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2014-02-05

Casa da Quinta da Almoinha – Pêro Viseu, Fundão


O Mil Diabos da Capinha
António José Pereira Pinto de Figueiredo Castelo Branco (c. 1740)



Brasão de António José Pereira Pinto
de Figueiredo Castelo Branco
(c. 1740) ?
Casa da Quinta da Almoinha
(cópia do original?).

Brasão primitivo (?), 
chaminé da lareira da Casa.



















                  Brasão de:   António José Pereira Pinto de Figueiredo Castelo Branco (c. 1740)
                  Forma:         Escudo em cartela, esquartelado: o 1.º de PINTO – de prata, com cinco                                                                   crescentes de vermelho, postos em sautor (2, 1 e 2); o 2.º de FIGUEIREDO
                                       – de vermelho, com cinco folhas de figueira de verde, nervadas e perfiladas 
                                       de ouro, e postas em sautor; o 3.º de PEREIRA – de vermelho, com uma cruz
                                       de prata florenciada e vazia; o 4.º de CASTELO BRANCO – de azul com um 
                                       leão rompente de ouro, armado e lampassado de vermelho.
                   Elmo:          De grades, aberto e de perfil, olhando à direita do escudo.
                   Timbre:       Um leopardo de prata, armado e lampassado de vermelho (de Pintos).
                   Local:          Fachada da Casa da Quinta da Almoinha, Pêro Viseu[1], Fundão.
                   Data:           15-IX-1769.
                   Obs:            Cópia feita na primeira metade século XX (?), a partir de uma pedra de armas
                                       anterior que está encastrada numa parede interior da casa. 
                                       A ordenação dos quartéis segue a ordem dos apelidos do armigerado, e não
                                       a ordem da carta de concessão, por motivo que desconhecemos.


A Casa da Quinta da Almoinha
A casa da Quinta da Almoinha resulta de várias intervenções arquitectónicas que alteraram a sua singela configuração original[2]. Desenvolve-se em duas volumetrias destintas, com fundos para arrumos devido à sua implantação num terreno desnivelado.
Ao seu núcleo original, mais antigo, tem-se acesso através de uma porta com um pequeno lanço de escada, virada para o interior da quinta e encimada pela pedra de armas em apreço.

A remodelação mais recente, aparentemente datada do segundo quartel do século XX, altura em que se colocou esta pedra de armas, acrescentou-lhe outra edificação de volumetria mais saliente, resultante da introdução de um balcão alpendrado, com colunas e uma escadaria de balaustrada em granito. 

Casa da Quinta da Almoinha (pormenor)
Este novo corpo da casa terá sido projectado pelo arquitecto António Lino (1914-1961)[3], a pedido do então proprietário da casa que foi D. Manuel de Vasconcelos e Sousa (1910-1978) quando este casou com D. Maria Belarmina Franco Pinto de Castelo Branco (1905-1980)[4], da família FRANCO, a presuntiva herdeira desta propriedade. Este casal habitou na Casa do Adro, na contígua freguesia da Capinha[5], onde os seus antepassados detinham um apreciável património agrário procedente de heranças, no qual se incluiria a Quinta da Almoinha.

Deste casal nasceu o actual proprietário da casa que é o senhor D. Luís Maria Pinto Castelo Branco de Vasconcelos e Sousa (n. 1946), casado com D. Elisa Maria Massano Reiche (n. 1944), com geração que continua o nome da sua ilustre família.

O detentor do brasão
ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA PINTO DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (c. 1740), natural e morador na Capinha, concelho do Fundão, foi monteiro-mor da Covilhã (o concelho do Fundão só foi criado em 1746), e teve carta de brasão de armas por Carta de 15-IX-1769 (registada no Cartório da Nobreza, liv. 1, fl. 111), com um escudo esquartelado de: 1.º – CASTELO BRANCO, 2.º– PINTO, 3.º – PEREIRA, e 4.º – FIGUEIREDO.
A pedra de armas da Casa da Quinta da Almoinha, em relação a esta carta de concessão, apresenta a seguinte troca na sequência dos quartéis: 1.º – PINTO, 2.º – FIGUEIREDO, 3.º – PEREIRA, e 4.º – CASTELO BRANCO.
Sua mulher e sogros
Casou a 29-IX-1764 com D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), nascida a 1-XI-1744 em Vale de Prazeres, Fundão, filha do capitão FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (f. 1773), de Penamacor, falecido a 3-X-1773 em Vale de Prazeres, casado em 1739 com D. TERESA LUÍSA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA (1709-1774), nascida a 2-III-1709 em Vale de Prazeres, onde veio a falecer a 2-IV-1774 com vários filhos[6]; neta paterna de Cristóvão Leitão Taborda (n. 1670), nascido em 1670 Vale de Prazeres, casado a 20-VII-1695 em Penamacor com D. Isabel Taborda Botelho (n. 1676), nascida em 1676 em Penamacor; e neta materna de João Rodrigues Taborda (1660-1729), nascido em 1660 em Vale Prazeres, terra onde faleceu a 2-VIII-1729, casado nas suas terceiras núpcias celebradas a 21-IV-1694 em Idanha-a-Nova com D. Pórcia de Oliveira Ricacho (1667-1727), que já fora casada, nascida a 15-X-1667 em Idanha-a-Nova e falecida no ano de 1727 em Vale de Prazeres, no concelho do Fundão.
Seus pais e avós
Era filho ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (c. 1694)[7], natural de Loriga, concelho de Seia, capitão da Infantaria Auxiliar da comarca da Guarda, familiar do Santo Ofício (carta de 20-X-1699)[8], e de sua mulher em segundas núpcias (?) D. CATARINA TERESA DE FIGUEIREDO, natural de Valezim, concelho de Seia, filha de Manuel João e de Maria Nunes[9]

Neto paterno de outro ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (b. 1627), baptizado a 7-XII-1627, natural de Loriga, concelho de Seia[10], o qual a 26-II-1653 obteve um brasão de armas plenas de CASTELO BRANCO, tendo por diferença uma flor-de-lis, registado no Cartório da Nobreza (liv. 2, fl. 252 v.º). Foi monteiro-mor da Covilhã, familiar do Santo Ofício (carta de 26-IX-1659), cavaleiro professo da ordem de Cristo com uma tença de 12$000 réis (carta de 21-I-1676)[11], capitão de Auxiliares de Infantaria (de 1657 a 1660) que juntamente com seu pai combateu na guerra da Restauração (de 1647 a 1654). Residiu na Covilhã, assim como na rua Direita na Capinha onde casou em segundas núpcias, e aí veio possuir – por casamento (?) – vários bens emprazados que pagavam foro à Abadia da Estrela[12]
Este matrimónio foi com D. MARIA MENDES PAIS (f. 1712) [13], ainda de pouca idade pois faleceu a 12-III-1712 e recebeu sepultura na igreja paroquial da Capinha junto ao altar de Nossa Senhora do Rosário (Ramos, 1999: 97). Foi a este casal, à época uma das famílias poderosas da Capinha, que se ficou a dever a edificação da anterior Casa do Adro em 1673, a qual resultou da reedificação de uma casa ainda mais antiga que a família PAIS (?) aí tinha desde tempos imemoriais[14]. Esta senhora era filha de FRANCISCO MENDES e MARIA PAIS; neta paterna de Francisco Mendes e de Maria Geraldes, e neta materna de Pedro Álvares e de Maria Pais, todos naturais da Capinha.

Bisneto paterno de DOMINGOS MENDES CASTELO BRANCO (n. 1590?), o Mil Diabos (de Loriga), cuja lendária bravura demonstrada na Guerra da Restauração (de 1647 a 1654) lhe valeu este epíteto que passaria a um trineto que foi outro bravo militar celebrizado nas guerras napoleónicas e nas lutas liberais que se lhes seguiram. Nasceu em Loriga, concelho de Seia, onde foi proprietário dos ofícios de tabelião do público, judicial e notas, assim como escrivão das execuções de Loriga e  de Alvoco da Serra (carta de 3-6-1623), assim como capitão de Auxiliares de Loriga e suas anexas. Combateu na Guerra da Restauração, na qual, juntamente com o seu filho, tomou parte nas batalhas de Elges, São Felices, Vila Vieja e Bugaio, e na tomada de Coria

Domingos Mendes C. B. era filho de mais outro ANTÓNIO MENDES CASTELO BRANCO (c. 1530?), natural da Covilhã – por sua vez filho de Sebastião Mendes de Castelo Branco, juiz de órfãos da Covilhã, e de sua mulher D. Isabel Rodrigues Teixeira –, o qual viveu em Castelo Branco e serviu no norte de África com armas e cavalos à sua custa, sendo armado cavaleiro em Ceuta a I-VIII-1559 pelo governador da cidade D. Fernando de Meneses, após o que foi viver para Loriga onde foi capitão; e sabemos ter casado várias vezes, a última das quais com D. MARIA PINTO PEREIRA, da qual teve António Mendes Castelo Branco (Silva, 1999: 147). 
Domingos Mendes C. B. foi casado com D. CATARINA DO POMAR E ABREU (1590?-1651)[15], natural de Loriga, onde veio a falecer a 15-VII-1651. 

Seus filhos
De ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA PINTO DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (c. 1740), da Capinha, senhor da pedra de armas em apreço, e de sua mulher D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), de Vale de Prazeres, conhecemos dois filhos:

1.º – JOÃO PINTO PEREIRA DE FIGUEIREDO CASTELO BRANCO (1766-1828),
 casado com D. FRANCISCA DE PAULA TAVARES OSÓRIO VELOSO
 CABRAL.
Deste casal houve geração que chegou aos nossos dias, na qual se destacou, entre outros, o seu bisneto JOÃO FRANCO FERREIRA PINTO DE CASTELO BRANCO (1855-1929), nascido a 14-II-1855 no Alcaide, Fundão, o qual pela vivacidade do seu espírito e energia do seu carácter foi um dos políticos mais salientes da fase final da monarquia, na qual ocupou o cargo de presidente do Conselho de Ministros (1906) do malogrado rei D. Carlos I (1889-1908).
2.º – JOSÉ PEREIRA PINTO CASTELO BRANCO (c. 1808-1850?), o Mil Diabos da Capinha (2.º), que vai biografado.

O Mil Diabos da Capinha (2.º)
JOSÉ PEREIRA PINTO CASTELO BRANCO (c. 1808), o Mil Diabos da Capinha” (2.º), não desmerece o epíteto com que foi brindado pelos seus contemporâneos, em memória dos ecos da bravura do seu trisavô o Mil Diabos (de Loriga), a que fez jus nas suas próprias aventuras militares. Nasceu na Capinha em data que se desconhece, e aí terá falecido por volta de 1850.
Tanto pela bravura, como pelas atribulações que passou, merece aqui ser resgatado do esquecimento.  
Os seus merecimentos fizeram-no bisar a alcunha do seu trisavô por varonia – Domingos Mendes Castelo Branco (n. 1590?), o Mil Diabos (1.º) da Guerra da Restauração – outro bravo militar desta família, como o já tinham sido muitos outros Castelos Brancos que se vinham cobrindo de glória nas praças do Norte de África desde meados do século XV (Silva, 1999: 146-1669). De todos este, o nosso Mil Diabos da Capinha terá herdado os genes da propensão para a bravura militar e para o risco, num dos períodos mais conturbados da história de Portugal.
Dele pouco sabemos, a não ser o que ficou no imaginário popular e foi respigado por um ou outro autor que se debruçou sobre a história local.
Sabemos que ingressou no Regimento de Infantaria n.º 11 de Penamacor, em data que desconhecemos.
Este regimento fazia o seu recrutamento, preferencialmente, entre os beirões das vilas e concelhos das comarcas de Viseu e da Guarda. A sua permanência em Penamacor foi de curta duração, por esta altura, pois veio a ser licenciado a 22-XII-1807 na sequência da 1.ª Invasão Francesa (17-XI-1907), por ordem do general Junot que ordenou a integração dos seus efectivos no 3.º Regimento de Infantaria da recém-criada Legião Portuguesa (1808-1813). Esta seria enviada para França (Junho-1808) e depois para a frente de combate no Leste da Europa, nas campanhas da Alemanha (1809) e da Rússia (1812), ao serviço de Napoleão.
Não se consegue apurar com exactidão por onde andou o nosso Mil Diabos da Capinha (2.º), nestas aventuras da Legião Portuguesa, que entretanto viria a ser definitivamente extinta a 5-V-1814.
Sabemos que cerca de três dezenas destes oficiais da Legião foram incorporados no exército invasor do general Massena – 3.ª Invasão a Portugal (1810) – para apoiar o reconhecimento do nosso território, pelo que viriam a ser julgados à revelia e condenados à morte por traição à pátria por uma “Junta da Inconfidência”[16].
Um deste foi José Pereira Pinto “capitão de infantaria 11”, de cuja acusação viria a ser ilibado por se ter provado por testemunhas que à data (1810) se encontrava prisioneiro na Alemanha.
Devido a esta condenação só regressou a Portugal em 1820, não para se quedar na quietude do seu lar na Capinha, mas antes para dar largas à sua irrequietude belicosa e lutar contra o absolutismo, o que o leva novamente à prisão; desta vez às ordens do miguelismo e na Torre de São Julião da Barra (em 1828), de onde só é libertado a 24-VII-1833 quando da entrada dos liberais em Lisboa (Cunha, 1822: 226). Tinha nesta altura a patente de Major.
A sua trajectória de vida com duas prisões e muitos sacrifícios, influenciada pelo Século das Luzes que foi comum a muitos apoiantes dos franceses, e do serviço prestado ao ideário fraterno do Liberalismo, mostram-nos um beirão de excepção que a tradição popular não esqueceu totalmente.
Certamente nascido na Capinha, não sabemos se na antiquíssima Casa do Adro ou noutra qualquer casa da sua abastada família, morreu em data e local que também desconhecemos.
Quem sabe se não entregou a alma ao Criador na Casa da Quinta da Almoinha, em Pêro Viseu, onde uma chaminé de lareira em granito ostenta a pedra de armas de seu pai – com os quartéis trocados em relação à carta de concessão...
Terá este belicoso soldado assumido estas armas, trocando-lhes a ordem do esquartelado para as diferençar das armas do seu progenitor?
Aqui deixamos este desafio, a carecer de resolução …
Campanha da Alemanha (1809)
Os batalhões portugueses da Legião Portuguesa que entraram na Campanha da Alemanha (1809), a partir da cidade francesa de Grenoble onde estavam acantonados, eram «doze soberbas companhias, todos homens robustos, já bem exercitados e prontos para entrar em campanha». A sua partida deu-se a 26-IV-1809 – após a derrota dos franceses na batalha de Aspern (Maio-1809) pelas tropas do arquiduque Carlos –, para colaborarem na conquista de Viena (13-V-1809), cuja progressão no terreno lhe custou 140 baixas, nada comparado com o que sucederia depois.
Atravessam o Danúbio, conjuntamente com um exército de 200.000 homens, e atacam com galhardia Wagram (6-VII-1809) – actualmente na Áustria – contra o arquiduque austríaco que fazia parte da Quinta Coligação (com a Grã-Bretanha, Prússia e Suécia) aqui derrotada, mas infligindo grandes baixas a Napoleão, nas quais se contabilizam cerca de 300 praças portuguesas e três ou quatro oficiais. Nesta grande batalha, em ordem do dia, Napoleão, dirigindo-se à Legião Portuguesa agradece-lhe nos seguintes termos: «Estou contente convosco, uma parte da vitória de Wagram vos é devida
Na sequência desta grande vitória, recompensou a Legião Portuguesa com inúmeras promoções, assim como com a atribuição das insígnias da Legião de Honra que foram dadas a vários oficiais e soldados portugueses.
A 23-VIII-1810, dez oficiais da Legião Portuguesa, após uma revista passada na Place du Carrousel em Paris, também recebiam da mão de Napoleão a Legião de Honra. 
Ao todo, segundo parece, a Campanha da Alemanha, saldou-se por cerca de 500 vítimas, nada comparado com a posterior Campanha da Rússia (Artur, 2003: 23-30).
 
Campanha da Rússia (1812)
Napoleão reuniu um exército de aproximadamente meio milhão de homens e empreendeu a invasão da Rússia em Junho de 1812. As tropas do Czar adoptaram a táctica de "terra queimada", evitando o confronto directo com os invasores e destruindo povoados e colheitas ante o avanço francês.
Campanha da Rússia
Autor: Adolphe Yvon (1817-1893)
Os cerca de 5.000 portugueses que invadiram a Rússia, integrados em quatro regimentos da Legião Portuguesa, viriam a distinguir-se pela sua bravura em várias das sangrentas batalhas que travaram, a despeito das grandes privações aí passadas e do grande número de baixas, tanto a nível dos oficiais como de praças.
O primeiro e mais sangrento recontro da Legião Portuguesa com as tropas russas foi a Batalha de Lubino e a tomada de Smolensk (19-VIII-1812), na rota de Napoleão em direcção a Moscovo. Aqui o sucesso bafejou os Franceses, apesar de retardar a sua progressão, porém com grande morticínio para as fileiras portuguesas que sofreram pesadas perdas: dois mil homens, entre mortos e feridos, tendo 80 dos sobreviventes recebido a Legião de Honra das mão do próprio Imperador, logo a seguir à batalha. Esta e outras vitórias não impediram o fracasso de Napoleão, cujos soldados viriam a ser vencidos pela fome e pelo frio inclemente do Inverno russo.
Este fracasso levaria à extinção do pouco que restava da Legião Portuguesa.
Em 1813, após a dissolução deste corpo do exército português ao serviço de Napoleão, só cerca de um milhar dos seus efectivos regressou a Portugal. Muitos das baixas nos diversos cenários de guerra, ficaram a dever-se ao frio e à fome – chegaram a devorar os próprios cavalos para escapar à fome... Muitos dos sobreviventes acabaram por se fixar em terras estrangeiras, ou optaram por continuar a servir no exército francês.
«A Legião Portuguesa a não ser pelos oficiais já quase não existia; segundo Ferreira de Mesquita, os quatro regimentos tinham levado para a Rússia proximamente cinco mil homens, dos quais voltaram a França apenas uns cem. Uns duzentos espalhados pelos hospitais da Rússia e da Alemanha, uns quatrocentos e cinquenta que tinham ficado nos depósitos, por incapazes de serviço em campanha, era quanto restava da Legião Portuguesa que se compunha ao sair do reino de perto de nove mil homens, aos quais se tinham juntado depois catorze mil prisioneiros espanhóis
O quadro de miséria e o sofrimento inimaginável dos sobreviventes, perseguidos pelo exército russo, na sua retirada em direcção França, é pungente:
«Andrajosos, ébrios, imundos, sem obedecer a nenhuma ordem, a nenhuma disciplina, roubando, destruindo, esvaziando todas as bebidas alcoólicas que encontravam, soldados, e até oficiais, chegaram em deplorável estado às fronteiras da Polónia. Aqueles a quem a miséria não alterara ainda os nobres sentimentos humanos esforçavam-se por dar alguns remédios a estes males. Que triste e melancólico aspecto oferecia a multidão de homens, quase todos desarmados, cobertos de rotas e queimadas vestes, com os pés envolvidos em trapos e de tal modo feridos que só a custo e apoiados marchavam, com as barbas e bigodes carregados de neve, enegrecidos pelo fumo dos bivaques, pareciam mais espectros que homens (Artur, 2003: 58-102).  
__________
Bibliografia:

ARTUR, Ribeiro (1901), “Legião Portugueza ao serviço de Napoleão”. Lisboa: Livraria Ferin.
BAENA, Sanches de (1872), "Archivo Heráldico-Genealógico". Vol. I e II. Lisboa.
BORREGO, Nuno Gonçalo Pereira (2003), "Cartas de Brasão de Armas, Colectânea". Lisboa: Guarda-Mor.
 CUNHA, José Germano da (1892), “Apontamentos para a história do Concelho do Fundão”. Lisboa: Tipografia Minerva Central.
MACHADO, José de Sousa (1906), “Brasões Inéditos”. Braga, «A Folha do Minho».
RAMOS, Sebastião Caldeira (1999). ”Memórias da Capinha”.
SILVA, Joaquim Candeias da; CASTELO BRANCO, Manuel da Silva (1999), “A Beira Baixa na Expansão Ultramarina”. Belmonte: Câmara Municipal de Belmonte.
SORIANO, Luz (1866), “História da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal …” Lisboa: Imprensa Nacional.



Notas:


[1]  Ainda há bem pouco tempo, a designação desta aldeia era grafada com o nome de «Peroviseu».

[2]  O nome ALMOINHA derivou de «almuinha» que provem do árabe «al-munia» com o significado de herdade, casal, horta.

[3]  António Lino (1914-1961) começou por seguir o revivalismo-nacionalista de seu tio, o arquitecto Raul Lino (1879-1974), e mais tarde foi autor de dois projectos de tendência modernista: o gigantesco pórtico do Monumento ao Cristo-Rei em Almada (1948-1959), e a Igreja de São João de Deus na Praça de Londres (1951-53) em Lisboa.

[4]  D. MANUEL DE VASCONCELOS E SOUSA (1910-1978) descendia de uma antiga cepa genealógicas com origem na Torre de Vasconcelos e em D. Pedro Martins da Torre (n. 1160). Estes Vasconcelos deram destacados servidores públicos, diplomatas e militares, assim como foram alcaides e senhores de muitas terras nas Beiras. Só pela linha varonil, descendia dos condes e dos marqueses de Castelo Melhor, dos condes da Calheta, assim como dos marqueses de Niza.

[5] A CAPINHA é uma freguesia do concelho de Fundão, que pega com a freguesia de Pêro Viseu, e fica localizada no centro do triângulo geográfico definido pelas cidades do Fundão e Covilhã, e pela vila de Penamacor.

[6] FRANCISCO SALVADOR TABORDA XAVIER (f. 1773) e D. TERESA LUÍSA RICACHO TABORDA DE OLIVEIRA (1709-1774), além da mencionada filha D. ROSA ANGÉLICA BERNARDINA JOAQUINA RICACHO TABORDA (n. 1744), tiveram ainda: 1. – António (n. 1740), nasc. a 16-VII-1740; 2. – Francisco Salvador Taborda de Negreiros (1741-1777), nasc. a 23.XI-1741, falec. a 12-VIII-1777, que casou a 18-V-1774 com D. Vitória Joaquina Taborda de Negreiros, filha de Diogo Ferreira Taborda, que viveu no Brasil, e de D. Luísa Taborda, de Abrantes, e que casou em segundas núpcias a 28-III-1778 com Manuel José Soares; 3. – José (n. 1743), nasc. a 6-IV-1743; 4. – D. Joana Gertrudes Taborda Ricacho de Oliveira (n. 1747), nasc. a 6-IV-1747, que casou com José Joaquim Taborda de Negreiros (n. 1727), nasc. a 7-IV-1727, filho de Tomé Rodrigues Taborda e de D. Maria Luísa Ricacho.

[7]  O facto de haver vários homónimos nesta família ao longo de várias gerações, os quais casaram repetidas vezes, presta-se a algumas incorrecções genealógica, as quais pretendemos eliminar, tanto quanto nos foi possível.

[8]  ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 38, doc. 917.

[9]  Loc. cit.

[10] Este António Mendes de Castelo Branco (b. 1627), era irmão de D. Águeda Mendes, casada com André Mendes, e tiveram mais um António Mendes Castelo Branco (c. 1696), que foi também familiar do Santo Ofício por carta de 18-V-1696 (ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 28, doc. 758).

[11]  ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv. 21, f. 94v.

[12] Tinha diversas propriedades e duas casas onde vivia na Rua Direita na Capinha, das quais pagava foro à Abadia em 1641: «# Paga mais o mesmo Antº Mendes de Castel Branco / das casas em q vive três quartas de trigo por / prazo f. a D.ºs Mendes no anno de 1641. # Paga mais o mesmo do cham de fronte da es / talage mº alq. de centeo. Pello mesmo pra / so atrás feito a D.ºs Mendes no anno de 1641 (…) paga da / tapada quatrocentos e vinte rs. Por pra / so feito a D.ºs Mendes na Estrella pello t.ªm / M.el Ribr.º no anno de 1641», como consta do «Foral do Real Colégio de S. Bernardo e da sua Abadia da Estrela. Feito em 1680 por Frei Benedito de S. Bernardo» (pp. 542v., 543v. e 547v.). – O pequeno e antiquíssimo Mosteiro de Santa Maria da Estrela da Ordem de Cister, ou da Nave da Estrela de Boidobra, desapareceu no fim do século XVI e as suas rendas foram dotar o Colégio de São Bernardo de Coimbra. Em sua memória apenas resta uma capela que substituiu a original: é Nossa Senhora da Estrela, junto à Quinta da Abadia, na freguesia da Boidobra, Covilhã.

[13] ANTÓNIO MENDES DE CASTELO BRANCO (b. 1627) foi casado em primeiras núpcias com D. MARIA GOUVEIA DE PINA, da Covilhã, a qual era filha de Sebastião de Gouveia Pina e de D. Brites Teixeira; neta paterna de António Gouveia e de D. Isabel Mendes; e neta materna de Francisco Caldeira e de D. Isabel Teixeira, todos naturais da Covilhã (ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 11, doc. 415).

[14]  A primeira Casa do Adro da Capinha, datada de tempos imemoriais, foi reedificada em 1673, e deu lugar à actual que está datada do segundo quartel do século XX. Por documentos, ficamos a saber que no reinado de D. Sancho II (1223-1248) o mosteiro de maceira tomou a João Pais do Sabugal a aldeia de Capinha, em cuja posse devia andar nos finais do século XII, princípios de século XIII (Inquirições de D. Dinis, Livro 9: 33-35).

[15] ANTT, Tribunal do Santo Oficio, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 38, doc. 917.

[16]  Nenhum dele cumpriu a pena por se encontrarem fora do país, e acabarem amnistiados com a justificação de terem sido «julgados à revelia, logo impossibilitados de se defenderem com prescreve o direito natural» (decreto de 9-II-1821), à excepção de João Mascarenhas Neto, que se encontrava em Portugal e foi garrotado na praça do Cais de Sodré.