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2014-10-17

CASA DA FRANCELHA – Loures, Sacavém / Prior Velho


Sacavém, Casa da Francelha (ala principal)


        A Quinta da Francelha de Cima, originariamente com cerca de 70 hectares de boa terra de cultivo, situada na freguesia de Sacavém, no concelho de Loures, encontra-se actualmente muito cerceada pela expansão urbanística de Prior Velho e da zona envolvente ao Aeroporto da Portela em Lisboa que lhe sobtraíu, já no segundo quartel do século XX, uma grande parte da sua área inicial.         
         No que resta dela, há uma graciosa casa de campo apalaçada – a Casa da Francelha – composta de duas alas que foram edificadas em épocas diferentes, formando um conjunto com uma planta em «L» e respectivas coberturas diferenciadas, assim como uma riquíssima decoração mural interior que é distinta nas duas partes deste conjunto edificado em momentos diferentes: o último quartel do século XVIII e o primeiro do século XIX..
    O seu valor patrimonial veio a ser reconhecido pela primeira vez com a classificação de Imóvel de Interesse Público no ano de 1983 (D.L. nº. 31/1983, DR, I Série, nº. 106, de 9 de Maio).

     Supomos ter havido no local da sua implantação uma primitiva casa rural que evoluiu ao longo dos tempos até ao século XVII, para ser alterada e ampliada já no século seguinte, com toda a probabilidade depois do terramoto de 1755 que severamente castigou esta zona onde predominavam várias propriedades da nobreza titular dessa época (Távoras, Alvor, etc.).
Desde a provável e primitiva casa rural aí existente que terá tirado partido da outrora próspera agricultura desta zona, até à actual casa apalaçada – uma pálida imagem do que já foi –, esta quinta passou por várias gerações de pelo menos três distintas famílias: os MONTEIRO, seus fundadores; os MARTINS DA COSTA, que a obtiveram por compra e lhe fizeram algumas benfeitorias; e os TRIGUEIROS MARTEL, que a obtiveram por herança colateral e que a detêm até hoje

     O seu primeiro proprietário conhecido que terá edificado esta belíssima casa de campo, foi BENTO JOSÉ MONTEIRO (1759-1821) um próspero comerciante de grosso trato da praça de Lisboa que nela entregou a alma ao criador, juntamente com sua mulher, em Agosto de 1822, cujos herdeiros ainda estavam na sua posse em finais de 1823. Este faleceu arruinado, como veremos.
Por este motivo viria a ser adquirida por FÉLIX MARTINS DA COSTA (1774?-1827), outro abastado mercador da capital, falecido sem filhos, pelo que a posse desta casa passou a um familiar da sua viúva, o agrónomo JOÃO CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1850-1895), em cuja descendência permanece até hoje.



Casa da Francelha, átrio principal.
        Virada para a entrada da quinta temos a fachada principal de uma das alas, muito sóbria nas suas linhas, despojada e harmoniosa, marcada pela simetria dos vãos e rematada por um frontão triangular, longe do gosto barroco que inspirava muitos dos arquitectos então a operar em Portugal.
     A meio desta fachada há um plano central com a entrada principal, enquadrada por pilastras e rematada pelo citado frontão ornado com as características urnas da época da rainha D. Maria I (1777-1799). Esta dá acesso a um átrio do qual arranca uma escadaria para o andar nobre, fazendo a distribuição através de corredores que a circundam.

Decoração de tecto.
      Neste corpo principal predominam os tectos e paredes em estuque com pinturas marmoreadas, frescos em trompe-l'oeil ou papel de parede pintado à mão, a par de motivos de carácter naturalista conjugados com elementos pompeianos e da mitologia clássica; temas então muito em uso nas casas nobres lisboetas dos finais do século XVIII. O andar nobre está decorado com medalhões pintados a fresco, e o tecto da sala de baile é atribuído ao grande pintor Pedro Alexandrino (1729-1810)[1].
Francelha, interior.




Decoração de tecto.
Decoração mural (pormenor).















Decoração de tecto.




Francelha, interior.










Decoração de tecto.

Decoração mural.






     
       Ao centro da fachada lateral de inspiração maneirista, temos a porta de entrada para uma magnífica capela-salão de planta octogonal, rematada por uma cúpula iluminada por um lanternim e decorada por pinturas em estuque com motivos muito sóbrios de tons suaves. Esta capela só se destaca, a nível da fachada, por estar enquadrada por pilastras e rematada por um frontão triangular sobrepujado por uma cruz [2].  O interior desta ala apresenta vários tectos em maceira.    
       Como anexos deste conjunto, temos a cocheira, a cavalariça, a abegoaria, o lagar, e outras instalações de apoio à agricultura da quinta.

Capela da Francelha,
abóbada.
Capela da Francelha,
altar.
      Os terrenos envolventes eram destinados à produção de vegetais, frutas, azeite e vinho – o Charneco[3] –, tendo em tempos uma pequena mata de estrato arbóreo e um jardim de buxo com uma cascata e três lagos. Tudo isto era alimentado por um complexo sistema hidráulico constituído pela cisterna, o chafariz e vários tanques, assim como um pequeno aqueduto com uma rede de canais que distribuíam a água abundante da quinta, elevada a partir do poço por uma nora de alcatruzes que era movida a tracção animal, posteriormente substituída por um moinho de vento americano para bombagem da água. De todo este envolvimento exterior, o pouco que ainda resta, felizmente teima em resistir à incúria dos homens …



Jardim.
Jardim.
Jardim.
   
      No início do século XIX, a quinta ainda estaria rodeada por um aprazível enquadramento paisagístico de natureza rural, hoje totalmente descaracterizado pela voragem dos gaioleiros que tomaram de assalto estas paragens para aí edificarem fábricas, armazéns e construções de péssimo gosto.
   Desconhecemos os autores dos sucessivos projectos arquitectónico e das pinturas decorativas; algumas das quais foram executadas ao estilo de Jean Pillement (1728-1808), provavelmente por alguns dos seus discípulos[4].


Jardim.
Jardim.










Decoração mural.

Decoração mural.












Decoração mural.


Decoração mural.





Sucessão na posse da Casa da Francelha
BENTO JOSÉ MONTEIRO (1759-1821)

   Pela inquirição feita a uma ama que servia na Quinta da Francelha, sabemos que a 7-V-1797 esta propriedade se encontrava na posse de BENTO JOSÉ MONTEIRO (1759-1821), um abastado negociante de grosso trato que angariou avultados meios de fortuna e foi morador na freguesia de Santa Isabel em Lisboa.

   A 5-VI-1789, quando contava 30 anos de idade e ainda estava solteiro, sendo morador em casa de seu pai na Rua de São Lázaro em Lisboa, fez uma habilitação para familiar do Santo Ofício (16-V-1789)[5], pela qual ficamos a conhecer alguns dos seus elementos biográficos.
Por esta altura era “comissário ou caixa de navios” – administrador de parcerias marítimas e dos lucros das cargas transportadas –, e sabia-se já ter ido negociar “para a Costa da Ásia” assim como para “lugares da América” (Brasil?), como declaram várias testemunhas na citada habilitação, as quais concordam nas suas qualidades de “pessoa de bom procedimento, vida e costumes” para servir o Santo Ofício no cargo de Familiar.

   Nasceu a 21-III-1759 e foi baptizado a 1-IV-1759 na igreja paroquial de Santa Isabel em Lisboa, em cuja freguesia seus pais eram então moradores na Calçada de São Bento, tendo por padrinho o seu avô Francisco Monteiro do Couto, “mercador de Lugar de Capela” – capelista – e morador na citada Calçada de São Bento na freguesia de Santos-o-Velho. Passou uma parte da sua infância no lugar do Barrocalvo na freguesia do Carvalhal de Óbidos, para onde os seus pais se retiraram depois de terem vivido em Lisboa.

   Era um dos filhos de NICOLAU JOAQUIM MONTEIRO DO COUTO, escrivão da Alfândega de Lisboa cujo assento de baptismo na freguesia de São Nicolau em Lisboa desapareceu no Terramoto de 1755, o qual tinha família no lugar de Barrocalvo, freguesia do Carvalhal de Óbidos, casado a 25-II-1756 na antiga freguesia de São Pedro de Alfama em Alcântara, Lisboa, com D. MÓNICA MARIA JOAQUINA (n. 1724) natural e baptizada a 20-II-1724 na freguesia de São Pedro do Carvalhal no então concelho de Óbidos, apadrinhada pelo capitão Diogo de Arruda do Avelar que era morador em Óbidos onde foi vereador da Câmara (1716-1720), onde esta foi criada e daqui partiu para Lisboa para casar, tendo aqui regressado posteriormente com seu marido para residir no lugar de Barrocalvo onde faleceu poucos meses depois e foi sepultada na Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres. Em Lisboa foram moradores na Rua de São Lázaro, na então freguesia de Nossa Senhora do Socorro que posteriormente passou a pertencer à freguesia de Santa Justa.
Era neto paterno de FRANCISCO MONTEIRO DO COUTO que foi mercador e capelista estabelecido na antiga e movimentada Rua dos Escudeiros – arrasada pelo terramoto e situada entre a actual Rua do Carmo e a Rua do Cruxifixo –, nascido na freguesia de São Nicolau, cujo assento de baptismo foi reformado 5 ou 6 anos depois devido ao original se ter perdido no Terramoto de Lisboa (1755), casado na Freguesia de São Nicolau com D. MARIA MADALENA ÚRSULA DA SILVA (n. 1709?) nascida na freguesia de Nossa Senhora do Socorro. Estes foram moradores na Rua Nova d’El-Rei – correspondente à actual Rua do Comércio – na freguesia de São Julião.
Era neto materno de ANTÓNIO DOS SANTOS MARINHO DE FIGUEIREDO, sapateiro, natural de Sancheira, freguesia de A-dos-Negros no concelho de Óbidos, e de sua mulher D. MARIA PEREIRA de alcunha “a Velha” por nesta família haver outra mais nova com o mesmo nome, nascida no lugar de Barrocalvo e baptizada a 27-V-1686 em São Pedro do Carvalhal, no então concelho de Óbitos e actualmente pertencente ao concelho do Bombarral, onde viveram de seu ofício e fazenda e no dizer de várias testemunhas da habilitação para o Santo Ofício ser “aparentada com um Excelentíssimo Bispo que foi de Lamego”, provavelmente o bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira (1731-1786) que reedificou o Paço Episcopal onde está instalado o actual Museu de Lamego. A sua avó materna D. Maria Pereira era filha de Jerónimo Gomes casado a 24-XI-1670 na freguesia da Sancheira com D. Maria Francisca, da qual teve seis filhos: 1.º - Manuel; 2.º - Francisco; 3.º - Vicência; 4.º - Maria; 5.º - Jerónimo; e 6.º - José.

Florência Maria, uma criada da Quinta da Francelha que era ama de uma filha de Bento José Monteiro, em 7-V-1797 foi alvo de um processo por ter ocultado no seu seio a Sagrada Forma [hóstia] que retirou da boca quando recebeu a comunhão por ocasião da Quaresma. Na fase de Apresentação do citado processo, pode ler-se que a ré foi inquirida Frei António do Monte Carmelo, da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, o qual no mesmo processo vem referido «como Capellão da Ermida de Nossa Snr.ª da Madre de Deus, cyta na Quinta da Francelha, distrito de Sacavém»[6]. Curiosamente este inquiridor foi religioso de grandes virtudes tendo pertencido ao Convento do Carmo da cidade de Itu, junto a São Paulo, no Brasil, filho do ex-bandeirante e capitão António Vieira Tavares que aí fundou a Vila do Salto (Salto do Tietê, uma cachoeira) na margem do rio Tietê, habitada pelos índios Guaianases.


       Foi casado em data e local que desconhecemos com D. ANA ROZAURA DE PROENÇA (f. 1821).
Assento de óbito simultâneo de
D. Ana R. de Proença
 e de Bento José Monteiro
 a 17-VIII-1821, Sacavém.
Este casal, fundador (?) da Casa da Francelha, nela veio a faleceu no mesmo dia, ao que parece separados por algumas horas, sendo ambos sepultados a 17-VIII-1821 no “Convento das Religiosas Capuchas deste lugar” – Convento de Nossa Senhora dos Mártires, actual Paroquial de Sacavém.
    Estes dois falecimentos quase simultâneos, quiçá resultantes um qualquer drama familiar que a história não registou, constam no livro de assentos de óbitos da citada freguesia pela seguinte ordem: o 1.º de D. Ana R. Proença que “faleceu sem sacramentos (…) casada com Bento José Monteiro”; o 2.º de Bento J. Monteiro, que “faleceu só com a Extrema Unção (…) viúvo de D. Ana Rozaura de Proença”.
Sacavém,
Igreja de N.ª Sn.ª dos Mártires.
   Pouco mais de um ano depois deste trágico acontecimento, a sua herdeira cujo nome desconhecemos, coloca um anúncio no «Diário do Governo» e 4-XII-1822 a publicitar a venda de uma casa situada à Rua da Travessa do Lambaz (actual Rua Dr. Luís de Almeida e Albuquerque), a Santa Catarina[7]. Ignoramos se esta foi a sua residência oficial na cidade de Lisboa.
    Em Agosto de 1823, dois anos depois do duplo falecimento dos seus proprietários, também a citada Francelha está à venda devido às dívidas com que estes faleceram, as quais motivaram a penhora desta propriedade.

       Constatamos que este grande comerciante, tão depressa enriqueceu, talvez sob o auspício das políticas de proteccionismo comercial que favoreceram a ascensão social de novos segmentos da população, como sem demora também ficou arruinado. Falece com avultadas dívidas que levaram os seus herdeiros a desfazer-se apressadamente dos seus bens para satisfazer os credores.
      Era proprietário de vários barcos com os quais comerciava além-mar diversas mercadorias, actividade que entrou em declínio, entre outros motivos pelo «Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas» (28-I-1808), o qual foi assinado à chegada ao Brasil pelo Príncipe-regente D. João (futuro rei D. João IV) no contexto da Guerra Peninsular. Esta legislação favoreceu os negociantes estrangeiros que deste modo puderam operar livremente nos portos do Brasil, conduzindo os seus congéneres de Lisboa a uma profunda crise que causou a falência de muitos deles.
    Bento José Monteiro fez a já mencionada habilitação para o Santo Ofício cujo desfecho desconhecemos, assim como a 15-III-1792 obteve uma tença de 50$000 réis num dos Almoxarifados do Reino [8].
Casa da Francelha,
ala lateral com capela.
    Certamente foi ele que ampliou e acrescentou a casa original com novas obras e uma nova ala ricamente decorada, certamente em busca do reconhecimento social que por si só a fortuna obtida no comércio não lhe conferia numa sociedade arcaica como a portuguesa: talvez com intuito de vir a ascender à nobreza, à semelhança de vários outros comerciantes enriquecidos sob as políticas proteccionistas do marquês de Pombal.

   Nesta época de crise, Lisboa não estaria de feição para os negócios mercantis com o outro lado do Atlântico, pelo que são conhecidas algumas acções cíveis de que é autor para cobrar créditos que lhe são devidos.
   Porém, também ele viria a ser réu de acções cíveis por dívidas.
  Uma destas, datada de 1788, foi-lhe movida por António Fresy Lisboa – em conjunto com mais dois réus –, na qual lhe requeria o pagamento de uma «letra de risco da quantia de 1.560.000 réis», quantia exorbitante para a época, referente ao navio “Santa Teresa e Santa Ana” em viagem para os “portos da Índia, Madrasta e Bangala[9].
«Gazeta de Lisboa», 20-VII-1823.
     Outra acção de que foi réu no ano de 1796, – surpreendente é da autoria de seu pai Nicolau Joaquim Monteiro[10], despachante de alfândega, ao qual ele, por sua vez, no ano seguinte de 1797, riposta com uma outra acção cível[11], o que revela a conflitualidade existente entre ambos.
   As dificuldades financeiras que atravessou por volta de 1822, pouco antes da sua morte, levaram-no a ser executado para pagamento de uma dízima, da autoria de José de Sousa Andrade[12].

     Quanto à Casa da Francelha, desconhecemos se foi ele o seu edificador, ou se esta foi por ele adquirida e posteriormente ampliada, o que nos parece mais provável.
«Gazeta de Lisboa», 31-VIII-1823)

    Ao certo apenas apuramos que no ano de1823, posterior à sua morte, sobre esta quinta recaía uma penhora de valor avultado – certamente agravada pelos exorbitantes gastos com as obras da Francelha – pelo que os herdeiros diligenciaram a sua venda em três anúncios sucessivamente publicados na «Gazeta de Lisboa» no ano de 1823 (20-VII, 31-VIII, e 17-XI de 1823), acabando por ser posta na Praça de Leilões desta Corte[13].

      Em consequência disto, mudou de mãos, sendo adquirida pelo proprietário seguinte que foi Félix Martins da Costa.
«Gazeta de Lisboa», 17-XI-1823.











FÉLIX MARTINS DA COSTA (1774?-1827)

Félix Martins da Costa
(1774?-1827)
    Terá sido já no início de 1824 que a Francelha foi adquirida por FÉLIX MARTINS DA COSTA (1774?-1827), o qual não usufruiu por muito tempo desta nova aquisição por ter falecido cerca de três anos depois, já doente e cego[14]. Estes dados apontam para que esta casa já tivesse a configuração actual quando chegou à sua posse, pois, já não lhe restaria saúde, ânimo e tempo de vida para grandes obras, além da falta de filhos para lhe sucederem, o que também reforça esta nossa convicção.
     Este abastado e discreto comerciante da praça de Lisboa, ao contrário de muitos outros, obteve sucesso e não soçobrou às diversas crises que então se abateram sobre os negociantes da capital.
      Nasceu no concelho de Guimarães na segunda metade de Setecentos e, à semelhança de outros seus familiares, emigrou ainda muito novo para o Brasil onde tinha parentes influentes e ricos que o protegeram, abrindo-lhe portas para angariar meios de fortuna.

     Mais tarde regressou a Lisboa para se dedicar aos negócios mercantis com a colónia que deixou para trás, tendo escolhido para sua residência uma casa situada no centro da recém-edificada Baixa Pombalina, mais precisamente na então Travessa da Vitória. Com uma frota de navios próprios, tornou-se um destacado negociante no comércio por grosso (de açúcar, algodão, arroz, azeite, couros secos, tabaco, etc.), preferencialmente com as ilhas e a colónia do Brasil.

Assento de Óbito de Félix Martins da Costa (6-IX-1827).
    Faleceu a 6-IX-1827 "de moléstia" e já cego, provavelmente com 53 anos de idade, sem filhos, na actual Rua da Vitória, n.º 52 (actual n.º 94?), freguesia da Conceição Nova em Lisboa, com testamento ditado no dia anterior à sua morte perante testemunhas idóneas, e foi sepultado perto da sua residência na igreja do já desaparecido Convento de Corpus Christi[15], deixando viúva a sua mulher D. MARIA DO CARMO CAMPELO (f. 1866) que lhe sobreviveu perto de 40 anos e herdou a sua imensa fortuna, com a excepção da sua frota de barcos que foi deixada aos seus dois irmãos.
   Anos depois da sua morte, o convento que o acolheu no seu repouso eterno, foi alienado por força da legislação do Regime Liberal que o extinguiu em 30-V-1834 para posteriormente ser vendido a privados que o transformaram em prédios de rendimento e lojas comerciais, sendo as sua sepultura forçosamente desocupada. Os seus restos mortais foram então trasladados para o Cemitério dos Prazeres onde repousam no «Jazigo da Família Campelo Trigueiros Martel»[16].
   A família CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL, que acolheu as suas ossadas, era parente e herdeira da sua viúva D. MARIA DO CARMO CAMPELO, e foi nesta herança que a Casa da Francelha, entre muitas outras, passou à sua posse.


       Félix M. da Costa descendia de uma família empreendedora que singrara na vida tirando partido do aparecimento de uma economia à escala mundial marcada pelo desenvolvimento do comércio com as colónias a partir do século XVII, em confronto com a agricultura da terra de origem da sua família – a freguesia de Fermentões, no concelho de Guimarães –, então pautada pela baixa produtividade, apesar do esforço hercúleo nela despendida.
       Ainda pequeno, com cerca de 14 anos de idade, tal como os seus irmãos, abalou da Casa de Minotes na freguesia de Fermentões, para a Baía, no Brasil, onde já tinha alguns familiares, e de onde retornou por volta de 1800 com cerca de 27 anos de idade e já com um apreciável pecúlio.
A 10-II-1804 é nomeado para Inspector dos Cofres e entregas de dinheiro e ouro vindos do Rio de Janeiro, por Carta do Príncipe Regente D. João (Arquivo da Casa Margaride – Casa do Carmo, Guimarães). 
       Quanto às suas actividades comerciais, sabemos que chegou a dispor, de parceria com os seus irmãos, de uma apreciável frota de navios para o tráfico mercantil, os quais cruzavam constantemente o Atlântico e faziam parte de uma empresa familiar sob a designação de “Companhia de Carregações: eram eles o Guerreiro (bergantim), o Eneias, o Aliança, o São Domingos, o Graça Divina, o Ajuda, o Bela Vista, o Espírito Santo, e o São Gualter; este último «feito na Bahia das melhores madeiras»[17].
A 7-V-1817 faz uma petição ao rei D. João VI (1816-1826) para armar «em guerra» o São Gualter «com peças de bronze do Arsenal Real da Marinha» por estar de viagem marcada para o Brasil onde a Revolução Pernambucana (6-III-1817) estava em marcha e duraria cerca de três meses, o que levou a um bloqueio naval e terrestre desta região brasileira[18], daí a necessidade de proteger o seu barco com artilharia.

Embarcações do séc. XVIII.

       Em Março de 1821 vamos encontra-lo como deputado da Comissão sobre Obras Públicas, da qual pediu dispensa devido à necessidade de se ocupar com o «expediente de seus dois navios Aliança e S. Gualter…».
      Com a independência do Brasil a partir de 1822 (Grito de Ipiranga), reconhecida em Portugal em 1825, as trocas comerciais com a ex-colónia conheceram um grande declínio que certamente também o afectou, já no fim da sua vida. Foram estes acontecimentos que levaram Félix M. da Costa a vender o São Gualter através de um anúncio na «Gazeta de Lisboa»[19], em Janeiro de 1826, menos de dois anos antes de morrer nesta cidade.

       Quanto aos avultados capitais que angariou ao longo da sua vida neste lucrativo comércio, investiu-os em diversos empreendimentos imobiliários, preferencialmente na recém-reedificada Baixa de Lisboa onde tinha vários prédios de rendimento no quarteirão da Rua Augusta com a Rua da Vitória, assim como no bairro da Lapa, e em boas quintas nos arredores da capital, das quais se destacaram pela sua extensão três herdades em Benavente, uma outra em Santo Antão do Tojal, a na periferia da capital, junto a Prior Velho, a magnífica Quinta da Francelha[20].

       A situação de crise e instabilidade que o país atravessou já quase no fim da sua vida, arruinou muita gente que para pagar as dívidas contraídas e salvar a honra se ia desfazendo do património a qualquer preço. Félix M. da Costa, com um grande sentido de oportunidade e dispondo de grande liquidez financeira, aumentou assim os seus bens com vantajosas aquisições.
Em 1808 litigou numa «Accão Cível de Juramento de Alma» com o réu ANGELO JOSÉ DA COSTA CAMPELO, parente de sua mulher, do qual era credor[21].
       Ângelo José da Costa Campelo era casado com D. Mariana Vitória de Freitas, da qual teve a filha Henriqueta Júlia Campelo que casou a 7-V-1848 no Oratório da Quinta da Francelha com Simão do Rego Trigueiros Martel (n. 1807), antepassado dos actuais proprietários desta casa.
Não conhecemos o desfecho desta acção por dívidas, e de muitas outras – só neste ano de 1808 são-lhe conhecidas sete acções – arquivadas no «Juízo da Índia e Mina», na Torre do Tombo em Lisboa[22], resultantes da sua intensa actividade mercantil desenvolvida preferencialmente com Pernambuco e Baía, no Brasil, cuja abertura dos seus portos aos barcos estrangeiros, juntamente com a 1.ª Invasão Francesa, conduziu muitos mercadores de Lisboa à ruina por esta altura.

O «Juramento de Alma» – ou «Acção de Alma», como também era denominada – era um procedimento jurídico em uso no Brasil colonial setecentista, e também na metrópole, por meio do qual os credores iniciarem um processo cível para reaver uma dívida quase sempre contraída com o empenho da palavra, da qual, na maior parte dos casos não havia documentos juridicamente válidos. Os réus eram citados, sob pedido do credor ao juiz, para jurarem sobre os livros dos Santos Evangelhos a existência dessa mesma dívida, que, em caso afirmativo, dava origem a um processo de penhora dos bens do devedor.
Este tipo de processos só era possível numa sociedade em que a palavra e a honra tinham um elevado significado que se veio a perder ao longo do tempo.
Numa sociedade crente e temente a Deus, jurar em falso e negar uma dívida existente tinha implicações na salvação da alma, daí o nome de «Juramente de Alma».
                           
        Quanto ao mais, afigura-se-nos ter tido uma vida simples e discreta, habitando uma casa quase banal, não alardeando riqueza nem reclamando prebendas do Poder. Sabemos que tinha ao seu serviço um boleeiro e quatro criadas, número este quase irrelevante face aos meios de fortuna que possuía.
       Em resumo: era um homem que por via do seu trabalho e da perspicácia viu recompensado o esforço de toda uma vida.


       FÉLIX MARTINS DA COSTA (1774?-1827) procede de uma família do concelho de Guimarães com origem em pequenos lavradores minhotos, gente perseverante, honesta e trabalhadora, que não se abatia com as adversidades de uma agricultura pouco produtiva.
Os filhos segundos, menos bafejados pelas heranças paternas, tinham por hábito demandar as colónias, nomeadamente o Brasil, onde serviam em cargos públicos ou empreendiam rentáveis negócios que lhes permitiam acumular razoáveis meios de fortuna. Quanto às filhas, traçavam-lhes estratégias matrimoniais bem sucedidas com as casas mais abastadas do Minho, o que por vezes as levavam, e à sua descendência, a ingressarem na nobreza titular como aconteceu nesta família.

       Era o quarto de dez filhos de LUÍS MARTINS DA COSTA (1737-1794)[23]lavrador, nascido 11-I-1737 no Casal da Taipa em São Lourenço do Selho, falecido a 28-IX-1794 na Casa de Minotes em Fermentões, concelho de Guimarães, casado a 10-III-1760 na igreja da freguesia de Pencelo, Guimarães, com sua prima D. JOANA MARIA DE ARAÚJO (1739-1815)nascida a 10-XII-1739 no Casal do Carvalhal, freguesia de Pencelo, concelho de Guimarães, e falecida a 7-V-1815,herdeira por doação de duas primas segundas da Quinta e da Casa de Minotes na freguesia de Fermentões[24].

Guimarães, Fermentões, Casa de Minotes.


Guimarães, Fermentões,
Casa de Minotes.











       Era neto paterno de ANTÓNIO MARTINS BERNARDES (1673-1741), senhor do Casal da Taipa de Baixo em São Lourenço do Selho, Guimarães, casado a 22-IX-1724 na igreja de São Lourenço de Selho com D. MARGARIDA COSTA (1699-1724), nascida a 28-II-1699 no Casal do Bouro de Baixo, e falecida com testamento 21-VII-1764 no Casal da Taipa, Guimarães; e neto materno de DOMINGOS DE ARAÚJO (n. 1698), natural do Calvalhal, e sua mulher D. DOMINGAS GOMES (n. 1710).
     Como a fazenda do seu avô paterno não seria suficiente para proporcionar grande desafogo económico a uma família tão numerosa, devido aos muitos filhos, a maioria destes demandaram o Brasil para ganharem a vida, ao cuidado de tios maternos que ainda jovens tinham passado à Bahia na segunda metade do século XVIII e aí prosperaram nos negócios.
Um destes era GUALTER MARTINS DA COSTA GUIMARÃES (1725-1813)[25], familiar do Santo Ofício (carta de 15-I-1765)[26], nascido a 1-XII-1725 no Casal da Taipa, em São Lourenço de Selho, Guimarães, falecido a 16-XI-1813 na Baía, Brasil, sem geração; o outro era LUÍS DA COSTA GUIMARÃES (1700-1770), fidalgo cavaleiro da Casa Real (alvará de 28-IX-1750), e familiar do Santo Ofício (carta de 24-III-1730), nascido a 25-VIII-1700 no Casal do Bouro de Baixo, que residiu na Baía, Brasil, onde se dedicou aos negócios, após o que regressou a Portugal onde faleceu a 11-VI-1770 na cidade do Porto, tendo sido casado com uma prima da qual teve geração.
        Na casa de lavoura de seu pai Luís Martins da Costa (1737-1794), sucedeu seu irmão primogénito FRANCISCO MARTINS DA COSTA (f. 1826)[27], então residente no Brasil, o qual também herdou a casa de seus tios, tornando-se deste modo um abastado capitalista do Minho para onde veio residir.
       Dos outros irmãos, salientou-se D. JOANA MARIA ARAÚJO MARTINS DA COSTA (1767-1845), nascida em 1767 na Casa de Minotes, freguesia de Fermentões, concelho de Guimarães, e falecida no ano de 1845 em Braga, também herdeira de uma apreciável fortuna proveniente da acumulação de várias heranças, tendo casado no ano de 1796 em Fermentões, Guimarães, com JERÓNIMO RIBEIRO BERNARDES (1776-1827), capitão de Melícias de Basto, senhor da Casa da Veiga em São Pedro de Azurém, e da Casa da Ribeira em São João da Ponte, ambas no concelho de Guimarães. Estes tiveram duas filhas e três filhos, herdeiros das suas tias e tios, assim como muitos netos. Um destes foi HENRIQUE CARDOSO DE MACEDO (1795-1875), 8.º senhor da Casa de Margaride e pai do opulento LUÍS CARDOSO MARTINS DA COSTA MACEDO (1836-1919), 1.º Conde de Margaride, um dos melhores amigos e confidentes do rei D. Luís I (f. 1889).
      Sabemos que Félix M. da Costa foi casado mas faleceu sem descendência, como igualmente sucedeu com alguns irmãos e irmãs, o que explica a falta de sucessão directa na posse da Casa da Francelha que seria deixada pela sua viúva D. MARIA DO CARMO CAMPELO (f. 1866?) a um afilhado e parente colateral que foi o agrónomo JOÃO CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL, originário numa família com raízes em Idanha-a-Nova e em Alcains, no distrito de Castelo Branco.


JOÃO CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1850-1895)

       JOÃO CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1850-1895), agrónomo, acabou por suceder na Casa da Francelha, após outros herdeiros nomeados como usufrutuários ˗˗ as sobrinhas de D. Maria do Carmo Campelo Costa ˗˗ terem falecido sem geração. Nasceu a 5-XII-1850 e foi baptizado a 23-XII na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, apadrinhado por João José do Rego Romo Trigueiros, e por D. Maria do Carmo Campelo Costa, a qual para este efeito passou procuração a José de Oliveira e Melo (este casado com D. Mariana Vitória Campelo a 8-VIII-1847 na Igreja do Sacramento em Lisboa). Faleceu a 14-III-1895 e foi sepultado no jazigo de família no cemitério dos Prazeres e Lisboa[28].
Casa da Francelha, 1975 (ala principal).
       Foi ele o principal herdeiro de grande parte dos bens deixados por D. Maria do Carmo Campelo, sua familiar e madrinha de baptismo, viúva do abastado Félix Martins da Costa (1774?-1827), em cuja herança também se incluíu a «Capela de João Gonçalves e de sua mulher D. Margarida Antunes», instituída na Igreja Matriz de Sacavém, da qual foi ele o sucessor[29].
       Ainda solteiro, com dezanove anos de idade, no ano de 1869, entre prédios urbanos e rústicos, créditos e acções, já contava com uma das grandes fortunas de Lisboa, avaliada num total de 229.371$202, conforme consta de um inventário judicial[30]
       Era filho SIMÃO TRIGUEIROS DO REGO MARTEL (n. 1807), proprietário, nascido a 12-VII-1807 em Idanha-a-Nova, casado a 7-V-1848 na Ermida da Quinta da Francelha «pertencente à Illma D. Maria do Carmo Campelo Costa», em Sacavém, no concelho de Loures, com D. HENRIQUETA JÚLIA CAMPELO, baptizada na Igreja de São Nicolau em Lisboa, tendo por testemunhas o Marechal de campo José Maria Bergara, morador a Santa Marta, e José de Oliveira e Melo, recém-casado com D. Mariana Vitória Campelo a 8-VIII-1847 na ermida da Quinta da Francelha com o respectivo assento de casamento na Igreja do Sacramento em Lisboa.
Simão Trigueiros á data do seu casamento (1848) residia da Rua de São José, e depois de casado passou a residir na Travessa da Vitória, n.º 52; ambas na Baixa de Lisboa.
       Neto paterno de JOÃO JOSÉ MARTINS PEREIRA DOREGO GOULÃO (n. 1758)[31], nascido a 6-VIII-1758 em Castelo Branco, senhor do Solar dos Goulões em Alcains (actual Museu do Canteiro), e de sua mulher D. MARIA ANTÓNIA TRIGUEIROS MARTEL REBELO LEITE (n. 1770), nascida a 28-IV-1770 em Idanha-a-Nova[32].
Neto materno de ÂNGELO JOSÉ DA COSTA CAMPELO (c. 1808), e de sua mulher D. MARIANA VITÓRIA DE FREITAS, casados a 20-II-1808 na Ermida de Nossa Senhora da Piedade em Almargem do Bispo, no concelho de Sintra, cujo assento foi registado a 26-III-1808 na Igreja da Conceição Nova em Lisboa.

José Campelo Trigueiros
Martel (1852-1888).
  João Campelo T. M. era irmão de JOSÉ CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1852-1888), bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra em 1873, que residiu em Paris e foi um dos fundadores e accionistas do jornal «O Século» em 1881. Combateu o regime monárquico e fez parte do directório republicano. Em 1886 publicou um pequeno livro intitulado «A República em Portugal» (Lisboa: Typ. Nacional, 1886). Este «homem de iniciativa, vindo do estrangeiro com ideias largas», fez mecenato cultural e destinou o Pátio do Martel, anexo traseiro da sua casa, situado à Rua das Taipas, em Lisboa, para «refúgio e mansões de trabalho de pintores e escultores». Faleceu sem geração[33].

       João Campelo T. M., com vinte anos de idade e ainda estudante da Escola Agrícola, casou a 5-XII-1870 com D. MARIA HENRIQUETA MASCARENHAS GODINHO VALDEZ (1855-1918)[34], de quinze anos de idade, residente em Elvas, que viria a ser 17.ª Senhora do Prazo de Flandes em Pombal, nascida a 9-XI-1855 em Lisboa, cidade onde veio a falecer a 26-XII-1918, filha e herdeira de MANUEL GODINHO TRAVASSOS VALDEZ (c. 1810), fidalgo-cavaleiro da Casa Real, tenente-coronel de Cavalaria, senhor do morgado da Quinta da Flandes e dos vínculos dos Anjos e do Mosquete, em Pombal, casado com D. MARIA MADALENA MASCARENHAS DE MANCELOS (1813-1886), nascida a 30-III-1813 em Pombal, falecida a 6-VIII-1886 em Lisboa.
Foram testemunhas do casamento de João Campelo e de D. Maria Henriqueta, Joaquim Trigueiros do Rego Martel, 1.º Conde de Castelo Branco e Comandante da Primeira Divisão Militar, tio paterno do nubente e residente em Lisboa, e o Comendador José Bento Godinho Valdez, Cónego da Sé de Évora, tio paterno da nubente  que residia em Lisboa.
À data do seu casamento (1870) o nubente residia na Rua do Moinho de Vento, n.º 82 (actual Rua D. Pedro V), na freguesia da Encarnação em Lisboa, após o qual foi viver com sua mulher para a Quinta da Francelha.
Filhos:
1.1.   MARIA EMÍLIA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1871-1872) nasceu a 25-XI-1871, tendo falecido prematuramente a 1-XII-1872.
1.2.  JOSÉ GODINHO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1874-1878) nasceu a 2-X-1874, tendo falecido prematuramente a 13-X-1878.
1.3.    LUÍS GODINHO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (n. 1878) nasceu a 5-I-1878. S.m.n.
1.4.    SIMÃO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1879-1946), 2.º Conde de Castelo Branco por sucessão de seu tio-avô Joaquim Trigueiros Martel (1801-1873) e autorização de D. Manuel II pouco antes de morrer[35]. Nasceu a 5-I-1879 e veio a falecer a 21-XII-1946. Era engenheiro Civil e de Minas pela Escola do Exército, cavaleiro da Ordem de Cristo e comendador da Ordem da Instrução Pública da Venezuela. Tomou parte activa na política monárquica dos primeiros anos da República o que lhe valeu perseguições e o exílio.
O seu brasão de armas, esquartelado de PEREIRA, MARTEL, TRIGUEIROS e REGO, com uma coroa de conde, encontrava-se outrora representado sobre um portão que fecha o arco de acesso às traseiras do prédio onde se situava a sua moradia, sito na Rua D. Pedro V, n.º 56, em Lisboa. Este prédio foi requalificado em 1877.


Lisboa, Rua D. Pedro V, casa do 2.º Conde de Castelo Branco.
Brasão esquartelado:
1.º - Pereira (mal representado);
2.º - Martel; 3.º - Trigueiros
(mal representado); 4.º - Rego. 





Casou a 28-XII-1899 com D. MARIA EMÍLIA INFANTE DA CÂMARA TABORDA (1880-1955), natural de Lisboa, falecida a 7-X-1955, filha de Nuno Bento de Brito Taborda (c. 1850), coronel de Engenharia pela Escola do Exército, e de sua mulher D. Maria Henriqueta Infante da Câmara (c. 1855). Tiveram geração que chegou aos nossos dias. 
1.5.   D. MARIA MADALENA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL, (1884-1947), poetiza e escritora, casada com o Dr. FRANCISCO ANTÓNIO RIBAS PATRÍCIO (1869-1960), nascido a 9-VIII-1869 na Guarda, falecido a 26-XII-1960 em Lisboa, juiz de Direito, desembargador da Relação de Lisboa, do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima. Seu marido era um dos doze filhos de Francisco António Patrício (1845-1934), natural de Freixeda do Torão, Figueira de Castelo Rodrigo, casado a 24-I-1866 na Sé da Guarda com D. Teresa Guilhermina dos Anjos Ribas (1848-1921), natural da Guarda. Deste casamento houve geração que chegou aos nossos dias.
Estes tiveram um filho que sucedeu na posse da Francelha:
2.     FRANCISCO JOSÉ VALDEZ TRIGUEIROS DE MARTEL PATRÍCIO (1901-1971), que veio a herdar a da Quinta da Francelha em Sacavém da qual vendeu parte a 26-II-1940, formado em Direito, governador civil do Distrito de Leiria, nascido a 18-VII-1901 na freguesia da Encarnação, em Lisboa, e falecido a 6-XII-1971 na Quinta da Francelha, em Sacavém.
      Casou a 22-X-1925 na Casa da Aveleda, em Penafiel, com D. MARIA LUÍSA VANZELLER GUEDES (1901-1975), nascida s 5-IV-1905 em Massarelos, Porto, e falecida a 6-VI-1975 na Quinta da Francelha, Sacavém, filha de Fernando Guedes da Silva da Fonseca (1871-1946), natural do Porto, fidalgo da Casa Real, Senhor da Quinta da Aveleda e Avintes, casado com D. Maria Helena de Sousa e Barros Van Zeller (1874-1963)
         Tiveram:
3.1.  MARIA HELENA DOROTEIA VAN ZELLER GUEDES MARTEL PATRÍCIO (1927-1964), nascida na freguesia de Benfica, Lisboa, e falecida a ?-XII-1964. Casou nas primeiras núpcias de MÁRIO TRAVASSOS ALUA SIMAS (n. 1922), nascido a 16-II-1922 na Horta, Açores, do qual teve sete filhos que propagaram até aos nossos dias os apelidos PATRÍCIO SIMAS.
3.2.    D. MARIA MADALENA VAN ZELLER GUEDES MARTEL PATRÍCIO (n. 1928), que segue abaixo.
3.3.    MARIA HENRIQUETA VAN ZELLER GUEDES MARTEL PATRÍCIO (n. 1929), nascida a 15-XII-1929 em Sacavém, Loures. Casou com NUNO ERNESTO DE SOUSA COUTINHO EMPIS (1926-2010), nascido a 5-III-1926 na freguesia das Mercês, em Lisboa, falecido a 4-VIII-2010 e um dos doze filhos de Raúl Júlio Empis (1887-1960), natural de Lisboa, casado a 21-X-1914 no Beato, em Lisboa, com D. Luísa Burnay de Sousa Coutinho (1891-1974), natural de Lisboa, e uma dos quatro filhos de D. José Luís de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes  (1859-1930), 17.º Conde de Redondo, 14.º Conde de Vimioso (e representante dos títulos de Marquês de Borba, Marquês de Valença, Marquês e Conde de Aguiar, assim como de Conde de Soure), natural de Lisboa, casado com D. EUGÉNIA CECÍLIA BURNAY (1860-1915), natural de Lisboa. Tiveram seis filhos que propagaram até aos nossos dias os apelidos PATRÍCIO EMPIS.

«Raúl Júlio Empis (1887-1960) era um dos nove filhos do industrial Ernest Laurent Empis (1842-1913), natural de Antuérpia, Bélgica, accionista e administrador do então Banco Burnay, que ergueu em Lisboa o Palacete Empis (Av. Duque de Loulé, n.º 77), vencedor do 5.º Prémio Valmor em 1907, o qual foi demolido em 1954; e neto paterno de Charles Louis Empis (1796-1878), 1.º Conde de Vendim, natural de Hamburgo.»

3.4.    MARIA TERESA VAN ZELLER GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1932), nascida a 24-IV-1932 em Sacavém, Loures. Casou com CARLOS ANTÓNIO RIBEIRO DA SILVA DE NORONHA CORDEIRO FEIO (1927-2012), nascido a 14-V-1927, e falecido a 27-VII-2012 em Lisboa; filho de Carlos Maria Appleton de Noronha Cordeiro de Araújo Feio (n. 1882), que nasceu a 5-III-1882 em Santa Isabel, Setúbal, tendo casado a 8-XII-1921 na freguesia dos Mártires, em Lisboa, com D. Maria Cristina Scwalbach Ribeiro da Silva (n. 1831). Tiveram duas filhas, ambas com geração que chegou até aos nossos dias usando os apelidos CALÇADA PINA e FEIO BRAVO.
3.5.    D. MARIA LUISA VAN ZELLER GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1935), nascida a 23-XI-1935 em Sacavém, Loures. Casou com D. RUI D’ OREI PEREIRA COUTINHO (n. 1930), nascido a 7-XII-1930 em São Sebastião da Pedreira, em Lisboa; um dos doze filhos de D. Luis Pereira Coutinho (n. 1897), nascido a 30-III-1897 nas Mercês, em Lisboa, coronel de Artilharia, casado a 15-III-1919 com D. Maria das Dores Sárrea d’ Orei (n. 1899), nascida a 3-XII-1899 em São Mamede, Lisboa.
Filhos:
4.     D. MAFALDA GUEDES PATRÍCIO PEREIRA COUTINHO (n. 1960), nascida a 20-V-1960 na Lapa, em Lisboa. Casou a 27-IX-1980 na Quinta da Francelha, Loures, nas primeiras núpcias de D. SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO DAUN E LORENA (n. 1955), 13.º Conde de Oeiras, nasceu a 26-III-1955 em São Sebastião da Pedreira, Lisboa; primogénito dos seis filhos de D. Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena (n. 1930), 9.º Marquês de Pombal, natural de Lisboa, cidade onde casou a 2-VI-1954 com D. Maria João de Melo Freire Cabral (n. 1932). Tiveram geração.
3.6.    FRANCISCO JOSÉ GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1939), nascida a 11-VII-1939 em Sacavém, Loures. Casou com D. LEONOR MARIA DE MELLO BREYNER DE CARVALHO (n. 1947), um dos cinco filhos de Lourenço Cyrne do Casal Ribeiro de Carvalho (1928-1977), natural do Porto, casado com D. Maria Teresa do Menino Jesus Pinto Leite de Mello Breyner (n. 1926), natural de Cascais. Tiveram geração que seguiu os apelidos CARVALHO PATRÍCIO.
3.7.    MARIA DA CONCEIÇÃO GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1942), nascia a 5-V-1942 em Lisboa. Casou com D. MIGUEL D’ OREY PEREIRA COUTINHO (n. 1935), nascido a 14-V-1935 e um dos onze filhos de D. Luís Pereira Coutinho (n. 1897), casado a 15-III-1919 em Oeiras com D. Maria das Dores de Sárrea d’ Orey (n. 1899). Tiveram geração que seguiu os apelidos PEREIRA COUTINHO e ORTIGÃO COSTA.
           
3.     D. MARIA MADALENA VAN ZELLER GUEDES TRIGUEIROS MARTEL PATRÍCIO (n. 1928), 7.ª Marquesa de Valença por casamento. Nasceu a 15-V-1928 em Sacavém, Loures.
         Casou a 24-V-1951 na Quinta da Francelha, em Sacavém, com D. ANTÓNIO LUÍS DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (1925-2007), 7.º Marquês de Valença, 4.º Marquês de Borba, 18.º Conde do Redondo, 15.º Conde do Vimioso, 8.º Conde de Soure por alvarás do Conselho de Nobreza de 20-VI-1955, e certificados do mesmo de todos estes títulos desde 20-IV-1947. Nasceu a 10-VI-1925 na freguesia de São Mamede em Lisboa, cidade onde faleceu a 19-II-2007.   
         Seu marido era filho de D. Fernando José Luís Burnay de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (1883-1945), 6.º Marquês de Valença, representante dos títulos de Marquês de Borba e de Aguiar, de Conde do Redondo, de Vimioso, e de Soure, e de sua mulher, com quem casou a 15-10-1922, D. Hedviges Maria Judite de Carvalho (1894-1961); neto paterno de D. José Luís de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (1859-1930), 17.º Conde de Redondo, 14.º Conde de Vimioso, representante dos títulos de Marquês de Borba, de Valença e de Aguiar, e de Conde de Soure, e de sua mulher, com quem casou a 26-VI-1880, D. Eugénia Cecília Burnay (1860-1915); e neto materno de António Afonso Carvalho, casado com D. Teresa de Jesus Carvalho.
Tiveram:
4.1.    D. LUÍSA MARIA PATRÍCIO DE SOUSA COUTINHO (n. 1952) que nasceu a 5-X-1952 em Lisboa.
      Casou a 7-VII-1973 na Quinta da Francelha, em Sacavém, com NUNO MARIA DE FIGUEIREDO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1951), nascido a 19-II-1951 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, filho de Nuno Maria de Figueiredo Cabral da Câmara Pereira (1922-2000), nascido a 24-XI-1922 na Quinta do Pinheiro, freguesia de Rio de Mouros, concelho de Sintra, e de sua mulher D. Ana Teles da Silva Pacheco (1919-2000), nascida a 21-III-1919 no Rio de Janeiro, Brasil; neto paterno de Armando de Figueiredo Afonso Pereira (1885-1963), nascido a 15-III-1885, e de sua primeira mulher D. Maria Malaquias da Conceição de Figueiredo Cabral da Câmara (1883-?); neto materno de Albino Augusto Pacheco (1871-1948), médico, nascido a 7-II-1871, na freguesia de Britelo, concelho de Cabeceiras de Basto, e de sua mulher D. Maria Francisca Teles da Silva (1882-1974), nascida a 13-II-1882 na freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa.
          Seu marido, fadista de mérito reconhecido, engenheiro técnico Agrário, e deputado, é trineto de D. Vasco António de Figueiredo Cabral da Camara (1829-1870), 3.º Conde de Belmonte; 16.º neto de Pedro Álvares Cabral (1468-1520), o descobridor do Brasil; 14.º neto de D. Vasco da Gama (f. 1469), o descobridor do caminho marítimo para a Índia; e 5.º neto do rei D. João VI (1767-1826), por sua filha mais nova a infanta D. Ana de Jesus Maria de Bragança e Bourbon (1806-1857), que foi 1.ª Duquesa de Loulé por casamento. É cavaleiro professo da Ordem de São Miguel de Ala e seu comendador-mor.
          Tiveram:
5.1.   NUNO MARIA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1975), nascido a 26-VI-1975 na freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa. Actor e cantor.
5.2.    D. MARIA MADALENA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1977), nascida a 5-I-1977 na freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa. É licenciada em Gestão Turística e Hoteleira. Casou a 15-IX-2001 na Quinta de São João de Galamares, em Sintra, com FILIPE DE SOUTO BARREIROS DE ALMEIDA (n. 1970), nascido a 22-X-1970 na freguesia de Marvila, em Santarém. Engenheiro técnico Agrário.
5.3.    D. CARLOTA JOAQUINA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1979), nascida a 16-VI-1979 na freguesia de São Domingos de Benfica em Lisboa. Licenciada em Arquitectura.
4.2.    D. MARIA MADALENA PATRÍCIO DE SOUSA COUTINHO (n. 1954), nascida a 25-5-1954 em Lisboa. Casou em 1975 em Sintra com ANTÓNIO VASCO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1955), nascido a 2-VII-1955 na freguesia de Benfica, em Lisboa, filho de Vasco Scazzola Taborda Ferreira (n. 1923), doutorado em Direito pela Universidade de Lisboa, nascido a 23-VI-1923 em Génova, Itália, e de D. Helena Maria Correia de Sá (n. 1930), nascida a 30-XI-1930 em Lisboa.
Seu marido era neto paterno de Vasco José Taborda Ferreira, comodoro da Marinha e engenheiro de Construção Naval, autor do projecto do navio-hospital «Gil Eanes» que prestava apoio à frota bacalhoeira – nacional e estrangeira – no mar do Norte, e de sua mulher D. Dora Scazzola, sepultados no jazigo da Família Taborda Ferreira, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa; e neto materno de António José Correia de Sá Benevides Velasco da Câmara (1900-1968), 10.º Visconde de Asseca, nascido a 3-X-1900 na freguesia das Mercês, em Lisboa, e de sua mulher D. Maria Luísa de Sousa Holstein Beck (n. 1930), nascida a 30-XII-190 na freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, a qual era por sua vez filha de D. Helena Maria Domingas de Sousa Holstein (1846-1941), 4.ª Duquesa de Palmela.
Tiveram:
5.1.   VASCO MARIA DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1977) que nasceu em 1977 em Lisboa.
5.2.   SALVADOR DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1979), nasceu em 1979 em Lisboa.
5.3.    MARIANA DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1981), nascida em 1981 em Lisboa.
4.3.    D. FERNANDO PATRÍCIO DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (n. 1956), que segue.

4.     D. FERNANDO PATRÍCIO DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (n. 1956), 19.º Conde do Redondo, 16.º Conde do Vimioso por alvará do Conselho de Nobreza de 12-VI-1981. Nasceu a 12-V-1956 em Lisboa.
          Casou com D. MARIA TERESA TEIXEIRA DE ABREU BELMAR DA COSTA (n. 1960), nascida em 1960, filha de Nuno Corrêa Leite Belmar da Costa (1930-1992), casado a 18-VI-1950 em Cabanas com D. Maria Teresa Tavares de Almeida e Silva Teixeira de Abreu (n. 1927), nascida a 2-III-1927 em Viseu
Tiveram:
5.1.    D. ANTÓNIO LUÍS BELMAR DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 1982), nascido a 19-I-1982 em Lisboa.
5.2.    D. FRANCISCO XAVIER BELMAR DA COSTA DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 1984), nascido a 3-XII-1984 em Lisboa.
5.3.    D. AFONSO BELMAR DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 1986), nascido a 13-VI-1986 em Lisboa.





          Esta quinta produziu o famoso Charneco, ao qual esta família chegou a emprestar o seu nome de «Trigueiros Martel».















       








































Notas:

[1]  PEDRO ALEXANDRINO DE CARVALHO (1729-1810) foi o pintor e decorador de muitas igrejas de Lisboa, assim como de terras próximas e da província. O Terramoto de Lisboa (1755) proporcionou-lhe imensas oportunidades de trabalho que nunca recusava. Pintou com grande desenvoltura, a óleo, a fresco ou a têmpera, de um modo apressado, devido à grande quantidade de encomendas que recebia, o que se reflectia na qualidade de uma ou outra obra. Além de motivos sacros para igrejas, fazia todo o tipo de decoração para paredes e tectos de casas particulares.
Viveu na sua quinta da Póvoa de Santo Adrião, então a uma curta distância da Quinta da Francelha que não seria para ele desconhecida, pois, nessa época, não existia de permeio o Aeroporto da Portela.

[2]  Presumimos que esta capela é a ermida que, como tal, vem referida em vários documentos sobre a Francelha.

[3]  O consumo do Charneco esteve em moda na corte inglesa por influência do duque de Wellington, enviado a Portugal (1808) para expulsar as tropas invasoras de Napoleão (1809). Um apreciador deste vinho foi William Shakespeare (1564-1616), que o cita na sua peça Henry VI, Part 2.

[4]  JEAN PILLEMENT (1728-1808) foi um grande paisagista e decorador francês que veio por três vezes em Portugal onde deixou vasta obra em tectos, paredes, mobiliário e tecidos. Aqui esteve pela 1.ª vez, e por muito pouco tempo, antes do terramoto de 1755. Voltou ao nosso país em 1766, também numa curta estada. Regressou mais tarde, pela 3.ª vez de 1780 a 1786 fundando então uma escola que foi frequentada por vários artistas lusos, fixando-se pouco depois em Espanha. Esta ultima passagem em Portugal, foi a fase mais fecunda do seu labor. Interveio na decoração de inúmeras casas e palácios lisboetas e, possivelmente na Casa da Francelha, após que se retirou para Lyon, em França, a sua terra natal.

[5]     ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, Bento, mç. 17, doc. 233

[6]     ANTT, Apresentação de Florência Maria a 7-V-1797; PT/TT/TSO-IL/028/CX1621/16090.

[7] Diário do Governo, n.º 286, Suplemento, n.º 86, 4-XII-1822.

[8]     ANTT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv. 23, f. 85.

[9]     ANTT, Feitos Findos, Juízo da Índia e Mina, mç. 11, n.º 8, cx. 198.

[10]    ANTT, Feitos Findos, Juízo da Índia e Mina, mç. 100, n.º 10, cx. 100.

[11]    ANTT, Feitos Findos, Juízo da Índia e Mina, mç. 17, n.º 8, cx. 17.

[12]    ANTT, Feitos Findos, Juízo da Chancelaria, mç. 38, n.º 51.

[13]    Gazeta de Lisboa, n.º 196, Lisboa, Impressão Régia, pp. 1388, 1436, e 1724.

[14]   Vários textos dão-no como edificador da Casa da Francelha, o que está errado. O seu nome completo era Félix José Martins da Costa.

[15]  O Convento de Corpus Christi situava-se num quarteirão delimitado pelas ruas da Vitória, dos Fanqueiros, de São Nicolau, e do Douradores. A igreja original, de planta circular com o zimbório octogonal, ainda é visível e apresenta o seu portal da entrada convertido no acesso a um prédio de habitação da Baixa lisboeta.

[16]   Jazigo n.º 353, Rua 21.

[17]  Não confundir com a Corveta São Gualter, com 26 peças de fogo, que esteve ao serviço da marinha portuguesa em 1823.

[18] Pouco tempo depois, outra conspiração com a mesma matriz ocorreu em Lisboa e levou ao cadafalso o general Gomes Freire de Andrade a 18-X-1817; tudo isto por influência das ideias republicanas e liberais, propagadas pelas sociedades maçónicas, explorando o fértil terreno criado pela crise económica e pelo descontentamento em relação ao absolutismo monárquico português.

[19]   Gazeta de Lisboa, Nº. 22, 14-I-1826, p. 98.

[20]  Seria interessante localizar os testamentos deste casal para obter respostas a muitas questões que ficaram por esclarecer. Algumas da informações aqui dadas, foram obtidas oralmente junto dos herdeiros actuais desta fortuna.

[21]   ANTT, Feitos Findos, Juízo da Índia e Mina, mç. 91, n.º 4, cx. 91.

[22]  O Juízo da Índia e Mina resultou dos descobrimentos e do comércio com as colónias. Foi criado para resolver processos cíveis e crime respeitantes ao comércio, às cargas e às descargas dos navios. As decisões tomadas fora dele eram consideradas nulas. Das sentenças proferidas neste Juízo cabia recurso para o Juízo das Apelações e Agravos da Casa da Suplicação. Na dependência do Juízo da Índia e Mina existia o Juízo das Justificações Ultramarinas.

[23]  LUÍS MARTINS DA COSTA (1737-1794) faleceu a 28-IX-1794, com testamento (Livro de Óbitos n.º 1, Fermentões).

[24]  A QUINTA DE MINOTES, na freguesia de Fermentões, concelho de Guimarães, tem origem no Casal de Minotes que foi foreiro ao Mosteiro de São Domingos de Guimarães. O primeiro emprazamento, nesta família, foi feito a 20-V-1575 a Domingos Duarte (f. 1597) e Catarina Fernandes, longínquos antepassados de edificador da Casa da Francelha. Um dos encargos deste emprazamento era a impossibilidade de «escambar, dividir, vender, trocar sem licença dos padres do Mosteiro», o que impossibilitava a sua divisão por vários herdeiros. (Arquivo Municipal Alfredo Pimenta - Guimarães, Livro de Prazos do Convento de São Domingos de Guimarães, Tomo 4.º, fls. 13. A actual Casa de Minotes está Classificado como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 5/2002, DR, 1ª Série-B. nº 42, de 19-02-2002).

[25]  O apelido Guimarães parece ter sido acrescentando ao nome como indiciador da terra da origem familiar, costume este que foi comum a alguns emigrados portugueses no Brasil.

[26]  ANTT, T.S.O., Conselho Geral, Habilitações, Gualter, mç. 1, doc. 4.

[27]  Francisco Martins da Costa (f. 1826) faleceu a 5-VI-1826 em Guimarães, um ano antes do falecimento de seu irmão Félix M. da Costa (1774?-1827).

[28]  Este jazigo ostenta a inscrição «Jazigo da Família Campelo Trigueiros Martel».

[29]  ANTT, Autos da Capela de João Gonçalves, Hospital de São José, Cartório das Capelas e  Legados Pios, escrivão Pontes, mç. 85, n.º 1, cx, 1177.

[30]   ADL, «Fundo Cível do Antigo do Tribunal da Boa Hora».

[31] JOÃO JOSÉ M. P. R. GOULÃO (n. 1758) teve brasão de armas por carta de 20-III-1821, com um escudo partido em pala de PEREIRA e de REGO (IAN/TT, Cartório da Nobreza, Livro  I,  fl. 63 v.).

[32]  João José Martins Pereira do Rego Goulão (n. 1758) e sua mulher D. Maria Antónia Trigueiros Martel Rebelo Leite (n. 1770), eram quintos avós do autor destas notas.

[33]  Rocha Martins (1879-1952), Diário de Notícias, a 10-Jan-1944.

[34]  Pertencia à família de José Lúcio Travassos Valdez (1787-1860), 1.º Conde de Bonfim, natural de Elvas, casado com sua prima D. Jerónima Emília Godinho Valdez (1790-1862), natural de Elvas. Brasão de armas: Escudo esquartelado de ARAÚJOS, TRAVASSOS, GODINHOS e VALDEZ.

[35]   O título foi-lhe renovado pela da Comissão de Renovação e Registo de Mercês de 1933.

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