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2010-12-18

Afonso de Proença (c.1536) - Guarda



 Afonso Proença (n. 1469?), Guarda
     
Brasão de:     AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?).
Forma:           Escudo partido em pala com as armas dos PROENÇAS: o 1.º de verde, com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro, postas em sautor.
Diferença:     Uma brica de prata.
Elmo:             De prata aberto, guarnecido de ouro.
Timbre:          Meia águia de uma cabeça preta dos peitos para cima.
Paquife:         De ouro, verde e azul.
Local:            Conhecido documentalmente. Por Carta dada em Évora a 20-IX-1536. Reg. na Chancelaria de D. João III, L. 22, f. 120v.
Data:              Évora, 20-IX-1536.

 

BRASÃO

Brasão de AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), cavaleiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (15-12-1580).

Estas armas ostentam um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde, com uma águia preta bicéfala, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro em aspa, e por diferença uma brica de prata. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, paquife de ouro verde e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proença. Estas armas foram dadas em Évora a 20-IX-1536, registadas na Chancelaria de D. João III, liv. 22, fl. 120 v.

Genealogia de
Afonso de Proença (1469?)

AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), presume-se ter nascido por volta de 1469, ficando a dever a sua protecção ao cardeal-infante e depois rei D. Henrique (1512-1580) de cuja casa foi cavaleiro fidalgo, no desempenho de diversos cargos de mordomo, aposentador, assim como meirinho das rendas dos coutos de Alcobaça em 1538, como consta por vários documentos arquivados na Torre do Tombo[1].

A sua Carta de Brasão de Armas, muitíssimo parca em informações genealógicas, apenas refere que é filho de D. CATARINA PROENÇA. Ao que parece esta foi casada com ANTÃO LUÍS, como se infere da C.B.A. que foram atribuídas ao seu sobrinho Belchior, tendo havido quebra de varonia na linhagem dos Proença, como se verá a seguir.

Foi provavelmente tio de BELCHIOR DE PROENÇA (c. 1542)[2], escudeiro fidalgo do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), e guarda-roupa do príncipe do Piemonte[3], o qual também obteve uma Carta de Brasão de Armas de sucessão composto de um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde com uma águia de preto bicéfala arrmada de oiro; o 2.º de azul com cinco flores-de-lis de oiro em aspa, e por diferença um trifólio de oiro picado de vermelho. Elmo de prata aberto guarnecido de oiro, paquife de oiro e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima, de uma cabeça; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proença[4]. Armas dadas em Lisboa a 19-VII-1542, registadas na Chancelaria de D. João III, liv. 32, fl. 64.

Guarda, Sé.

O seu presumível sobrinho Belchior de Proença (c. 1542) era filho de LUÍS DE PROENÇA, natural da Guarda, segundo refere a sua carta de brasão de armas de seu filho (1542), que o genealogista Manuel Abranches Sobral diz no seu “Ensaio sobre a origem dos Proença” (Porto, 2010) ser LUÍS ÁLVARES DE PROENÇA (1470?-1541?)[5], fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) e seu guarda-roupa, nascido por volta de 1470 na citada cidade da Guarda e falecido posteriormente a 1571, do qual há vários homónimos nesta família o que dificulta a sua identificação. Era neto paterno de ANTÃO LUÍS DE PROENÇA, segundo diz a respectiva carta de brasão de armas, a qual nesta geração parece ter omitido uma quebra de varonia, segundo justifica o já citado genealogista Manuel A. Sobral, que diz este chamar-se apenas ANTÃO LUÍS, escrivão da corte dos reis D. João II (1481-1495) e D. Manuel I (1495-1521), casado com D. CATARINA DE PROENÇA (n. 1448?)[6]. Bisneto pelo lado materno, segundo Manuel A. Sobral, de ÁLVARO DE PROENÇA (1410?-1468?), vassalo da Casa Real, que foi criado de Diogo Lopes de Sousa (c. 1440)[7], e do infante D. Pedro (1392-1448) que acompanhou na batalha de Alfarrobeira onde este foi morto a 20-V-1449, passando posteriormente ao serviço do rei D. Afonso V (1448-1481) que a 28-V-1451 lhe perdoou a pena corporal e a infâmia por ter participado na batalha de Alfarrobeira ao lado do seu adversário D. Pedro, restituindo-lhe toda a honra e fama. 

O apelido PROENÇA, de origem toponímica, foi provavelmente tomado de Proença-a-Velha no distrito de Castelo Branco, localidade esta que poderá ter tirado este nome da Provença – província romana da Occitania, no sul de França –, provável origem de alguns dos seus povoadores que lhe teriam dado este nome em lembrança da sua origem geográfica, ao tempo da Reconquista cristã.

Esta família da Beira passou à cidade de São Paulo, no Brasil, onde ocupou diversos cargos na governação. Destes destacaram-se Paulo Proença (c. 1530) cidadão da Guarda, e de António Proença (c. 1540) cidadão de Belmonte e moço de câmara do Infante D. Luís que foi senhor de Belmonte, os quais ocuparam diversos cargos na governação do Brasil, espalharam com sucesso a sua descendência por toda esta colónia. 




Notas:

[1]     ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 61, n.º 20, mç. 63, n.º 72,

[2]     BELCHIOR, em alguns documentos consultados, por erro, aparece grafado MELCHIOR. Sobre o enigma deste parentesco veja:  SOVERAL, Manuel Abranches Sobral, Ensaio sobre a origem dos Proença, Porto, 2010, p. 12. Disponível em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf  Acesso: 2018-11-14 

[3]   Em Portugal o guarda-roupa era um cargo honorífico subordinado ao mordomo-mor, geralmente atribuído à nobreza, com funções de responsabilidade pela conservação das roupas d’el-Rei, e de apoio e cooperação directa com pleno acesso aos seus aposentos privados.

[4]  BAENA, Visconde Sanches de, Archivo Heraldico-genealogico, Lisboa, Typografia Universal, 1872, p.102.              

[6]     SOVERAL, ibid.

[7]     DIOGO LOPES DE SOUSA (c. 1440), foi 1.º senhor de Miranda do Corvo, Mordomo-mor da Casa Real (18-11-1471), Senhor da Casa de Sousa, do Conselho dos reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, Alcaide-mor de Arronches, e Senhor do Julgado do Eixo.

Belchior Proença (c. 1542) - Guarda


Belchior de Proença (c. 1542), Guarda.

                      Brasão de:     BELCHIOR DE PROENÇA (1500?-1546?).
                      Forma:           Escudo partido em pala com as armas dos PROENÇAS: o 1.º de verde
                                             com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro;
                                             o 2.º de azul com cinco flores-de-lis de ouro, postas em aspa.
                     Diferença:      Uma brica de vermelho com um trifólio de ouro.
                     Local:             Conhecido documentalmente. Por Carta dada em Lisboa a 19-VII-1542. Reg. na
                                             Chancelaria de D. João III, L. 32, f. 64.
                     Data:               Lisboa, 19-VII-1542.




BRASÃO
Brasão de BELCHIOR DE PROENÇA (c. 1542)[1], escudeiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), o qual a 10-III-1540 lhe fez a mercê de 20 cruzados[2], assim como guarda-roupa do príncipe do Piemonte[3].
Estas armas ostentam um escudo de campo partido em pala: o 1.º de verde, com uma águia de duas cabeças, de negro, armada e membrada de ouro; o 2.º de azul, com cinco flores-de-lis de ouro, postas em aspa, e por diferença um trifólio de ouro picado de vermelho. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro, paquife de ouro e azul, e por timbre meia águia dos peitos para cima, de uma cabeça; com todas as honras e privilégios de fidalgo por descender da geração e linhagem dos Proenças – Dadas em Lisboa a 19-VII-1542, registada na Chancelaria de D. João III, liv. 32, fl. 64.

Guarda-roupa do príncipe do Piemonte
D. Beatriz (1504-1538),
duquesa da Saboia.
Foi guarda-roupa do príncipe do Piemonte título privativo do filho herdeiro da Casa da Saboia –, como refere a já citada mercê de 1540, assim como a carta de brasão de armas que lhe foi passada em 1542.
Serviu, com sua mulher – cujo nome desconhecemos –, como guarda-roupa e camareiro da infanta D. BEATRIZ (1504-1538), duquesa consorte da Saboia, e após a sua morte em 1538 passou a servir o seu filho EMANUEL FILIBERTO (1528-1580), príncipe do Piemonte, que veio a suceder no ducado da Saboia por morte de seu pai CARLOS III (1486-1553)[4].
Em Novembro de 1537, foi contemplado no testamento da infanta portuguesa D. Beatriz (1504-1538), filha do rei D. Manuel I. Neste testamento é mencionado sob o nome italianizado de Melchiorre Provonez[5].

Casou e teve geração, segundo sabemos por uma carta existente na Torre do Tombo em Lisboa, datada de 28-VII-1547, da autoria de EMANUEL FILIBERTO (1528-1580) então com 19 anos e ainda príncipe do Piemonte, o qual príncipe já era órfão de mãe, estando o duque seu pai ainda vivo.
Nesta carta, dirigida ao seu tio o rei D. João III de Portugal, o citado príncipe expressa o grande apreço que tinha pela família Proença, servidores na corte de seus pais, e depois na sua. Nela refere a existência de um filho órfão de pai – sem mencionar o nome –, então com 15 anos de idade e a carecer de auxílio.
Começa por referir que «Belchior de Proença my camareiro veio pequeno de Portugal com La Infanta my senhora e madre», acompanhado de sua mulher, a qual diz ter sido moça de câmara, recentemente falecida, tendo deixando um filho de 15 anos para o qual ele pede a mercê de 50 cruzados por ano “que mandava pagar ao dito seu pai”… 

Nesta missiva, o príncipe Emanuel Filiberto, faz referências elogiosas ao falecido Belchior de Proença que, após a morte da duquesa sua mãe (1538), tomou para seu «camareiro, lo qual me há servido com muy  affection y trabajo, de manera que por sus merecimentos les causa di fazerle algum bien y recompensarlo de los serviçeos suyos, e de su muger, mas porque Dios há querido estos dias passados levarlo deste mondo / antes que do tempo el modo de satysfazer a el y a sua mulher como deseava, por las qualitades (…) Havendo my Senhora y madre encomendado mucho al Senhor Duque my padre, lo qual por ser (…) non sa podido saber todo lo que era su volontad / Sendo ele quedado um hilo de XV anos alqual no menos quiero que al próprio su padre. / tenendo compassion ala madre que queda muy desolada»(sic).
Este príncipe, acaba solicitando ao rei D. João III que, ao dito filho do falecido Belchior de Proença seja paga a «mercê de cinquenta cruzados por cada ano [que] mandava pagar ao dito seu pai, e toma-lo por seu moço de Câmara por respeito aos muitos serviços que o dito pai e mãe fez asua irmã infanta minha mãe e ao dito senhor duque meu pai e a mim», acrescentando ainda «os quais não tenho meios de satisfazer (…) pelas minhas poucas faculdades»[6]
Não conseguimos apurar qual foi o desfecho desta pretensão, nem o destino deste herdeiro da família Proença que, originária da Beira Interior em Portugal, foi servir a rica corte dos duques da Sabóia.

Genealogia de
Belchior de Proença (1500?-1546?)

A família Proença deve em grande parte da sua ascensão social à protecção do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580).  

Era filho de LUÍS DE PROENÇA, natural da Guarda, segundo refere a sua carta de brasão de armas (1542), que o genealogista Manuel Abranches Soveral diz ser LUÍS ÁLVARES DE PROENÇA (1470?-1541?)[7], fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) e seu guarda-roupa, nascido na citada cidade da Guarda por volta de 1470 e falecido posteriormente a 1471.

Era irmão de AFONSO DE PROENÇA (n. 1469?), cavaleiro fidalgo da casa do cardeal-infante D. Henrique (1512-1580), e seu mordomo, o qual também obteve uma Carta de Brasão de Armas de sucessão dada em Évora a 20-IX-1536, registado na Chancelaria de D. João III, liv. 22, fl. 120 v.

Era neto paterno de ANTÃO LUÍS DE PROENÇA, segundo diz a respectiva carta de brasão de armas, a qual nesta geração parece ter omitido uma quebra de varonia, segundo o já citado genealogista Manuel A. Soveral, que diz este se chamar apenas ANTÃO LUÍS, escrivão da corte dos reis D. João II (1481-1495) e D. Manuel I (1495-1521), casado com D. CATARINA PROENÇA (n. 1448?)[8], esta sim uma Proença.

Bisneto (pelo lado materno, segundo Manuel A. Soveral) de ÁLVARO DE PROENÇA (1410?-1468?), vassalo da Casa Real, que foi criado de Diogo Lopes de Sousa (c. 1440)[9], e do infante D. Pedro (1392-1448) que acompanhou na batalha de Alfarrobeira onde este foi morto a 20-V-1449, passando posteriormente ao serviço do rei D. Afonso V (1448-1481)
Este Álvaro de Proença (1410?-1468?), era filho de AFONSO GONÇALVES (n. 1387?), escudeiro de Diogo Gomes da Silva (c. 1350), presumivelmente o 1º senhor da Chamusca, que terá sido o responsável por ter influenciado o estabelecimento da família Proença em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão.

Este escudeiro DIOGO GOMES DA SILVA (C. 1350), caso seja o que veio a ser 1º senhor da Chamusca, será o pai de RUI GOMES DA SILVA (C. 1400), 2º senhor da Chamusca, e de seu irmão JOÃO GOMES DA SILVA (o qual de Beatriz Barreiros de Oliveira, da Quinta do Outeiro em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão, teve o filho natural D. Frei Diogo da Silva, 1.º Inquisidor-mor).
Esta ilustre família da linhagem dos Silvas, uma das mais influentes na hierarquia nobiliária do reino e nas ordens militares (Cristo e Santiago), tinha na Beira Interior um apreciável património, nomeadamente em Aldeia de Joanes, no concelho do Fundão, onde estes Proenças se vieram estabelecer como grandes terratenentes, daqui espalhando a sua descendência por todo o concelho do Fundão

Príncipe do Piemonte / Casa da Saboia
O ducado de Sabóia-Piemonte englobava um importante conjunto de territórios dispersos junto às actuais fronteiras de França, Suíça e Itália, com uma população que então andaria à volta de um milhão de habitantes.
Na realidade o seu território compreendia os actuais departamentos franceses de Saboia e Alta Saboia e, ainda, a parte da região italiana do Piemonte, com um património imenso de palácios e fortalezas.
Era um território com uma situação simultaneamente privilegiada, mas politicamente muito instável, devido os interesses conflituantes de várias nações em guerra que rodeavam este ducado. Estava na posse de uma das mais antigas e prestigiadas famílias da antiga nobreza europeia que, por várias vezes, cruzou o seu destino com a família real portuguesa, através de matrimónios.
No ano de 1536, a Saboia foi invadida pelas tropas francesas de Francisco I, sob as quais colapsou totalmente, perdendo a maior parte dos seus estados e ficando apenas reduzida ao condado de Nice e ao Vale de Aosta. D. Beatriz veio a morrer prematuramente em Nice a 8-I-1538, dois anos depois desta derrota, quando contava 33 anos de idade.
Emanuel Filiberto (1528-1580)
O título de príncipe do Piemonte, era atributo do filho herdeiro do Duque da Saboia.
A cronologia diz-nos que, por esta altura, este título de príncipe pertencia a EMANUEL FILIBERTO (1528-1580), o “Testa de Ferro, devido à morte do então herdeiro do ducado que era D. Luís (1523-1536), seu irmão mais velho, o qual contava 13 anos de idade quando se finou prematuramente, passando o título a este irmão, seu sucessor.
Mais tarde, quando o príncipe Emanuel Filiberto contava 25 anos de idade, veio a suceder no ducado de Saboia (1553), por morte de seu pai o duque Carlos III (1486-1553), dito “o Bom”, assumindo então o poder num ducado ocupado militarmente e completamente devastado pela guerra, o qual, por via de uma aliança estratégica com Espanha, conseguiu recuperar em grande parte.

Curiosamente, Emanuel Filiberto (1528-1580), muito pouco tempo antes de morrer, foi um dos malogrados pretendentes ao trono de Portugal por oposição ao seu primo o rei Filipe II de Espanha (1517-1598), aquando da morte de seu tio o cardeal-infante D. Henrique (1512-1580) que reinou em Portugal a partir de 1578.
Carlos III (1486-1553),
Adicionar legenda
Era neto por via materna do rei D. Mamuel I de Portugal, e teve, como todos os outros candidatos ao trono português, um representante da sua efémera causa em Lisboa, antes da morte do Cardeal-Rei D. Henrique em 1580.
Foi o 3.º filho de CARLOS III (1486-1553), 9.º duque da Saboia (1504-1553), o qual casou em 1521 em Villefranche-sur-Mer (Sul de França, junto a Nice) com a infanta D. BEATRIZ (1504-1538), um dos nove filhos do casamento de D. Manuel I (1469-1521), rei de Portugal, com sua mulher D. Maria de Aragão (1482-1517). Por este casamento foi cunhado do imperador Carlos V (1500-1558)[10], casado com a infanta D. Isabel (1503-1539), também ela filha de D. Manuel I.
D. Beatriz (1504-1538), ao casar com o príncipe do Piemonte em 1521, levou consigo para a Sabóia um numeroso séquito de dezenas de oficiais e serviçais, dos quais faziam parte alguma nobreza do reino, da qual faziam parte várias senhoras e o ainda jovem Belchior de Proença que, após a morte de D. Beatriz, passou a fazer parte do séquito do seu filho Emanuel Filiberto (1528-1580)[11].




Notas:

[1]    BELCHIOR, em alguns documentos consultados, por erro, aparece grafado MELCHIOR.
[2]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 67, n.º 38
[3]    Em Portugal o guarda-roupa era um cargo honorífico subordinado ao mordomo-mor, geralmente atribuído à nobreza, com funções de responsabilidade pela conservação das roupas d’el-Rei, e de apoio e cooperação directa com pleno acesso aos seus aposentos privados.
[4]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54 – Carta de Emanuel Filiberto, solicitando uma mercê a D. João III para o filho de Belchior de Proença. No ANTT o príncipe Emanuel Filiberto está mencionado erradamente com o nome de “Lambert de Saugre”, em vez de Filiberto da Saboia.
[5]    CLARETTA, Gaudenzio, Notizie storiche intorno alla vita ed al tempi di Beatrice di Portogallo, Turino, 1863, p. 103. Disponível em:  https://archive.org/details/bub_gb_j4T34mtOup0C/page/n113 Acesso: 2018-11-14
[6]    ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54.
[7]     SOVERAL, Manuel Abranches, Ensaio sobre a origem dos Proença, Porto, 2010, p. 12. Disponível em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf  Acesso: 2018-11-14
[8]    SOVERAL, op.cit, p. 12.
[9]     DIOGO LOPES DE SOUSA (c. 1440), foi 1.º senhor de Miranda do Corvo, Mordomo-mor da Casa Real (18-11-1471), Senhor da Casa de Sousa, do Conselho dos reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, Alcaide-mor de Arronches, e Senhor do Julgado do Eixo.
[10] CARLOS V (1500-1558) foi Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Herdeiro dos reinos de Castela, Aragão e Navarra, assim como da Casa da Áustria, dos Países Baixos, dos reinos de Nápoles e da Sicília, da Lombardia, do Franco Condado, do Ducado de Milão, de Artois e de terras do Novo Mundo conquistadas pela Espanha.
[11] ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 79, n.º 54                          

2010-10-23

João Tavares da Costa Cunha (c. 1656) - Oeiras, Covilhã, Alcongosta.


 João Tavares da Costa Cunha (c. 1651).


Forma:        Escudo esquartelado: o 1.º de TAVARES – de ouro, com cinco estrelas de seis raios de vermelho; o 2.º de COSTAde vermelho com seis costas de prata seis costas, postas 2, 2 e 2; o 3.º de PROENÇA – partido em pala, o primeiro de verde com uma águia bicéfala de negro, e o segundo de azul com cinco flores-de-lis de ouro postas em sautor; e o 4.º de CUNHAde ouro, com nove cunhas de azul em três palas.
Diferença:   Uma brica verde carregada de um trifólio de prata.
Local:          Conhecido documentalmente: in MACHADO, José de Sousa, Brasões 
                     inéditos, Braga, A Folha do Minho, 1906, p. 70.
Data:            9-V-1651.



JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651) foi capitão de Infantaria e morou na Quinta de Oeiras, termo de Lisboa.
Era filho de DIOGO DE PROENÇA TAVARES, natural da Covilhã, e de D. CATARINA ESTEVES DA CUNHA, moradores que foram no Sabugal de Alcongosta.
Neto paterno de ANTÓNIO TAVARES (n. 1482), legitimado por carta régia de 13-IV-1492, o qual terá sido escrivão de cativos e inquiridor de Viseu[1], tendo vivido na Covilhã no fim da vida, e de D. ANA PROENÇA DE SOUSA[2]; bisneto paterno de JOÃO TAVARES (n. 1432?), cavaleiro da Casa Real , comendador de São Vicente da Beira no reinado de D. Afonso V (1432-1481)[3], e descendente de JOÃO ESTEVES TAVARES, que terá sido alcaide-mor da Covilhã.
Obteve Brasão esquartelado de: 1.º - TAVARES, 2.º - COSTA, 3.º - PROENÇA, e 4.º - CUNHA; tendo por diferença uma brica verde carregada de um trifólio de prata.
Br. Passado a 9-V-1651, publicado nos Brasões Inéditos[4].


Os apelidos dos antepassados do armigerado indiciam o seu parentesco com os SOUSA TAVARES, os quais a partir do século XVI tiveram o senhorio de Mira de juro e herdade, e eram terratenentes com a sua esfera de influência nas Beiras e Alentejo onde também exerceram destacados cargos na governação, nomeadamente em Portalegre, Alegrete, Assumar e Olivença. Os mesmos estiveram ligados à expansão portuguesa (Séc. XV-XVIII),
Pelo lado dos CUNHAS, apesar da falta de documentação que o confirme, tudo leva a crer ser descendente do ramo que teve origem em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão, o qual andava ligado aos PROENÇAS, apelido de uma das sua avós, que mais tarde veio dar o conhecido ramo dos TAVARES PROENÇAS ramo este com grande destaque social no distrito de Castelo Branco.
Desconhecemos qualquer enlace matrimonial ou descendência do capitão de infantaria JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651), o qual, a ter residido em Oeiras, provavelmente prestou serviço militar durante a Guerra da Restauração da independência num dos inúmeros fortes então reconstruídos ou edificados no mesmo concelho que naquela época abrangia uma maior extensão territorial.
Não se conhece uma qualquer representação em pedra do citado brasão.

 

Oeiras, Forte de S. Julião da Barra.
A principal fortaleza de defesa da entrada no porto de Lisboa era o Forte de São Julião da Barra, a maior fortaleza marítima do país, edificada em 1568 e ampliado de 1650 a 1655. Era apoiada do lado da costa por diversas pequenas baterias como a do Forte de Nossa Senhora do Porto Salvo (1449), e a do Forte de São Bruno (1647), entre outras, as quais estavam guarnecidas com peças de artilharia e tinha soldados de infantaria ao seu serviço. 


Caxias, Forte de São Bruno.





Porto Salvo, Forte de Nsa. Senhora
do Porto Salvo.
















Notas:

[1]   SOVERAL, Manuel Abranches, Ensaio sobre a Origem dos Proença (Porto, 2010), pp. 5-6. Acedido a 7-11-2018, em: http://www.soveral.info/mas/Proenca.pdf
[2]   JOÃO TAVARES DA COSTA CUNHA (c. 1651), na sua CBA, é dado como tendo por sua mulher D. ANA PROENÇA DE SOUSA. Porém, noutros documentos, esta aparece como sendo JOANA DE PROENÇA (Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, 1674), ou ainda FILIPA DE PROENÇA (Manuel Abranches de Sobral, Ensaio sobre a Origem dos Proença, p. 5).
[3]   ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34, fl. 132.                   
[4]   MACHADO, José de Sousa, Brasões inéditos (Braga, A Folha do Minho, 1906), p. 70.



2010-09-05

Casa do Morgado de São Nicolau - Fonseca, Oliveira e Proença (Séc. XVIII) - Alcongosta, Fundão.

Rua do Espírito Santo, Alcongosta, Fundão.


Pedra de Armas da
Casa do Morgado de São Nicolau,

de OLIVEIRA e PROENÇA.
(meados do século XVII)
                    

                      Brasão de:    Desconhece-se a que membro da família Oliveira e Cunha pertenceu.
                                            Estas Armas entraram na Casa de São Nicolau por aliança matrimonial
                                            de João de São Nicolau da Fonseca (f. 1692) com Catarina de Oliveira e
                                            Cunha, natural de Aldeia Nova do Cabo.
                      Forma:          Escudo suspenso do canto esquerdo e boleado de bico, com o chefe de

                                            linhas côncavas, inclinado para a dextra e terciado em pala: o 1.º do
                                            terciado de OLIVEIRA – uma oliveira, e o 2.º e o 3.º, em conjunto, de
                                            PROENÇA – o primeiro destes com uma águia bicéfala e o segundo com
                                            cinco flores-de-lis postas em sautor.
                     Diferença:     Um coxim no canto superior direito.
                     Elmo:            De grades voltado a três quartos de perfil, olhando à direita do escudo.
                     Timbre:         Uma oliveira, tirada das armas dos Oliveiras.
                     Local:            Fachada de casa na Rua do Espírito Santo, Alcongosta.
                     Data:             Meados do século XVII.


Casa do Morgado de São Nicolau, Alcongosta, Fundão.

           
Situada na Rua do Espírito Santo, em Alcongosta, esta casa senhorial foi provavelmente erguida nos finais do século XVIII, tendo resultado da reconstrução de uma casa anterior que existiria no local.
O brasão, lavrado com grande correcção heráldica, certamente é anterior à actual edificação, parece datar do século XVII.

BRASÃO
Esta pedra de armas, trabalho de boa cantaria feito por um artista conhecedor, apresenta uma composição quase irrepreensível segundo os preceitos da Armaria. A sua beleza formal só tem paralelo na pedra de armas da Casa Serrão, situada no Fundão, também ela do século XVII. O escudo deste brasão, suspenso do canto esquerdo, quanto à sua partição é terciado em pala: o 1.º de OLIVEIRA (de vermelho com uma oliveira, arrancada de prata e frutada de ouro); o 2.º e o 3.º, em conjunto, de PROENÇA (o primeiro de verde com uma águia bicéfala, e o segundo de azul com cinco flores-de-lis postas em sautor).
Por diferença ostenta um coxim no canto superior direito sobre as armas dos Oliveiras. A encimar o escudo temos o elmo de grades, aberto e voltado para a direita, posto a três quarto, sobre o qual assenta o timbre que é uma oliveira, tirada das armas dos Oliveiras.
Estas armas passaram à família dos morgados de São Nicolau por via do casamentos de JOÃO DE SÃO NICOLAU DA FONSECA (f. 1692), senhor do morgado de São Nicolau, com D. CATARINA DE OLIVEIRA E CUNHA, natural de Aldeia Nova, dos quais houve descendência que seguiu os apelidos maternos.

O DETENTOR DO BRASÃO
Não podendo identificar o detentor deste brasão alicerçado em provas documentais, podemos dar algumas pistas, até porque como em vários outros armigerados deste concelho, também este descende dos notabilíssimos Oliveiras e Cunhas de Aldeia Nova do Cabo, terra onde esta família atingiu algum relevo social durante o domínio Filipino, nos alvores do século XVII.Desconhece-se a carta de brasão de armas que o o conferiu, assim como o respectivo registo. São porém conhecidos outros armigerados desta família, durante o século XVII, aos quais foram atribuídos brasões muito semelhantes, diferindo apenas em pormenores de pouca monta, como sejam a ordem de representação dos apelidos, ou a ostentação de diversas diferenças.

Temos nesta família, por ordem cronológica de atribuição:

António Rodrigues de Oliveira (f. 1696),
C.B.A. de 1630
(1.º - OLIVEIRA, 2.º - CUNHA,
3.º - PROENÇA, e 4.º - SILVA)
1.º – ANTÓNIO RODRIGUES DE OLIVEIRA (f. 1655), que obteve Carta de Brasão de Armas em 1630, segundo refere Manuel Rosado Marques Camões e Vasconcelos (in Oliveiras e Cunhas da Casa do Outeiro Termo do Fundão, v. 1, Lisboa, 1962, pp. 42-58). Apesar deste autor não indicar a fonte desta informação, ela merece-nos credibilidade, até porque em cartas de brasão de familiares seus ele é mencionado como tendo tido brasão de armas. O seu escudo de armas esquartelado de OLIVEIRA, CUNHA, PROENÇA, e SILVA, é um dos muitos que no concelho do Fundão apenas são conhecidos documentalmente. Ignora-se a existência das respectivas pedras de armas, assim como o local onde se situava a sua casa.
Segundo o mesmo autor, era filho de Miguel Rodrigues Barreiros de Oliveira e de sua mulher D. Ana da Cunha de Oliveira, filha dotada por seu pai e tia; neto paterno de Miguel Rodrigues Barreiros (c. 1571), familiar do Santo Ofício por carta de 9-X-1571; e neto pelo lado materno de Gaspar Proença (filho de Pedro de Oliveira) e de sua mulher D. Ana da Cunha de Oliveira.
Pedra de Armas do padre
Miguel de Oliveira e Cunha
(f. 1696),
(1.º- CUNHA, 2.º- OLIVEIRA,
3.º e 4.º- PROENÇA)
Sucedeu na Casa dos seus pais e foi fidalgo da Casa Real, tendo falecido a 30-IV-1655. Foi casado com D. BEATRIZ FIGUEIRA CASTELO BRANCO, filha de Pedro Figueira Castelo Branco e de sua mulher D. Maria Rodrigues, todos de Aldeia Nova do Cabo.
Do seu casamento teve, entre outros, uma filha e um filho que tiveram algum relevo social e deixaram rasto na história local: a filha era CATARINA DE OLIVEIRA E CUNHA, casada com seu parente JOÃO DE SÃO NICOLAU DA FONSECA (1624-1692), morgado de São Nicolau, em Alcongosta; o filho foi o licenciado padre MIGUEL DE OLIVEIRA E CUNHA (f. 1696), que instituiu o Morgado de São Miguel no Fundão (8-VII-1686?), com sede na capela do mesmo nome, anexa ao seu solar situado no largo da igreja Matriz do Fundão (erradamente atribuído a D. Luís de Brito Homem (1748-1817), bispo do Maranhão (1802, por este aí ter nascido), armoriado com a sua pedra de armas esquartelada de CUNHAOLIVEIRA, e PROENÇA, tendo por timbre um chapéu eclesiástico do qual pendem dois cordões de seis borlas.


Lourenço Barreiros de Oliveira (c. 1642),
C.B.A. de 1642
(1.º e 2.º- PROENÇA, 3.º- OLIVEIRA)
2.º – LOURENÇO BARREIROS DE OLIVEIRA (c. 1642), irmão do anterior como se infere pelos seus antecessores, teve carta de brasão de armas com escudo terciado em pala, de PROENÇA e OLIVEIRA. Diferença: um coxim de ouro. Brasão dado a 30-XII-1642, registado no Cartório da Nobreza, livro 2, fl. 38. Era filho legítimo de D. Ana da Cunha de Oliveira, prima inteira de António Rodrigues de Oliveira (f. 1655), e de seu marido Miguel Rodrigues Barreiros de Oliveira, que também tiveram brasão de armas, todos do lugar de Aldeia Nova do Cabo; bisneto por esta linha de Gaspar Proença, e terceiro neto de Pedro de Oliveira, moradores no lugar do Freixial, termo de Aldeia Nova do Cabo .
O brasão de armas que lhe foi concedido, difere do que está na fachada da Casa do Morgado de São Nicolau pela disposição, por ordem inversa, das armas dos Proenças e dos Oliveiras, mas, no caso da diferença que ostenta, esta é um coxim igual ao do brasão de Alcongosta.

Manuel Nunes de Oliveira (c. 1644),
C.B.A. de 1644
(1.º- OLIVEIRA, 2.º  3.º- PROENÇA)
3.º – MANUEL NUNES DE OLIVEIRA (c. 1644), teve carta de brasão de armas com um escudo terciado em pala de OLIVEIRA e PROENÇA, que foi passada a 29-II-1644 em Lisboa. Descendente por linha legítima da geração dos Oliveiras e Proenças, morador em Aldeia Nova do Cabo, era filho legítimo de Miguel Nunes e de sua mulher Ana Rodrigues de Oliveira. Sua mãe era irmã de António Rodrigues de Oliveira (f. 1655)que tinha tirado Brasão de suas Armas”, e tia de Miguel Rodrigues de Oliveiraque também tirou Brasão de suas Armas” em 27-II-1630; bisneto de Gaspar Proença, e terceiro neto de Pedro de Oliveira.
Este escudo apresenta as armas dos respectivos apelidos dispostos pela mesma ordem do brasão da Casa do Morgado de São Nicolau – primeiro as armas dos Oliveiras e depois as dos Proenças. Porém, a diferença não é mencionada (?), enquanto na pedra de armas da casa de Alcongosta é representada por um coxim.

Miguel Rodrigues de Oliveira (c. 1630),
C.B.A. de 1630
(1.º- OLIVEIRA, 2.º e 3.º- PROENÇA)
4.º – MIGUEL RODRIGUES DE OLIVEIRA (c. 1630), teve carta de brasão de armas com um escudo terciado em pala de PROENÇA e OLIVEIRA. Diferença: um trifólio verde em campo de prata. Timbre: o dos Proenças que é uma águia de uma só cabeça, sainte, de negro, armada de ouro. Dada a 27-II-1640 em Lisboa, pelo Rei D. Filipe III .
Morou em Aldeia Nova do Cabo, e sabemos que já tinha falecido em Dezembro de 1668. Descendente por linha masculina dos Proenças e Oliveiras, era filho legítimo do homónimo Miguel Rodrigues de Oliveira, e de sua mulher D. Leonor Cristóvão (f. 1640), os quais já estavam casados em 1601 e viviam na freguesia do Alcaide.
Casou a 4-II-1629 em Aldeia de Joanes com D. MARIA ÁLVARES DA FONSECA, da qual teve numerosa descendência que chegou aos nossos dias com os apelidos Abranches Homem Brandão.
Este brasão difere da pedra de armas da Casa dos Morgado de São Nicolau pela sua disposição, por ordem inversa, das armas dos Proenças e dos Oliveiras, assim como pela diferença que ostenta, a qual neste caso é um trifólio, e no brasão da casa de Alcongosta é um coxim.

MORGADO DE SÃO NICOLAU
Local da antiga capela do morgado de
São Nicolau.
Esta casa pertenceu à família que instituiu o vínculo da capela de São Nicolau, a qual foi demolida no início do século XX. 
Este pequeníssimo templo situava-se à ilharga da matriz onde hoje se encontra uma imagem moderna em memória deste santo, assente sobre um plinto de granito em substituição da capela que se encontrava arruinada.
Depois de ter sido doado ao povo, acabou por ser destruído por decisão da Junta de Paróquia de 16-IV-1902, tendo-se lavrado uma acta da qual consta que «…para embelezamento da freguesia se destruíssem as ruínas da capela de S. Nicolau, que foi doada à mesma Junta, e que a pedra de alvenaria da mesma capela fosse vendida para despesas da mesma obra, e que a cantaria fosse aplicada para formação de um cais ao longo da rua corrente e reparação da escadaria da igreja paroquial»[1].
          O vínculo de São Nicolau foi instituído por disposição testamentária a 13-IV-1598 pelo reverendo Dr. António Nicolau (c. 1562), prior de Alcongosta (1570-1598), filho de Nicolau Francisco e de sua mulher D. Gertrudes Salvada
Igreja Matriz de Alcongosta.
          O seu instituidor, terá vinculado vários bens à capela de São Nicolau que seria edificada junto à igreja matriz desta aldeia, assim como a obrigação do uso do nome do santo da sua invocação – e assim do seu próprio nome – na pessoa dos morgados sucessores.
O instituidor da capela, o Prior ANTÓNIO NICOLAU (c. 1562), frequentou a Universidade de Salamanca (1562-1564), vindo posteriormente a formar-se em Cânones pela Universidade de Coimbra (1568). Foi pároco vitalício da freguesia de Alcongosta a partir de 1570, por privilégio do rei D. Sebastião, assim como obteve do mesmo monarca um alvará para que não se cortassem castanheiros na mata de Alcongosta, o que por si só além de revelar a sua influência na terra, talvez denote preocupações de conservação ambiental ou paisagística, atitude pouco comum naquela época.  

Francisco Nicolau, irmão do prior instituidor, teve a filha D. MARIA DE SÃO NICOLAU que foi casada com JOÃO ANES REBELO.  
Estes tiveram, por sua vez, a filha herdeira D. ISABEL DE SÃO NICOLAU REBELO (f. 1646)[2], 1.ª administradora do morgado de São Nicolau, casada com GONÇALO LEITÃO DA FONSECA (f. 1658), alferes do Rosmaninhal[3]. Foi este casal que edificou a respectiva capela, pelos começos de Seiscentos, concretizando as disposições testamentárias do seu tio-avô.
Sucedeu-lhes o filho JOÃO DE SÃO NICOLAU DA FONSECA (1624-1692), 2.º administrados do morgado de São Nicolau, o único que veio a casar em Aldeia Nova do Cabo com CATARINA DE OLIVEIRA E CUNHA, filha de António Rodrigues de Oliveira (f. 1655)[4], falecido a 30-IV-1655, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher Maria Rodrigues, todos de Aldeia Nova do Cabo.
Estes,  entre vários filhos, tiveram:
D. CATARINA NICOLAU DA FONSECA (f. 1687), a 3.ª administradora do morgado de São Nicolau, nascida em Alcongosta e falecida em 1687. Casou em Vila Real nas primeiras núpcias de MIGUEL PEREIRA PINTO DO LAGO, 4.º senhor do morgado da Casa do Arco por morte de seu irmão, mestre de campo do Terço de Auxiliares de Vila Real e fidalgo da Casa Real (alvará de 20-V-1671), filho de Francisco Pereira Pinto Guedes e de sua mulher D. Maria Pereira do Lago. Seu marido, depois de viúvo voltou a casar.
Deste casamento, entre outros, destacamos:
O 1.º filhoNICOLAU PEREIRA PINTO DO LAGO DA FONSECA (f. ?), que casou em vida de seu pai contra a sua vontade. Herdou da mãe o vínculo de São Nicolau, cuja sucessão vai abaixo.
O 2.º filhoFRANCISCO PEREIRA PINTO DO LAGO DE OLIVEIRA (f. 1760), senhor do morgado da Casa do Arco em Vila Real, cuja sucessão se ficou a dever ao facto de seu irmão Nicolau ter falecido primeiro do que o seu pai[5]. Foi fidalgo da Casa Real e casou com D. MARIA LUÍSA VITÓRIA DE BRITO, do Fundão, senhora do morgado de São Miguel, filha herdeira de Manuel Homem de Brito e de D. Isabel de Brito, do Fundão.

DADOS GENEALÓGICOS
Vejamos os dados genealógicos da família dos morgados de São Nicolau, na tentativa de compreender a sua sucessão[6].
1.       FRANCISCO NICOLAU casado com D. GERTRUDES SALVADA.
          Tiveram:
2.     ANTÓNIO NICOLAU (c. 1562), prior de Alcongosta (1570-1598), que instituiu a 13-IV-1598 o morgado de São Nicolau com uma capela vinculada junto à igreja matriz desta aldeia e a obrigação do uso deste nome.
2.       FRANCISCO NICOLAU, que segue.
2.       FRANCISCO NICOLAU, que ignoramos com quem casou.
          Teve:
3.       D. MARIA DE SÃO NICOLAU, que segue.
3.       D. MARIA DE SÃO NICOLAU, casada com JOÃO ANES REBELO.
          Tiveram:
4.       D. ISABEL DE SÃO NICOLAU REBELO (f. 1646), que segue.
4.     D. ISABEL DE SÃO NICOLAU REBELO (f. 1646), herdeira e 1.ª administradora do morgado de São Nicolau instituído a seu favor, em cuja capela foi sepultada em 13-VIII-1646. Casou com GONÇALO LEITÃO DA FONSECA (f. 1658), alferes do Rosmaninhal, filho de João Gonçalves Leitão, casado no Rosmaninhal com Filipa Gomes da Fonseca. Morreu sem testamento e foi sepultado na capela de São Nicolau a 24-III-1658.
Tiveram:
5.      JOÃO DE SÃO NICOLAU DA FONSECA (1624-1692), que segue.  
5.    JOÃO DE SÃO NICOLAU DA FONSECA (1624-1692)[7], 2.º senhor do morgado de São Nicolauem Alcongosta, onde foi morador.
Foi sepultado a 16-IV-1692 na capela de São Nicolau em Alcongosta.
Casou em Aldeia Nova do Cabo com D. CATARINA DE OLIVEIRA E CUNHA, a qual era filha de António Rodrigues de Oliveira (f 1655), fidalgo da Casa Real que em 1630 obteve brasão de armas de OLIVEIRAS, CUNHAS, PROENÇAS e SILVAS, tendo casado com Beatriz Figueira Castelo Branco. Sua mulher era neta paterna de Miguel Rodrigues Barreiros e de D. Ana de Oliveira e Cunha; neta materna de Pedro Figueira Castelo Branco e de sua mulher D. Maria Rodrigues, todos naturais de Aldeia Nova do Cabo.
Por este casamento entrou o apelido OLIVEIRA – dos Proença de Oliveira de Aldeia Nova do Cabo – na Casa de São Nicolau, daí resultando o brasão que esta ostenta[8].
Tiveram:
6.       D. CATARINA NICOLAU DA FONSECA (f. 1687), que segue.
6.       ISABEL (n. 1657), nascida a 1-XI-1657 e baptizada a 7-XI-1657 na Igreja Matriz de Alcongosta pelo padre João Tomé, tendo por padrinho o licenciado Miguel de Oliveira, morador em Aldeia Nova do Cabo, e por testemunhas o reverendo padre Manuel da Fonseca Leitão, e Domingos Fernandes, tesoureiro desta igreja. O seu padrinho, padre Miguel de Oliveira, foi o instituidor do o Morgado de São Miguel no Fundão (1686?), com sede na capela do mesmo nome, anexa ao seu solar do largo da igreja matriz do Fundão (Casa Oliveira e Cunha).
6.      D. CATARINA NICOLAU DA FONSECA (f. 1687), 3.ª administradora do morgado de São Nicolau, nasceu em Alcongosta, onde faleceu e foi sepultada a 18-IX-1687 na capela de São Nicolau[9].
Casou a 23-IX-1680, em Alcongosta, nas primeiras núpcias de MIGUEL PEREIRA PINTO DO LAGO (c. 1671), senhor do morgado da Casa do Arco em Vila Real, moço fidalgo da Casa Real (Alvará de 20-V-1671), assim como mestre de campo do Terço de Auxiliares de Vila Real. Era filho de Francisco Pereira Pinto Guedes (c. 1643), comendador da Ordem de Cristo, coronel de Cavalaria e governador da Praça de Chaves até 1668, e de sua mulher D. Maria Pereira do Lago da cidade de Braga. Depois de viúvo, voltou a casar e a ter geração.
Tiveram seis filhos, entre os quais destacamos:
7.       NICOLAU PEREIRA PINTO DO LAGO DA FONSECA, o primogénito, que segue.
7.     FRANCISCO PEREIRA PINTO DO LAGO DE OLIVEIRA (f. 1760), o secundogénito, que veio a suceder no importante morgado da Casa do Arco, depois de longa demanda judicial com o irmão, na qual foi exigida a divisão das casas. Foi fidalgo escudeiro (Alvará de 8-V-1695), e faleceu a 16-VIII-1760. Casou no Fundão com D. MARIA VITÓRIA LUÍSA DE BRITO HOMEM, filha herdeira de Manuel de Brito Homem, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. Isabel de Brito. Tiveram geração.
7.     NICOLAU PEREIRA PINTO DO LAGO DA FONSECA, casado contra a vontade de seu pai, foi 4.º administrador do morgado de São Nicolau, herdado de sua mãe, após demanda judicial com seu irmão para divisão dos bens vinculados em morgado. Foi sua mulher D. JOSEFA FREIRE DE MELO E SÃO PAIO, filha herdeira de Lourenço de Melo São Paio, senhor da Casa de Ribalongo, e de sua mulher D. Jacinta Freire, herdeira da Casa da Póvoa do Concelho, no concelho de Trancoso.
         Tiveram uma única filha:
8.       D. MARIA PEREIRA DE MELO SÃO PAIO, filha herdeira, que segue.
8.      D. MARIA PEREIRA DE MELO SÃO PAIO, 5.ª administradora do morgado de São Nicolau e da Casa da Póvoa de Conselho (concelho de Trancoso). Casou com FILIPE DE SERPE DE SOUSA E MELO (c. 1758), natural de Viseu, o qual foi senhor do morgado do Covêlo (Vila Boa, Barcelos), e senhor da Casa do Cruzeiro e da Quinta de Lourosa (Viseu). Era filho legítimo de Miguel Serpe de Sousa e Melo e de sua mulher D. Maria Micaela de Sousa. Figura em documentação da época, como detentor da capela de São Nicolau[10]
Tiveram uma filha única:
9.       D. ANA BERNARDINA DE SOUSA SERPE E MELO, que segue.

Pedra de Armas da
Casa do Cruzeiro.
Viseu, Casa do Cruzeiro.














9.     D. ANA BERNARDINA PEREIRA PINTO COELHO SERPE (n. 1770), a qual nasceu em Viseu em 1770, onde foi senhora da Casa do Cruzeiro, assim como do morgado da Quinta da Lourosa e do CoveloCasou com seu primo JOSÉ PINTO DE QUEIROZ SARMENTO, fidalgo cavaleiro da Casa Real, capitão-mor de Favaios no concelho de Alijó, filho de José Pinto de Queiroz de Mesquita e de D. Maria Jacinta Pereira Pinto de Morais Sarmento Pinto Guedes.
          Tiveram cinco filhos, dos quais foi primogénito:
10.     BENTO JOSÉ DE QUEIROZ PINTO SERPE E MELO (n. 1772), que continua.
10.     BENTO JOSÉ DE QUEIROZ PINTO SERPE E MELO (n.1772) nasceu em Favaios a 8-IX-1772 e aí foi baptizado a 16-IX-1772, senhor do morgado de São Nicolau. Casou com sua prima D. LEONOR PÓRCIA VAZ PEREIRA DE MAGALHÃES, filha de Miguel António Vaz Guedes Pereira Pinto, moço fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. Francisca Margarida Leocádia Pereira Pinto de Magalhães.
Tiveram três filhos, dos quais foi primogénito:
11.     MIGUEL PINTO DE QUEIROZ SERPE E MELO, que segue.
11.   MIGUEL PINTO DE QUEIROZ SERPE E MELO (n, 1804)[11], moço fidalgo com exercício na Casa Real, administrador do morgado de São Nicolau em Alcongosta, e da Casa de Santo António de Favaios no concelho de Alijó, Lourosa da Telha e do Cruzeiro em Viseu.
          Casou a 8-IX-1824, em São Pedro de Vila Real, com sua prima direita D. AUGUSTA CÂNDIDA VAZ GUEDES PEREIRA PINTO DE ATAÍDE AZEVEDO BRITO MALAFAIA.
Tiveram nove filhos, dos quais foi primogénito:
12.     BENTO QUEIROZ PINTO DE ATAÍDE E MELO (c. 1835), que segue.
12.    BENTO DE QUEIROZ PINTO DE ATAÍDE E MELO (c. 1853), sucedeu nos diversos vínculos de seus pais, entre os quais o da capela de São Nicolau em Alcongosta, do qual deve ter sido o derradeiro administrador por força do Decreto de 30-VI-1860 que aboliu estes vínculos.
        Casou em 1853 com a prima D. EDUARDA AUGUSTA PEREIRA PINTO DE ALMEIDA E VASCONCELOS (n. 1815), nascida a 24-XI-1815 em Santa Eulália, no concelho de Seia.
         Tiveram duas filhas. Uma delas casou com um tio, do qual teve geração que seguiu os apelidos Ataíde Pinto Mascarenhas que chegou até aos nossos dias.
INUMAÇÕES NA CAPELA DE SÃO NICOLAU
Na capela de São Nicolau foram inumados vários elementos da família instituidora, assim como alguns criados e escravos[12]:
O primeiro enterramento nela efectuada foi da presumível criada Helena Gonçalves (f. 1636) a 18-IV-1636.
Isabel de São Nicolau (f. 1646), foi sepultada a 13-VIII-1646; seguiu-se-lhe a irmã de seu marido a 6-IV-1647; o próprio marido, o morgado Gonçalo Leitão da Fonseca (f. 1658) que aí foi sepultado a 24-III-1658.
Um escravo dos morgados de nome Inácio (f. 1661) é sepultado na capela a 19-VII-1661.
Isabel Nicolau (f. 1661), enterrada a 31-X-1661; mais tarde a morgada herdeira D. Catarina da Fonseca (f. 1687) a 18-IX-1687; seguindo-se o seu pai, o “morgado velho” João de São Nicolau (f. 1692) que foi aí enterrado a 16-IV-1687.
Aí vemos sepultar, juntamente com a família dos morgados, vários serventuários e pobres, dos quais um dos últimos foi Manuel João (f. 1715) que foi enterrado a 18-XII-1715.
MORGADOS E CAPELAS
Os Morgados são uma “instituição” medieval que, na maior parte dos casos, tiveram por fim a perpetuação do apelido e das armas de uma família ilustre ou do nome dos fundadores, quase sempre sepultados em panteões ou capelas familiares à sua custa edificadas, com vários encargos piedosos pelas almas dos antepassados. Eram formados por um conjunto patrimonial inalienável e indivisível, administrado por um usufrutuário – o morgado – que, regra geral, era o varão primogénito.
Esta instituição permitia a subsistência da família com um nível económico e um estatuto social elevado, deixando os outros filhos em estado de dependência face ao chefe de linhagem.
Um morgado distingue-se de uma capela devido à finalidade das funções definidas à data da sua fundação. Temos um “morgado” quando a maior parte dos rendimentos dos bens que lhe são vinculados é destinado ao herdeiro, sendo a parte destinada a obrigações piedosas de um montante muito mais pequeno. Temos uma “capela” quando os encargos com as obras piedosas absorvem a maior parte dos rendimentos dos mesmos bens.
Os morgados foram definitivamente extintos, com a excepção do da Casa de Bragança, por decreto de 19 de Maio de 1863.
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Notas:

[1]    Livro da Junta de Paróquia de Alcongosta (1887-1910, Sessão de 16-IV-1902, fl. 96.
[2]    Cfr. GUERRA, Luís Bívar Guerra, A Casa da Graciosa (Braga: s. e., 1965), p. 243.
[3]    Cfr. VASCONCELOS, op. cit., v., pp. 42-45; e GAIO, Felgueiras, Nobiliário, v. VI, tít. “Leitões”,     § 71, p. 67.
[4]    António Rodrigues de Oliveira (f. 1665), foi armigerado com as armas de «Oliveiras, Cunhas, Proenças e Silva» em 1630, e foi pai do padre Dr. Miguel de Oliveira e Cunha, que por testamento instituiu o morgado de São Miguel no Fundão, deixando a sua pedra de armas no solar no adro da Matriz do Fundão.
[5]    GAIO, Felgueiras, Nobiliário, v. VIII, tít. “Pintos”, § 9, p. 293.
[6]    Cfr. VASCONCELOS, Manuel Rosado Marques Camões e, Oliveiras e Cunhas da Casa do Outeiro termo do Fundão, v. 1, pp. 42-45; e GAIO, Felgueiras, Nobiliário, v. VI, tít. “Leitões”, § 71, p. 67; e GUERRA, Luís Bívar Guerra, A Casa da Graciosa (Braga: s. e., 1965), p. 243
[7]    Vários genealogistas atribuem-lhe, assim como à sua descendência, um último apelido de LEITÃO, que estes não usavam na vida social.
[8]    Estes Proenças de Oliveira, descendiam todos de Gaspar Proença, que era filho de Pedro de Oliveira, casado com Ana da Cunha de Oliveira, cuja descendência viveu em Aldeia Nova do Cabo em meados do século XVI.
[9]    No registo de óbito é nomeada por Catarina Fonseca (f. 1687), Felgueiras Gaio atribui-lhe o nome de Catarina da Fonseca Leitão. 
[10]   SILVA, Joaquim Candeias da, O Concelho do Fundão através das Memórias Paroquiais de 1758, p. 50 e 53 – nota n.º 3. – O apelido citado nesta nota é Serpe, apesar de outros ramos da mesma família terem usado o apelido Serpa.
[11]   Também usava o nome completo de Miguel Pinto Pereira de Queiroz Serpe e Melo de Sampaio São Nicolau, pois uma das imposições da instituição do morgado de São Nicolau era o uso deste nome.
[12]   Devemos às investigações do Professor Doutor Joaquim Candeias da Silva, muita da informação ainda inédita que aqui vai sobre o morgado de São Nicolau.