Mostrar mensagens com a etiqueta Joao Trigueiros. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Joao Trigueiros. Mostrar todas as mensagens

2012-06-10

Castelo dos Trigueiros (1908), Fundão.

(Trigueiros Martel) 
Fundão, 1908


 Fundão, Castelo dos Trigueiros, 1908-1916.


História
       Esta singular casa acastelada, outrora na periferia do Fundão e actualmente integrada na sua malha urbana, é fruto do espírito do seu fundador: JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963), monárquico convicto e o “Último Romântico” do Fundão que iniciou a sua edificação em 1908.

       O seu programa estético é aparentemente o resultado da evolução da arquitectura do neoclassicismo para as diversas formas do romantismo: neste caso influenciado no nacionalismo romântico que vinha do século anterior e era marcado por uma concepção saudosista da história.

         O Castelo dos Trigueiros, ou Castelo do Fundão como também ficou conhecido, é um revivalismo neo-romântico de inspiração medieval, o qual reflecte a busca dos elementos definidores da arquitectura de raiz eminentemente portuguesa: tema então em debate na sociedade portuguesa, desde os finais de oitocentos, por um amplo sector do pensamento estético português que não conseguia obter consenso.

     Situado então numa pequena quinta, outrora fora de portas e hoje muito diminuída pela expansão da malha urbana à sua volta, tem quatro pisos articulados entre três jogos de massas arquitectónicas, cercado de um logradouro ajardinado com uma capela anexa e um pequeno lago de inspiração romântica; tudo cercado de um pequeno muro de forma amuralhada ao qual encostam vários anexos para arrecadação e para morada dos criados da casa.

       Esta sua residência foi projectada e edificada pelo construtor diplomado Januário Martins de Almeida, autor de várias obras no distrito de Castelo Branco, especialmente nos concelhos do Fundão (foi ele que em 1923 propôs a edificação da actual Avenida da Liberdade que viria a ser construída três décadas depois) e da Covilhã, assim como se destacou por trabalhos feitos para a Câmara Municipal de Évora na segunda década do século XX.

Belmonte, Castelo da família Cabral.
       A sua rica decoração foi feita à base de azulejos e de pinturas murais interiores com os grandes temas da história nacional, tão ao gosto do romantismo.
       A tipologia da sua planta e a fachada principal tem algumas analogias com o Castelo dos Cabrais em Belmonte, dos quais José Trigueiros Martel descendia pelo lado materno, e ao qual foi certamente buscar a inspiração.

       Sabemos que a sua construção foi, à época, alvo de algumas críticas por parte de adversários ideológicos do seu fundador, o qual era um homem cordial e muito afável, alvo da consideração e da simpatia da generalidade da população local.


Fundão, Castelo dos Trigueiros (traseiras), 1916. (foto: ?)
Fundão, Castelo dos Trigueiros,
capela anexa
, 1916.
     

















O período da sua edificação, nos finais da monarquia, é visto como uma época de decadência na arquitectura. Desta visão inevitavelmente republicana, discordamos, pois consideramos ser um período de riqueza cultural devido ao confronto de ideias e de novas correntes estéticas[1]. Datam da mesma época algumas construções acasteladas em vários pontos da província e nomeadamente no Estoril e em Cascais, estas últimas classificados de “caricaturas de quanto de mau [se] fizera”, as quais nos remetem para uma cenografia do Renascimento italiano[2]: o que não foi o caso desta edificação no Fundão, que procura apenas valorizar com sobriedade as raízes nacionais.



O seu edificador
José Trigueiros de Aragão Osório Martel
(1879-1963)
José Trigueiros de Aragão
Osório Martel (1879-1963), 
1893?
     JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) era um dos 10 filhos de Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa (1825-1900), 1.º Visconde do Outeiro e 1.º Conde de Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (1834-1878) que foi a última morgada de Peroviseu.
      Nasceu a 7-VI-1879 no Fundão, onde residiu e faleceu a 23-VII-1963. 
    Foi presidente da Câmara Municipal durante o consulado de Sidónio Pais (1918), assim com de 1932 a 1934, e provedor da Santa Casa da Misericórdia.
     Sempre pautou a sua vida por sólidos princípios morais e cívicos, assim como uma grande delicadeza de maneiras perante toda a gente, com especial referência pelos mais humildes e desfavorecidos aos quais nunca recusava auxílio, segundo testemunho dos seus contemporâneos.
   Teve um papel de relevo no dinamismo cultural e social do Fundão, mas o seu temperamento idealista e romântico, valorizando pouco os valores materiais, levaram-no a descurar a sua vida financeira o que lhe acarretou algumas dificuldades.
     Casou 2 vezes.
José Trigueiros Aragão Osório Martel (1879-1963),
Chofer, e
D. Estela Meireles Pinto Barriga (1876-1918).
      As primeiras núpcias foram com D. ESTELA MEIRELES PINTO BARRIGA (1876-1918), nascida a 20-III-1876, e falecida prematuramente a 26-X-1918, sem geração, filha de Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916)[3], 2.º Visconde de Tinalhas (decreto de 9-XII-1887), moço fidalgo da Casa Real, vereador e presidente da Câmara Municipal de São Vicente da Beira, chefe local do Partido Regenerador, deputado, Par do Reino (1906), procurador geral do distrito de Castelo Branco, e de sua mulher e prima, com quem casou a 24-VII-1868, D. Maria José de Meireles Guedes Cabral (n. 1853).
       Falecida sua 1.ª mulher, passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897), nascida na citada cidade a 23-IV-1897, filha do Dr. Luís António Gil da Silveira, e de sua mulher D. Filomena Cândida Matos da Silveira
        Teve 6 filhos do 2.º casamento.


Sucessão genealógica do fundador do Castelo dos Trigueiros

José Trigueiros de
Aragão Osório Martel
(1879-1963).
1.        JOSÉ TRIGUEIROS DE ARAGÃO OSÓRIO MARTEL (1879-1963) tomou a iniciati-
           va da edificação deste Castelo a partir de 1908, com o apoio do seu sogro que
           foi Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916),
           2.º Visconde de Tinalhas.
           Casou duas vezes.
          O seu primeiro casamento foi com D. ESTELA MEIRELES PINTO  BARRIGA (1876-1918), a qual faleceu prematuramente, sem  geração.
Passou a segundas núpcias a 19-III-1920, no Fundão, com D. MARIA GRACIOSA DA SILVEIRA E VASCONCELOS (n. 1897).
Teve 6 filhos do 2.º casamento:
           2.        D. MARIA DO PILAR TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1821-
                    -1996) que nasceu a 28-V-1921 no Fundão, e faleceu em 1966. Solteira.
          2.        CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012),
                    que segue abaixo.
2.        D. MARIA HELENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1926-1995), nasceu a 21-I-1926 no Fundão, e faleceu a 2-I-1995 em Cascais. Solteira.
2.       D. MARIA DE LURDES TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1927), nasceu a 31-I-1927 no Fundão. Solteira.
2.      D. MARIA FILOMENA TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (n. 1932), que nasceu a 19-V-1932 no Fundão.
Casou a 11-IX-1960 com ANTÓNIO ADÃO LEITE DE LIMA (n. 1926), nascido a 13-VII-1961 na freguesia do Rosário, concelho de Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores, filho de Manuel da Costa Lima e de sua mulher D. Maria dos Anjos Leite. Formado pelo Instituto Comercial de Lisboa, foi técnico de contas.
          Tiveram:
3.       MIGUEL TRIGUEIROS MARTEL LIMA (n. 1961), nasceu a 13-VII-1961 em Lagoa, na Ilha de São Miguel, nos Açores. Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Casou a 21-VIII-1992 na capela particular do Castelo dos Trigueiros, no Fundão, com D. MARIA MARGARIDA DE LEMOS CANEDO GIESTAS (n. 1960), nascida a 30-I-1960 na freguesia das Mercês, em Lisboa, licenciada pela Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorada pelo Instituto Superior Técnico, assistente de investigação no I.N.E.T.I.; filha de Manuel Joaquim Ferreira Giestas (n. 1925), natural de Vouzela, e de sua mulher D. Maria Luísa José de Queirós de Melo Sousa Canedo (n. 1926), natural da freguesia da Frazoeira, concelho de Ferreira do Zêzere.
          Tiveram:
 4.       D. CATARINA MARIA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n.  1993), nasceu a 18-VIII-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios,  em Lisboa.
 4.       D. MARIA RITA CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n. 1995),  nasceu a 23-VI-1993 na freguesia de São Jorge de Arroios, em  Lisboa.
 4.      FRANCISCO JOSÉ CANEDO GIESTAS DE MARTEL LIMA (n.  1997), nasceu a 23-VI-1997 na freguesia de São Jorge de Arroios, em  Lisboa.
                      3.         MARIA HELENA TRIGUEIROS MARTEL LIMA, (n. 1962), nasceu a 30-XII-1962 no Fundão.
                               Cursou Comunicação Social no IATA., e foi técnica de tráfego na TAP - Transportes Aéreos
                               Portugueses.
                                Casou duas vezes.
As primeiras núpcias foram celebradas civilmente a 6-IX-1990 na 10ª Conservatória de Lisboa, com GILBERTO TRINDADE MACEDO GOMES, do qual se divorciou por sentença de 25-II-1994.
As segundas núpcias foram celebradas a 28-I-1995 na freguesia de São João de Brito, em Lisboa, com MÁRIO JOAQUIM RAMOS GARCIA (n. 1946), nascido a 12-I-1946 na freguesia de Lavacolhos, concelho do Fundão, técnico de tráfego da TAP, filho de Joaquim Clemente Garcia, natural de Lavacolhos, e de sua mulher D Maria Arcelina Ramos, natural da freguesia de São Mamede de Recezinhos, concelho de Penafiel; neto paterno de Manuel Clemente Garcia e de sua mulher D. Mariana Rita; neto materno de Francisco Ramos e de Maria da Piedade.
Tiveram:
4.        D. MARIA BEATRIZ TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA GARCIA (n. 1996), nascida a 25-IV-1996 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
3.        D. MARIA ISABEL TRIGUEIROS DE MARTEL LIMA (n. 1965), nascida a 25-VI-1965 em Castelo Branco. Solteira, residente no Fundão.

2.       CARLOS NUNO TRIGUEIROS DE MARTEL E VASCONCELOS (1924-2012) nasceu a 31-VII-1924 no Fundão, e veio a falecer a 28-X-2012 em Queluz. Senhor de uma notável erudição, cultura e delicadeza de maneiras herdadas de seu pai, é licenciado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, professor do ensino oficial, e proprietário. Residente em Queluz. 
Casou a 29-III-1958 na Capela do Palácio de Queluz com D. MARIA ESTER GUERNE GARCIA DE LEMOS (n. 1929), nascida a 2-XI-1929 na Quinta da Granja, freguesia do Carvalhal, concelho do Bombarral, filha de Jaime Garcia de Lemos, oficial da Arma de Artilharia, natural da freguesia de Salvador, em Santarém, e de sua mulher D. Ester Guerne, natural da freguesia de São Pedro de Alcântara, em Lisboa; neta paterna de António Garcia, e de D. Amélia Augusta de Lemos; e neta materna António Joaquim Guerne, e de D. Amélia Barbosa.
Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, na qual foi assistente (1957-1974), e deputada à Assembleia Nacional (1965-1969). Foi assistente de programas literários na antiga Emissora Nacional, assim como escritora e ensaísta atenta aos problemas da juventude, tendo-se afirmado com duas obras: Rapariga (1949) e Companheiro (1960), esta última galardoada com o Prémio Eça de Queirós[4].  
          Tiveram:
3.         DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), que segue abaixo.
3.     PAULO JOSÉ GARCIA DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1964), nasceu a 25-I-1964 em Queluz. Licenciado em …., doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa, investigador científico e professor da Unidade de Ciências Exactas e Humanas da Universidade do Algarve
3.     D. MARIA DA PIEDADE DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1969), nasceu a 1-II-1969 em Queluz. Casou a 8-X-1994 com LUÍS MANUEL PERIQUITO FADISTA (n. .?).
                     Tiveram:
                     4.     GUILHERME TRIGUEIROS DE MARTEL FADISTA (n. 1996), nascido a 19-IV-1996 em Almada.
                     4.     ?
          3.         FILIPE CARLOS DE LEMOS TRIGUEIROS DE MARTEL (1971-?), nasceu a 7-IV-1971 em Queluz.
                    Faleceu num acidente de viação.

3.     DIOGO NUNO TRIGUEIROS GARCIA DE LEMOS MARTEL (n. 1959), nasceu a 15-I-1959 em Queluz. Licenciado em Engenharia Electrotécnica, é coronel da Força Aérea.
Casou a 30-III-1985 em Queluz com D. AURORA MARIA SILVEIRA TOMAZ (n. 1957), filha de Manuel Fernandes Tomaz (n. 1932), nascido a 3-VII-1932 em Pombal, tenente-coronel de Cavalaria, e de sua mulher D. Lília Ermelinda Flaviana América Picardo (1935-2009) nascida a 17-IV-1935 na freguesia de São Matias, Ilha da Piedade, em Goa, na Índia Portuguesa.
          Tiveram:
4.     D. ANA FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1988) que nasceu a 6-III-1988 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Licenciada em Direito.
4.       JOÃO FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1990) que nasceu a 2-II-1990 na freguesia de São Jorge de Arroios em Lisboa. Médico.
4.     D. INÊS FERNANDES TOMAZ TRIGUEIROS DE MARTEL (n. 1995) que nasceu a 19-VI-1995 em Castelo Branco. Licenciada em Educação de Infância.




 Notas:

[1]   A decadência veio a seguir com a bancarrota, com a perseguição da igreja que foi proibida de “exercer o ensino ou intervir na educação” e teve como consequência imediata o encerramento de muitas escolas, assim como a trágica entrada na 1.ª Guerra Mundial …

[2]   FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, vol. II (Lisboa, Bertrand, 1988), p. 168.

[3]   Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (1848-1916), era filho de José Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara (n. 1802), natural da Soalheira, Fundão, 1.º Visconde de Tinalhas por decreto de 10-X-1870, fidalgo cavaleiro da Casa Real, senhor dos morgados de Olhos de Água e de Alviela, casado  em 1843 com D. Maria Guilhermina Ribeiro Leitão.

[4]   Além destas obras, publicou vários trabalhos de ficção e de ensaio: «Mestre Chico Trapalhão», 1947; «D. Maria II, a Rainha e a Mulher», 1954; «A Clepsidra de Camilo Passanha», 1956; «Na Aurora da Nossa Poesia», 1956; «A Menina de Porcelana e o General de Ferro, 1957; «A Borboleta sem Asas», 1958; «Dezoito Anos», 1964; «A Rainha da Babilónia», 1964; «Gil Vicente Lírico», 1965; «Páginas de Eça de Queiroz», 1966; «Dezoito Anos», 1966; «No Centenário de Camilo Pessanha», 1967; «Luís de Camões», 1972; «Antologia Poética de Bocage» (introdução e selecção), 1972; «Elmanismo e Filintismo», 1972; «A Literatura Infantil em Portugal»; e «O Balão Cor de Laranja», 1982.

2012-06-07

Palacete da Quinta de São Pedro, 1921 - Alcains

      

Alcains, Palacete da Quinta de São Pedro.
        (conhecido por Solar de Alcains)


          Localizado na Quinta de São Pedro, na periferia de Alcains, junto à ermida do mesmo nome e à estação dos Caminhos-de-Ferro, situa-se este belo palacete cuja conclusão data de 1921.
         Totalmente edificado em granito, com capela anexa, é certamente uma das últimas grandes sinfonias de pedra saída das mãos dos famosos canteiros de Alcains.
       O seu projecto foi influenciado pelo estilo «tradicional português», então predominante em Portugal devido às propostas estéticas de Raul Lino (1879 -1974), o qual se vinha opondo aos modernismos das correntes afrancesadas com pouca aceitação pelas classes mais tradicionais da província.
Palacete da Quinta de São Pedro
       Nesta época, a construção de moradias oscilava entre edificações da responsabilidade dos gaioleiros que enxamearam Portugal com o resultado do seu péssimo gosto, assim como por uma arquitectura de estilo «tradicional português», já mencionado; «português moderno», e outra de «nacional modernizado», influenciadas pelas ideias vindas do estrangeiro — correntes estas tipificadas nas revistas de arquitectura da época. 
       Na primeira década do século XX escasseavam os arquitectos e a evolução do gosto era muito lenta e inexpressiva, à excepção de alguns arquitectos que tinham ido estudar em países europeus. Nos projectos mais elaborados predominavam fachadas com as «ordens» clássicas estilizadas e simplificadas, incorporando diversos pormenores modernizantes
       Foi neste ambiente cultural que surgiu o Palacete de São Pedro da família Trigueiros Aragão, uma bela casa de campo alpendrada com capela anexa, edificada num dos extremos de uma quinta que veio a ser desmembrada e cerceada de grande parte da sua área inicial para a passagem da linha de comboio da Beira Baixa (1891) que a dividiu em duas metades, numa das quais os seus proprietário vieram a edificar o primeiro grande projecto industrial de Alcains: a «Fábrica São Pedro» (1925), destinada à indústria de moagem de cereais e produção de pastas alimentícias[1].

Alcains, Fábrica de São Pedro.
Palacete da Quinta de São Pedro

Alcains, Fábrica de São Pedro.
    
   Os múltiplos investimentos empresariais feitos pela família Trigueiros Aragão no primeiro quartel do século XX, associados à crise provocada pela Grande Depressão (1929), conduziriam ao fracasso deste projecto que requereu avultados investimentos  que  foram garantidos com bens próprios e de familiares, os quais sofreram perdas irreparáveis que levaram à alienação desta quinta e do respectivo palacete.

       Após inúmeras vicissitudes na posse de vários proprietários, e depois de longos anos de quase abandono, este palacete veio a pertencer ao engenheiro Luís Sarreira Tomaz Monteiro que o afectou a um projecto de turismo de habitação rural – «Solar de Alcains, Hotelaria e Turismo Rural, Lda.». 

História e sucessão
na posse da Quinta de São Pedro
Quinta de São Pedro, portal.
       Desde tempos remotos, parte dos terrenos de Alcains estariam nas mãos da Ordem dos Templários, grandes beneficiários das doações que nesta zona lhes foram feitas pelo rei D. Afonso Henriques (Idanha-a-Velha e Monsanto, 30-XI-1165), a qual em Alcains possuía conventos e uma igreja, como se menciona em documentação da Chancelaria de D. Afonso IV (31-X-1392), referido na monografia de Sanches Roque[2].
       Com a dissolução da Ordem do Tempo e a passagem dos seus bens à Ordem de Cristo (criada em a 14-III-1319), ou a qualquer outra confraria religiosa, assim se terão mantido nas mãos destas instituições muitas terras à volta de Alcains até meados do século XIX.
       A extinção das Ordens Religiosas com a nacionalização do seu património pelo Regime Liberal (31-V-1834), leva estes bens à pose do Estado – incorporados nos Bens Nacionais –, o qual, por dificuldades de tesouraria os põe à venda em licitação pública ao dispor dos diversos interessados.
       Um número apreciável de boas propriedades passaria deste modo às mãos de diversos privados com capacidade financeira para os adquirirem, quase sempre por baixos preços.

Quinta de São Pedro
       QUINTA DE SÃO PEDRO, então ocupando uma extensão bastante maior, com solos sem grande aptidão agrícola, foi adquirida por licitação pelo alferes Simões Coelho, juntamente com pelo menos outras cinco propriedades (herdade da Pedra da Légua, Golarão, Tapada dos Frades, a Fonte Fria, a do Ribeiro da Azinheira), numa imensa extensão de terrenos à volta de Alcains[3], por volta de 1866-1869. 
     Na sequência das Leis de 22-Jun-1866 e de 28-Ago-1869 que procederam à desamortização das propriedades das câmaras, das paróquias, das confrarias religiosas, foram levadas à praça muitas propriedades por todo o Distrito de Castelo Branco. Grande parte das boas terras do país, por esta altura e a coberto da legislação do regime liberal, mudaram de mãos, satisfazendo deste modo a voracidade dos chefes e das clientelas liberais desejosas de aumentar os seus patrimónios.


O seu primeiro proprietário
António Simões Coelho
(1795-1891)
       Vejamos quem foi este alferes Simões Coelho, comprador em Alcains de um lote de boas propriedades ao Estado, nas quais se incluía a Quinta de São Pedro.
    
       ANTÓNIO SIMÕES COELHO (1804-1880) era um destacado personagem de Alcains, proveniente de uma família de militares com algum destaque há várias gerações, cuja parentela se foi unindo por alianças matrimoniais às mais relevantes e antigas famílias da história local, nunca desperdiçando as boas oportunidades de negócios que as suas funções na Fazenda Pública lhe proporcionavam, ou a conjuntura política o presenteou.
       Recusou seguir a carreira das armas, como era tradição familiar, preferindo uma carreira superior na Fazenda Pública na qual era muito considerado, pois nela sobressaiu pela sua inteligência.
       A sua ligação ao liberalismo, pelo qual ainda chegou a combater com o posto de alferes, é atestada na recompensa da sua nomeação por Carta de 31-I-1840 para o cargo de «Secretário da Contadoria da Fazenda do distrito administrativo de Castelo Branco»[4]; à qual sucede, quatro anos depois, a nomeação por Carta de 08-V-1844 para «Delegado do Tribunal do Tesouro Público junto ao Cofre Central do distrito administrativo de Coimbra»[5]. Estas suas funções facilitaram-lhe o concurso à compra de alguns bens das Ordens e Comendas extintas, pelo que em poucos anos aumentou a sua fortuna, a qual já era apreciável devido aos bens herdados pelo falecimento de seu pai.
       Apesar de muito abastado, pôs parte da sua vida ao serviço do bem comum, fazendo inúmeras obras de benemerência, dando pensões mensais aos seus criados, assim como a inválidos e diversos pobres da freguesia. Quando morreu, já de provecta idade, deixou avultada quantia para obras e melhorias a cargo da Junta de Paróquia. Este espírito solidário e caritativo foi transmitido à sua neta D. MARIA ANGÉLICA DE LEMOS TORRES COELHO (1872-1907), a qual, como veremos mais adiante, morreu em Alcains com o cognome de «Mãe dos Pobres», tendo casado com JOAQUIM TRIGUEIROS OSÓRIO DE ARAGÃO (1867-1941), 2.º Conde de Idanha-a-Nova.


Sucessão na posse da Quinta de São Pedro
1.        ANTÓNIO SIMÕES COELHO (1804-1880) adquiriu esta quinta aos Bens Nacionais (1866-69?), nasceu a
         13-VI-1804 em Alcains, terra onde se finou em 1880. Era filho de AGOSTINHO SIMÕES COELHO (1762-
         -1837), capitão das Ordenanças e combatente da Guerra Peninsular, conhecido pelo seu espírito carita-
         tivo e sempre pronto a auxiliar a pobreza, casado com D. MARIA ANGÉLICA VAZ (1770-1847); neto pa-
         terno de Domingos Vaz Simões Coelho (n. 1731)[6], casado a 25-XI-1761 com D. Inês Vaz (n. 1732), todos
         naturais de Alcains; neto materno de Paulo Rodrigues (n. 1727), natural de Tinalhas, e de D. Maria Vaz,
         natural de Ninho do Açor, ambas no distrito de Castelo Branco.
         Casou a 8-IV-1825 com D. MARIA CLARA PEREIRA TORRES CAMARA E GUERRA, natural de Aldeia No-
         va do Cabo, Fundão, filha de Fernando Tomás Pereira Sanches Vaz Freire Goulão (n. 1755), natural de
         Alcains, e de sua mulher D. Isabel Jacinta Pereira Torres Câmara e Guerra, nascida em Aldeia Nova do
         Cabo, concelho do Fundão.
         Filho único:
         2.       FRANCISCO PEREIRA TORRES COELHO (1825-1889), que segue.

2.         FRANCISCO PEREIRA TORRES COELHO (1825-1889), não chegou a herdar a Quinta de São Pedro por
           ter falecido ainda em vida de seu pai. Nasceu a 2-X-1825 em Alcains, tendo falecido a 10-III-1889.
           Toda a sua vida profissional esteve ligada à Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Matemáti-
           ca foi Lente Catedrático (2.º Substituto a 23-IV-1855, Lente Substituto Ordinário a 17-IV-1861, e Lente
           Catedrático a 4-V-1869), até que foi jubilado a 12-V-1887, falecendo pouco tempo depois.
           Casou com D. JÚLIA ADELAIDE DE PÁDUA E LEMOS TORRES COELHO (f. 1869?), natural de Coimbra,
           filha de Francisco Pádua de Lemos e de sua mulher D. Júlia Pádua de Oliveira, os quais tinham as suas
           origens familiares na freguesia de Cernache, no concelho de Coimbra.
           Filha única: 
           3.      D. MARIA ANGÉLICA DE LEMOS TORRES COELHO (1872-1907), que segue.

 D. Maria Angélica de L. T. C.
(1872-1907), 
2.ª Cond.ª de Idanha-a-Nova.
3.         D. MARIA ANGÉLICA DE LEMOS TORRES COELHO (1872-1907) perdeu a sua
           mãe ainda em criança de pouca idade e foi educada por seus avós dos quais
           herdou directamente a Quinta de São Pedro, assim como o seu espírito solidá-
           rio e caritativo ao serviço da comunidade. 
           Nasceu a 14-V-1872 em Coimbra, e veio a falecer prematuramente em conse-
           quência de congestão pulmonar a 16-II-1907 em Alcains, tendo sido sepultada
           no jazigo de família no cemitério público do Fundão.
           A sua curta vida foi passada diariamente a semear o bem e a consolar os mais
          carenciados com dádivas de toda a espécie. No dizer do monografista Sanches
          Roque, «o cognome de “Mãe dos Pobres” prevalecia ao de Condessa. Todavia
          honrou-se nos dois»[7]
          Casou a 10-XII-1888 em Idanha-a-Nova, nas primeiras núpcias de seu marido
          JOAQUIM TRIGUEIROS OSÓRIO DE ARAGÃO (1867-1941)2.º Conde de Idanha-
         -a-Nova (decreto de 17-VII-1892)[8], nascido a 19-IX-1867 no Fundão, falecido a
          23-IX-1941 em Castelo Branco, e sepultado no Fundão. Este casamento foi apa-
          drinhado pelo Dr. Manuel Vaz Preto Geraldes, Par do Reino e notável agricultor da Lousa, e pelo Dr.
          Fernando Geraldes.
Joaquim Trigueiros Osório de
Aragão Martel e Costa
(1867-1941),
2.º Conde de Idanha-a-Nova.
Seu marido era um dos 10 filhos de Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa (1825-1900), 1.º Visconde do Outeiro (decreto de 17-VII-1866), 1.º Conde de Idanha-a-Nova (Carta de 17-VI-1892)[9], fidalgo cavaleiro da Casa Real por alvará de 17-X-1863[10], nascido a 17-VII-1825 em Idanha-a-Nova, e falecido a 15-VIII-1900 no Fundão. Foi um dos maiores proprietários agrícolas da Beira Baixa e sucedeu na administração dos morgados de Idanha-a-Nova e do Outeiro, tendo casado a 22-IV-1850 com D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (1836-1878)[11], nascida a 26-VIII-1836 em Pêro Viseu, no concelho do Fundão, falecida a 12-VII-1878 e sepultada em campa armoriada no cemitério do Fundão[12], herdeira in solidum dos morgados de Pêro Viseu e Chãos[13] (filha única de Diogo Dias Preto da Cunha Veloso Osório Cabral (n. 1796), casado a 27-IX-1820 com D. Maria Justina de Macedo Pereira Forjaz de Gusmão e Azevedo[14], natural do Fundão, senhora da Casa dos Macedos, situada à Rua da Cale na cidade do Fundão).
Este casamento permitiu unir duas famílias abastadas em terras (em menor número da parte do marido que tinha mais 9 irmãos), o que fez deste casal um dos grandes proprietários do distrito de Castelo Branco, nomeadamente em Alcains, na Mata, em Vila Velha de Ródão, em Idanha-a-Nova e no Fundão. Estas terras eram administradas directamente pelo marido, pessoa de fino trato, senhor de várias palacetes e casas solarengas, que dedicou grande parte dos meios de fortuna que possuía à reconstrução e beneficiação de alguns deles, com notório bom gosto que todos lhe reconheciam.
A sua avultada fortuna granjeou-lhe influência política e foi eleito deputado independente pelo círculo de Castelo Branco (1897), assim como deputado da Nação pelo círculo do Fundão (1899). Os próprios adversários reconheciam-lhe grande habilidade política, assim como grande seriedade, lealdade e um civismo exemplar; qualidades estas que lhe granjearam grande admiração e popularidade entre o povo de Alcains, onde residiu muitos anos. Quase no fim da vida o destino foi-lhe ingrato, causando-lhe vários reveses económicos, a que não foi alheia a  Grande Depressão (Crise de 1929), que o obrigou a vender grande parte das suas propriedades. Usava o brasão de armas com o esquartelado de REBELO, MARTEL, TRIGUEIROS e COSTA, armas de sucessão que foram concedidas a seu avô Joaquim Rebelo Trigueiros Martel da Silva Leite (1764-1830), por Carta datada de 8-VIII-1786, armas estas ostentadas nas fachadas do seu Casa do Outeiro, em Aldeia Nova do Cabo, e no seu Solar da Alcains.
Com o falecimento prematuro de D. MARIA ANGÉLICA DE LEMOS TORRES COELHO (1872-1907), seu marido veio a contrair segundas núpcias com D. BERTA CORDEIRO CARDOSO (f. 1960), natural de Lisboa, onde veio a falecer a 1-III-1960, filha de José Pereira Cardoso, director do Banco de Portugal, e de sua mulher D. Carlota Cordeiro Feio; e neta materna de D. Maria Augusta Stockeler Salema Garção, e de seu marido José Maria de Noronha Cordeiro de Araújo Feio. Não teve geração deste segundo casamento.
          Filhos:
          4.         JOAQUIM TRIGUEIROS COELHO DE ARAGÃO (1890-1937), nasceu a 2-XI-1890, e veio a falecer a
                    29-VII-1937, ainda em vida de seu pai.
          Casou a 14-VII-1915 com sua prima D. MARIA DA NATIVIDADE TRIGUEIROS DE  FIGUEIREDO
          FRAZÃO (1891-1958), nascida a 7-II-1891, e falecida a 19-VII-1958, filha de José de Figueiredo
          Pimenta de Avelar Frazão Castelo Branco (1858-1913)2.º Visconde do Sardoal. Tiveram geração.
4.         ANTÓNIO TRIGUEIROS COELHO DE ARAGÃO (1896-1976), nasceu a 1-II-1896 em Alcains, e faleceu a 30-III-1976 em 1976 em Lisboa, tendo sido sepultado no jazigo de família no cemitério de Alcains, vila onde residiu no seu solar.
António Trigueiros C. de Aragão
 (1867-1941).
Abastado proprietário agrícola, foi ao seu espírito dinâmico que se ficaram a dever os primeiros passos para o desenvolvimento industri-
al de Alcains. Fez estudos de engenharia no Royal College of Science na School of Technology da Universidade de Manchester, após o que se lançou numa intensa actividade industrial.
Fundou a «Sociedade Trigueiros de Aragão, Lda.» (1923) para explora-
ção do comércio de azeites e indústria de moagem de cereais, edificando para esse efeito a «Fábrica São Pedro» (1925) que durou pouco tempo; constituiu a sociedade «Moinhos Reunidos de Alcains,
Lda.» (1932) dedicada à produção de farinhas de centeio; cria a fábrica
de massas «A Lusitana» (1935) para produção de massas alimentares; por fim, edifica no centro de Alcains a bem sucedida «Fábrica Lusitana» (1954) para produção da farinha auto-levedante “Branca de Neve” e da “Espiga”, muito utilizadas para usos culinários devido à sua alta qualidade, à qual se agregou o fabrico de outros alimentos e compostos para animais (1967). Compra a fábrica de bolachas e biscoitos «Confiança Lda.», que depois instala em Queluz.
       Casou a 2-II-1918 na Quinta de São Mateus, freguesia da Faia, concelho da Guarda, com D. ANA AUGUSTA PORTUGAL LOBO TELES DE VASCONCELOS (1895-1988), nascida a 22-III-1895 na Faia, e falecida a 29-06-1988 na freguesia de São Mamede, em Lisboa, filha única de Manuel Pereira Teles de Vasconcelos (1834-1900), da Casa da Chieira, em Santa Cruz de Alvarenga, nascido a 2-VI-1834 em Dovim, e falecido em 1900, bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, casado na Guarda com D. Joaquina Augusta de Portugal Ribeiro Lobo de Vasconcelos (1854-1929), nascida na Quinta da Ponte, freguesia da Faia, e falecida a 1-VI-1929 em Alcains.
         4.           JOSÉ TRIGUEIROS COELHO DE ARAGÃO (n. 1897), herdeiro da Quinta de São  Pedroque segue
          abaixo.
4.         MANUEL TRIGUEIROS COELHO DE ARAGÃO (1898-1960) nasceu a 17-XII-1898 em Alcains, e
                    faleceu a 21-XII-1960 em Castelo Branco. Residiu na sua casa na Praça do Município, no Fundão,
                    e na Quinta da Ordem em Vila Velha de Ródão.
                    Casou a 14-VII-1959 no Fundão com a D. MARIA DA GRAÇA GUEDES DE CAMPOS ROSADO
                    (1926-2005), licenciada em Medicina, nascida a 20-VIII-1926, falecida a 13-IV-2015 e sepultada no
                    cemitério público do Fundão, filha de David da Silva Rosado, coronel da Arma de Infantaria Anti-
                    -Aérea, e de D. Maria Elisa Guedes Correia de Campos Rosado. Tiveram geração.

4.         JOSÉ TRIGUEIROS COELHO DE ARAGÃO (n. 1897) nasceu a 4-II-1897 em Alcains,  tendo falecido a
12-X-1977 em Fão, no concelho de Esposende.
Desenvolveu alguma actividade Industrial, dedicando-se à exploração de jazigos de mármore verde para exportação nas suas propriedades de Estremoz, no Alentejo.
Foi o derradeiro proprietário, nesta família, de parte da Quinta de São Pedro e do seu bonito palacete, uma das mais belas casas de campo e sua residência em Alcains que ele próprio projectou e construiu em 1921, destinando-a mais tarde a Casa de Saúde e de Repouso[15].
Casou duas vezes.
           As primeiras núpcias foram celebradas a ?-II-1919 na Sé de Leiria com D. MARIA BENEDITA DA SILVEI-
           RA E COUTO CHARTERS DE AZEVEDO (1898-1922), licenciada em Ciências Económicas e Financeiras,
           nascida a 29-XII-1898 na freguesia da Sé em Leiria, e falecida a 18-II-1922 na Casa do Corso em Idanha-
       -a-Nova. Era  filha de Luís Henrique Charters de Azevedo (1849-1929), 2.º Visconde de São Sebastião, nascido a 13-VII-1849 em Cortes, Leiria, cidade onde faleceu a 27-VII-1929, casado a 25-IV-1892 no Coração de Jesus em Lisboa com D. Ana Isabel de Sousa da Silveira e Couto Leitão (1863-1941), nasci-da a 25-III-1863 em Estremoz, e falecida a 28-XII-1941 em Leiria; neta paterna de José Maria Henriques de Azevedo (1816-1891), 1.º Visconde de São Sebastião (decreto de 8-VIII-1872), nascido a 5-V-1816 na freguesia de Cortes, Leiria, falecido a 22-VI-1891 em Leiria, casado a 30-X-1843 na Sé de Leiria com D. Maria Isabel Charters (1821-1898)[16], nascida a 12-VII-1821 na freguesia da Sé em Leiria, onde faleceu a 11-X-1898; e neta materna de João da Silveira e Couto Leitãoe de sua mulher D. Maria Benedita Teles Correia de Almeida e Sousa
        As segundas núpcias celebraram-se em 1945 com D. ADELAIDE FERREIRA CAMPOS DE MORAIS (n. 1907), nascida a 14-X-1907 na freguesia de Fão, no concelho de Esposende, e baptizada na Igreja de Santo Ildefonso da cidade do Porto, filha de Francisco de Castro Vieira da Silva Campos de Moraise de sua mulher D. Emília Jesus Ferreira.
Filhos do 1.º casamento:
5.         JOSÉ LUÍS DA SILVEIRA CHARTERS COELHO TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1920) nascido a 8-XI-1920 em Alcains. Licenciado em Economia, seguiu a carreira diplomática tendo exercido funções no Brasil, na Bélgica, em São Francisco (Califórnia), tendo terminado a sua carreira como embaixador de Portugal na Suécia (1974-1981).
      Casou a 23-I-1956 na Praia da Granja com D. TEODORA ROSEIRA ANDRESEN DE ABREU (n. 1935) que nasceu a 14-V-1935 no Porto, filha de Fernando de Sousa Coutinho de Abreu, casado com D. Teodora Andresen (n. 1935), a qual era filha de Fernando de Sousa Coutinho de Abreu e de sua mulher D. Teodora Andersen.
          Tiveram:
6.        D. MARIA BENEDITA DE ABREU CHARTERS TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1966) nasceu a 16-XII-1966 no Porto.
6.        JOSÉ DE ABREU CHARTERS TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1967) nasceu a 23-II-1967, em Lisboa.
5.        JOÃO FILIPE DA SILVEIRA CHARTERS COELHO TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1922) nasceu a 14-II-1922 na Casa do Corso em Idanha-a-Nova. Casou com D. MARIA LUÍSA ... Sem geração.
Filho do 2.º casamento:
5.        FRANCISCO JOSÉ MORAIS TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1946) nasceu a 10-III-1946 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Licenciado em Sociologia.
         Casou a 20-VI-1971 com D. ANTÓNIA ROSA LINHOL GATO (n. 1949) nascida a 19-VI-1949 Évora, filha de Gaspar José Gato e de sua mulher D. Umbelina de Jesus Linhol.
Tiveram:
6.     D. MAFALDA LINHOL TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1976) nasceu a 12-X-1976 em Lisboa. Frequentou o Curso de Recursos Humanos na Universidade Lusíada.
6.      D. ANA MARIA LINHOL TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1978) nasceu a 17-I-1978 em Lisboa. Licenciada em Design de Interiores pelo IADE - Instituto de Artes Visuais Design e Marketing.
6.       D. TERESA LINHOL TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1979) nasceu a 3-VI-1979 na freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa. Licenciada em Gestão de Empresas pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (2004). Gestora da área comercial de empresas no Banco Santander Totta.

A Quinta de São Pedro e o seu palacete
(na actualidade)
       Alienada pela família fundadora, chegadou a servir de armazém para a maquinaria obsoleta que era retirada da fábrica anexa.
Palacete da Quinta de São Pedro.
       Depois de uma longa letargia de algumas décadas, readquiriu a sua dignidade passada ao ser-lhe conferida uma nova e feliz funcionalidade: turismo de habitação rural – «Solar de Alcains, Hotelaria e Turismo Rural, Lda». 
       Este projecto ficou a dever-se à iniciativa do Eng. Luís Sarreira Tomaz Monteiro, o fiel guardião das memórias desta casa e seu afável anfitrião que numa visita efectuada a este pequeno paraíso ressuscitado demonstrou um grande apreço e empenho na sua conservação o que nos indicia estar este património nas mãos certas que tudo farão para garantir a sua sobrevivência, mau grado as dificuldades da conjuntura actual, ou mesmo os empecilhos e regulamentares burocráticos que muitas vezes emperram este tipo de iniciativas tão meritórios nesta carenciada Beira Interior.
       Recomendamos vivamente a quem pretenda visitar esta zona do país  enquadrada pelo soberbo Parque Natural do Rio Tejo e pela Serra da Gardunha  uma estada de alguns dias na tranquilidade que esta quinta oferece, servindo de base a alguns passeios nos seus arredores inesquecíveis, tais como: Castelo Branco (15 Km), Idanha-a-Nova (37 Km), Monsanto (40 Km), Proença-a-Velha (35 Km), Castelo Novo (22 KM), Alpedrinha (25 km). 
       O território onde se insere oferece um belíssimo património edificado e paisagístico, do qual a sinfonia de granito desta edificação é um exemplo, além de uma peculiar gastronomia onde se destacam belíssimas variedades de queijos e enchidos que estão entre o que de melhor se produz neste país.                                                                                                    
  
Palacete da Quinta de São Pedro,
capela.
Palacete da Quinta de São Pedro,
alpendre.







 Notas:

[1]   A Fábrica de São Pedro foi o primeiro grande empreendimento industrial de Alcains. Estava equipada com modernas máquinas a vapor de origem inglesa destinadas à produção de farinhas de trigo e massas alimentares de alta qualidade, a qual acabaria por fechar devido ao facto dos seus produtos não estarem nos hábitos de consumo e do poder de compra dos portugueses daquela época. Tinha uma capacidade de laboração de 20 mil quilos de farinha por cada 24 horas, e empregava centenas de trabalhadores, o que a tornava uma das mais importantes fábricas do país nesta área. A sua laboração durou pouco tempo, pelo que encerrou em 1928, vindo a ser vendida ao grupo CUF que a destinou à produção de rações animais e de “gritz” para a confecção de cerveja.
[2]   ROQUE, Sanches, Alcains e a sua História (Castelo Branco, e. a., 1970), p. 74.
[3]  BEIRÃO, Florentino Vicente, História de Alcains, Vol. I, (Coimbra/Castelo Branco, Alma Azul, 2003), p. 149.
[4]   AN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria II, liv.10, fl.216v-217.
[5]   AN/TT, Registo Geral de Mercês de D. Maria II, liv.24, fl.4-4v.
[6]   DOMINGOS VAZ SIMÕES COELHO, filho do capitão TOMÉ VAZ SIMÕES e de D. INÊS VAZ.
[7]   Alcains e a sua História, p. 433.
[8]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Carlos I, Liv. 4, fl .299.
[9]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Carlos I, Liv. 4, fls. 298 e 308.
[10]   IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Luís I, Liv. 7, fl. 1000.
[11]   Ao longo da sua vida usou vários apelidos dos seus antepassados de modo aleatório.
[12]   A sua sepultura tem uma cabeceira armoriada com um brasão esquartelado de Preto, Macedo, Cabral e Osório, encimado por uma coroa de Visconde. Tem a seguinte inscrição: «A SAUDOZA MEMÓRIA / DA VISCONDESSA DO OUTEIRO / FALECIDA EM 12 DE JULHO DE 1878 / POR SEU MARIDO O VISCONDE DO OUTEIRO».
[13]   O morgado de Pêro Viseu foi instituído por um testamento de 24-XI-1696, e o de Chãos por outro testamento de 17-XI-1725, ambos da autoria de dois priores homónimos da Pêro Viseu, chamados Luís Machado Freire, respectivamente tio e sobrinho, que uniram deste modo um enorme património fundiário distribuído pelas freguesias de Pêro Viseu, Valverde, Donas e Chãos, todas no concelho do Fundão, assim como algum património no contíguo concelho da Covilhã. A casa da aldeia dos Chãos, hoje conhecida como «a da cerca», aparentemente datada do século XVII, foi uma das sedes deste morgado que atravessou oito gerações na mesma família e destinava-se a perpetuar o apelido da família MACHADO.– Sobre este morgado Cfr. ESTEVES, Judite Maria Nunes, «Práticas de Construção e Reprodução de Poder no Portugal Rural do Século XVII ao Século XIX – O Caso do Morgadio de Peroviseu e Chãos (Fundão)», Separata dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. 44 (1-2), p. 187-208.
[14]   Ao longo da sua vida usou vários apelidos dos seus antepassados de modo aleatório.
[15]   Pelos elementos estilísticos desta casa, presume-se que terá tido o apoio de Eurico de Sales Viana (1891-1973) – notável albicastrense com actividade nas áreas da arquitectura, pintura, heráldica, música, etnografia e jornalismo, que trabalhou na Câmara Municipal, tendo sido em simultâneo delegado do Conselho de Arte e Arqueologia da 2.ª Circunscrição. 
[16]   D. Maria Isabel Charters (1821-1898) era filha do tenente-coronel William Charters (1783-1839), nascido em Berwick-upon-Tweed, casado em 1815 com D. Ana Barbara Barbosa (1788-1839), natural de Leiria.