarão e partirão». Acrescenta ainda que se algum destes filhos que nomeia para herdeiros da terça morrerem sem filhos legítimos, ou tendo-os, estes não chegarem à idade de poderem testar passará a dita herança ao que sobreviver, e se este morrer sem filhos legítimos «passará a dita terça aos meus herdeiros mais próximos». Declara, ainda, deixar, por morte do seu marido, o encargo dos seus filhos (Ana e Joaquim), darem dos rendimentos de minha terça, anualmente, a quantia de 20.000 réis anuais ao meu filho José enquanto este for vivo, assim como 3.000 réis a Maria Salvada, mulher de António Moreira, e a Maria dos Prazeres, 3.000 réis, enquanto estas forem vivas.  
Para o filho João, deixa um chão no sítio do Vale com seu nascente de água.
Nomeia para a sua terça, as propriedades seguintes: (1) um «chão com seu souto chamado o Chão de …(?)» no limite de Alcongosta; (2) uma «quinta com sua casa chamada de São Marcos» no limite do Fundão; (3) um «Lagar de fazer azeite» no limite do Fundão; (4) um «prado do carvalhal com sua casa» no limite da Fatela e Alcaide; (5) um «chão que serve a lameiro no Sítio dos Araes(?) limite deste lugar»; (6) uma «Quinta chamada dos Joaes (?)», a qual se acha «tapada de paredes e valados», com sua casa, mais soutos, olivais, árvores e terras, no sítio dos Vales de Pêro Viseu.
Nomeia, ainda, por morte de seu marido, a sua filha D. Ana, para o «Prazo da Quinta de São Miguel», no limite da Levada, Fundão, que «parte com a ribeira de Alverca e com a estrada».
Ainda nomeia o seu filho João, para lhe suceder numa capela (vínculo) que possuía e fora instituída por Manuel Antunes Capinhão.
Retirados da herança os bens da terça e cumpridos todos os encargos deste testamento, para os «bens que restam deixo a meus filhos como herdeiros e filha».
Nomeia para testamenteiros, o seu marido Lourenço José, sua filha D. Ana, e seu filho Joaquim.
Mais tarde, antecipando a expectável abolição dos vínculos (capelas/morgados), devido ao falecimento do filho José (primogénito), toma a precaução de salvaguardar o seu sucessor filho João que, caso os vínculos venham a ser extintos antes da sua morte, herdará a sua parte dos bens da terça «por igual com o seu irmão Joaquim e a sua irmã Ana».



Notas:

[1]     Este museu apresenta diversos artefactos dos períodos Neolítico, Proto-Histórico, Romano e Medieval, com especial destaque para o seu espólio da Proto-História e da epigrafia romana.
[2]     Miguel Serrão era filho de GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (c. 1641), senhor da casa armoriada com as suas armas (Serrões e Azevedo) à Rua da Cale, o qual fez dois casamentos que lhe deram uma inúmera prole.
[3]     Ana Rodrigues, e sua filha Ana Mendes, a qual ficou viúva de Francisco Mendes Falcão e voltou a casar com Miguel Serrão de Azevedo, instituíram com os seus bens vários pequenos vínculos em capela com encargos de várias missas. Cf. Biblioteca do Seminário do Fundão, Livro das Capelas e nomes dos administradores de S. Martinho do Fundão, MS, fs. 12-13..
[4]     Cf. SILVA, Joaquim Candeias da, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp. 61-68; MIGUEL SERRÃO DE AZEVEDO (1633-1701) era filho do armigerado GONÇALO SERRÃO DE AZEVEDO (c. 1641), morador na Rua da Cale, cuja casa ostenta a sua pedra de armas de SERRÃO e AZEVEDO, o qual teria inicialmente vivido na casa dos seus sogros na rua que posteriormente se chamou Rua do Serrão.
[5]     ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23, n.º 17. – Esta precoce Justificação de Nobreza foi efectuada à semelhança do que, poucos anos antes, tinha feito o morgado de Peroviseu para o seu filho Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral (n. 1776) que obteve CBA a 3-VIII-1791, por volta dos 15 anos de idade.
[6]     ANTT, Cartas de Armas, cx.2, n.º 7.
[7]     Este 2.º quartel, com as armas da família Feijó, deve-se a um erro de atribuição. Nele deviam figurar as armas da família Feio (de azul, com três bandas de vermelho, perfiladas de ouro). 
[8]   Para mais detalhes sobre a família deste armigerado, cf. Joaquim Candeias da SILVA, «Subsídios para o enquadramento histórico da casa onde se encontra instalado o Museu Arqueológico José Monteiro», in Revista Ebvrobriga, Museu José Monteiro, n.º 5, 2008, pp. 61-68.
[9]     SILVA, Joaquim Candeias da; Ibid. p. 62.
[10]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.20, fl.279
[11]    Data inscrita num lintel da porta principal.
[12]    ANTT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv.19, fl.153v.
[13]    ISIDORO MENDES D’ELVAS TABORDA DE NEGREIROS (n. 1668?), juiz de fora em Pedrógão e Figueiró, provedor de Tomar, corregedor no Algarve, provedor nas Ilhas, e desembargador no Porto, era filho de FRANCISCO MARTINS TABORDA D’ELVAS, casado na freguesia dos Chãos (Donas) com D. GENEDRA MENDES, filha de Lourenço Dias Mendes e de D. Maria Antunes Travaços.
[14]    Cf. CBA de Lourenço José Taborda Tavares de Negreiros Feio Falcão – ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, mç. 23, n.º 17.
[15]    Segundo a já citada CBA, estes Falcões Tavares do Fundão eram descendentes de Francisco Mendes Falcão Tavares (f. 1671), padroeiro da Igreja de Santa Maria Madalena da Covilhã. Após a morte deste, a sua viúva veio a casar com Miguel Serrão de Azevedo (1633-1701), cuja família, provavelmente, terá dado nome á rua onde está o Museu Arqueológico e onde existiria uma anterior casa sua (Cf. Nota 6).
[16]    MANUEL TAVARES FALCÃO (c.1633), na sua CBA, não figura com o apelido ANTUNES, ao contrário do que sucede na CBA concedida a seu neto.
[17]    MACHADO, José de Sousa, Brasões inédito, Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 128.
[18]    IANTT, Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv. 2, fl. 230v.
[19]    SILVA, Joaquim Candeias da, O Concelho do Fundão através das Memórias Paroquiais de 1758. Fundão: Tip. do «Jornal do Fundão», 1993, p. 107.
[20]    O seu testamento, assim como o da sua mulher, encontra-se transcrito no respectivo assento de óbito.

2015-12-23

Fundão desaparecido: Casa São Pedro, Gonçalves Carrolo, e Vaz Ferreira


Praça do Município / antigo Largo do Terreiro

Fundão, Praça do Município, 2.º quartel do Séc. XX.


   A antiga casa que foi sucessivamente habitada pelas famílias SÃO PEDRO, GONÇALVES CARROLO e VAZ FERREIRA, há muito desaparecida do centro da antiga vila do Fundão, fazia parte da memória colectiva desta terra, a qual aqui iremos partilhar.
Casa São Pedro, Gonçalves Carrolo, e Vaz Ferreira.
Destas famílias, e das suas ligações colaterais, descende uma significativa parte da população fundanense.
   Bastante antiga e de arquitectura singela, como a maior parte das casas típicas que outrora aqui existiam, pertenceu a uma família laboriosa de artesãos, agricultores e comerciantes; actividades estas que constituíam a base da subsistência da maior parte da população que habitava esta terra há muitas gerações e tinha origem, em grande parte, na comunidade judaica foragida de Castela e aqui radicada nos finais do século XV[1].

   Este edifício, procedente de um outro datado do início do século XVIII (?), apresentava uma planta quadrangular de três pisos: os dois primeiros aparentemente mais antigos, aos quais foi acrescentado um terceiro piso de tabique nos meados do século XIX para acompanhar o crescimento em altura das restantes casas edificadas ao seu redor. Tinha um rés-do-chão que provavelmente foi inicialmente destinado ao aprovisionamento dos abastecimentos agrícolas, como casa semi-rural que seria aquando da sua primitiva fundação. Este piso térreo, acabou por receber estabelecimentos comerciais de aluguer já no século XX. No primeiro andar esteve instalada, entre outras, a Associação Comercial e Industrial do Fundão (1924-1930)[2].

Real Fábrica de Panos do Fundão (1764), futuros Paços do Concelho.
   Situada de frente para os Paços do Concelho, ao antigo Terreiro (actual Praça do Município), fazia esquina com a Rua 5 de Outubro onde estava a sua fachada principal com a respectiva porta de acesso à escadaria que levava aos pisos superiores[3]. Esta orientação da entrada, que privilegiava esta rua, indiciava ser uma construção antiga, edificada quando o Terreiro ainda não tinha a importância actual.

    Foi talvez edificada na primeira metade de Setecentos, ao tempo em que o Terreiro (hoje Praça do Município) era um arrabalde que começou a ser apropriado pelo espaço urbano, no qual viria a ser edificada a Real Fábrica de Panos do Fundão (1764), cujo edifício, muito mais tarde, deu origem aos Paços do Conselho (actual Câmara Municipal) com a sua cadeia anexa.

Actual Câmara Municipal do Fundão,
(antiga fábrica de lanifícios).
    Este novo espaço – o Terreiro – ganharia a importância de centro cívico, à volta do qual viriam a instalar-se algumas famílias com posses, construindo casas de cérceas mais altas. 
    Uma destas foi a dos Dias Preto Osório (morgados de Peroviseu e Chãos)[4], que aí tinham uma vasto logradouro agrícola delimitado a Norte pela posteriormente designada Rua dos 3 Lagares, assim como, mais acima, a grande casa da família de D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Malafaia, senhores da Casa do Arco em Vila Real, cuja casa no Fundão, com o seu grande reduto, sofreu alterações para receber o quartel do Regimento de Cavalaria n.º 8 (1832-1834)[5]e mais tarde veio a pertencer ao descendente de Joaquim Navarro de Paiva Andrade, cujo filho, o conselheiro José Navarro Pereira de Andrade (1844-1930)[6], a reedificou numa configuração apalaçada que ficou incompleta como indicia a falta de simetria na fachada principal. Tendo este falecido em 1931, sem herdeiros directos, a mesma casa veio a ser adquirida por D. Emília Maia Figueira, que lhe conferiu a designação de Casa dos Maias.


Centro Cívico do Fundão / Pç. do Município.
   Quanto à casa em apreço, desconhecemos os fundadores. Apenas sabemos que por meados de Oitocentos estava na posse da família SÃO PEDRO, originária do Fundão mas com parentela estabelecida em Penamacor, os quais eram José da Costa São Pedro (1821?-1884), aí casado a 26-X-1754 nas segundas núpcias de D. Narcisa Emília Robalo da Cunha (1787?-1893), grandes proprietários rurais, os quais faleceram sem geração. Sabemos, por um inventário orfanológico de 1885, que este casal possuía 60 propriedades em Penamacor, e o ramo fundanense desta família, encabeçado pelo padre António da Costa São Pedro (f. 1885), aqui tinha 35 propriedade que incluíam, provavelmente a casa dos São Pedro, várias modestas casas de aluguer e algumas propriedades rústicas, entre as quais a Quinta do Vale situada a Norte da actual Av. Eugénio de Andrade (hoje urbanizada)[7].
Edifício implantado no local da Casa São Pedro e da
Capela de São Gonçalo.
   Sem herdeiros directos, já no segundo quartel do século XX, parte dos bens deste padre, incluindo a Casa dos São Pedro, passaram para uma sobrinha materna de apelido CARROLO SÃO PEDRO, a qual casou com um tal VAZ FERREIRA, originário da freguesia do Peso, concelho da Covilhã.

   A casa foi demolida em meados do terceiro quartel do século XX, juntamente com uma pequena e enigmática casa contígua que em tempos recuados era a capela de SÃO GONÇALO, e agora estava transformada em casa de habitação, aumentada de mais um piso. Ambas foram expropriadas para utilidade pública já no último quartel do século XX, e substituídas pelo edifício actual que foi edificado para sede da Caixa Geral de Depósitos. Esta instituição bancária acabaria, poucos anos depois, por ser transferida para uma outra edificação localizada numa outra esquina da mesma Praça do Município com a Rua dos 3 Lagares[8], num terreno que pertencera aos morgados de Peroviseu.

   A instalação ao Terreiro da Real Fábrica de Panos (1755/1764-1821), que acabou por ser privatizada e posteriormente encerrada (1834), conferiu alguma importância a este arrabalde da vila. O primitivo edifício desta fábrica pombalina, de arquitectura bastante elegante para uma instalação fabril, acabaria por ser posteriormente aproveitando para aí instalar os Paços do Concelho, cujo edifício veio a sofrer alterações arquitectónicas (1819)[9], acabando aumentada de mais um piso já no início do século XX (1916) –, conferindo uma grande centralidade e importância e este espaço urbano.


CAPELA DE SÃO GONÇALO
   A capela de SÃO GONÇALO (Séc. XVIII?), situada à ilharga desta casa, de frente para os Paços do Concelho, foi, segundo a tradição, mandada edificar pela proeminente família Vaz de Carvalho / Vaz Preto que teve vários indivíduos com o nome de GONÇALO, daí a denominação do seu orago.
   Há memória de ter servido de culto aos reclusos do presídio fundanense, então localizado nos fundos dos Paços do Conselho que lhe ficavam defronte, para que estes aí pudessem ouvir missa aos domingos e dias santos[10].
A tradição refere que este pequeno templo foi incendiado e destruída pela invasão dos franceses que assolaram sucessivamente o Fundão em 1810, 1811, e 1812[11], onde fizeram muitas mortes, saques e destruição, provocando um período de fome e de grande declínio na região.

Capela de São Gonçalo (casa) e Casa São Pedro.
   Este último ano, em Abril de 1812, foi certamente o mais trágico para esta vila, quer em destruição de património, quer em perda de vidas provocadas pelos invasores franceses.
   Os assentos de óbito desta paróquia, num curto espaço de tempo, registam mais de uma dezena de mortes provocadas pelos agressores, assim como várias vítimas da miséria e da fome, e de diversas moléstias e febres; quase todas elas sepultadas no então cemitério do adro da Igreja Matriz.
Num registo de óbito datado de 3-IV-1812, o cura desta paróquia refere um indivíduo que “morreu de miséria e fome”, assim como, no mesmo ano, muitos outros falecimentos por “moléstia” e “febre”; a maioria dos quais de crianças e adolescentes. Só neste último ano, mais de uma dezena de habitantes do Fundão foram mortos pelos franceses, dos quais se destaca uma criança de 10 anos, de nome Joana, que “achou-se queimada na ajuda da Senhora da Conceição” (capela), incendiada pelos franceses a 15-IV-1812 – tal a barbárie que assolou esta localidade em Abril de 1812.
   Juntamente com a capela da Senhora da Conceição, supomos que também foi incendiada em Abril de 1812? a capela de São Gonçalo, e a casa contígua a esta – que veio a dar origem à casa em apreço –, hipoteticamente na posse da família VAZ de CARVALHO que era a proprietária da citada capela.
   Devido à destruição sofrida, este pequeno templo acabou posteriormente por ser desafectada ao culto e convertida em casa de habitação, já completamente alterada e aumentada de mais um piso, na qual ainda eram visíveis os cunhais de cantaria original.

   A então desaparecida capela de São Gonçalo, terá sido edificada por iniciativa de um servidor do rei D. João V, o desembargador do paço JOSÉ VAZ DE CARVALHO (c.1675-1752), nascido em Seia quando seu pai aí ocupava o cargo de Juiz de Fora, senhor do morgado de São Miguel de Acha no concelho de Idanha-a-Nova, familiar do Santo Oficio (1696), fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo.
   O citado desembargador sempre demonstrou grande apreço pelo Fundão, terra da origem de sua mãe D. Inês Falcão de Carvalho (c. 1650), onde tinha um grande solar sito à Rua da Cale – que veio a ser adquirido pela família Macedo. Foi nesta pequena terra de província que iniciou a sua carreira de magistrado como juiz dos Órfãos, ascendendo a muitos outros cargos do maior relevo que não cabe aqui referir, tendo diligenciado a elevação desta povoação à categoria de Vila, assim como criação do respectivo Concelho, emancipando-o do da Covilhã (diploma de 23-XII-1746 e carta de confirmação de 10-V-1747).
   Era casado com D. CONSTANÇA ANTÓNIA DA SILVEIRA (c. 1680)[12], natural de Lisboa, da qual sabemos que teve um filho de nome GONÇALO DA SILVEIRA PRETO (c. 1715), natural de Lisboa, fidalgo da Casa Real.
   Com a edificação deste orago – caso tenha sido ele o edificador – terá pretendido homenagear a memória de seu pai GONÇALO VAZ PRETO (n. 1643) que lhe impulsionou a carreira, o qual foi juiz de fora de Seia e corregedor da cidade da Guarda, nascido a 23-XI-1643 na então vila de São Miguel de Acha que à data era sede de concelho, tendo casado com D. INÊS FALCÃO DE CARVALHO (c. 1650), natural do Fundão. Sabemos que a 7-V-1707 tinha tomado posse de uma capela de bens vinculados com o encargo de 18 missas por ano, como consta por uma nota num livro manuscrito iniciado em 1557, o qual regista as capelas com bens vinculados existentes no Fundão[13].
   Era neto paterno de outro GONÇALO VAZ, natural da Lousa, Castelo Branco, que fez construir o castelo da Vila de São Miguel de Acha (onde existe uma inscrição gravada em pedra que diz “Governador Gonçalo Vaz: 1663”) e aí casou com D. SUSANA FERNANDES PRETO, filha de Gaspar Domingues do Couto e de sua mulher D. Susana Fernandes Preto[14].

   Não enjeitamos a possibilidade da citada capela, e a casa contígua que veio a dar origem à morada dos SÃO PEDRO, terem feito parte de um conjunto que pertenceu aos Vaz de Carvalho / Vaz Preto, quando esta zona ainda era um arrabalde quase rural próximo de vários casais ou quintas.

Capela de São Sebastião,
da família Vaz de Carvalho,
na periferia.
   Uma outra capela fundanense, a de São Sebastião, de fundação muito antiga (século XVII?), encontrava-se completamente arruinada quando foi reedificada (1735) a expensas do desembargador do Paço José Vaz de Carvalho, e posteriormente foi atribuída a esta família (1772), ostenta uma pedra de armas com o escudo esquartelado de: 1.º - VAZ; 2.º - CARVALHO; 3.º - OLIVEIRA; e 4.º - FALCÃO.
   Esta pedra de armas, sobre o seu portal, está desproporcionada em relação aos restantes elementos arquitectónicos da fachada, o que denota ter vindo de outro local, talvez até da destruída capela de São Gonçalo que foi desta família.
No Museu Arqueológico do Fundão, existe ainda outra pedra de armas da mesma família que, segundo a tradição, saiu da casa que que estes tiveram na rua da Cale. 






GENEALOGIA:


§ 1

SÃO PEDRO
1.    JOSÉ DA COSTA SÃO PEDRO (1792?-1851), proprietário, filho de Tomé da Costa, e de D. Joana Bárbara, ambos naturais do Fundão.
Nasceu por volta de 1792 e residiu na Casa São Pedro, sita à Rua dos Casados (actual Rua 5 de Outubro).
Faleceu a 19-VII-1851 no Fundão, aos 59 anos de idade, vitimado por “moléstia gástrica”, e foi a sepultar no cemitério de São Francisco. Deixou um “Testamento de mão comum” com sua mulher Ana, no qual “confessa ser Cristão Católico” e expressa a sua vontade de serem rezadas 206 missas distribuídas por sua alma e da sua mulher, dos seus parentes falecidos e, ainda, “pelas Irmandades de que sou Irmão[15]. Sabemos ter sido benemérito do Hospital de Santo António em Penamacor, ao qual legou 200$000 réis[16], assim como contribuiu com um pequeno donativo de 480 réis no âmbito de uma subscrição pública promovida para ajudar a custear o equipamento do Batalhão de Voluntários Realistas da Covilhã e Fundão (1830-32)[17], afecto à causa legitimista do rei D. Miguel I (1828-1834).
       Por altura das invasões francesas que fizeram uma grande destruição e morticínio no Fundão (1810-1812), aí casou a 2-VI-1811 com D. ANA BÁRBARA, filha de Rodrigo dos Santos e de D. Brites Maria, naturais do Fundão, onde eram proprietários. Este casamento, certamente feito na maior descrição e à pressa, devido à constante intranquilidade provocada pela guerra, teve por testemunhas o padre José Joaquim Rebordão e o padre José Martins. Ambos os pais da noiva já eram falecidos, assim com o pai do noivo.
Filhos conhecidos:
2.1. Padre ANTÓNIO DA COSTA SÃO PEDRO (f. 1885), proprietário em Penamacor e no Fundão. Foi pároco na Igreja de Santiago de Juncais (1857), concelho de Fornos de Algodres, e na Igreja de São Pedro do Alcaide (1867-1885), concelho do Fundão, freguesia que deixou de paroquiar em Janeiro de 1885.
Faleceu a 19-II-1885 na casa da sua cunhada D. Narcisa Emília Robalo da Cunha (f. 1893), em Penamacor, a qual foi inventariante e cabeça de casal no inventário de menores para avaliação dos bens do “casal do Padre António S. Pedro” (2-III-1885)[18].
Deixou os seus bens aos sobrinhos maternos, ainda menores, filhos do seu irmão Manuel Gonçalves Carrolo (1829?-1892) e de D. Maria Cândida da Costa São Pedro (n. 1852?), residentes no Fundão.
2.2. D. ANA BÁRBARA DA COSTA SÃO PEDRO (1815?-1886), falecida a 27-II-1886 na Rua da Praça Velha da então vila do Fundão com 71 anos de idade. Casou com JOSÉ TAVARES SALVADO, do qual não teve geração.
2.3. D. MARIA CÂNDIDA DA COSTA SÃO PEDRO (1816?-1892), falecida a 1-III-1892 no Fundão, quando contava 76 anos de idade. Casou com MANUEL ALMEIDA FAZENDEIRO, proprietário, do qual não teve geração.
2.4. D. TERESA (n. 1819), nascida a 7-I-1819 no Fundão onde foi baptizada a 24-I-1819 pelo padre José Joaquim, apadrinhada por José Francisco Taborda e D. Teresa Joaquina, e tendo por testemunhas o tesoureiro Manuel dos Santos Augusto Oliveira e Amaro da Cunha.
2.5. JOSÉ DA COSTA SÃO PEDRO (1821?-1884), homónimo de seu pai, proprietário, natural do Fundão e residente em Penamacor onde faleceu a 5-XII-1884 na Rua da Misericórdia n.º 9, sem testamento e sem filhos, quando contava 63 anos de idade, tendo recebido sepultura no cemitério público.
Casou a 26-X-1754 na Igreja Matriz de Penamacor, nas segundas núpcias de D. NARCISA EMÍLIA ROBALO DA CUNHA (1787?-1893), daí natural, já viúva de José Bernardo Taborda, que foi estudante da Universidade de Coimbra (1838), tendo por testemunhas o Doutor António Joaquim Pinheiro e José Pereira de Macedo. Era filha de Manuel Robalo da Cunha e de D. Ana Augusta Rapoula, e faleceu a 23-I-1893 na Rua da Misericórdia em Penamacor, aos 106 anos de idade, já viúva, com testamento e sem filhos, recebendo sepultura no cemitério público.
Foram herdeiros das 60 propriedades que estes possuíam em Penamacor, entre muitas outras pessoas, parentes do primeiro marido de D. Narcisa Emília, tais como: 1. – António Manuel Ferreira Taborda Pignatelli, natural da Aldeia João Pires, Penamacor, casado com D. Maria Columbina de Sousa Leitão (n. 1837), e filhos; 2. – Maria Lúcia Taborda; 3. – Maria Cândida Ferreira Taborda, casada nas suas primeiras núpcias de António Augusto de Sousa, natural de Monsanto, Idanha-a-Nova, do qual teve duas filhas herdeiras que foram Maria Lúcia (de 11 anos), e Maria isabel (de 14 anos).   
2.6. D. JOANA BÁRBARA, natural do Fundão. Casou com ANTÓNIO FRANCISCO DUARTE, natural do Fundão, filho de José Amaro, natural do Fundão, e de sua mulher D. Isabel Joaquina, natural da Soalheira.
Filha:
3.1  D. AMÁLIA NARCISA (n. 1856), nascida a 6-XI-1856 no Fundão, e logo baptizada por necessidade pelo reverendo José da Silva Delgado [Leitão][19], e no dia 5-I-1857 foram-lhe impostos os Santos Óleos pelo seu tio materno o reverendo António da Costa São Pedro, acto este que foi testemunhado pelo reverendo Joaquim Ribeiro da Franca, e José Maria Sarafana (de Atalaia do Campo).


§ 2

GONÇALVES CARROLO
1.     MANUEL GONÇALVES ESTRELADO. Casou a 26-XII-1821 no Fundão com D. HELENA DA CRUZ[20], dos
        quais uma bisneta – Maria da Piedade Carrolo São Pedro (1882-1965) – veio a ser herdeira da casa.
        Filho:
        2.  JOSÉ GONÇALVES ESTRELADO, ou CARROLO, que segue.

2.    JOSÉ GONÇALVES ESTRELADO, ou CARROLO[21], jornaleiro, natural de Freixial dos Potes, concelho do Fundão, segundo se declara no assento de baptismo da sua sobrinha-neta Maria Teresa (b.14-IV-1867), ao arrepio do que se menciona noutros assentos posteriores dos seus descendentes.
Casou a 26-XII-1821 com D. MARIA DE ANDRADE, (1791?-1871), natural do Fundão, falecida a 15-II-1871 na Rua de Santo António (actual Rua José Germano da Cunha), com cerca de 80 anos de idade, e sepultada no alpendre da Capela de Santo António; filha de António Andrade e Maria de Andrade, naturais do Fundão. Foram testemunhas deste casamento Francisco António de Andrade e o padre José António Martins.
Filhos:
3.1. MANUEL GONÇALVES CARROLO (n. 1829?-1892), que segue abaixo.
3.2. JOSÉ GONÇALVES CARROLO (c. 1848), homónimo de seu pai. Casou a 26-VIII-1848 no Fundão com D. RITA MARIA (f. 1854), viúva de António da Fonseca Nabinho, falecida a 18-III-1854, filha de Manuel Gonçalves e de D. Maria Ribeira Correia.
Filho:
4.1. FRANCISCO GONÇALVES (c. 1854). Casou a 12-VII-1854 no Fundão com D. MARIA DOS PASSOS, filha de Luís de Morais e de D. Maria Joaquina da Silva, todos naturais do Fundão, tendo por testemunhas José Januário de Morais, e José Maria da Fonseca Pinto.
3.3. ANA MARIA ANDRADE (c. 1850). Casou “na presença das Testemunhas e de outro muito Povo” a 15-XII-1850 no Fundão com JOAQUIM BAPTISTA RUSSO, filho de Joaquim António Russo e de Maria dos Santos.
3.4. FRANCISCO GONÇALVES CARROLO (c. 1853), ferreiro de profissão. Casou “na presença das Testemunhas, e de outro muito Povo” a 13-I-1853 no Fundão com D. HENRIQUETA EUGÉNIA, filha de José Duarte Russo e de D. Teresa Maria de Jesus, todos naturais do Fundão. Foram testemunhas deste casamento o Dr. Albano Geraldes da Cunha Taborda Leitão, e Manuel Tavares Cardona Rodrigues de Carvalho.
Filha.
4.    D. MARIA TERESA (n. 1867), nascida a 16-II-1867, baptizada em casa por necessidade a 22-II-1867, a qual recebeu os Santos Óleos a 14-IV-1867 na Igreja Paroquial de São Martinho do Fundão.

3.    MANUEL GONÇALVES CARROLO (1829?-1892), carpinteiro de profissão, nascido por volta do ano de 1829 no Fundão (?). Faleceu repentinamente a 30-V-1892, “às onze horas da manhã, numa fazenda sita aos Prados”, no limite do Fundão, quando contava 65 anos de idade, deixando 6 filhos vivos, alguns de menor idade que iriam enfrentar dificuldades, as quais só foram minoradas com a herança que lhes coube pela morte do seu tio materno, o padre ANTÓNIO DA COSTA SÃO PEDRO (f. 1885), falecido em Penamacor. 
       Casou a 27-II-1867 no Fundão, quando contava 37 anos de idade, com D. MARIA CÂNDIDA DA COSTA SÃO PEDRO (n. 1852?)[22], de 15 de idade anos, com licença do Juiz dos Órfãos (sentença de 15-I-1867), natural do Fundão onde residia na Rua da Cale; filha de Lourenço José Tavares Bimba[23], e de sua mulher D. Antónia das Dores São Pedro, ambos naturais do Fundão e moradores à Rua da Cale. Foram padrinhos deste casamento José Tavares Salvado, proprietário, que foi casado com D. Ana Bárbara da Costa São Pedro (f. 1886), e António de Brito.
       Filhos (9):
4.1.    ANA (1868-1868), nascida a 4-X-1868 e baptizada a 8.XI-1868 na Igreja Paroquial de São Martinho do Fundão, cidade onde faleceu a 19-XI-1868 com a idade de “um mês e quinze dias”.
4.2.    D. HENRIQUETA (1869-1959), nascida a 29-XII-1869 e baptizada a 8-XI-1868 no Fundão. Foi uma das herdeiras de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 15 anos de idade. Casou na Covilhã com (…) MORAIS CANAVEIRA, neto do artista covilhanense Manuel Morais da Silva Ramos (1806-1872) –  O Manuel do Convento, como ficou conhecido por ter adquirido as casas do antigo Convento de Santo António da Covilhã –, cidade onde faleceu a 15-X-1959 na freguesia de Santa Maria.
Filha:
6.    D. GABRIELA, a que ficou demente e não casou.
4.3.    JOSÉ MANUEL (n. 1872), nascido a 17-XII-1872 e baptizado a 30-XII-1872 no Fundão. Terá falecido de pouca idade.
4.4.    ANTÓNIO MARIA (1875-1946), nascida a 18-IV-1875 e baptizada a 24-VII-1875 no Fundão. Foi um dos herdeiros de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 10 anos de idade.
4.5.    MARIA JOSÉ (1878-1879), 1.ª deste nome, nascida a 11-I-1878 e baptizada a 23-II-1878 no Fundão, tendo falecido de poucos meses de idade a 19-IX-1879.
4.6.    D. MARIA JOSÉ (n. 1880), 2.ª deste nome, nascida a 20-II-1880 no Fundão e aí baptizada a 26-IV-1880 Foi uma das herdeiras de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 5 anos de idade.
4.7.    D. MARIA DA PIEDADE CARROLO SÃO PEDRO (1882-1965), 2.º deste nome. Foi uma das herdeiras de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 3 anos de idade. Veio a herdar, mais tarde, a Casa São Pedro. Vai abaixo no § 3 – VAZ FERREIRA.
4.8.    FRANCISCO (n. 1884), nascido a 22-IX-1884 e baptizado a 13-XII-1884 no Fundão. Faleceu a 28-I-1945, com testamento. Foi um dos herdeiros de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 8 meses de idade
4.9.    HERMÍNIO (1887-1932), nascido a 26-VIII-1887 e baptizado a 20-X-1887 na igreja paroquial de São Martinho do Fundão, onde veio a falecer a 27-VI-1932. Casou a 31-XII-1923 no Fundão com D. ANA NUNES DAS NEVES.


§ 3

VAZ FERREIRA
5..   D. MARIA DA PIEDADE CARROLO SÃO PEDRO (1882-1965)[24], 2.º deste nome (§ 2, 5.7), herdeira da «Casa São Pedro» no Fundão. Era uma das 9 filhas e filhos de Manuel Gonçalves Carrolo (1829?-1892), carpinteiro, nascido por volta do ano de 1829 (?) no Fundão, e falecido repentinamente a 30-V-1892, “às onze horas da manhã, numa fazenda sita aos Prados”, no limite do Fundão, quando contava 65 anos de idade, e de sua mulher D. Maria Cândida da Costa São Pedro (n. 1852?)[25]; casados a 27-II-1867 no Fundão, quando ele contava 37 anos de idade, e ela 15 anos.
Nasceu a 10-VIII-1882 na Rua da Cale no Fundão, cidade onde foi baptizada a 1-XI-1882 na Igreja Paroquial de São Martinho. Faleceu a 7-XII-1965 na citada cidade, onde residiu na Praça do Município e na Quinta do Vale.
Manuel Vaz Ferreira (1886-1951) e 
Maria da Piedade Carrolo São Pedro
(1882-1965); Fundão, 1912.
       Foi uma das co-herdeira dos bens de seu tio materno o padre António da Costa São Pedro (f. 1885) quando contava cerca de 3 anos de idade, dos quais não constava a Casa São Pedro que, segundo a tradição corrente entre os seus filhos, não foi herdada directamente do referido padre, mas de Jerónima São Pedro, sua parente em grau que desconhecemos e à qual chamava tia.
Casou a 3-X-1912 na Igreja Paroquial de São Martinho do Fundão com MANUEL VAZ FERREIRA (1886-1951), comerciante, nascido a 10-XI-1886 e baptizado a 7-XII-1886 na Igreja de Santa Maria Madalena da freguesia do Peso, concelho da Covilhã, cujo casamento foi apadrinhado por José Martins e por sua mulher Piedade do Nascimento Amorim. Faleceu a 7-X-1951 no Fundão, em cujo cemitério público foi sepultado.
Seu marido era filho de MANUEL JOAQUIM VAZ (1833-1924), falecido a 20-XII-1924 no Fundão, e de sua mulher D. RUFINA FERREIRA, ambos naturais da freguesia do Peso; neto paterno de JOAQUIM VAZ DE CARVALHO (n. 1799),[26] nascido a 1-III-1799 no lugar do Pesinho, anexo a Alcaria, concelho do Fundão, casado a 11-VIII-1822 na freguesia do Peso, concelho da Covilhã, com D. JERÓNIMA VALENTE (n. 1802), nascida a 8-VI-1802 na freguesia do Peso.
D. JERÓNIMA VALENTE (n. 1802), juntamente com mais 7 irmãos, era filha de MANUEL ÁLVARES VALENTE (n. 1746), nascido a 2-IX-1746 no Peso, concelho da Covilhã, onde casou a 12-XI-1772(?) com D. ISABEL MARIA (n. 1765), nascida a 21-II-1765 no Dominguizo, concelho da Covilhã.
MANUEL ÁLVARES VALENTE (n. 1746) era filho de JOSÉ ANTUNES e de D. MARIA MANUEL; neto paterno de DOMINGUES DUARTE e D. CATARINA ANTUNES; e neto materno de MANUEL ÁLVARES VALENTE e de D. ISABEL DUARTE, todos eles naturais do Peso.
D. ISABEL MARIA (n. 1765) era filha de JOSÉ FRANCISCO, natural da Póvoa Dão, freguesia de Silgueiros, concelho de Viseu, casado a 25-VII-1748 no Dominguizo com D. MARIA FERNANDES MATEUS (n. 1727), nascida a 4-I-1727 no Dominguizo, ambos “tidos e havidos como Cristãos Velhos”, como se menciona no assento de casamento; neta paterna de FRANCISCO PAIS e de D. FRANCISCA ANTUNES; bisneta paterna de outro FRANCISCO PAIS e de D. CATARINA ANTÓNIO, todos da Póvoa Dão; e bisneta materna de ANTÓNIO ANTUNES e de sua mulher D. MARIA FRANCISCA, todos da mencionada freguesia de Póvoa Dão. Pelo lado materno era neta de MATEUS FERNANDES, natural do Pesinho, e D. MARIA ESTEVES, natural da freguesia do Ferro, no concelho da Covilhã; bisneta paterna de ANTÓNIO FERNANDES, natural do lugar do Pesinho, Alcaria, concelho do Fundão, e de D. MARIA PIRES, natural da freguesia de Cortes do Meio, concelho da Covilhã; e bisneta materna de DOMINGUES ESTEVES GIRALDO e de D. MARIA ESTEVES SERRANO, ambos naturais do Ferro.
Filhos (8):
6.1.    JOSÉ SÃO PEDRO FERREIRA (1913-1989), nascido em 1913 no Fundão, e falecido em 1989 em Lisboa, funcionário de uma companhia de construção e reparação naval em Cacilhas, no concelho de Almada. Residiu na Trafaria, no concelho de Almada, e em Lisboa. Casou com D. ESTELA DE CARVALHO SANTOS (n. 1913). Tiveram, duas filhas e um filho, o qual representa a linha varonil dos VAZ FERREIRA.
6.2.    D. JOAQUINA DA COSTA SÃO PEDRO (f. 1999), nascida no Fundão, e falecida em 1999 em Queluz, no concelho de Sintra. Casou com MANUEL DA SILVA BARROSO, funcionário de um laboratório farmacêutico em Queluz. Tiveram uma filha, casada, com geração.
6.3.   D. ANTÓNIA SÃO PEDRO FERREIRA (1916-1940), nascida em 1916 no Fundão, e falecida prematuramente em 1940 em consequência de uma epidemia de gripe, solteira.
6.4.    D. ANA VAZ FERREIRA (1917-2010), nascida em 1917 no Fundão, onde em 2010 veio a falecer. Casou com JOAQUIM MONTEIRO TRIGUEIROS LEITÃO (1918-1974), funcionário de uma instituição bancaria, nascido em 1918 em Lisboa, onde residiu, e falecido no Fundão em 1974. Tiveram um filho.
6.5.    MANUEL SÃO PEDRO FERREIRA, comerciante na freguesia do Rossio ao Sul do Tejo, concelho de Abrantes. Casou com D. DIAMANTINA MARTINS (f. 2010). Tiveram duas filhas, ambas casadas, com geração.
6.6.   D. MARIA GABRIELA VAZ CARROLO (f. 2016), nascida no Fundão, onde faleceu a 31-I-2016, solteira, sem geração. Exerceu informalmente as funções de parteira, numa altura em que o Fundão era carente destes serviços, sendo da sua responsabilidade o nascimento de centenas de crianças do meio rural fundanense que por ela sempre mostrou gratidão.
6.7.    D. MARIA CELESTE CARROLO VAZ (1925-2012), nascida em 1925 no Fundão, onde em 1912 veio a falecer. Casou com ANTÓNIO JOSÉ LIBERAL (1927-1998), delegado de informação médica e comerciante, nascido em 1927 em Beja, e falecido em 1998 no Fundão. Tiveram um filho e uma filha, ambos com geração.
6.8.    D. MARIA DA PIEDADE CARROLO FERREIRA (1925-2005), irmã gémea da anterior, nascida a 6-II-1925 no Fundão, e falecida a 6-VI-2015 na freguesia da Sé de São Pedro em Évora. Casou com ANTERO RESENDE RODRIGUES (1824-1985), professor e funcionário superior de uma companhia de telecomunicações aeronáuticas, nascido a 21-V-1924 na freguesia de São Nicolau no Porto, e falecido a 11-XI-1985 na freguesia de Alvalade em Lisboa. Tiveram dois filhos, ambos com geração.

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Notas:


[1]    Como as restantes localidades próximas da fronteira, o Fundão não escapou a ter sido uma terra de acolhimento para muitos dos judeus fugidos de Castela devido ao Édito dos Reis Católicos (31-III-1492). Muitos deles, encurralados em Portugal e sem possibilidades de partirem para países distantes, foram obrigados à conversão ao Cristianismo (5-XII-1496), porém continuaram a praticar a sua religião em segredo. Foi a este laborioso e empreendedor povo errante que o Fundão ficou a dever muito do seu desenvolvimento demográfico e económico nesta época (1492-1536).
[2]       TRAVASSOS, J. Salvado, Toponímia do Fundão, Fundão, e.a., 1998, p. 77.
[3]      A actual Rua 5 OUTUBRO, ao longo da história desta casa teve várias designações, algumas delas ao sabor da conjuntura política do momento. A saber, já foi denominada de Rua da Corredoura, que inicialmente travessava a todo o comprimento esta localidade (rua desviada numa povoação para passagem do gado); Rua dos Casados (designação com o significado união de …); Rua dos Borracheiros (fabricantes de “borrachos”, odres feitos de pele de cabra para transporte de azeite e vinho novo); Rua Cardoso Avelino (Ministro da Obras Públicas em 1876-77).
        Quanto à PRAÇA DO MUNICÍPIO, inicialmente designava-se por Terreiro, o qual devido ao seu declive se dividia em Terreiro de Cima (frente à fábrica de panos), e Terreiro de Baixo (traseiras da fábrica) no qual se fazia o mercado que receberia um “Telheiro público” por volta de 1782.
[4]     A casa dos morgados de Peroviseu pertence actualmente á sua descendente Dr.ª D. Maria da Graça Rosado Trigueiros de Aragão.
[5]    O regimento de Cavalaria n.º8 (1832-1834) esteve aqui sediado durante a Guerra Civil, ao serviço do rei D. Miguel I e da causa absolutista. A instalação deste regimento na casa dos Malafaias, não terá sido estranha ao facto desta família de fidalgos da Casa Real e oficiais de Cavalaria com origem em Vila Real e ligações matrimoniais no concelho do Fundão (morgados de São Nicolau em Alcongosta, e morgados de São Miguel no Fundão), serem todos, como militares, devotados servidores da causa absolutista. As cavalariças do regimento estavam localizadas ao Terreiro de Baixo, no início da Rua Conde de Idanha-a-Nova, provavelmente no local onde hoje está situado o Edifício Acrópole. Com o triunfo do regime liberal em 1834, a maior parte desta famílias miguelistas do Fundão acabaram por se desfazer do seu património e demandaram outras paragens onde também tinham grandes casas.
[6]    JOSÉ NAVARRO PEREIRA DE ANDRADE (n. 1844), filho de Joaquim Navarro, foi presidente da Câmara Municipal do Fundão e administrador do Concelho.
[7]     Arquivo Distrital de Castelo Branco, Inventário de Menores por óbito do Padre António da Costa S. Pedro, 1835-03-02, n.º 114, cx, 14.
[8]    Este belíssimo edifício é da autoria do arquitecto modernista Raúl Chorão Ramalho (1914- 2002), natural do Fundão. No edifício então desocupado pela Caixa geral de Depósitos foi instalada a Biblioteca Municipal, q qual acabaria por passar a novas instalações. Actualmente aqui está sediado um departamento de serviços urbanísticos da C.M.F.    
[9]       ROSA, J. Mendes Rosa, História Cronológica do Fundão (Fundão, C.M.F, 2005), p. 103.
[10]     ROSA, J. Mendes, op. cit., C.M.F, 2005), p. 85.
[11]    O Fundão esteve sob as operações militares dos invasores, e das forças contrárias, em 1810, 1811 (2/Fev., e de 25/Fev., a 2/Mar, 6 a 11/Abr, e 15/Abr.) que foi o pior ano, e em 1812 (10/Abr,) quando fizeram mais de uma dezena de mortos e incendiaram habitações e capelas.
[12]     D. CONSTANÇA ANTÓNIA DA SILVEIRA (c. 1680) era filha de Manuel da Silveira Araújo e de D. Antónia Maria de Faria; neta paterna do desembargador António Rodrigues de Araújo e de sua mulher D. Constança Silveira, ambos naturais de Montemor-o-Novo; e neta materna do desembargador João Manuel de Faria que era natural da Chamusca, e de sua mulher D. Margarida de Araújo natural de Montemor-o-Novo.
[13]   BIBLIOTECA DO SEMINÁRIO DO FUNDÃO, Livro das Capelas e nomes dos administradores de S. Martinho do Fundão, 1557, p. f. 46.
[14]   GUERRA, Luís Bivar, A Casa da Graciosa, 1965, p. 202
[15]    Anotação lançada no seu assento de óbito.   
[16]    LANDEIRO, José Manuel, O concelho de Penamacor na História, na Tradição e na Lenda (Penamacor, CMP, 3.ª ed., 1988), p. 71.
[17]   O Batalhão de Voluntários Realistas da Covilhã e Fundão (1830-1832) era comandado pelo coronel Luís Cândido Tavares Osório que publicou a relação dos subscritores na «Gazeta de Lisboa» (13-II-1832, pp. 186, 187).
[19]   O Padre Dr. José da Silva Delgado Leitão (f. 1862) foi ordenado sacerdote em 1816, após o que paroquiou a Fatela, no concelho do Fundão, cargo que abandonou para ir para Coimbra em cuja Universidade se formou Cânones (1823). Regressa ao Fundão para ser padre nesta paróquia (1823-1829), acabando aqui por abraçar a política como Chefe Concelhio do Partido Legitimista que defendia a causa do rei D. Miguel I de Portugal, o que lhe valeu grandes dissabores e vexames após o triunfo dos liberais. Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia do Fundão, à qual prestou grandes serviços. Apesar de ter granjeado grandes inimigos políticos, era respeitado por grande parte dos seus contemporâneos que lhe admiravam as suas grandes qualidades intelectuais e humanas.
[20]     Dados compilados do assento de casamento de José Gonçalves Estrelado com Maria de Andrade, realizado a 26-XII-1821 no Fundão.
[21]   O apelido CARROLO, usado nas gerações posteriores, provavelmente provinha de algum antepassado e vem mencionado nos assentos paroquiais dos seus descendentes. Este apelido, tão comum nas zonas fronteiriças, era usado por famílias de cristãos-novos, alguns deles ligados à indústria têxtil. Veja-se o «Processo de Francisco da Silva Carrolo», tecelão, morador na vila de Chacim, no concelho de Macedo de Cavaleiros, preso em Coimbra a 26-V-1749 (ANTT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10624).
[22]   Nos assentos de baptismo de alguns dos seus filhos, aparece com os apelidos «Costa São Pedro».
[23]  Um tal António Lourenço Bimba, jornaleiro de profissão, aparece como padrinho de baptismo de António (n. 1882), nascido a 7-XI-1882 e baptizado a 2-XII-1882 no Fundão, filho de Manuel Joaquim Correia, ferreiro de profissão, natural de Penamacor, e de sua mulher D. Maria de São Pedro, a qual, por sua vez, era filha de Venceslau Nunes da Horta e de Rosária Gonçalves [São Pedro?].
[24]    D. Maria da Piedade Carrolo (1882-1965), também usou os apelidos “São Pedro” que constam dos respectivos assentos de casamento e de óbito. O falecimento do seu pai quando ainda tinha pouca idade, e uma prole numerosa de irmãos, levaram a que esta fosse criada por uma senhora de apelido São Pedro (sua parente, como se infere dos apelidos de sua avó materna), a que chamava “tia São Pedro”, a qual viria a falecer solteira e sem herdeiros pelo que lhe deixou o património que possuía.
[25]    Nos assentos de baptismo de alguns dos seus filhos, aparece com os apelidos «Costa São Pedro».
[26]    Joaquim Vaz de Carvalho (n. 1799) era irmão de António Vaz de Carvalho (n. 1793), o qual casou a 6-V-1819 na freguesia do Peso com D. Joaquina Duarte (n. 1783).
        Os VAZ, aqui mencionados, provêm de Diogo Vaz que era natural do Paúl, concelho da Covilhã, casado com D. Ana Rodrigues, natural de Unhais da Serra. Quanto aos CARVALHO provêm de D. Jacinta Dias de Carvalho (n. 1644), nascida a 1-IX-1644 no lugar Carregal, freguesia de Dornelas do Zêzere, actualmente no concelho de Pampilhosa da Serra (até 1852 fez parte do concelho do Fundão). Nesta última data (1852) integrou o extinto concelho de Fajão e, a partir de 1855, passou para o de Pampilhosa da Serra.